Escrevo com muita cautela, pois não desejo influenciar ninguém ao erro. Que Deus nos dê sabedoria e coragem nestes dias tão diferentes.
Sobre a questão do “isolamento social”: consultei irmãos em Cristo que são médicos e enfermeiros (no Brasil, Reino Unido e Estados Unidos), e o consenso é que, em termos gerais, o isolamento social é fundamental neste momento para diminuir o ritmo de contágio, para que os sistemas de saúdes não entrem em colapso. Certamente há governos aqui e ali que agiram mal (alguns rígidos demais, outros relaxados demais); certamente a mídia é alarmista, e provoca pânico desnecessário; certamente homens ímpios estão aproveitando desta situação para fins gananciosos e políticos; mas irmãos idôneos que estão lidando com a pandemia insistem que a situação é grave, e que o isolamento social é a medida mais sensata no momento para diminuir a quantidade de mortes pela covid-19 e por outras causas (pessoas que morreram por não haver lugar na UTI para serem tratados, por exemplo).
Sobre a questão das reuniões: é muito bom que irmãos e igrejas estejam preocupados com isto, mas não consigo ver que as igrejas locais que suspenderam temporariamente suas reuniões estão levando os salvos a desobedecerem a Deus nesta questão. Não digo isso por achar que a frequência do salvo nas reuniões da igreja não seja importante — muito pelo contrário. Tenho sido criticado no passado por ser exigente demais em relação a isto. Sempre defendi que eu só deveria me ausentar de uma reunião da igreja local se fosse impossível estar presente (doença, viagem, etc.). Quando possível, viagens deveriam ser programadas em função das reuniões, para que minha ausência fosse a menor possível. Creio que reunir como igreja é algo essencial para o salvo. Creio que você desobedeceu ao Senhor se faltou a uma reunião no passado por lazer ou por preguiça. Mas se Ele permitiu que circunstâncias fora do seu controle afetassem igrejas do mundo inteiro, levando as autoridades (por motivos de saúde pública) a restringir as reuniões públicas por algum tempo, creio que não estaremos desobedecendo ao Senhor por ficar em casa.
Digo isto, primeiro, por causa dos mandamentos dEle sobre nossa submissão às autoridades. Romanos 13:1-5, Tito 3:1; I Pedro 2:13-15 deixam claro nossa obrigação neste sentido. Alguém dirá: “Mas os apóstolos disseram que quando há conflito de autoridade, devemos obedecer a Deus e não aos homens — Atos 4:19 e 5:29”. Sim, mas a situação de Atos é completamente diferente da atual. Naquele caso eram autoridades religiosas (sacerdotes judeus) perseguindo os salvos pela sua fé — hoje são autoridades civis estabelecendo que todos (cristãos, espíritas, muçulmanos, ateus) evitem reunir por algumas semanas. Vendo que há uma razão de saúde pública por trás destas diretrizes (como os irmãos da área de saúde confirmam), devemos aceitar a situação em que Deus permitiu que nos encontrássemos.
Em segundo lugar, creio que se fizermos isto, estaremos na companhia ilustre de Daniel. Alguns tem usado Daniel e seus três amigos como justificativa para desobedecermos as autoridades. Mas esquecem de como Daniel se comportou na Babilônia. Por setenta anos ele ficou impedido de comemorar as Festa de Jeová (Levítico cap. 23), e nesse tempo o povo de Israel como um todo não podia visitar o Templo e sacrificar a Deus. Estas atividades eram mandamentos de Deus? Sim. Então Daniel foi desobediente? Não! Quando Ezequiel escreveu sobre os três grandes servos de Deus na história de Israel, Daniel (que era contemporâneo de Ezequiel) foi incluído juntamente com Noé e Jó (Ez 14:13-23). Ele agradou a Deus, não foi desobediente. Quando era uma questão de negar a sua fé, ele e seus companheiros colocaram em risco sua vida (fornalha de fogo, cova dos leões) para obedecer a Deus (o mesmo que precisaríamos fazer hoje se uma autoridade nos obrigasse a blasfemar) — mas se não podiam reunir como Deus ordenou por causa das circunstâncias que Deus mesmo permitiu, eles tentaram servir a Deus dentro das limitações que tinham.
Creio que podemos tomar Daniel como exemplo para nós hoje. Se Deus permitiu que a situação no mundo chegasse ao ponto que chegou, e igrejas locais precisam fechar as portas por algumas semanas para o bem da sociedade, creio que não estaremos desobedecendo ao Senhor quando mostramos respeito pelas autoridades e preocupação com a vida dos nossos vizinhos. Não queremos que eles morram nos seus pecados — se dois ou três meses sem nos reunirmos for o preço que precisamos pagar para dar mais uma oportunidade a milhares de pecadores, não valerá à pena?
Mas alguém dirá que estou errado, e que estamos, sim, em desobediência. Discordo, mas respeito sua opinião. O assunto é novo para todos nós. Quando 2020 começou, quem teria imaginado que estaríamos nesta situação hoje? Tenho consciência que posso estar errado. Mas o que defendi acima está baseado (1) nor argumentos que apresentei e (2) nos problemas com a outra opção. Porque se estou errado e não reunir hoje é um ato de desobediência, então o que vamos fazer?
Se não reunir hoje é um ato de desobediência, só temos uma opção: reunir! Não podemos desobedecer a Deus! E como isto funcionaria na prática? Vamos afrontar as autoridades (recebendo a fama de baderneiros) e escandalizar nossos vizinhos (“Vocês não preocupam com nossa saúde!”)? Daqui a algumas semanas, quando tudo voltar ao normal, quem pode prever qual será o prejuízo de termos agido assim? Ou vamos reunir clandestinamente, só alguns? “Reúna só os varões”, alguém sugere — “pouca gente para não chamar a atenção — pelo menos para celebrar a Ceia!” Mas a Ceia não é uma reunião da igreja local? Não pregamos que seria errado duas ou três família celebrá-la de forma avulsa (em viagem, por exemplo), separado do testemunho de uma igreja local? E iremos agora mudar nossas convicções por causa desta situação? Vamos estabelecer uma reunião limitada a alguns membros apenas, para um memorial que só faz sentido no contexto da igreja local? Não atribuímos nenhum valor supersticioso ao pão e ao cálice — é a celebração coletiva, em caráter de igreja, que torna a Ceia especial!
Estando acostumado a frequentar cinco ou mais reuniões toda semana na região onde moro, está sendo muito difícil ficar tanto tempo sem reunir (já se passaram cinco semanas, restam pelo menos duas aqui em SP). Mas creio que precisamos de paciência para suportar uma situação que foi permitida por Deus — para despertar os salvos do sono em que estão, para acordar o mundo quanto à nossa fraqueza, etc. Creio que devemos, como Daniel na Babilônia, lamentar diariamente a nossa condição, orando como ele orou por livramento — mas aceitando que “o Altíssimo domina sobre os reinos dos homens”. Veja trechos da oração de Daniel (leia o treco todo se puder: Daniel 9:1-19):
“Ó Senhor, a nós pertence a confusão de rosto … porque pecamos contra Ti … Por isso o Senhor vigiou sobre o mal e o trouxe sobre nós … Agora, pois, ó Deus nosso, ouve a oração do seu servo e as suas súplicas, e sobre o Teu santuário faze resplandecer o Teu nome, por amor do Senhor. Inclina, ó Deus meu, os Teus ouvidos, e ouve; abre os Teus olhos, e olha para a nossa desolação, e para a cidade que é chamada pelo Teu nome; porque não lançamos as nossas súplicas perante a Tua face confiados nas nossas justiças, mas em Tuas muitas misericórdias. Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age sem tardar; por amor de Ti mesmo, ó Deus meu. Porque a Tua cidade e o Teu povo são chamados pelo Teu nome”.
Se substituirmos “cidade” e “santuário” por “igreja” no parágrafo anterior, teremos (creio eu) um ótimo exemplo de como orar na situação atual em que estamos.
Que Deus dê sabedoria aos anciãos das igrejas locais para guiarem o rebanho como o Senhor quer, e a todos nós para sermos servos de Deus nestes dias de quarentena tanto quanto nos dias normais.
É de fato muito bom encontrar na palavra de Deus conforto para dias tão difíceis e direção para com paciência aguardar para retornar as reuniões. Que isso possa ecoar nos nossos corações quando isso acontecer e a cada dia que pensarmos em não ir às reuniões por coisas banais lembremos desses dias...
ReplyDeleteAmém!
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