A desilusão de Simeão
Simeão, desde pequeno, se destacara no meio dos seus colegas, não apenas pela sua saúde e inteligência, mas também pela sua devoção a Jeová, o Deus de seus pais. Bem educado e esforçado, ele cumpria à risca as determinações da Lei de Moisés, estudava diligentemente as Escrituras, e sonhava com o dia em que seria reconhecido como um mestre da Lei.
Naquela manhã tranquila em Jerusalém, caminhando em direção ao Templo, seu coração parecia flutuar à sua frente, e sua consciência, tranquila, estampava um sorriso contagioso em sua face. Ele seguia alheio a tudo ao seu redor, com mil e um sonhos alegres ocupando sua mente de adolescente.
Repentinamente, porém, seus sonhos foram interrompidos. Um grupo de homens, escribas e fariseus, desceram a rua correndo e entraram numa casa logo à sua frente. Simeão parou, espantado, ouvindo a gritaria que se iniciara dentro da casa, enquanto pessoas corriam para todos os lados. Poucos minutos depois, com uma mulher segura pelos braços, a multidão saiu da casa, e tomou a direção do Templo.
Curioso e interessado, Simeão correu ao lado de Judas, seu tio, que fazia parte da multidão enraivecida. “Que confusão é esta, tio Judas?”
Sem parar de correr, seu tio respondeu: “Esta mulher foi apanhada em adultério, e vamos levá-la para Jesus, o nazareno. Vai ser uma forma de pegá-lo em contradição”.
“Mas como?”, perguntou Simeão.
“É simples”, respondeu seu tio; “Se ele disser que ela deve ser apedrejada, como manda a Lei, então estará desobedecendo à lei romana, e estará negando sua pregação, que fala tanto de amor e perdão. Mas se ele disser que ela deve ser perdoada, então ele estará indo contra a lei de Moisés! Entendeu? Ele não tem saída!”
“Puxa”, pensou Simeão; “É mesmo; ele não tem saída! Essa eu quero ver!” E o garoto se uniu à multidão, que crescia cada vez mais. Apesar de pequeno, ele já havia aprendido a odiar a Jesus, que se dizia Filho de Deus. Aos olhos de Simeão e seu povo, isto era blasfêmia, e ele faria qualquer coisa para acabar com o Carpinteiro de Nazaré que ousava dizer que era Deus!
Poucos minutos depois, chegaram ao Templo. Simeão foi logo se enfiando no meio do povo, querendo ver tudo de perto. Empurrando daqui e dali, conseguiu chegar ao centro da roda. Lá estava a mulher, em pé no meio de todos, cabisbaixa; um pouco ao lado ele viu Jesus, que estava inclinado, calmamente escrevendo com o dedo na terra.
“Ele não vai dizer nada?”, Simeão sussurrou ao homem que estava ao seu lado.
“Não sei. Os escribas já lhe apresentaram o problema, mas ele começou a escrever na terra e não disse nada!”
Naquele momento Jeosafá, o mestre de Simeão, levantou a voz e disse, sem conseguir disfarçar seu desprezo e ironia: “Mestre, não respondes à nossa pergunta? Devemos apedrejá-la?”
Houve uma pequena pausa; todos fitavam Jesus, alguns ansiosos, outros com ar de vitória. Finalmente Ele se endireitou. Olhou primeiro para Jeosafá, depois para a mulher, e então permitiu que Seu olhar passasse pela multidão ao Seu redor. Simeão ficou surpreso ao ver, no olhar de Jesus, um brilho de ternura, e algo mais; parecia tristeza. Jesus então falou: “Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra contra ela”.
O silêncio foi instantâneo. “Ele concordou em apedrejá-la”, pensou o garoto. “Agora podemos acusá-lo perante os romanos, e ele será preso!” E ele olhou em redor, esperando ver alegria e satisfação no rosto daqueles homens.
Mas não. O que ele viu deixou-o ainda mais surpreso. Todos olhavam para o chão, aparentemente envergonhados, num silêncio constrangedor. “Mas o que está acontecendo?” pensou ele.
Depois de vários minutos, o velho Levi, lá do outro lado do círculo de pessoas, moveu-se, caminhando lentamente em direção à mulher. “É agora!” pensou Simeão, quase gritando de euforia.
Mas o velho escriba não ergueu os olhos; foi passando, atravessou o círculo que haviam feito em torno de Jesus, e começou a retirar-se. Simeão olhava, atônito, enquanto os velhos mestres, um após o outro, seguiam seu exemplo, e afastavam-se. Até Jeosafá se levantou para ir embora!
“Não é possível!”, Simeão pensou. Com o coração ardendo, ele saiu correndo atrás de seu mestre, puxou-o pelo braço e quase gritou: “Mestre, o que vocês estão fazendo?” Jeosafá olhou para o rosto coberto de lágrimas do garoto, mas não conseguiu dizer nada. Desviando o olhar, colocou a mão no ombro de Simeão, depois virou-se e partiu.
Simeão, porém, permaneceu imóvel, como que grudado no chão. Pois naquele instante em que os olhos de Jeosafá haviam se encontrado com os seus, Simeão havia visto, claramente, a vergonha que Jeosafá estava sentindo. E como se recebesse um golpe, ele entendeu; todos aqueles mestres, escribas e fariseus, todos eles estavam se retirando, do mais velho ao mais moço, porque todos eram pecadores. Ninguém tinha coragem de atirar a primeira pedra! O mundo de Simeão estava desabando. Ele virou-se novamente para onde Jesus estava, mas não havia mais ninguém ali com Ele. Até a mulher estava indo embora. Mas como era diferente o rosto dela! Se em Jeosafá havia tristeza e vergonha, o rosto dela até brilhava, repleto de paz e alegria! “Mas ela é pecadora!” pensou Simeão, a boca seca, os joelhos tremendo, numa mistura de raiva e confusão; “Ela é a pecadora! Isto não é certo. Ela é a pecadora!”
Foi quando ele viu que Jesus se levantava, olhando em sua direção; e o garoto lembrou-se das palavras do Mestre dos mestres: “Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra contra ela”. Neste instante ele viu o seu pecado; não apenas o pecado daquela mulher, mas o pecado de Simeão! Toda sua preocupação em guardar a Lei, seu orgulho de ser judeu, nada disso importava mais. Sua consciência, finalmente acordada, não parava de lembrá-lo dos muitos pecados que ele cometera. Ele era zeloso da Lei, temente a Deus, educado e obediente — mas agora ele sabia também que era pecador.
Era o fim; sem conseguir olhar nos olhos dAquele que ele viera acusar, Simeão afastou-se, envergonhado e desolado.
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Prezado leitor, você não quer ser honesto consigo mesmo, e reconhecer, como Simeão, que você também é pecador? Não preocupe-se com os outros — é o teu pecado que importa. Você teria coragem de atirar a primeira pedra? Nem eu, nem você, nem Simeão, nem ninguém — somos todos pecadores. Diz a Bíblia: “Não há diferença, porque todos pecaram” (Rom. 3:23).
Mas uma vez reconhecendo este fato, não se retire como Simeão — venha ao Senhor Jesus. A Bíblia diz Ele veio ao mundo exatamente para buscar pecadores como eu e você: “o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Lucas 19:10). Ele morreu na cruz em nosso lugar, e o Seu sangue “nos purifica de todo pecado” (I João 1:7). Religião pode ter proveito, mas não perdoa pecados; boas obras são desejáveis, mas não perdoam pecados; é somente o Filho do Homem que “tem poder para perdoar pecados” (Marcos 2:10). A Bíblia afirma que quem crê nEle tem a vida eterna, e recebe o perdão dos pecados (João 3:36; Atos 10:43).
Você é pecador, mas Cristo pode te salvar do pecado e da condenação eterna.
© W. J. Watterson
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