Quero contar duas histórias protagonizadas pelo meu pai, que poderão ajudar alguns a entender minha posição quanto à questão do salvo e sua frequência às reuniões da igreja local.
Para quem não me conhece, talvez seria bom primeiro explicar qual é a minha posição nesta questão. Ela pode ser resumida assim: o cristão só deveria perder uma reunião da sua igreja local em último caso. A prática tão comum de frequentar as reuniões apenas quando conveniente é, no meu entendimento, radicalmente contraditória, e me incomoda muito ver esta falta de compromisso em alguns.
Obviamente, há muitas razões legítimas que levam alguém a faltar das reuniões. Reconhecendo isto, me esforço para não julgar o comportamento dos irmãos e irmãs que reúnem comigo aqui em Pirassununga. Se não sei por que alguém faltou, não posso criticá-lo — e não tenho o direito de ficar investigando a vida alheia, para tentar descobrir se a pouca frequência é justificada ou não. Cada um dará contas de si mesmo a Deus.
Mas procuro viver baseado na convicção de que as reuniões são prioridade — e talvez seja interessante pensar em que é que moldou esta convicção. Por exemplo, qual foi o modelo praticado pelos meus pais, desde a minha mais tenra idade? Em casa, faltar a uma reunião era uma tragédia. Se algum de nós estava doente, o resto da família ia à reunião (exceção feita aos casos quando um acompanhante era necessário, é claro). Se íamos sair de viagem em dia de reunião, a viagem era sempre marcada para depois da reunião. Um passeio de alguns dias que tinha datas flexíveis era sempre programado pensando nas reuniões da igreja local. E assim por diante.
As duas histórias que resumo abaixo se encaixam perfeitamente neste quadro. A primeira delas aconteceu quando meu pai, ainda jovem, trabalhava como auditor. Seu trabalho foi reconhecido, e uma promoção oferecida — mas a promoção dependia dele fazer um curso que seria ministrado nas noites de quinta-feira, mesmo dia da reunião da igreja em Portrush, onde ele reunia. A promoção era extremamente interessante do ponto de vista financeiro, mas ele a recusou — mesmo depois de advertido que, se não aceitasse a promoção, seria despedido. Ele estava disposto a pagar um preço para ajudar a igreja em Portrush. E Deus honrou a fidelidade dele de uma forma interessante. Ele foi fazer uma entrevista de emprego, poucos dias depois, para o cargo de gerente de uma grande cooperativa. O único outro candidato àquela vaga era alguém que trabalhava com ele na empresa de onde ele acabara de ser despedido. Este colega (um incrédulo), quando viu meu pai chegar para a entrevista, perguntou se era para a vaga de gerente. Quando meu pai confirmou que era, aquele jovem, manifestando respeito pela fé do meu pai (fé que ele não compartilhava), foi embora, e deixou meu pai como único concorrente à vaga. Meu pai foi contratado, e permaneceu naquela empresa até vir ao Brasil em 1960, recebendo um salário melhor do que o que receberia na empresa anterior.
Mas houve outro episódio mais impressionante que meu pai me contou alguns anos atrás, relacionado à morte do meu avô em 1973, de câncer. Alertado sobre a morte iminente dele, meu pai voltou à Irlanda do Norte, chegando lá duas ou três semanas antes do meu avô ser promovido à glória. No domingo de manhã a família toda foi para a Ceia, e meu pai se ofereceu para ficar com meu avô (que, a esta altura, estava acamado, bem perto da morte). Meu avô acordou alguns minutos antes da Ceia começar e, vendo o relógio, imediatamente perguntou: “Você não vai para a Ceia?” Meu pai respondeu: “Não; vou ficar para cuidar do senhor”. E meu avô imediatamente respondeu: “Nada disso, Ronaldo. A reunião é mais importante — pode ir, que o Senhor cuidará de mim durante a sua ausência!” Meu pai foi para a reunião, e desfrutou da companhia do meu avô por mais alguns dias, até que o Senhor o levou para a Sua presença na glória do Céu.
São exemplos que prezo, e que ilustram a compromisso que cada um de nós deve ter com as reuniões da sua igreja local. Conhecendo a natureza humana, porém, preciso acrescentar que não perder reuniões desnecessariamente não é mérito, mas sim obrigação. Alguém pode estar presente em todas as reuniões, e mesmo assim ser o membro mais carnal daquela igreja (talvez seja muito cômodo para ele estar ali). E outro, com imensa dificuldade devido aos problemas de saúde, se esforça sobremaneira para estar presente pelo menos no domingo. É claro que este segundo está agindo melhor que o primeiro.
Ou seja, não se trata de marcar presença e somar pontos; há muitas outras coisas envolvidas numa vida dedicada a Deus. Mas enfatizo este ponto: eu não faço um favor a ninguém quando compareço a uma reunião da minha igreja local (a não ser a mim mesmo) — estar presente sempre que possível (mesmo que isto me custe caro) é minha obrigação! A igreja local precisa da participação de cada um dos seus membros, sem nenhuma exceção — e cada um dos seus membros, sem nenhuma exceção, precisa da comunhão com a igreja.
© W. J. Watterson
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Dois detalhes sobre Isaías 53
Isaías 53 contém o quarto Cântico do Servo (que inclui os últimos três versículos do cap. 52). Qual seria o centro deste Cântico?
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“Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho”.
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O Salmo 22 descreve o clamor do Senhor Jesus na cruz, desamparado por todos. Ali lemos:
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