Tuesday 30 September 2014

A ignorância dos sábios

Nem toda ignorância é resultado de falta de inteligência. Isaías, no cap. 29 da sua profecia, fala de pessoas que ignoram o conteúdo de uma profecia porque ela foi selada, enquanto outros a ignoram porque não sabem ler:

Por isso toda a visão vos é como as palavras de um livro selado que se dá ao que sabe ler, dizendo: “Lê isto, peço-te”; e ele dirá: “Não posso, porque está selado”. Ou dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: “Lê isto, peço-te”; e ele dirá: “Não sei ler”.

E a culpa de tudo isto? Ouça Isaías novamente:

Pois que este povo se aproxima de Mim, e com a sua boca e com os seus lábios Me honra, mas o seu coração se afasta para longe de Mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído.

Vemos isto ao nosso redor todos os dias. Pessoas inteligentes, estudiosas e instruídas, que andam tateando no escuro, sem saber aonde vão! Como são verdadeiras as palavras do profeta quanto aos sábios deste século:

Ai dos que querem esconder profundamente o seu propósito do Senhor, e fazem as suas obras às escuras, e dizem: “Quem nos vê? E quem nos conhece?” Vós tudo perverteis, como se o oleiro fosse igual ao barro, e a obra dissesse do seu artífice: “Não me fez”; e o vaso formado dissesse do seu oleiro: “Nada sabe”.

“Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Rm 1:22). Seria cômico se não fosse trágico; seria engraçado, se não estivesse tão próximo de nós (nos professores dos nossos filhos, nos líderes da nossa política, etc.). Seria assustador, se não tivéssemos sido avisados.

Oremos pela preservação das nossas famílias e das igrejas do Senhor nestes dias de tanto estudo e tanta ignorância.

© W. J. Watterson

Thursday 25 September 2014

Correção de Pai para filho

“Feriu-o como feriu aos que o feriram? Ou matou-o, assim como matou aos que foram mortos por Ele?” (Is 27:7).

Este versículo em Isaías parece, à primeira vista, um pouco difícil de entender. Quem feriu quem? Mas quando percebemos a mensagem do versículo, vemos mais uma confirmação do cuidado terno do Pai para conosco, mesmo quando Ele nos corrige.

Poderíamos traduzir o versículo assim: “Será que o Senhor feriu Israel da mesma forma que feriu os ímpios que feriram Israel? Será que Ele matou Israel, assim como fez com os ímpios que Ele matou?” A resposta, ímplicita na pergunta, é: “Não!” O Senhor está lembrando Seu povo que seria necessário castigá-los pela sua rebeldia, mas que Ele estaria agindo como um pai ao corrigir um filho, e não como um juiz ao condenar um réu. Como cantamos: “É por amor que nos castiga; mui perto está, e a dor mitiga; Deus é fiel” (Sarah Poulton Kalley, H. e C. nº 206).

Há muitos outros versículos que confirmam esta verdade: “Porquanto darei fim a todas as nações entre as quais te espalhei; a ti, porém, não darei fim, mas castigar-te-ei com medida” (Jr 30:11); “O Senhor me castigou muito, mas não me entregou à morte” (Sl 118:18); “Quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (I Co 11:32).

Portanto, que possamos receber a correção do Senhor humildemente, pois Ele nos corrige com amor, e por amor (Hb 12:5-7).

© W. J. Watterson

Tuesday 16 September 2014

O maná e a vida de Cristo

Muito já foi escrito acerca das diversas lições que o maná nos ensina sobre Cristo. Nesta pequena meditação quero destacar a maneira como o maná foi chamado na Bíblia (seja pelos homens, seja por Deus). Temos sete nomes diferentes para descrever o maná:

  1. Pão dos Céus (Êx 16:4);
  2. Maná (Êx 16:15);
  3. Pão vil (Nm 21:5);
  4. Trigo do Céu (Sl 78:24);
  5. Pão dos anjos (Sl 78:25);
  6. Comida espiritual (I Co 10:3);
  7. Maná escondido (Ap 2:17).

O mais impressionante desta lista é perceber como estes títulos, na ordem em que aparecem nas Escrituras, apresentam um resumo cronológico do relacionamento de Cristo com os homens. Os primeiros quatro descrevem Sua trajetória dos Céus até o Calvário, e os últimos três resumem Seu ministério presente. Como são perfeitas as Escrituras! Quando Deus inspirou Moisés a escrever Êxodo cap. 16, Ele já tinha em vista o texto de Apocalipse 2, e distribuiu estes sete títulos pela Sua Palavra desta forma tão perfeita.

Sem tomar muito espaço para desenvolver este assunto, repare resumidamente os paralelos entre a lista de sete títulos acima e a vida do Senhor Jesus.

O primeiro título, Pão dos Céus, lembra-nos que Cristo veio dos Céus para habitar entre nós. Para muitos Ele era de Nazaré; alguns poderiam afirmar que Ele viera de Belém; na realidade, Ele veio do Céu.

O segundo título (“maná”) indica espanto e surpresa. A exclamação dos judeus quando viram o maná pela primeira vez (“Que é isto?”, Êx 16:15) é, no hebraico, “Maná?” Surpresos ao ver algo totalmente diferente, eles disseram: “Maná?”, ou, em português: “Que é isto?”, e esta expressão acabou se tornando o nome mais conhecido deste alimento. O espanto dos judeus é, até certo ponto, normal (afinal, nunca antes alguém vira maná), mas é também, injustificável (pois Deus havia avisado no dia anterior que lhes daria pão do Céu). A verdade é que, por esquecimento, ou por desprezo, ficaram espantados quando viram o maná.

É exatamente isto que aconteceu com o Senhor quando Ele veio ao mundo. Apesar da Sua vinda ter sido amplamente profetizada, e do povo de Israel aguardar ansiosamente a vinda do Messias, quando Ele finalmente veio, ficaram espantados. Os principais dos judeus admiraram a Sua inteligência e respostas quando Ele tinha doze anos (Lc 2:47). Os habitantes de Nazaré, que conviveram com Ele durante toda a Sua infância e juventude, quando O ouviram pregar pela primeira vez “se maravilhavam … e diziam: Não é este o Filho de José?” (Lc 4:22). A maneira como Ele nasceu e viveu, a maneira como Se comportou, a maneira como pregava, as pessoas com quem andava, tudo foi motivo de espanto para aqueles que deveriam estar preparados para recebê-lO.

Quando passamos para o terceiro título (“Pão vil”) somos lembrados que os homens rapidamente passaram do espanto para o ódio, e clamaram pedindo a Sua crucificação.

O quarto título, porém, nos lembra que aquele que os homens odiaram e crucificaram produziu muito fruto para Deus pela Sua ressurreição. Quando Deus chama o maná de “trigo dos Céus”, a substituição da palavra “pão” pela palavra “trigo” muda a ênfase do alimento, não mais enfatizando o sustento que ele traz, mas sim o fruto que ele produz (o trigo é muitas vezes usado nas Escrituras como símbolo de fruto; veja Jo 12:24).

O quinto título (“pão dos anjos”) nos lembra que hoje Ele está rodeado dos anjos, sendo adorado na glória celeste, enquanto que o sexto (“alimento espiritual”) lembra-nos da nossa necessidade de alimentar-nos dEle enquanto atravessamos o deserto em que estamos hoje.

E, por fim, o próprio Senhor fala do “maná escondido”. Em Êx 16:32-34 encontramos a ordem do Senhor para guardar um ômer de maná perante o Senhor, e este ômer de maná foi escondido dentro da arca da aliança (Hb 9) no Santo dos Santos. Tudo no Tabernáculo fala de Cristo; as coisas “escondidas”, porém, aquelas que ficam além do véu, sem dúvida falam daquilo que Cristo representa para o Pai, das belezas e glórias dEle que estão ocultas ao olho humano. Creio que o Senhor está dizendo que o vencedor poderá apreciar belezas da glória de Cristo que apenas o Pai conhece. Quão grande seria este privilégio! Não apenas conhecê-lO como Seus santos O conhecem, mas conhecê-lO como o Pai O conhece! Lembrando que I Co 2:9-10 nos fala de coisas inescrutáveis para o homem natural, mas que são reveladas hoje aos que O amam, podemos crer que este privilégio pode ser nosso hoje!

Assim, os sete títulos falam de como Cristo encarnou-Se (“pão dos Céus”), foi recebido com espanto (“maná — que é isto?”) e ódio (“pão vil”), mas pela Sua morte e ressurreição produziu muito fruto para Deus (“trigo do Céu”). Elevado à glória celeste, Ele hoje é o “pão dos anjos” quanto ao Céu, e o “alimento espiritual” para Seu povo aqui na Terra. Como seria bom se também estivéssemos nos alimentando do maná escondido, que tanto agrada ao coração do Pai!

Levantemos cedo de nossas camas, então, ansiosos por colher o Maná diário do qual tanto precisamos!

© W. J. Watterson

Dois detalhes sobre Isaías 53

Isaías 53 contém o quarto Cântico do Servo (que inclui os últimos três versículos do cap. 52). Qual seria o centro deste Cântico?