Monday 25 August 2014

Os sete candeeiros de ouro

Autor desconhecido (favor informar se souber)
Na visão maravilhosa que João teve do Senhor Jesus na ilha de Patmos (Apocalipse cap. 1), a primeira coisa que ele descreve são os sete candeeiros. Não que eles fossem aquilo que mais se destacava na visão — pelo relato de João, fica claro que o Senhor, em toda a Sua glória, foi quem prendeu a atenção do apóstolo. Mas quando João vira, ele vê primeiro “sete castiçais de ouro”.

Por quê? Se lembramos que os candeeiros são figuras das sete igrejas (que, por sua vez, são representativas de todas as igrejas locais desta dispensação), então percebemos como é destacada a importância do testemunho de uma igreja local. Os candeeiros só estavam ali porque o Senhor estava ali, e só chamaram a atenção de João momentaneamente; mas foram mencionados primeiro. Não era possível olhar para os candeeiros e não ver o Senhor, e não era possível olhar para o Senhor sem que seu olhar passasse pelos candeeiros. Da mesma forma, sabemos que uma igreja local só existe enquanto o Senhor está ali, e toda a importância e glória da igreja está nEle; mas a igreja tem uma importância enorme, pois ela é um dos meios pelos quais Cristo pode ser conhecido do pecador hoje em dia; ela é um testemunho dEle.

Repare que eram sete candeeiros, não um candelabro com sete lâmpadas como no Tabernáculo. O candelabro destacava a união do povo de Israel, mas estas sete peças individuais, separadas, destacam a autonomia de cada igreja local. Não estão ligadas uma à outra; o único elo que unia estes candeeiros era o Senhor no meio.

Eram sete candeeiros (a melhor tradução da palavra grega luchnia), isto é, um suporte para lâmpadas que consomem óleo, e não velas. A figura é importante. As igrejas não são apresentadas sob a figura de velas (isto é, algo que produz luz enquanto consome-se a si mesmo), mas sim como lâmpadas ou lamparinas (isto é, algo que produz luz ao queimar óleo). Assim é destacada a importância do óleo, que nas Escrituras é uma figura do Espírito Santo. As igrejas só podem iluminar através da operação do Espírito Santo.

Eram sete candeeiros de ouro! O ouro fala-nos de algo precioso e puro, assim como uma igreja local é preciosa aos olhos de Deus. Pode ser (e muitas vezes é) desprezada pelo mundo, e até por muitos cristãos, mas é preciosa ao Senhor. No passado Deus podia dizer de Israel: “Aquele que tocar em vós toca na menina do Seu olho” (Zc 2:8). Hoje, o mesmo Deus afirma, falando duma igreja local: “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado” (I Co 3:17).

Esta visão dos sete candeeiros de ouro, portanto, nos fala sobre:

  • O alvo das igrejas — direcionar as atenções para Cristo;
  • A autonomia das igrejas — decorrente da autoridade de Cristo;
  • A atuação das igrejas — depende da ação do Espírito Santo;
  • A avaliação das igrejas — destacando a apreciação de Deus.

Que privilégio fazer parte de uma igreja local, separada dos sistemas e organizações do Cristianismo professo.

© W. J. Watterson

Monday 18 August 2014

Alguém orou

"Eastman Johnson, Child at Prayer, circa 1873" by Eastman Johnson


Escrito em 1996, livremente baseado num poema em inglês de F. M. Nesbit (leia o original).

Alguém orou

Das garras vis do tentador
Meu Deus salvou um pecador.
“Por quê?”, alguém pensou;
Porque alguém orou…

A fraca ovelha, sem vigor,
Foi restaurada com amor;
“Por quê?”, alguém pensou;
Porque alguém orou…

Olhando o fruto, o semeador
Agradeceu ao seu Senhor.
“Por quê?”, talvez pensou;
Porque alguém orou…

© W. J. Watterson

Monday 11 August 2014

Preso (ainda)

Mais um poema antigo (este de Abril de 1995), e que também trata da terrível luta contra a carne. Prometo que na semana que vem posto algo mais animador e alegre. Creio que há proveito em reconhecer nossas fraquezas, e sem dúvida há uma beleza especial que nasce da tristeza. Como escreveu I. Y. Ewan: “There is a joy that lies where pearls lie, deep,/Too deep for those who have no heart to weep” (que quer dizer, mais ou menos: “Há uma alegria que se esconde com as pérolas no fundo do mar,/Fundo demais para quem nunca aprendeu a chorar”). Mas não convém ficar ocupado demais com estas coisas (“wallowing in the Slough of Despond”); é melhor, como disse Jeremias, “trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lm 3:21).


Preso (ainda)

Quantas vezes tropecei!
Eu quis lutar (ah, como tentei!)
Mas cada vez que levantei,
     A carne ainda me seguia…

Um passo, dois, às vezes três,
E o ataque vinha outra vez;
Um golpe seco, de uma vez,
     E a carne ainda me vencia…

Com prepotência eu dizia:
“Chega! Agora nasce outro dia,
E eu irei vencer!” Eu ria,
     Mas a carne ainda me iludia…


Na Tua casa, meu Senhor,
(E só ali) serei um vencedor;
Terei pra sempre o Teu amor,
     E a carne nunca mais verei!

Só resta, agora, esperar…
E enquanto o dia não raiar,
Me ajude, ó Pai, a Te agradar;
     Pois a carne ainda me perturba…

© W. J. Watterson

Wednesday 6 August 2014

Miserável homem que sou

Outro poema antigo (Fevereiro de 1995), baseado em Romanos 7:24-25. Como poema não é grande coisa, e a pobreza da rima chega a ser constrangedora em alguns versos (“entrega” e “trégua”, por exemplo). Decidi publicá-lo mesmo assim, com a expectativa de incentivar algum cristão na sua luta contra a carne. Quantas vezes desanimamos ao perceber a força e insistência da velha natureza, com seu ódio, sua preguiça, sua imoralidade. Quão preciosas as palavras com que Paulo encerra este capítulo: “Graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor”.

Miserável homem que sou

Como eu queria ser perfeito!
Subir aos ares sem defeito,
Beijar as nuvens com a calma
Que só tem a pura alma!

Como eu queria Te agradar!
Mostrar que já consigo amar
Os que me odeiam, e servir
A todos, sem nada exigir!

Como eu queria…

Mas a carne não se entrega,
Não desiste nem dá trégua
Nesta luta angustiante,
Sem descanso, constante.

Eu clamo, então: “Quem me livrará?
A minha carne, quem a pisará?”
As trevas fogem; eis a luz:
“Graças a Deus por Cristo Jesus!”

© W. J. Watterson

Dois detalhes sobre Isaías 53

Isaías 53 contém o quarto Cântico do Servo (que inclui os últimos três versículos do cap. 52). Qual seria o centro deste Cântico?