Saturday 7 December 2019

O monte Moriá

A palavra “Moriá” (que significa “escolhido por Jeová”) só ocorre duas vezes nas Escrituras. A primeira é em Gênesis 22, onde ela identifica o monte tão solene que Abraão e Isaque subiram juntos. Duas vezes o relato de Gênesis 22 destaca que caminhavam “ambos juntos” (v. 6, 8). Como é linda e comovente a figura de comunhão entre pai e filho — mas contemplando essa cena tão bucólica, quem poderia imaginar a dor que machucava o coração de Abraão, sabendo o que teria que fazer em Moriá? E como é precioso ouvir ali, pela primeira vez, a promessa de que Deus mesmo providenciaria o Cordeiro cujo sangue seria derramado para nossa expiação. Mais para frente nas Escrituras Deus estabelecerá o meio de expiação (sangue) e deixará claro que é Ele quem dá o sangue sobre o altar (veja Levítico 17:11), mas isto é revelado pela primeira vez aqui em Moriá: “Deus proverá …”.

A segunda ocorrência de “Moriá” é em II Crônicas 3:1, quando ela identifica o lugar onde o Templo será construído, e destaca que foi ali que Davi viu o anjo do Senhor com a espada desembainhada contra Jerusalém, na eira de Ornã. Eis outra cena tão solene e profunda: Davi chorando ao ver as consequências do seu pecado, assustado pelo aspecto terrível do Anjo com a espada na mão! Ele insistiu em pagar o preço justo, e foi só depois do preço pago e do holocausto aceito com fogo do Céu que Deus deu ordem ao anjo para guardar a espada.

Moriá assim está associado com (i) Abraão oferecendo seu próprio filho, e (ii) Deus julgando severamente o pecado de Davi. “Mas tudo isso sombras são” — sombras daquela hora tão solene, porém tão sublime, quando Deus julgou o pecado da humanidade ao oferecer Seu próprio Filho! O monte que presenciou a submissão voluntária de Abraão e a submissão corajosa de Davi, ainda veria um Servo mais perfeito dizer o Seu “Amém!” à vontade de Deus, entregando-Se sem reservas pelos nossos pecados. “Nem dor maior, nem tanto amor”, jamais se viu, nem agora nem por tempos eternos!

O hino abaixo usa uma antiga melodia escocesa que provavelmente data do século XVII. A letra descreve, em três estrofes duplas, a experiência singular de Abraão e Isaque no monte (1ª estrofe), a experiência solene de Davi no mesmo lugar (2ª estrofe), e finalmente o mais importante de tudo: o sacrifício de Cristo no Calvário, parte do mesmo monte Moriá.



O monte Moriá

Subindo o monte Moriá,
Um pai e um filho em comunhão;
Mas quem na Terra medirá
A dor que oprime o coração?
    Ali no monte Moriá,
    Em graça, Deus interferiu;
    E “Deus o sangue proverá”
    Ali primeiro se ouviu!

Ali também Davi chorou
Ao ver o mal que cometeu;
Um alto preço, enfim, pagou,
Um holocausto ofereceu.
    Ali no monte Moriá
    Do Céu o fogo irrompeu;
    E o rei jamais esquecerá
    O medo que o acometeu!

Mas tudo isso sombras são;
As densas trevas ‘inda vêm.
Os Céus ainda ouvirão
Em Moriá um outro “Amém”!
    Ali no monte Moriá
    Eis sobre a cruz meu Salvador!
    Jamais alguém contemplará
    Nem dor maior, nem tanto amor!

© W. J. W. (05/12/2019)


Partitura em pdf:

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