Monday, 20 October 2014

Figuras das igrejas locais no Éden


O jardim do Éden, onde Adão e Eva habitavam antes do seu pecado, era o paraíso de Deus aqui na Terra. Um local perfeito, onde o homem podia viver em comunhão, também perfeita, com seu Deus. Uma igreja local é, da mesma forma, o local onde Deus hoje procura ter comunhão com Seus filhos, coletivamente. O NT descreve uma igreja local como sendo um santuário onde a santidade de Deus pode ser apreciada (I Co 3:16–17), a casa onde o Altíssimo pode habitar com Seu povo (I Tm 3:14–15), a congregação onde o Senhor pode governar (Mt 18:20). Podemos dizer que uma igreja local é um paraíso aqui na Terra, um oásis no meio deste deserto em que vivemos. Nada mais coerente, portanto, do que procurar semelhanças entre estes dois “paraísos”, entre o local onde Deus teve, pela primeira vez, comunhão com o homem, e o local onde, hoje, Ele procura tal comunhão.

Não vamos considerar, aqui, as figuras das igrejas locais que podemos ver no relacionamento de Adão e Eva com o jardim — vamos nos concentrar na descrição do jardim do Éden em Gn 2:8-10. Antes de pensar nos detalhes, repare o quadro geral apresentado nestes três versículos:

  • o projeto do Pai. O v. 8 nos ensina que Deus é o autor do jardim, e nos fala da alegria e acessibilidade do Éden;
  • a preeminência do Filho. O v. 9 dá mais atenção às árvores do que ao jardim, falando da aparência, do alimento e da atração do Éden (a árvore da vida é uma figura muito clara do Senhor Jesus Cristo);
  • o poder do Espírito. O v. 10 fala do rio (uma figura do Espírito Santo), e nos ensina sobre a altura, a água, e o alcance do jardim do Éden.

Aqui vemos, nas primeiras páginas da Bíblia, aquela cooperação e comunhão entre a Trindade que será destacada de modo consistente no restante das Escrituras. Em toda a Palavra de Deus encontraremos as Pessoas Divinas agindo de forma coerente, sempre em comunhão e cooperação perfeita. Os planos do Pai e o poder do Espírito tem sempre o mesmo objetivo: promover a preeminência do Filho. O Pai planeja tornar o Filho preeminente, e é o poder do Espírito que efetua isto. Assim é em toda a Bíblia, e temos o mesmo aqui no jardim do Éden.

a. O projeto do Pai (2:8)

a.1. Autoria

O jardim do Éden não foi plantado por mãos humanas; a Bíblia afirma claramente que “plantou o Senhor Deus um jardim”. Deus fez tudo conforme Ele queria, de acordo com a Sua vontade e o Seu propósito. E o mesmo acontece em relação a uma verdadeira igreja de Deus hoje em dia; ela será plantada por Deus. Isto quer dizer que não é um decreto humano que determina o nascimento de uma igreja, nem é necessário ter a autorização de uma instituição ou autoridade humana para que ela passe a existir. As palavras do Senhor Jesus Cristo, registradas em Mt 18:20, deixam claro que onde um grupo de cristãos, mesmo que pequeno (“… onde estiverem dois ou três …”), for congregado pelo Espírito Santo e passar a reunir-se regularmente (“… reunidos …”; este verbo, no grego, é um particípio perfeito na voz passiva, indicando um ato que continua no presente, e feito por uma força externa), atraídos unicamente ao nome do Senhor Jesus Cristo (“… em Meu nome”; não somente com a autoridade de, mas atraídos ao, Senhor Jesus), ali existe um “santuário de Deus”, uma igreja local (“ali estou no meio deles”). A operação do Espírito Santo atrai um grupo de cristãos ao nome singular do Senhor Jesus Cristo, e devido à ação desta Pessoa divina, sem qualquer influência ou autoridade humana, Deus planta uma igreja local!

Isto é confirmado pelo Seu aviso à igreja em Éfeso (Ap 2:1–7). Deus mesmo diz que, se necessário, iria remover aquele candeeiro; só Ele poderia fazer isto, pois Ele é quem havia plantado aquela igreja, no começo.

É claro que Ele pode usar vasos humanos para executar esta obra (I Co 3:6–9), mas estes serão apenas “cooperadores de Deus” (I Co 3:9); o poder e a autoridade sempre serão dEle. Que possamos sempre lembrar deste fato tão solene! A igreja não é uma instituição humana, plantada por homens, que pode ser manipulada ou “cortada” por homens. Deus é quem planta; só Ele é quem tem autoridade para plantar, para preservar e até, em casos extremos, para cortar.

a.2. Alegria

O lugar escolhido por Deus para plantar este jardim foi chamado Éden, uma palavra hebraica que significa “agradável”, ou “prazer”. Deus criou um jardim perfeito, onde Ele, juntamente com o homem que criara, poderia passar momentos agradáveis. O profeta Isaías indica que naquele jardim havia “regozijo e alegria, … ações de graça e som de música” (Is 51:3).

Da mesma forma, o Senhor deseja que o Seu povo possa experimentar, hoje, o prazer maravilhoso da Sua presença. E esta comunhão, tão agradável, deve ser encontrada no seio da igreja local. É verdade que cada um deve ter comunhão, individualmente, com seu Salvador, mas é um fato bíblico que, nesta dispensação da graça, Deus fortalece e anima seus filhos através da comunhão da igreja local. Ele quer que, na igreja, haja um só sentimento, um só amor (Fl 2:2), onde os membros mais fracos possam ser ajudados pelos mais espirituais (Gl 6:1), todos “lutando juntos pela fé evangélica” (Fl 1:27). Ele quer que a comunhão sincera e verdadeira do Seu povo, uns com os outros e com Ele, possa animar e consolar a cada um, trazendo verdadeiro prazer espiritual! Aqui na Terra, poucas coisas se comparam à esta comunhão divina; é realmente sublime a alegria que um verdadeiro servo de Deus sente em lembrar do Seu Senhor junto com um grupo dos seus irmãos, por menor ou mais humilde que este grupo seja. Como disse o Espírito, através de Davi: “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos” (Sl 133:1).

Isto nos faz lembrar, porém, de algo muito importante. Irmãos, será que sentimos prazer nas reuniões da nossa igreja? Ela é um lugar agradável a nós? Se a resposta for “não”, será que estamos nos esforçando, positivamente, para que esta situação mude? Não de uma maneira hipócrita, querendo que todos concordem conosco, mas “considerando cada um os outros superiores a si mesmo” (Fl 2:3).

Além disto, será que a comunhão da nossa igreja local é tão verdadeira e espiritual, que os novos convertidos, ou irmãos mais fracos, sentem prazer nesta comunhão? Será que estamos obedecendo à exortação do Espírito: “… restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; fazei caminhos retos para os vossos pés, para que não se extravie o que é manco, antes seja curado” (Hb 12:12-13)? Estamos animando, ou ajudando a desanimar?

E a pergunta mais solene: será que o “Senhor, Deus dos céus, Deus grande e temível” (Ne 1:5), considera a minha igreja local como um lugar de alegria? Será que a igreja onde você se reúne é um lugar onde Ele pode gozar de comunhão verdadeira com Seu povo, como Ele fazia, no começo, lá no Éden?

Que Deus nos ajude a apreciarmos a alegria que deve ser característica de cada igreja de Deus, e trabalharmos para consolidar esta alegria, nunca para diminuí-la.

a.3. Acessibilidade

O jardim de Deus foi plantado no Éden, mas o Espírito nos dá ainda mais detalhes; foi “da banda do Oriente” (literalmente, “olhando para o Oriente”). Porque mencionar este fato, aparentemente irrelevante? A Palavra preciosa e perfeita de Deus não omite qualquer coisa necessária, e nem tão pouco menciona qualquer coisa desnecessária. O que podemos aprender, então, desta expressão: “da banda do Oriente”?

A palavra hebraica aqui traduzida “Oriente”, junto com suas cognatas, aparece muitas vezes no Velho Testamento (um total de cento e setenta e uma vezes). Sem tomarmos o espaço necessário para entrar em detalhes, podemos afirmar que, analisando com cuidado todas estas ocorrências, percebemos que o Oriente, na Bíblia, representa o lugar do homem que se afastou de Deus. Quando a Bíblia fala de alguém indo para o Oriente está enfatizando que ele se afasta de Deus, e aquele que vem do Oriente geralmente é alguém que esteve bem longe de Deus. Obviamente, isto é apenas figurativo; ir para o Oriente hoje não é sinônimo de afastamento de Deus, e nem os habitantes do Ocidente são, de qualquer forma, superiores aos do Oriente. Mas o Espírito nos ensina, também, através de figuras, e a figura apresentada pelo oriente, na Bíblia, é a de um lugar longe de Deus. Veja algumas confirmações disto.

A expressão “vento oriental” ocorre dezenove vezes no VT, sendo que, em dezesseis destas, ela é sinônimo absolutamente claro de destruição ou pecado (veja, por exemplo, Gn 41:6; Is 27:8; Jr 18:17; Ez 27:26). Veja, também, as pessoas que foram para o Oriente: Adão e Eva, depois da queda (Gn 3:24); Caim (Gn 4:16); Ló (Gn 13:11); os outros filhos de Abraão (Gn 25:6), etc. Em Ez 8:16, lemos de “cerca de vinte e cinco homens, de costas para o templo do Senhor, e com os rostos para o oriente; adoravam o sol virados para o oriente”. Em vista disto, parece ser justificável afirmar que o Oriente, na Bíblia, indica o lugar do homem longe de Deus.

Como podemos entender, então, o motivo que levou o Espírito a destacar que o jardim do Éden ficava na banda do Oriente do Éden? É o mesmo que temos no Tabernáculo e no Templo construído por Salomão, cujas portas olhavam para o Oriente. É uma figura da graça de Deus, que tornou a salvação acessível ao ser humano. Quando o pecador, perdido em seu pecado, quisesse, pela operação do Espírito, buscar a Deus, ele iria virar as costas ao Oriente, e a primeira coisa que ele poderia ver seria a porta da casa de Deus! Não seria necessário rodear a casa, procurando a entrada; Deus a colocou bem na sua frente. Louvamos a Deus porque Ele não tornou a salvação desnecessariamente complicada. O pecador que deseja ter o perdão dos pecados não tem que sair procurando um caminho escondido; a Porta, aberta pela graça de Deus, está ao alcance do mais fraco ser humano!

Assim também uma igreja local deve ser um lugar acessível [Estou pensando em “lugar” no sentido figurado; não me refiro à entrada no local de reuniões da igreja local, mas à entrada na igreja, passar a fazer parte do corpo]. Não um lugar onde qualquer um entra, sem questionamento, mas onde qualquer um que queira se submeter à Palavra de Deus encontrará livre acesso. Não é uma questão de recepção à Ceia do Senhor, pois o Novo Testamento realmente fala de recepção à comunhão da igreja, e isto inclui muito mais que simplesmente o Partir do Pão. Só poderá ser aceito à comunhão da igreja local (e, portanto, participar da Ceia) aquele que, confessando o Senhor Jesus como Salvador publicamente pelo batismo, estiver disposto a obedecer plenamente os princípios neo-testamentários que governam a igreja local, e manter-se separado do mundo e do pecado. Jamais devemos abrir mão desta exigência. Mas não devemos acrescentar qualquer outro obstáculo; não podemos exigir um certo tipo de roupa (além da vestimenta decente, é claro), ou determinado nível social, ou grau de instrução, etc. Qualquer discriminação humana é totalmente condenada (veja Tg 2:1-13).

Aquilo que Deus exige para a entrada na Sua casa (que hoje é a igreja local, I Tm 3:15) não pode ser esquecido; qualquer ser humano só pode entrar pela Porta. Mas não podemos dificultar desnecessariamente este processo; a porta da igreja local tem que estar olhando para o oriente, para os pecadores e para os indoutos. Adotar táticas humanas, diluir a mensagem, e animar mais as reuniões para atrair o incrédulo, são sugestões da carne; mas mostrar um amor verdadeiro e sincero aos pecadores, apresentar o Evangelho de maneira tão clara que até uma criança possa entender, fazer com que os visitantes se sintam realmente bem-vindos em nosso meio, sair ao encontro deles de casa em casa se eles não querem vir ao salão onde nos reunimos, isto é tornar a igreja acessível.

O padrão elevado que Deus exige tem que ser mantido; o que nós não temos o direito de fazer é acrescentar, às exigências de Deus, as nossas próprias.

b. A preeminência do Filho (2:9)

b.1. Aparência agradável

O jardim do Éden deve ter sido, sem sombra de dúvida, um lugar extremamente belo. Não simplesmente um lugar onde o espírito e a alma encontravam alegria (como vimos acima), mas também um lugar onde os olhos se enchiam com as belezas físicas ali expostas. Deus, o sábio Criador, plantou árvores, e eram árvores agradáveis à vista. Aquele jardim manifestava o poder e a perfeição do Seu Criador.

Da mesma forma, uma igreja local deve manifestar, perante os homens e os anjos, a beleza da santidade de Deus. Além de ser um lugar onde o verdadeiro cristão encontrará prazer espiritual junto com seu Senhor, deve ser também um lugar onde os indoutos ou incrédulos poderão ver a ordem e perfeição que são características do nosso Deus.

I Coríntios cap. 14 deixa isto bem claro. Ao mostrar a necessidade de haver ordem nas reuniões da igreja, o Espírito nos revela, primeiro, o lado negativo (v. 23). Se a reunião for desordenada, os incrédulos ou indoutos irão dizer que somos loucos. Mas os vs. 24 e 25 apresentam o lado positivo: quando tudo é feito “com decência e ordem” (v. 40), o resultado é que o nome de Deus será glorificado (v. 25).

Em relação à “decência”, estamos precisando, hoje em dia, reaprender o significado da palavra “reverência”. Lamentavelmente, muitas igrejas de Deus estão se portando com tanta leviandade, bagunça e falta de reverência, que o nome de Deus acaba sendo blasfemado (compare Rm 2:24). Que o Senhor nos dê a coragem para desprezar as táticas sensacionais e barulhentas, que só agradam à nossa alma; que Ele nos dê a intrepidez necessária para valorizarmos as reuniões simples, reverentes e espirituais que agradam ao nosso espírito e, principalmente, a Deus.

Quanto à “ordem”, é importante lembrarmos que a igreja não é um lugar sem autoridade, onde cada um faz o que bem entende; não é uma ditadura, onde um homem domina sobre os outros; nem é uma democracia, onde a vontade da maioria é feita; a igreja é uma Teocracia, onde Deus reina. Homens fieis e santos, levantados por Ele, presidem sobre o povo de Deus, submetendo-se, porém, ao Senhor dos senhores (Hb 13:17, etc.).

A igreja de Deus é o lugar onde a beleza da Sua santidade deve ser vista. Que possamos fazer tudo com decência e ordem (I Co 14:40), resplandecendo como luzeiros no mundo (Fl 2:15), para que o mundo seja atraído pelas belezas do nosso Deus, reveladas no Senhor Jesus Cristo.

b.2. Alimento

O jardim do Éden não satisfazia apenas aos olhos; também fornecia alimento abundante e variado, com toda sorte de árvore boa para alimento.

Uma igreja que não esteja fornecendo alimento para o rebanho está em grande falta, e dificilmente poderá crescer. Para haver crescimento é necessário alimento, e este deve ser encontrado, principalmente, na igreja, pois o Novo Testamento mostra claramente que é em comunhão com a igreja que o cristão cresce (veja Ef 4:11–16, por exemplo).

Deus fez provisão para esta necessidade, pois “Ele mesmo concedeu uns para … pastores e mestres”. Ele próprio deu, para cada igreja, irmãos capacitados para alimentar o povo de Deus através do ensino da Palavra. E não são somente os pastores e ensinadores que tem esta responsabilidade; os anciãos também devem ser aptos para ensinar (I Tm 3:2). Nem sempre esta aptidão será para o ensino público. Muito pode ser feito em conversas ou visitas particulares, em circunstâncias onde o ensino público não pode, ou não consegue, surtir o efeito desejado. Mas, seja por meio do ensino público ou individual, a verdade é que, em cada igreja local, o alvo deve ser que cada um dos membros esteja encontrando alimento para as suas necessidade.

Neste sentido, como está a igreja onde você se reúne? Há alimento suficiente? Há variedade de alimento (“toda sorte de árvore”)? Se não, você está preocupado com isto? “Mas eu não tenho o dom de ensinar”, você diz; ou então: “Mas eu sou uma irmã; a Bíblia me proíbe de ensinar publicamente na igreja”. Mas, se não temos o dom de ensinar, estamos exortando em particular, com palavras e com nosso exemplo? Se não podemos ensinar publicamente, estamos ensinando em particular? Nós louvamos a Deus pelos servos eruditos que Ele capacitou para nos ensinar; mas não podemos esquecer que não é necessário saber definir hermenêutica ou homilética para poder alimentar o povo de Deus. O Servo perfeito, que soube “dizer uma palavra em tempo oportuno ao cansado”, era Aquele que despertava “todas as manhãs” para ouvir a voz de Deus (Is 50:4). Precisamos dos eruditos; principalmente, porém, necessitamos de homens e mulheres que, não se preocupando com o reconhecimento por parte dos homens, procuram estar em comunhão com Deus, ouvindo a Sua voz, para poderem nos falar palavras oportunas.

b.3. Atração

Quando Eva tentou descrever o jardim do Éden, ela disse que a árvore que estava no meio do jardim era a árvore do conhecimento do bem e do mal (3:2–3). Parece que tanto esta, quanto a árvore da vida, estavam na região central do jardim, e não precisamos discutir qual delas ocupava o centro geográfico. O importante é que, para Eva, a árvore central, a mais importante, era a árvore proibida; para Deus, porém, a árvore que estava no centro do jardim era a árvore da vida (2:9), uma figura muito clara daquele que nos dá a vida eterna, o Senhor Jesus.

O centro de toda verdadeira igreja de Deus será ocupado unicamente pelo Senhor Jesus Cristo. É ao nome dEle que reunimos (Mt 18:20), atraídos por Ele e submissos a Ele. Ele é o Cabeça da Igreja que é o Seu corpo, e será também de toda igreja local que Lhe pertença (Cl 2:19; Ef 4:15, etc.). Não temos o direito de colocar qualquer outra coisa, ou pessoa, no centro da igreja. Se não somos atraídos unicamente ao nome de Cristo, se não permanecemos unidos simplesmente por amá-Lo, se não nos submetemos incondicionalmente à Sua palavra, então renunciamos ao direito de ter a Sua presença conosco. Poderemos ser uma “igreja”, mas não seremos uma igreja de Deus.

Que possamos recusar toda teoria, invenção, preceito ou tradição que vem dos homens, submetendo–nos somente à autoridade de Cristo. Que saibamos respeitar aqueles homens dedicados que Ele próprio levantou para guiar o rebanho, mas jamais permitir que um deles (ou qualquer outro mortal) usurpe o lugar central na igreja local; este lugar pertence somente a Cristo! Que possamos nos esforçar para ver Cristo entronizado, respeitado, obedecido e exaltado em nosso meio!

c. O poder do Espírito (2:10)

c.1. Altura

Percebemos que este jardim era mais alto do que as terras ao seu redor, pelo fato de que o rio saia do jardim e fluía para as terras ao redor. É um fato comprovado que a água, em seu estado líquido, quando não impelida por uma força externa, corre sempre do lugar mais alto para o mais baixo. Como este rio nascia no Éden, e dali saia para outras terras, fica bem claro que o jardim estava num local elevado.

Esta deve ser, também, uma característica das igrejas de Deus hoje. Elas estão no mundo, mas não são do mundo. O mundo é inimigo de Deus (Tg 4:4) — uma igreja local é casa de Deus (I Tm 3:15), é um “santuário de Deus … sagrado” (I Co 3:17). Espiritualmente, deve haver uma distância enorme entre uma igreja de Deus e o mundo. A organização da igreja não irá copiar a política humana, com sua democracia desordeira; as atividades da igreja não poderão ser confundidas com atividades de instituições mundanas; a adoração duma igreja verdadeira será sempre muito superior à religiosidade fria e formal do mundo religioso.

A igreja não deve procurar atrair os pecadores com aquilo que o mundo oferece. O mundo tem diversão, filmes, festas; a igreja deve apresentar algo muito diferente, e muito superior. Há algo de errado com nosso proceder se os incrédulos se sentem bem em nossas reuniões. Numa reunião onde o Espírito tem liberdade de agir, o resultado será exatamente o contrário: o incrédulo ou indouto é “por todos convencido, e por todos julgado” (I Co 14:24). Ele irá se sentir incomodado, percebendo que não somos iguais a ele (espiritualmente); ele irá perceber que é um pecador, e que necessita da salvação. Devemos ser cordiais e amáveis, fazendo com que ele se sinta muito bem-vindo; mas não podemos esquecer que nossa intenção, ao trazê-lo, não é simplesmente que ele volte outra vez; é que ele perceba o seu pecado, e aceite a Cristo.

Em suma: as igrejas de Deus devem ser lugares espiritualmente elevados. Que nos chamem de radicais, fanáticos, etc.; nós não podemos, em qualquer circunstância, abaixar os padrões elevados de santidade e pureza que Deus exige de nós, Seu povo. O desejo de Deus para o Seu povo é que sejam um alvo, um exemplo para o mundo perverso (Fl 2:15). Que responsabilidade! Estamos buscando algo mais elevado do que aquilo que o mundo apresenta? Ou estamos manchando nosso testemunho com a lama da irreverência e leviandade, sob o pretexto de atrair as multidões? “O santuário de Deus, que sois vós, é sagrado” (I Co 3:17). É melhor uma igreja pequena, mas “elevada”, do que uma igreja numerosa vivendo no vale, junto com o mundo.

c.2. Água

O jardim do Éden não era árido ou estéril, como já temos visto; era um lugar onde cresciam toda sorte de árvores; um jardim cheio de vida, exuberante e atraente. Mas, de onde vinha a vida deste jardim? Em parte, da neblina que regava toda a terra (2:6), mas principalmente do rio que saia do Éden.

Um rio, na Bíblia, é uma figura muito apropriada do Espírito Santo, conforme a Palavra de Deus nos explica em João 7:38-39. Este rio, portanto, é uma figura da atuação do Espírito Santo no meio do povo de Deus, dando-lhe a vida e poder necessários para servir ao Senhor. É o Espírito quem nos torna capazes de servir a Deus, pela Sua presença conosco (Jo 14:16) e pelos dons que Ele nos dá (I Co 12:8). Ele também habita na igreja local (I Co 3:16), e é Ele quem irá operar no meio da igreja, levando-nos a obedecer ao Cabeça. A autoridade é de Cristo; o poder é do Espírito.

É fundamental que nossas igrejas tenham um rio para regá–las. A vida, o poder de nossas igrejas não pode vir de outra fonte, a não ser o Espírito Santo. Se, na igreja onde você se reúne, o trabalho é feito no poder do homem, conforme a programação dos homens, onde está o Espírito de Deus? É nosso dever tirar da igreja todas aquelas coisas que só agradam a carne, coisas que o Espírito de Deus jamais nos autorizou a introduzir. Podem ser inofensivas; podem até ser bonitas, mas vão limitar a liberdade que o Espírito tanto deseja ter. As religiões humanas, para atrair e manter seus membros, precisam da ajuda de muitas coisas humanas; uma igreja de Deus, porém, para atrair cristãos ao nome de Cristo, só precisa do poder do Espírito que, como um rio, irá espalhar a Sua influência por todo o jardim.

c.3. Alcance

Aquele rio não permanecia só no jardim do Éden; ele se dividia e atingia outras terras também (Havilá, Cuxe, Assíria), permitindo que elas fossem beneficiadas pela vida que havia nele. Um rio, pela sua própria natureza, não consegue ficar parado, mas avança sempre. Você se lembra daquela profecia impressionante, registrada em Ezequiel 47? Um rio que, quanto mais se afastava do santuário, e quanto mais se aproximava do mar Morto, mais profundo ficava; e o homem que guiava Ezequiel lhe disse: “tudo viverá por onde quer que passe este rio” (v. 9).

O mesmo deve acontecer com uma igreja local. O poder do Espírito Santo, operando nela como um rio, não poderá ser escondido do mundo, nem trancado dentro de quatro paredes. Quando a igreja manifesta, pela direção do Espírito, o Senhorio de Cristo, ela irá resplandecer como um luzeiro no mundo (Fl 2:15), e outros serão atraídos pelo seu testemunho. A ordem do Senhor aos Seus discípulos foi para que avançassem até aos confins da Terra (At 1:8), e o Espírito de Deus deseja estimular-nos a cumprir esta ordem. Veja o exemplo da igreja em Tessalônica: “Porque de vós repercutiu a palavra do Senhor, não só na Macedônia e Acáia, mas por toda a parte se divulgou a vossa fé para com Deus” (I Ts 1:8). Todo cristão sincero deverá estimular esta visão em seus irmãos, desejando expandir, alcançar outras terras que estão secas.

Esta não é uma necessidade distante; muitas vezes, a terra mais seca não está do outro lado do planeta, mas no nosso quintal. Na sua cidade, quantos bairros estão desertos espiritualmente? Perto dali, quantas cidades sem nenhum testemunho conforme as Escrituras? Como seria bom se o Senhor reavivasse em nossos corações o desejo de multiplicar pela divisão. Não divisão contenciosa — isto é sempre obra da carne — mas divisão unida e pacífica. Parece uma contradição; multiplicar pela divisão, dividir com união; mas é a melhor maneira de expandir. Uma igreja, por exemplo, com sessenta membros, pode muito bem se tornar em duas igrejas, cada uma com aproximadamente trinta membros, reunindo em dois bairros diferentes da cidade. Permaneceriam plenamente unidas, cooperando uma com a outra, mas seriam agora duas igrejas locais distintas. Um novo bairro daquela cidade teria a bênção de possuir um testemunho ao nome de Deus (os incrédulos daquele bairro não iriam apreciar isto, mas haveria uma luz brilhando ali). Outras pessoas teriam a oportunidade, não apenas de ouvir o Evangelho pelas pregações, mas de ver o Evangelho pela vida da igreja. E, com o tempo, estas duas igrejas teriam crescido o suficiente para se dividirem novamente, produzindo, pela divisão pacífica e dirigida pelo Espírito Santo, uma verdadeira multiplicação.

Se estamos gozando das bênção do Espírito Santo na nossa igreja, vamos olhar para os lados. Há muitas terras aí fora, mesmo em nossas próprias cidades e regiões, aonde Deus quer acender um candeeiro, espalhando as bênçãos que só o Espírito Santo distribui, trazendo vida a mares mortos, trazendo luz a noites escuras. Que o rio que sai do nosso jardim, da nossa igreja, possa se dividir em quatro, oito, vinte braços, para que, por todos os cantos deste imenso país, possa resplandecer e brilhar a glória de Deus, através do testemunho do Seu povo.

d. Conclusão

Deus plantou o jardim do Éden para nele ter comunhão com o homem. Adão e Eva abusaram deste privilégio, e foram expulsos dali. Depois desta tentativa de comunhão, fracassada por culpa do homem, Deus habitava no meio no Seu povo nas habitações construídas conforme as Suas instruções (no Tabernáculo e nos Templos). Hoje, “entretanto, não habita o Altíssimo em casas feitas por mãos humanas” (At 7:48), pois nesta dispensação Ele habita no cristão, individualmente (I Co 6:19), e na igreja, coletivamente (I Co 3:16-17).

Quantas vezes, porém, sentimos que estamos transformando a casa de Deus em nossa própria casa, onde as nossas leis são obedecidas, as nossas pregações são anunciadas, as nossas músicas são apresentadas, e a nossa honra é buscada. “Não sabeis que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado”.

Que o Senhor mostre cada vez mais aos nossos corações a santidade e preciosidade duma igreja local. É um paraíso de Deus aqui na Terra. Que possamos estudar a Palavra de Deus, para saber “como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade” (I Tm 3:15).

© W. J. Watterson

Tuesday, 30 September 2014

A ignorância dos sábios

Nem toda ignorância é resultado de falta de inteligência. Isaías, no cap. 29 da sua profecia, fala de pessoas que ignoram o conteúdo de uma profecia porque ela foi selada, enquanto outros a ignoram porque não sabem ler:

Por isso toda a visão vos é como as palavras de um livro selado que se dá ao que sabe ler, dizendo: “Lê isto, peço-te”; e ele dirá: “Não posso, porque está selado”. Ou dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: “Lê isto, peço-te”; e ele dirá: “Não sei ler”.

E a culpa de tudo isto? Ouça Isaías novamente:

Pois que este povo se aproxima de Mim, e com a sua boca e com os seus lábios Me honra, mas o seu coração se afasta para longe de Mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído.

Vemos isto ao nosso redor todos os dias. Pessoas inteligentes, estudiosas e instruídas, que andam tateando no escuro, sem saber aonde vão! Como são verdadeiras as palavras do profeta quanto aos sábios deste século:

Ai dos que querem esconder profundamente o seu propósito do Senhor, e fazem as suas obras às escuras, e dizem: “Quem nos vê? E quem nos conhece?” Vós tudo perverteis, como se o oleiro fosse igual ao barro, e a obra dissesse do seu artífice: “Não me fez”; e o vaso formado dissesse do seu oleiro: “Nada sabe”.

“Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Rm 1:22). Seria cômico se não fosse trágico; seria engraçado, se não estivesse tão próximo de nós (nos professores dos nossos filhos, nos líderes da nossa política, etc.). Seria assustador, se não tivéssemos sido avisados.

Oremos pela preservação das nossas famílias e das igrejas do Senhor nestes dias de tanto estudo e tanta ignorância.

© W. J. Watterson

Thursday, 25 September 2014

Correção de Pai para filho

“Feriu-o como feriu aos que o feriram? Ou matou-o, assim como matou aos que foram mortos por Ele?” (Is 27:7).

Este versículo em Isaías parece, à primeira vista, um pouco difícil de entender. Quem feriu quem? Mas quando percebemos a mensagem do versículo, vemos mais uma confirmação do cuidado terno do Pai para conosco, mesmo quando Ele nos corrige.

Poderíamos traduzir o versículo assim: “Será que o Senhor feriu Israel da mesma forma que feriu os ímpios que feriram Israel? Será que Ele matou Israel, assim como fez com os ímpios que Ele matou?” A resposta, ímplicita na pergunta, é: “Não!” O Senhor está lembrando Seu povo que seria necessário castigá-los pela sua rebeldia, mas que Ele estaria agindo como um pai ao corrigir um filho, e não como um juiz ao condenar um réu. Como cantamos: “É por amor que nos castiga; mui perto está, e a dor mitiga; Deus é fiel” (Sarah Poulton Kalley, H. e C. nº 206).

Há muitos outros versículos que confirmam esta verdade: “Porquanto darei fim a todas as nações entre as quais te espalhei; a ti, porém, não darei fim, mas castigar-te-ei com medida” (Jr 30:11); “O Senhor me castigou muito, mas não me entregou à morte” (Sl 118:18); “Quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (I Co 11:32).

Portanto, que possamos receber a correção do Senhor humildemente, pois Ele nos corrige com amor, e por amor (Hb 12:5-7).

© W. J. Watterson

Tuesday, 16 September 2014

O maná e a vida de Cristo

Muito já foi escrito acerca das diversas lições que o maná nos ensina sobre Cristo. Nesta pequena meditação quero destacar a maneira como o maná foi chamado na Bíblia (seja pelos homens, seja por Deus). Temos sete nomes diferentes para descrever o maná:

  1. Pão dos Céus (Êx 16:4);
  2. Maná (Êx 16:15);
  3. Pão vil (Nm 21:5);
  4. Trigo do Céu (Sl 78:24);
  5. Pão dos anjos (Sl 78:25);
  6. Comida espiritual (I Co 10:3);
  7. Maná escondido (Ap 2:17).

O mais impressionante desta lista é perceber como estes títulos, na ordem em que aparecem nas Escrituras, apresentam um resumo cronológico do relacionamento de Cristo com os homens. Os primeiros quatro descrevem Sua trajetória dos Céus até o Calvário, e os últimos três resumem Seu ministério presente. Como são perfeitas as Escrituras! Quando Deus inspirou Moisés a escrever Êxodo cap. 16, Ele já tinha em vista o texto de Apocalipse 2, e distribuiu estes sete títulos pela Sua Palavra desta forma tão perfeita.

Sem tomar muito espaço para desenvolver este assunto, repare resumidamente os paralelos entre a lista de sete títulos acima e a vida do Senhor Jesus.

O primeiro título, Pão dos Céus, lembra-nos que Cristo veio dos Céus para habitar entre nós. Para muitos Ele era de Nazaré; alguns poderiam afirmar que Ele viera de Belém; na realidade, Ele veio do Céu.

O segundo título (“maná”) indica espanto e surpresa. A exclamação dos judeus quando viram o maná pela primeira vez (“Que é isto?”, Êx 16:15) é, no hebraico, “Maná?” Surpresos ao ver algo totalmente diferente, eles disseram: “Maná?”, ou, em português: “Que é isto?”, e esta expressão acabou se tornando o nome mais conhecido deste alimento. O espanto dos judeus é, até certo ponto, normal (afinal, nunca antes alguém vira maná), mas é também, injustificável (pois Deus havia avisado no dia anterior que lhes daria pão do Céu). A verdade é que, por esquecimento, ou por desprezo, ficaram espantados quando viram o maná.

É exatamente isto que aconteceu com o Senhor quando Ele veio ao mundo. Apesar da Sua vinda ter sido amplamente profetizada, e do povo de Israel aguardar ansiosamente a vinda do Messias, quando Ele finalmente veio, ficaram espantados. Os principais dos judeus admiraram a Sua inteligência e respostas quando Ele tinha doze anos (Lc 2:47). Os habitantes de Nazaré, que conviveram com Ele durante toda a Sua infância e juventude, quando O ouviram pregar pela primeira vez “se maravilhavam … e diziam: Não é este o Filho de José?” (Lc 4:22). A maneira como Ele nasceu e viveu, a maneira como Se comportou, a maneira como pregava, as pessoas com quem andava, tudo foi motivo de espanto para aqueles que deveriam estar preparados para recebê-lO.

Quando passamos para o terceiro título (“Pão vil”) somos lembrados que os homens rapidamente passaram do espanto para o ódio, e clamaram pedindo a Sua crucificação.

O quarto título, porém, nos lembra que aquele que os homens odiaram e crucificaram produziu muito fruto para Deus pela Sua ressurreição. Quando Deus chama o maná de “trigo dos Céus”, a substituição da palavra “pão” pela palavra “trigo” muda a ênfase do alimento, não mais enfatizando o sustento que ele traz, mas sim o fruto que ele produz (o trigo é muitas vezes usado nas Escrituras como símbolo de fruto; veja Jo 12:24).

O quinto título (“pão dos anjos”) nos lembra que hoje Ele está rodeado dos anjos, sendo adorado na glória celeste, enquanto que o sexto (“alimento espiritual”) lembra-nos da nossa necessidade de alimentar-nos dEle enquanto atravessamos o deserto em que estamos hoje.

E, por fim, o próprio Senhor fala do “maná escondido”. Em Êx 16:32-34 encontramos a ordem do Senhor para guardar um ômer de maná perante o Senhor, e este ômer de maná foi escondido dentro da arca da aliança (Hb 9) no Santo dos Santos. Tudo no Tabernáculo fala de Cristo; as coisas “escondidas”, porém, aquelas que ficam além do véu, sem dúvida falam daquilo que Cristo representa para o Pai, das belezas e glórias dEle que estão ocultas ao olho humano. Creio que o Senhor está dizendo que o vencedor poderá apreciar belezas da glória de Cristo que apenas o Pai conhece. Quão grande seria este privilégio! Não apenas conhecê-lO como Seus santos O conhecem, mas conhecê-lO como o Pai O conhece! Lembrando que I Co 2:9-10 nos fala de coisas inescrutáveis para o homem natural, mas que são reveladas hoje aos que O amam, podemos crer que este privilégio pode ser nosso hoje!

Assim, os sete títulos falam de como Cristo encarnou-Se (“pão dos Céus”), foi recebido com espanto (“maná — que é isto?”) e ódio (“pão vil”), mas pela Sua morte e ressurreição produziu muito fruto para Deus (“trigo do Céu”). Elevado à glória celeste, Ele hoje é o “pão dos anjos” quanto ao Céu, e o “alimento espiritual” para Seu povo aqui na Terra. Como seria bom se também estivéssemos nos alimentando do maná escondido, que tanto agrada ao coração do Pai!

Levantemos cedo de nossas camas, então, ansiosos por colher o Maná diário do qual tanto precisamos!

© W. J. Watterson

Monday, 25 August 2014

Os sete candeeiros de ouro

Autor desconhecido (favor informar se souber)
Na visão maravilhosa que João teve do Senhor Jesus na ilha de Patmos (Apocalipse cap. 1), a primeira coisa que ele descreve são os sete candeeiros. Não que eles fossem aquilo que mais se destacava na visão — pelo relato de João, fica claro que o Senhor, em toda a Sua glória, foi quem prendeu a atenção do apóstolo. Mas quando João vira, ele vê primeiro “sete castiçais de ouro”.

Por quê? Se lembramos que os candeeiros são figuras das sete igrejas (que, por sua vez, são representativas de todas as igrejas locais desta dispensação), então percebemos como é destacada a importância do testemunho de uma igreja local. Os candeeiros só estavam ali porque o Senhor estava ali, e só chamaram a atenção de João momentaneamente; mas foram mencionados primeiro. Não era possível olhar para os candeeiros e não ver o Senhor, e não era possível olhar para o Senhor sem que seu olhar passasse pelos candeeiros. Da mesma forma, sabemos que uma igreja local só existe enquanto o Senhor está ali, e toda a importância e glória da igreja está nEle; mas a igreja tem uma importância enorme, pois ela é um dos meios pelos quais Cristo pode ser conhecido do pecador hoje em dia; ela é um testemunho dEle.

Repare que eram sete candeeiros, não um candelabro com sete lâmpadas como no Tabernáculo. O candelabro destacava a união do povo de Israel, mas estas sete peças individuais, separadas, destacam a autonomia de cada igreja local. Não estão ligadas uma à outra; o único elo que unia estes candeeiros era o Senhor no meio.

Eram sete candeeiros (a melhor tradução da palavra grega luchnia), isto é, um suporte para lâmpadas que consomem óleo, e não velas. A figura é importante. As igrejas não são apresentadas sob a figura de velas (isto é, algo que produz luz enquanto consome-se a si mesmo), mas sim como lâmpadas ou lamparinas (isto é, algo que produz luz ao queimar óleo). Assim é destacada a importância do óleo, que nas Escrituras é uma figura do Espírito Santo. As igrejas só podem iluminar através da operação do Espírito Santo.

Eram sete candeeiros de ouro! O ouro fala-nos de algo precioso e puro, assim como uma igreja local é preciosa aos olhos de Deus. Pode ser (e muitas vezes é) desprezada pelo mundo, e até por muitos cristãos, mas é preciosa ao Senhor. No passado Deus podia dizer de Israel: “Aquele que tocar em vós toca na menina do Seu olho” (Zc 2:8). Hoje, o mesmo Deus afirma, falando duma igreja local: “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado” (I Co 3:17).

Esta visão dos sete candeeiros de ouro, portanto, nos fala sobre:

  • O alvo das igrejas — direcionar as atenções para Cristo;
  • A autonomia das igrejas — decorrente da autoridade de Cristo;
  • A atuação das igrejas — depende da ação do Espírito Santo;
  • A avaliação das igrejas — destacando a apreciação de Deus.

Que privilégio fazer parte de uma igreja local, separada dos sistemas e organizações do Cristianismo professo.

© W. J. Watterson

Monday, 18 August 2014

Alguém orou

"Eastman Johnson, Child at Prayer, circa 1873" by Eastman Johnson


Escrito em 1996, livremente baseado num poema em inglês de F. M. Nesbit (leia o original).

Alguém orou

Das garras vis do tentador
Meu Deus salvou um pecador.
“Por quê?”, alguém pensou;
Porque alguém orou…

A fraca ovelha, sem vigor,
Foi restaurada com amor;
“Por quê?”, alguém pensou;
Porque alguém orou…

Olhando o fruto, o semeador
Agradeceu ao seu Senhor.
“Por quê?”, talvez pensou;
Porque alguém orou…

© W. J. Watterson

Monday, 11 August 2014

Preso (ainda)

Mais um poema antigo (este de Abril de 1995), e que também trata da terrível luta contra a carne. Prometo que na semana que vem posto algo mais animador e alegre. Creio que há proveito em reconhecer nossas fraquezas, e sem dúvida há uma beleza especial que nasce da tristeza. Como escreveu I. Y. Ewan: “There is a joy that lies where pearls lie, deep,/Too deep for those who have no heart to weep” (que quer dizer, mais ou menos: “Há uma alegria que se esconde com as pérolas no fundo do mar,/Fundo demais para quem nunca aprendeu a chorar”). Mas não convém ficar ocupado demais com estas coisas (“wallowing in the Slough of Despond”); é melhor, como disse Jeremias, “trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lm 3:21).


Preso (ainda)

Quantas vezes tropecei!
Eu quis lutar (ah, como tentei!)
Mas cada vez que levantei,
     A carne ainda me seguia…

Um passo, dois, às vezes três,
E o ataque vinha outra vez;
Um golpe seco, de uma vez,
     E a carne ainda me vencia…

Com prepotência eu dizia:
“Chega! Agora nasce outro dia,
E eu irei vencer!” Eu ria,
     Mas a carne ainda me iludia…


Na Tua casa, meu Senhor,
(E só ali) serei um vencedor;
Terei pra sempre o Teu amor,
     E a carne nunca mais verei!

Só resta, agora, esperar…
E enquanto o dia não raiar,
Me ajude, ó Pai, a Te agradar;
     Pois a carne ainda me perturba…

© W. J. Watterson

Wednesday, 6 August 2014

Miserável homem que sou

Outro poema antigo (Fevereiro de 1995), baseado em Romanos 7:24-25. Como poema não é grande coisa, e a pobreza da rima chega a ser constrangedora em alguns versos (“entrega” e “trégua”, por exemplo). Decidi publicá-lo mesmo assim, com a expectativa de incentivar algum cristão na sua luta contra a carne. Quantas vezes desanimamos ao perceber a força e insistência da velha natureza, com seu ódio, sua preguiça, sua imoralidade. Quão preciosas as palavras com que Paulo encerra este capítulo: “Graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor”.

Miserável homem que sou

Como eu queria ser perfeito!
Subir aos ares sem defeito,
Beijar as nuvens com a calma
Que só tem a pura alma!

Como eu queria Te agradar!
Mostrar que já consigo amar
Os que me odeiam, e servir
A todos, sem nada exigir!

Como eu queria…

Mas a carne não se entrega,
Não desiste nem dá trégua
Nesta luta angustiante,
Sem descanso, constante.

Eu clamo, então: “Quem me livrará?
A minha carne, quem a pisará?”
As trevas fogem; eis a luz:
“Graças a Deus por Cristo Jesus!”

© W. J. Watterson

Tuesday, 29 July 2014

Maior tristeza, melhor provisão

Um pequeno detalhe na vida de Elias ilustra a misericórdia de Deus. “Assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor Se compadece daqueles que O temem. Pois Ele conhece a nossa estrutura; lembra-Se de que somos pó” (Sl 103:13-14).

Em três situações distintas Elias recebeu alimento da parte de Deus de forma milagrosa. Comparando estas três situações na sua ordem cronológica, vemos que, à medida que o ânimo de Elias diminuía e sua tristeza aumentava, a provisão de Deus se tornava mais especial e preciosa:

  • Logo no começo do seu ministério, cheio de coragem e vigor, Elias foi alimentado por corvos (I Rs 17:4);
  • Quando o ribeiro Querite secou e Elias começou a sentir os efeitos da sua fidelidade a Deus, Deus o alimentou através de uma viúva (I Rs 17:9);
  • Quando ele fugiu para o deserto e pediu que Deus tirasse a sua vida, Deus o alimentou através de um anjo (I Rs 19:5-7 — possivelmente o próprio Senhor; veja a expressão “Anjo do Senhor” no v. 7). 

Ser alimentado por corvos era algo impressionante e milagroso; mas corvos eram animais imundos para o povo de Israel. Ser alimentado por uma mulher era algo muito mais confortante (mesmo sendo um mulher viúva, pobre, sem recursos). Mas nada poderia se comparar ao privilégio de ser alimentado por um anjo de Deus. E Deus reservou este privilégio para a hora de maior fraqueza do Seu servo.

Podemos confiar na fidelidade de Deus, que sempre cuidará de nós em qualquer circunstância. E podemos nos alegrar na misericórdia de Deus, que reserva as mais sublimes bênçãos para os momentos de maior provação e dificuldade.

© W. J. Watterson

Wednesday, 23 July 2014

Trevas e Luz

Eu vejo num abismo profundo
Um pobre enigma entristecido;
E preso, bem lá no fundo,
Gemidos de um sonho esquecido…

Eu vejo num abismo profundo
(Sem forma, sem cor, sem cheiro)
Uma centelha de outro mundo,
Um lampejo verdadeiro.

Eu vejo um abismo profundo
Perder-se de vista ante o meu Deus;
E vejo um pobre, fraco, e imundo
Achar descanso nos braços Seus.

Escrito em 23/12/94

© W. J. Watterson

Monday, 21 July 2014

Não julgues

Não critiques o homem que tropeça,
Que vai mancando, arqueado,
A não ser que conheças as suas dores
Ou já tenhas carregado o seu fardo.
Pode ser que haja calos em seus pés
Que ele não mostrou a ninguém;
Ou (quem sabe!) o seu fardo em tuas costas
Não te faria tropeçar também?

Não zombes do homem que está caído
A não ser que o mesmo golpe te atingiu,
Ou que conheças a humilhação
Que só conhece quem já caiu.
Talvez sejas forte, mas … quem sabe,
Se o inimigo viesse te atacar
Da mesma forma, nas mesmas circunstâncias …
Tais golpes não poderiam te derrubar?

Não apedrejes o homem que pecou
Como se fosses incapaz de errar,
A não ser que tenhas total certeza
De seres perfeito em teu andar.
Se o tentador viesse sussurrando,
Como fez com teu irmão,
Será que tu (às vezes descuidado!)
Não cairias nesta mesma transgressão?

(Escrito em Setembro de 1994, baseado num poema em inglês.)

© W. J. Watterson

Sunday, 13 July 2014

Por quê?

Há meses que choro, sem dor,
Abraçando um ermo sombrio;
Meus olhos suplicam por calor,
Mas meu sonho está tão frio…

Olhando de longe, eu vejo
Minha vida se quebrando.
As vezes, num breve lampejo,
Um sonho mártir sai vibrando,
Gritando que encontrou a paz;
Mas meus temores, qual vil açoite,
Gritam mais, que não há paz,
E eu me rendo à dor da noite…

E longe (bem longe) alguém me observa,
Confuso, sem saber o que dizer.
Um lindo anjo, puro, observa,
Mas não consegue entender.
“Senhor”, ele diz, “por que não confiam
No Teu amor, na Tua graça e paz?
Por que lutam, sofrem, se afadigam,
Se são ovelhas do Deus da Paz?”

O Deus da Paz não respondeu,
Mas pela Sua face santa uma lágrima escorreu…

(Escrito em Abril de 1994)

© W. J. Watterson

Thursday, 3 July 2014

A grande comissão

Uma breve consideração sobre a comissão do Senhor Jesus Cristo, registrada em dois dos Evangelhos. Baseada em uma pregação numa conferência alguns anos atrás.

Leitura: Mateus 28:18-20 e Marcos 16:15-20



Os versículos acima apresentam aquilo que é chamado de A Grande Comissão — a última ordem do Senhor Jesus Cristo aos Seus servos antes de deixar este mundo. Certamente devemos prestar atenção ao que Ele disse, e nos familiarizarmos bem com esta comissão.

Em primeiro lugar, repare que esta comissão tem dois componentes distintos, cada um apresentado por um dos evangelistas. Em Mateus lemos: “Ide, fazei discípulos de [literalmente, “discipulai”] todas as nações”, e em Marcos: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura”. As duas ocorrências do verbo “ide” nestes dois trechos estão no particípio (no grego), e os únicos verbos que estão na voz imperativa nestas duas comissões são “fazei discípulos [discipulai]” em Mateus e “pregai” em Marcos. Hoje em dia ouvimos muita ênfase sendo colocada no verbo “ide”, mas precisamos lembrar que, apesar de toda a importância de irmos ao mundo inteiro, a ênfase nestes dois trechos não é no “ir”, mas no “pregar” e “discipular”.

A comissão, portanto, é dupla, e poderia ser traduzida assim: “Indo por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura, e discipulai todas as nações”. Mateus apresenta um aspecto dela (o discipulado), Marcos outro (a evangelização), e os outros dois evangelistas a omitem totalmente.

Estas diferenças entre os quatro evangelistas são de suma importância para entendermos corretamente a mensagem de cada um destes relatos inspirados. São quatro retratos da mesma Pessoa e da mesma vida, mas vistos de quatro pontos de vista diferentes. Muitos já tem comparado os quatro relatos com os quatro seres viventes de Ezequiel cap. 1 e Apocalipse cap. 4, seguindo a mesma ordem apresentada em Apocalipse:

  • O primeiro era semelhante a um leão, um símbolo de realeza (Ap 5:5). Em Mateus, Cristo é apresentado como o Rei de Israel.
  • O segundo era semelhante a um bezerro, figura de serviço (I Co 9:9; Pv 14:4). Em Marcos, Cristo é apresentado como o Servo perfeito.
  • O terceiro animal tinha o rosto de homem, lembrando-nos da compaixão humana (Os 11:4). Lucas, o médico amado, nos apresenta o Homem perfeito.
  • O quarto era semelhante a uma águia voando, lembrando-nos daquilo que é do Céu, alto demais para a nossa compreensão (Pv 30:18-19). João nos apresenta a perfeição do Filho de Deus.

Por que Deus nos revelou o Seu Filho assim? Como Andrew Jukes escreve, isto facilita a nossa compreensão da multiforme beleza do nosso Senhor. Com nossa visão limitada, só conseguimos ver as diferentes cores que compõe um feixe de luz quando um prisma é usada para separar estas cores uma das outras. Assim o Senhor, conhecendo a nossa limitação, nos deu estas quatro revelações complementares do Seu Filho. Na glória dos Céus poderemos vê-lO como Ele é, mas hoje é necessário termos estes retratos diferentes. O jardim do Éden, com suas condições perfeitas, podia comportar um rio. Mas quando aquele rio saia do Éden e alcançava as terras comuns que rodeavam o Jardim de Deus, era necessário que ele se dividisse em quatro braços. Assim também com Cristo.

Outro rio do VT nos ajuda aqui. Em Ez 47 lemos de um rio que saia do Templo e atingia o deserto, levando vida e bênção a todos. Quatro vezes Ezequiel é chamado a atravessar o rio, que vai se tornando progressivamente mais profundo. Assim Mateus apresenta um retrato do Senhor que é mais simples de compreender: Ele é o Rei, exatamente como os judeus esperavam que seu Messias fosse. Marcos, falando-nos de como o Rei se fez Servo, apresenta algo que confunde o ser humano — temos dificuldade de entender um amor que faz alguém se humilhar tanto. Em Lucas, porém, as águas são mais profundas: o Rei eterno não se fez apenas servo, Ele tomou a forma humana. Quem pode compreender o mistério da encarnação? Quando chegamos em João, porém, encontramos aquele “rio que eu não podia atravessar”, como escreve Ezequiel. João nos revela detalhes do relacionamento divino entre o Pai e o Filho que estão ausentes nos outros Evangelhos, e nos levam até às portas do Céu.

Lembrando que cada um dos Evangelistas apresenta a mesma história, mas de pontos de vistas diferentes, devemos prestar atenção aos diferentes aspectos da comissão do Senhor Jesus que são apresentados por Mateus e por Marcos. É uma comissão só, com dois componentes principais (evangelizar e discipular) — mas não é à toa que esta única comissão é apresentada em dois relatos bem distintos.

Consideremos, então, resumidamente, os dois componentes da comissão do Senhor Jesus.

Pregai (Marcos)

Comecemos com Marcos, pois no nosso serviço para o Senhor “pregar” vem antes de “discipular”. Consideremos quatro coisas neste trecho: a comissão, a forma como o Comissionador (Cristo) é apresentado, a companhia do Senhor com os discípulos, e o contexto da comissão.

A comissão

“Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura”

Há três elementos desta comissão que podemos destacar: o ato (pregar), seu assunto (o Evangelho) e seu alcance (todo o mundo e toda criatura).

a) O ato (pregai). O verbo que é usado aqui pelo Senhor quer dizer, literalmente, “proclamar como um arauto” (o dicionário de Thayer acrescenta: “sempre com uma sugestão de formalidade, solenidade e autoridade que exigem atenção e obediência”). Em tempos antigos, o arauto era um funcionário escolhido pelas autoridades para transmitir ao povo comunicados importantes. Vestido com vestes oficiais, ele lia, em voz alta e em locais públicos, aquilo que o governante lhe havia entregado para declarar. Ele não tinha a função de explicar o porquê daquela mensagem, nem exortar os ouvintes a obedecê-la — a sua responsabilidade era apenas proclamá-la.

“Pregar” não é dialogar, nem discutir, nem ensinar por métodos indutivos, mas é declarar, anunciar, dar um recado. Veja a diferença apresentada por Paulo em Gl 2:2: “E subi por uma revelação, e lhes expus o evangelho, que prego entre os gentios” (Gl 2:2). Aos irmãos ele “expôs” aquilo que “pregava” entre os gentios — “expor” e “pregar” não são sinônimos.

Irmãos, a pregação é o método escolhido por Deus para salvar pecadores (I Co 1:21). É claro que Ele também salva usando o Evangelho exposto de outras formas (como a conversa particular entre Filipe e o eunuco, por exemplo) — mas tanto I Co 1:21, quanto a comissão do Senhor, enfatizam a importância de se pregar o Evangelho! Há uma solenidade e autoridade associadas à pregação que faltam em outras formas de apresentar esta mensagem gloriosa, e toda igreja local deve dar importância à pregação. Os salvos podem (e devem) proclamar o Evangelho de todas as formas ao seu alcance: distribuindo folhetos, conversando em particular com aqueles que mostram interesse, etc., mas nunca em detrimento da pregação pública do Evangelho. Em outras palavras, nunca falte de uma reunião onde o Evangelho será pregado publicamente para distribuir folhetos, ou fazer um estudo, ou algo semelhante. Como igreja local, devemos dar prioridade à pregação do Evangelho, com reuniões semanais para este fim, e, sempre que possível, séries de reuniões de evangelização.

Num dia em que muitas igrejas estão preocupadas em tornar o Evangelho mais acessível, menos formal e solene, que nós possamos entender que a solenidade da pregação é enfatizada na comissão do Senhor Jesus Cristo.

b) O assunto (o Evangelho). É importante pregar; mas é fundamental pregar o Evangelho, não qualquer outra coisa! Temos um resumo do Evangelho em I Co 15:1:4: “Também vos notifico, irmãos, o Evangelho … Que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”. Resumidamente, portanto, podemos afirmar que toda pregação do Evangelho irá apresentar a razão da morte de Cristo (Ele morreu por nossos pecados) e o resultado da morte de Cristo (Ele ressuscitou ao terceiro dia). É necessário mostrar que o pecado é tão grave que exigiu a morte do próprio Filho de Deus, e que a morte de Cristo é o sacrifício eficaz e suficiente para a nossa salvação (a ressurreição é a prova da eficácia da Sua morte, At 17:31). Como diz Rm 4:25, o Senhor Jesus Cristo “por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação”.

É assim que pregamos? Ou gastamos a reunião inteira exortando o pecador quanto à brevidade da vida, quanto à necessidade de crer, mas não apresentamos Cristo crucificado como o meio de salvação? Podemos dizer, como Paulo: “Nós pregamos a Cristo crucificado”?

Vamos pregar, e pregar o Evangelho!

c) O alcance (todo o mundo, toda a criatura). Duas expressões semelhantes que mostram a abrangência da pregação do Evangelho. Em todo lugar aonde formos, e para qualquer pessoa com quem nos encontrarmos, devemos pregar.

Isto não quer dizer que cada um dos salvos precisa ir, literalmente, ao mundo inteiro e pregar, literalmente, a toda criatura — isto seria impossível. Mas devemos entender estas palavras como um alerta para não fazermos nenhuma discriminação. Não pode existir um lugar do mundo, do qual eu diga (ou pense): “Lá eu não quero ir pregar”, e não deve existir nenhum tipo de pessoa do qual eu diga (ou pense): “Para ele eu não quero pregar”. Todas as nações precisam do Evangelho, e todo tipo de pessoas dentro destas nações precisa do Evangelho. Seja rico ou pobre, religioso ou ateu, honesto ou criminoso, honrável ou imundo, devemos estar dispostos a pregar a todos.

Portanto, devemos pregar (com toda a solenidade e autoridade que esta palavra indica) o Evangelho (as boas novas da morte e ressurreição de Cristo) a todos (sem qualquer discriminação).

O Comissionador

“O Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-Se à direita de Deus”.

Em Marcos, o Senhor que lhes comissiona é apresentado, na Sua glória, de duas formas diferentes:

a) Recebido no Céu. Este verbo está na voz passiva, e enfatiza a maneira como o Céu se alegrou em receber aquele que venceu na cruz. É interessante notar que a ascensão do Senhor Jesus é descrita de quatro formas diferentes no NT, como dois verbos na voz passiva e dois na ativa, sempre associados à palavra “Céu”. Quanto à viagem daqui da Terra até o Céu, lemos que Ele foi elevado ao Céu (Lc 24:51 — voz passiva), mas também que Ele foi ao Céu pelo seu próprio poder e autoridade (At 1:11 e I Pe 3:22, traduzido “subido”, ambos os verbos na voz ativa). Quanto à entrada dEle do Céu, ao final da viagem, lemos que Ele foi recebido no Céu (aqui e em At 1:11, ambos os verbos na voz passiva), mas também lemos que entrou no Céu (Hb 9:24, voz ativa). O NT deixa claro, portanto, estes dois lados da moeda: o Céu abriu as portas para aquele que o mundo rejeitou, e Ele, pelo Seu próprio poder e autoridade, entrou ali.

b) Assentou-Se. Nesta segunda parte da descrição do Senhor, novamente vemos a Sua autoridade. O Céu abriu as portas para recebê-lO, e Ele, entrando, assentou-Se à direita de Deus. Esta é uma afirmação muito clara da divindade do Senhor Jesus Cristo. Quando o anti-cristo se assentar no Templo de Deus, a Bíblia diz que ele estará com isto “querendo parecer Deus” (II Ts 2:4) — mas o próprio Cristo se assenta, não só no Templo, mas no Céu, à direita de Deus, com toda a autoridade e glória que só Deus pode ter.

Irmãos, é este o Senhor que nos manda pregar: aquele que foi pregado numa cruz e morreu pelos nossos pecados — mas também aquele para quem os Céus abriram as suas portas, aquele que entrou vitorioso no Seu lar e assentou-se no Seu próprio trono, o trono de Deus. Aquele do qual diz o Sl 24: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da glória”.

O Rei da glória, antes de entrar pelos portais eternos e assentar-Se à destra do Deus eterno, nos mandou pregar o Evangelho. Estamos obedecendo?

A companhia

“Cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que seguiram. Amém.”

Lemos que os discípulos obedeceram à comissão do Senhor: eles partiram, e pregaram por todas as partes. Enquanto obedeciam ao Senhor, tiveram o enorme privilégio de desfrutar da Sua cooperação — a cooperação do Rei da glória, assentado à destra de Deus! Em II Co 6:1, aprendemos que não apenas estes primeiros discípulos, mas todos quantos nos envolvemos no serviço glorioso de pregar o Evangelho (publicamente ou não), somos também cooperadores de Deus. Que privilégio imenso!

Além disto, lemos que o Senhor confirmou a palavra que eles pregavam, e fez isto através dos sinais que se seguiram. Sem tomar aqui o espaço necessário para desenvolver o assunto, convém lembrar que estes sinais seguiram aqueles primeiros discípulos, mas depois cessaram. Em I Coríntos (escrito mais ou menos no ano 55 a.D.) lemos dos dons sinais — porém Romanos cap. 12 e Efésios cap. 4, que foram escritos alguns anos depois, apresentam listas de dons espirituais (como I Coríntios), mas não incluem nenhum dom sinal nestas listas. E Marcos, escrevendo mais ou menos no ano 63 a.D., refere-se a estes sinais no passado (“sinais que se seguiram”, e não “que seguem”). Podemos deduzir que estes sinais cessaram antes do ano 60 desta nossa era.

Que o consolo destes versículos nos anime hoje: o Rei da glória nos manda pregar, mas Ele não nos deixa sozinhos — Ele mesmo estará conosco, cooperando com todo trabalho feito para Ele.

O contexto

A ordem para pregar se encontra em Marcos, o Evangelho do Servo perfeito. Estamos servindo ao Senhor como Ele serviu? Seu serviço foi:

a) Abnegado (3:20 e 6:31) —tão dedicado que algumas vezes não tinha tempo para comer!

b) Atencioso. A palavra grega eutheos (“imediatamente”) ocorre 80 vezes no NT, e exatamente metade destas ocorrências estão neste pequeno livro de Marcos! Nenhum autor do NT usa tanto esta palavra quanto Marcos, descrevendo um serviço pronto feito por um Servo prestativo.

c) Amoroso. Mais do que os outros evangelistas, Marcos nos revela, muitas vezes, os sentimentos compassivos deste Servo perfeito (1:41; 6:34; 10:21, etc.).

Que nosso serviço seja semelhante ao serviço do nosso Mestre, o Servo perfeito.

Discipulai (Mateus)

Aqui também quero considerar quatro assuntos neste trecho: a comissão, a forma como Cristo, o Comissionador, é apresentado, a companhia do Senhor com os discípulos, e o contexto da comissão.

A comissão

“Ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as cosias que Eu vos tenho mandado”

Há três elementos desta comissão que podemos destacar:

a) O ato (discipular). “Fazei discípulos” é uma só palavra no texto original, e quer dizer “discipular”. Estamos conscientes de que a comissão do Senhor não foi apenas para pregarmos, mas também para discipularmos? Se estamos dando ênfase à pregação do Evangelho, ótimo — continuemos neste caminho. Mas tomemos cuidado para não estarmos tão ocupados com um aspecto da comissão à ponto de esquecermos do outro! Pecadores precisam ser salvos, mas salvos também precisam ser discipulados! Temos esta dupla preocupação aqui na comissão, e vemos o mesmo sendo ilustrado em Atos. No final da primeira viagem missionária, Paulo e Barnabé passam de novo pelas cidades onde haviam pregado o Evangelho, agora com a intenção de confirmar o ânimo dos discípulos (At 14). A segunda viagem missionária foi iniciada com a intenção de visitar os irmãos em todas as cidades onde já haviam anunciado a Palavra do Senhor (At 15).

Este deve ser o padrão ainda hoje: pregar o Evangelho aos perdidos, e ensinar aqueles que crêem.

b) O alcance (todas as nações). Repare que a abrangência desta parte da comissão é idêntica à que já consideramos: todas as nações. Nenhum preconceito.

A diferença nas expressões é interessante. Em Marcos, onde lemos do Servo perfeito de Deus, e ênfase está nas pessoas como indivíduos (devemos pregar a toda criatura). Aqui, onde lemos do Rei dos reis, a ênfase está nas nações. O Rei tem autoridade sobre todas as nações, não importa quão poderosas ou influentes elas possam ser.

c) Os acessórios (batizar e ensinar). O Senhor menciona duas coisas que estão relacionadas com este ato de discipular:

i) Batismo. O NT deixa bem claro que todos os salvos devem ser batizados. Batismo não é necessário para a salvação, mas é estranho, no contexto do NT, um salvo não batizado. Certamente podem haver exceções (falta de tempo, como no caso do ladrão na cruz, ou alguma deficiência física grave, etc.), mas a regra é clara: quem crê, seja batizado. Se você já nasceu de novo e não foi batizado ainda, permita-me perguntar: o que você está esperando?

ii) Ensino. O que vamos ensinar? Todas as coisas que o Senhor mandou! Certamente isto inclui o ensino dados pelos apóstolos do Senhor após a Sua ascensão, ensinos que estão registrados nas epístolas. Inclui o ensino sobre a igreja local (a necessidade de reunir ao nome do Senhor Jesus, separadamente das denominações, e os princípios que governam uma igreja local). Vivemos dias em que os homens não suportam a sã doutrina, e muitos dentre o povo de Deus estão indo atrás de ventos de doutrina. Ensinar toda a verdade não nos tornará populares, mas é o mandamento do Senhor.

O Comissionador

“É-me dado todo o poder no Céu e na Terra”

A palavra traduzida “poder” aqui refere-se a “poder” no sentido de “autoridade”, não de “capacidade”. A afirmação aqui não é que o Senhor consegue fazer qualquer coisa (uma verdade apresentada em outras partes da Bíblia), mas que Ele tem direito de fazer qualquer coisa.

Mateus é o Evangelho do Rei — nada mais apropriado, portanto, do que ver a autoridade que o Senhor apresenta para a Sua comissão. Quem é que nos manda fazer discípulos de todas as nações? Quem é este que tem autoridade para nos mandar interferir na cultura e nos costumes de todos os povos da Terra? Quem é este que Se coloca acima de todos os governos humanos? Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, aquele que recebeu toda a autoridade no Céu e na Terra. Não há ninguém que escapa da Sua autoridade —Ele controla tudo e todos. Ele foi colocado acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro, e tudo foi sujeito debaixo dos Seus pés (Ef 1:21-22).

Tal é a autoridade daquele que nos comissiona a ensinar todas as nações.

A companhia

“Eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.”

Marcos apresenta o que aconteceu quando os discípulos obedeceram à comissão do Senhor, mas Mateus apresenta uma promessa do que vai acontecer (e está acontecendo).

O Senhor promete estar conosco sempre, todos os dias, até a consumação dos séculos. A promessa não era somente até o final da vida dos apóstolos, mas até o final desta dispensação — a promessa é para nós. Todos os dias: mesmo quando esquecemos desta promessa; mesmo quando parece que ela não está sendo cumprida; mesmo quando gostaríamos que ela falhasse. Todos os dias, o Senhor sempre estará conosco — que precioso!

É interessante contrastar esta promessa incondicional com a promessa condicional de Mt 18:20. Ambas tem uma notável semelhança, mas também uma diferença importante: as duas promessas dizem respeito à presença do Senhor conosco, mas a promessa de 28:20 é incondicional, enquanto a de 18:20 é condicional. Ou seja, individualmente, o Senhor está com cada um dos Seus, sempre, todos os dias. Coletivamente, porém, só podemos saber que o Senhor reconhece nosso ajuntamento, e está no nosso meio, se estivermos reunidos ao Nome dEle!

Será que realmente apreciamos o privilégio que temos em fazer parte de uma igreja local?

O contexto

Mateus é quem nos fala acerca da necessidade de discipular — por quê?

O contexto deste Evangelho é o reino dos céus (uma expressão que ocorre mais de 30 vezes aqui em Mateus, e nunca mais no NT). É o Rei que tem autoridade para nos enviar a outros reinos atrás de novos discípulos. Ele não reconhece as barreiras de cultura, língua e tradições — Ele quer discípulos de todas as nações.

Repare também que este é o único dos quatro Evangelhos que usa a palavra “igreja”. No cap. 16 ela é usada da Igreja (o Corpo de Cristo), e no cap. 18 de uma igreja local. É o desejo do Rei que o reino cresça através do desenvolvimento de igrejas locais, composta de discípulos. Uma das nossas principais responsabilidades aqui na Terra é conseguir discípulos, e ensiná-los a reunir unicamente ao nome do Senhor Jesus Cristo, separados das denominações.

Conclusão

Nestes dois trechos temos, portanto, uma única comissão, mas com dois elementos distintos. Aprendemos que o Servo perfeito nos manda pregar o Evangelho a todos, indistintamente, seguindo o Seu exemplo de serviço perfeito e abnegado. Aprendemos também que o Rei nos manda fazer discípulos de todas as nações, batizá-los e ensiná-los a obedecer tudo que Ele nos ensinou.

Estamos cumprindo esta comissão? As igrejas locais são caracterizadas por fervor evangelístico e zelo doutrinário? Cada um de nós, dependendo do dom que possuímos, irá se dedicar mais a uma ou outra destas tarefas, mas devemos reconhecer que ambas são igualmente importantes, e que cada igreja local deve preocupar-se com estes dois aspectos do seu serviço: pregar o Evangelho, e discipular os salvos.

Que Deus nos ajude nesta tarefa.



© W. J. Watterson

Wednesday, 11 June 2014

Zeugma

Da série “Figuras de linguagem na Bíblia”. Leia também:



A palavra grega zeugma quer dizer “jugo” (uma peça de madeira que une dois animais para que trabalhem juntos). Quando usada no campo da Retórica, duas definições divergentes são apresentadas:

  • A Wikipédia (em português) define zeugma como “figura de linguagem que consiste na omissão de um ou mais elementos de uma oração, já expressos anteriormente”. Muita ênfase é dada às palavras “já expressos anteriormente” (inclusive, este detalhe torna-se a diferença entre zeugma e elipse, segundo a Wikipédia). De acordo com esta definição, zeugma é simplesmente um tipo especial de elipse. Uma rápida pesquisa online revelará dezenas de sites de “ajuda a estudantes” em português que simplesmente repetem o que está no site da Wikipédia (a maioria, sem ao menos citar a fonte!).
  • Já a Wikipedia (em inglês) começa sua definição explicando que a palavra quer dizer “jugo”, e portanto define a figura como “uma única frase ou palavra unindo diferentes partes de uma frase”. A ênfase nesta definição não está na omissão de um ou mais elementos de uma frase, mas no fato de que, devido a esta omissão, um único elemento (um verbo, por exemplo) é ligado (como que por um jugo) a diferentes partes da frase.

Esta segunda definição é defendida por diversos autores (Bullinger, Harris — professor de inglês na Vanguard University) e dicionários (Oxford). Eles destacam a relação de dependência entre os elementos da frase que é criada pelo uso desta figura de linguagem, que combina com o significado original da palavra. É esta definição que apresento neste pequeno estudo.

Podemos distinguir pelo menos quatro tipos de zeugma usados na Bíblia. Veja abaixo uma definição resumida de cada um destes quatro tipos, com alguns exemplos.

Prozeugma (ou protozeugma)

Quando o elemento que serve de jugo se encontra no início da frase. Exemplo:

  • Lc 24:27 — “E começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dEle se achava em todas as Escrituras”. Gramaticalmente, “começando” só pode se aplicar a “Moisés”, que está no começo do Velho Testamento. O sentido implícito na frase é que Ele começou por Moisés, e depois continuou através dos profetas (a versão Atualizada acrescenta o verbo “discorrendo” em relação aos profetas). Realmente, porém, não há erro, e não é necessário acrescentar outro verbo. O sentido do que Lucas escreveu, inspirado pelo Espírito Santo, é claramente entendido, e a figura de linguagem chama a nossa atenção não para os verbos (“começando”, “discorrendo”), mas para os livros da Bíblia. A mensagem transmitida é que o Senhor poderia ter começado por qualquer livro do Velho Testamento, pois todos eles igualmente falam dEle. Em todos os profetas e em todas as Escrituras, o tema central sempre será o nosso amado Senhor Jesus Cristo.

Mesozeugma

Quando o elemento que serve de jugo se encontra no meio da frase. Exemplos:

  • Dt 4:12 — “… porém, além da voz, não vistes figura alguma”. A ordem das palavras no hebraico é: “figura nenhuma vistes a não ser a voz”. Parece errado, pois uma voz não se vê — se ouve! Parece que seria necessário acrescentar o verbo “ouvistes” — “figura nenhuma vistes, somente ouvistes a voz”. Na realidade, porém, temos aqui mais um exemplo da perfeição das Escrituras. Através da omissão do segundo verbo (“ouvir”), um único verbo (“ver”) governa a frase toda. Assim o fato de que nada foi visto é enfatizado, e o erro da idolatria (que está ligada com “imagens”, com aquilo que se vê) é claramente condenado.
  • Mc 13:26 — “Então verão vir o Filho do Homem nas nuvens, com grande poder e glória”. No grego, a ordem das palavras é: “… com poder grande e glória”, uma construção gramatical que, de acordo com Bullinger, é “peculiar”, fora do normal. Assim um único adjetivo (“grande”) é aplicado a dois substantivos (“poder” e “glória”) numa forma não-convencional, chamando nossa atenção para a grandeza do poder e a grandeza da glória da vinda do Senhor. Que dia maravilhoso será aquele!
  • I Co 3:2 — “Com leite vos criei, e não com carne”. O único verbo que rege os dois substantivos (“leite” e “carne”) quer dizer, literalmente, “dar de beber” (é traduzido “regar” nos vs. 6 e 7 deste mesmo capítulo), e aplica-se sempre a líquidos, não a sólidos. A tradução literal é: “Leite vos dei a beber, não carne”. A versão Trinitariana e a versão Corrigida tentam solucionar o aparente problema traduzindo “vos criei”, enquanto que a Atualizada acrescenta “vos dei” antes de “alimento sólido”. Mas não há erro — há, sim, uma figura de linguagem que confere beleza poética à frase, ao mesmo tempo em que destaca a diferença entre “leite” e “carne”. “Leite vos dei a beber, não carne” é muito mais belo, expressivo e enfático do que a forma rígida: “Leite vos dei a beber, não vos dei carne a comer”.

Hipozeugma

Quando o elemento que serve de jugo se encontra no final da frase. Exemplo:

  • At 4:28 — “… fazerem tudo o que a Tua mão e o Teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer”. O verbo “determinar”, no final da frase, só se aplica ao conselho de Deus — o Seu conselho determinou, mas a Sua mão fez. A omissão do verbo “fazer” (ou “executar”) não é um erro — é uma figura de linguagem que destaca a harmonia tão perfeita que existe entre tudo que Deus planeja e tudo que Deus executa. Os homens podem planejar uma coisa, e depois executar outra (por falta de vontade de cumprir o plano original, ou por falta de capacidade); mas tudo aquilo que Deus determina, Ele cumpre. Em outras palavras: a mão e o conselho de Deus determinaram tudo, e a mão e o conselho de Deus fizeram tudo. Os dois (os planos e a execução destes planos) são inseparáveis.

Sinezeugma

Quando o elemento que serve de jugo se liga a mais de dois elementos. Exemplo:

  • Êx 20:18 — “E todo o povo viu os trovões e os relâmpagos, e o sonido da buzina, e o monte fumegando; e o povo, vendo isso …”. O único verbo usado (“ver”, no início e no final da frase) só poderia ser usado dos relâmpagos e do monte fumegando; os trovões e o sonido deveriam ser regidos pelo verbo “ouvir”. Porém se todos os verbos tivessem sido usados, a leitura seria muito menos expressiva. Da forma como está, temos um quadro impressionante com som (trovões e sonido de trombetas) e imagem (relâmpagos e monte fumegando) que impressionou o povo, e deveria nos impressionar até hoje, servindo a Deus “com reverência e piedade, porque o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hb 12:28-29).

Conclusão

Que estes poucos exemplos extraídos da obra de Bullinger nos incentivem a pesquisar as Escrituras com mais cuidado e paciência, aproximando-nos da Bíblia com a convicção de que ela é perfeita em todos os seus detalhes. Quando encontramos algo que parece indicar uma relação desequilibrada entre os termos de uma frase, é bem provável que estamos diante de algum tipo de zeugma, e que há algum detalhe ali que o Espírito Santo quis enfatizar quando usou esta figura de linguagem.

Como pode um coração inteiro numa lágrima se expressar?
Por que uma pérola se esconde tão fundo no mar?
Senhor, ajude-me também Teu livro perscrutar!


© W. J. Watterson

Thursday, 8 May 2014

Assíndeto e Polissíndeto

Da série “Figuras de linguagem na Bíblia”. Se desejar, leia primeiro a Introdução a esta série de artigos.

Introdução

As duas figuras que servem de título para este artigo merecem ser consideradas juntas, pois uma complementa a outra. A primeira (assíndeto) pertence ao grupo de figuras elípticas (caracterizadas por omissão), e a segunda (polissíndeto) ao grupo das figuras pleonásticas (caracterizadas por acréscimo).

Entre as muitas ocorrências destas figuras na Bíblia, uma se destaca: nosso Senhor usou ambas numa mesma ocasião, poucos minutos uma da outra, e relacionadas ao mesmo grupo de quatro palavras, na mesma ordem.

Comecemos, porém, definindo as figuras e tentando entender seu significado (isto é, por que são usadas).

Definindo as figuras

O dicionário Priberam dá as seguintes definições:

  • Assíndeto: “Supressão das conjunções coordenativas entre frases ou entre partes da oração e da frase”;
  • Polissíndeto: “Repetição da mesma conjunção em frases ou constituintes seguidos”.

“Assíndeto” quer dizer, basicamente, “nenhuma conjunção” (“a” + “síndeto”), e “polissíndeto”, “muitas conjunções” (“poli” + “síndeto”).

Gramaticalmente, a forma normal de se apresentar uma lista de palavras é separá-las com vírgulas, usando a conjunção “e” somente antes da última palavra na lista. Por exemplo, na frase: “Três palavras que descrevem os tipos de figuras de linguagem são: omissão, acréscimo e alteração”, temos a forma normal de se escrever. Se usássemos a figura assíndeto, escreveríamos: “Três palavras que descrevem os tipos de figuras de linguagem são: omissão, acréscimo, alteração”, e com polissíndeto teríamos: “Três palavras que descrevem os tipos de figuras de linguagem são: omissão e acréscimo e alteração”.

Descrevendo suas finalidades

Não é difícil entender a diferença entre assíndeto e polissíndeto — mas qual a finalidade destas duas figuras de linguagem? Se pretendo desviar da norma padrão e usar um assíndeto ou polissíndeto, o que ganharei com isso?

Podemos resumir as três formas de se apresentar uma lista de palavras da seguinte forma:

  • A forma comum — Se queremos simplesmente apresentar os elementos que compõe uma lista, sem nenhum destaque ou ênfase especial, escrevemos como no primeiro exemplo dado na seção anterior (separando os elementos por vírgulas, e acrescentando a conjunção “e” antes do último elemento).
  • Assíndeto — Se queremos dar destaque ao quadro geral apresentado pela lista, mais do que aos elementos individuais que compõe a lista, omitimos as conjunções. Assim o leitor não tem sua atenção distraída pelas muitas conjunções, e caminha mais apressadamente para o final da lista, onde poderá haver uma conclusão que o autor deseja destacar mais do que os elementos individuais da lista.
  • Polissíndeto — Por outro lado, talvez o autor deseja destacar os elementos individuais que compõe a lista, mais do que o quadro geral. Neste caso, ele recorre ao polissíndeto. Ao encontrar a conjunção “e” repetida para cada palavra da lista, o leitor lê mais pausadamente, e dá mais atenção a cada uma das palavras individuais.

Resumindo: o assíndeto destaca a lista (o quadro geral), o polissíndeto destaca os elementos que compõe a lista.

É isto que dizem os gramáticos. Devo confessar que no meu dia-a-dia tal distinção é insignificante, e muitos que leem este pequeno artigo provavelmente estão na mesma situação que eu: falamos e escrevemos sem nos preocuparmos com estes pequenos detalhes. Mas os que entendem de gramática reconhecem a validade das figuras, e creio que o Espírito Santo, na perfeição da Sua sabedoria divina, teria também prestado atenção a este detalhe ao escrever a Bíblia. Se você encontrar um assíndeto ou polissíndeto neste blog, pode ser mera coincidência, ou pode ser que usei a figura num lugar inapropriado; mas encontrando uma destas figuras na Bíblia, você pode ter certeza de que ela está lá com um propósito específico, e que devemos prestar atenção à figura.

Destacando as figuras

Como mencionei acima, a Bíblia contém um exemplo impressionante de nosso Senhor usando estas duas figuras numa mesma ocasião. Em Lucas 14:1-24 o Senhor está na casa de um dos principais dos fariseus, e diz: “Chama os pobres, aleijados, mancos, cegos” (v. 13). Poucos versículos adiante, Ele diz: “Traze aqui os pobres e aleijados e mancos e cegos” (v. 21).

O parágrafo acima contém a tradução literal dos dois versículos — as versões em português, infelizmente, não preservam as figuras usadas no grego nestes versículos. No original, a lista do v. 13 não contém nenhuma conjunção, enquanto que a lista do v. 21 usa a conjunção entre todas as palavras da lista.

Repare bem esta diferença. Na mesma ocasião (na casa de um dos principais dos fariseus) o Senhor Jesus apresenta, duas vezes, uma lista contendo exatamente os mesmos quatro adjetivos (“pobres, aleijados, mancos, cegos”), e na mesma ordem. Na primeira vez, porém, Ele não usa nenhuma vez a conjunção “e” (assíndeto), enquanto que na segunda vez, Ele usa a conjunção entre todas as palavras (polissíndeto).

A mesma lista, no mesmo lugar, para as mesmas pessoas, poucos minutos uma após a outra — mas apresentadas de forma diferente! A única coisa que mudou entre o v. 13 e o v. 21 é o contexto, por isso a importância de percebermos a figura de linguagem usada.

Na primeira vez que apresenta a lista, sem conjunções, o Senhor está apresentando um princípio para o nosso serviço; na segunda vez, apresentando a mesma lista, porém com todas as conjunções, o Senhor apresenta uma parábola sobre a nossa salvação.

Um princípio para o serviço

Nos vs. 7-14, a ênfase do Senhor Jesus é num princípio que deve governar a nossa vida e o nosso serviço para Ele. Este princípio é resumido no v. 11: “Qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado”. Este princípio geral é aplicado a duas situações diferentes: a alguém que é convidado, e a alguém que convida. O trecho apresenta um quiasma (outra figura de linguagem muito usada na Bíblia):
  • O princípio aplicado a quem é convidado (vs. 7-10)
    • O princípio apresentado (v. 11)
  • O princípio aplicado a quem convida (vs. 12-14)
Qualquer que seja a nossa situação, o princípio que deve nos guiar é o mesmo: não procurarmos recompensa, nem riquezas, nem glória aqui na Terra, mas ocuparmos o último lugar, esperando que Deus, na glória futura, nos recompensará.

Assim, na lista apresentada no v. 13, o Senhor não quer dar destaque a cada um dos quatro tipos de pessoas necessitadas que Ele menciona. A lição principal não é que, ao dar uma festa, preciso convidar uma pessoa pobre, outra aleijada, outra manca, e outra cega. O Senhor não usa as conjunções, de sorte que passamos rapidamente pela lista, e chegamos logo à conclusão: “Quando fizeres convite, chamas os pobres, aleijados, mancos, cegos, e serás bem-aventurado”. O Senhor está nos mostrando que devemos convidar pessoas que não podem nos recompensar (das quais os quatro tipos da lista são apenas um exemplo), sabendo que “na ressurreição dos justos” seremos recompensados. Não são apenas os pobres, aleijados, mancos, cegos que devemos convidar, mas qualquer um que não tenha condições de nos recompensar. É claro que podemos convidar outros também, mas o verdadeiro cristão terá prazer em ajudar aqueles que não podem retribuir o favor, e não simplesmente ajudar querendo alguma coisa em troca.

É assim que agimos?

Uma parábola sobre a salvação

Na parábola apresentada nos v. 15-24, temos uma figura da salvação, num contexto dispensacional. A parábola fala de dois convites bem distintos, e entre estes dois convites há quatro diferenças importantes:

  • O tempo dos convites: o segundo foi feito somente depois que o primeiro foi recusado;
  • O tipo de convidado: primeiro foram pessoas nobres, depois os pobres, e aleijados, e mancos, e cegos;
  • Os termos do convite: o primeiro convite dizia: “Vinde”, mas na segunda vez o servo foi ordenado a trazer alguns;
  • O tratamento do convite: os primeiros recusaram, os segundos aceitaram.

É proveitoso contrastar esta parábola com a parábola semelhante registrada em Mt 22. Tanto lá quanto aqui encontramos a terceira de três parábolas contadas depois que os fariseus ficaram sem palavras. Compare a sequência dos acontecimentos:


Nas parábolas em si, há diversas diferenças importantes:


Parece que, em Mateus, a ênfase está naqueles que rejeitaram o convite e como o Senhor os trata (lemos dos homicidas sendo destruídos e das suas cidades sendo queimadas, e do homem sem veste nupcial sendo jogado fora), enquanto que aqui, a ênfase parece recair sobre aqueles que tomaram o lugar dos que rejeitaram (temos a descrição detalhada dos quatro tipos de pessoas convidadas na “segunda chamada”, e nenhuma menção da destruição dos primeiros). Ambas as parábolas falam de como Israel rejeitou o convite, e por isso os Gentios, indignos, foram convidados. Mateus destaca mais a rejeição de Israel, Lucas enfatiza o caráter indigno dos Gentios.

Comparando o ensino desta parábola com o que vimos na parte anterior, sobre o princípio que deve nos guiar em relação a convites, vemos como o Senhor também convida para a Sua ceia aqueles que não tem com que O recompensar.

Agora, repare como o polissíndeto usado pelo Senhor se encaixa perfeitamente neste contexto. O primeiro grupo de convidados, que representa Israel, é chamado somente de “convidados”. O segundo grupo, que representa os salvos desta dispensação, a Igreja, é descrito de quatro formas diferentes. Mas aqui o Senhor não omite as conjunções para nos ajudar a passar rapidamente por cima da lista; pelo contrário, Ele usa todas as conjunções possíveis, para nos forçar a caminhar lentamente por esta descrição triste, porém muito real, da nossa condição. Todos nós éramos, espiritualmente, pobres, e também aleijados (“mutilados”), e também mancos, e também cegos! Não são palavras genéricas que descrevem alguns de nós; todas elas se aplicam a todos nós antes da nossa conversão!

Meditando assim nos detalhes desta descrição, percebemos quanto ela combina com a realidade, e também quanto ela exalta o amor de Deus, que convidou para a Sua ceia pessoas pobres, e aleijadas, e mancas, e cegas! “Já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós Se fez pobre; para que pela Sua pobreza enriquecêsseis” (II Co 8:9)

Descobrindo mais figuras

É impressionante ver como o Senhor mudou a forma de apresentar estas quatro classes de pessoas desprezadas, usando um polissíndeto poucos minutos depois de ter usado um assíndeto. As palavras não mudaram; os ouvintes eram os mesmos; a única coisa que mudou era o contexto. Na primeira ocasião o Senhor destaca as bênçãos daqueles que convidam os desprezados (não importa, realmente, que tipo de desprezado seja convidado), mas na segunda ocasião Ele enfatiza as características daqueles que Ele mesmo convidou. Na primeira lista não era necessário meditar nas qualidades específicas das pessoas (eram apenas alguns exemplos), por isso as conjunções são omitidas (assíndeto). Já na segunda lista, as qualidades específicas apresentadas são a razão principal da lista, por isso são usadas todas as conjunções possíveis. A sabedoria do Senhor ao falar, e a perfeição da inspiração do Espírito quando Lucas escreveu, nos impressionam.

Em terminar este pequeno artigo, gostaria de fazer um alerta para aqueles que desejam descobrir mais exemplos de assíndetos e polissíndetos no NT: é necessário verificar suas conclusões pelo texto grego do NT, pois as versões em português muitas vezes escondem estas figuras de linguagem (como foi destacado no caso de Lucas cap. 14).

Se você não sabe ler grego, não se desespere. Eu também não sei, mas há muitos recursos disponíveis hoje em dia para ajudar-nos. Um exemplo é o site Gospel Prime que apresenta o texto grego do NT. Com um pouco de trabalho (e muita cautela para não chegar a conclusões precipitadas!) é possível procurar pela conjunção kai (“e” em português) e ver se ela está presente ou não no texto que você estiver estudando.

Se algum leitor precisar de alguma outra informação, pode entrar em contato comigo nos comentários abaixo.


Leia o próximo artigo nesta série: Zeugma.


© W. J. Watterson

Monday, 5 May 2014

Correction re Neo-Babylonian chronology

Dear readers,

My family's moto, since the 13th century, has been “Veritas vincit omnia” (“Truth conquers all”). What really matters, at the end of the day, is not what I think or what I prefer, but what is right.

In this post I would like to acknowledge that I was wrong in relation to the chronology of the Neo-Babylonian period (626 to 539 B.C.). What I have presented in written and spoken ministry (mostly in Portuguese) was wrong, and even though it is a detail which will only interest a small portion of the small readership of this blog, it is a detail that, to those who mind, really matters.


The correction

Until a few days ago I accepted the chronology presented by Martin Anstey (The Romance of Bible Chronology. London, Marshal Brothers, 1913). Two key dates in that chronological scheme are: 504 B.C. for the destruction of Jerusalem, and 454 B.C. for the first year of Cirus. Archeological discoveries in the last hundred years have proved that Anstey was wrong, and that the received chronology of that period is correct. Thus, I am forced to admit that the dates above should be changed to 587 B.C. and 539 B.C.

As time allows, I hope to correct any errors in this blog which are linked to this time period.

The explanation

Well, why did I follow Anstey? And why have I changed my views?

Anstey's arguments were very attractive based on the facts known when he wrote his book (1913). At that time, the received chronology for the Neo-Babylonian period was almost exclusively based on the writings of Ptolemy. As the dates presented by Ptolemy did not agree with Anstey's interpretation of the Old Testament (especially the prophecy of the seventy weeks in Daniel chapter 9), Anstey affirmed (and I repeated) that the words of the Hebrew prophet were more reliable than the words of an egyptian astronomer. There were no other ancient documents with which to confirm Ptolemy's dates, and he lived many centuries after those kings reigned; it just didn't seem wise to follow blindly his chronological scheme.

Today, however, the facts are different, and I have only recently had access to these facts (I'm not a scholar, by any definition of the term!). There are thousands of documents from ancient Babylon that have been discovered in the last hundred years or so, and as they are translated and published (a slow process), Ptolemy's chronology is consistently being vindicated. Here are two examples:

  • The astronomical diary known as VAT 4956 describes the position of the moon and the five planets (known at that time) on various different occasions during Nebuchadnezzar's 37th year. About thirty of these descriptions are well enough preserved to allow modern astronomers to calculate when they could have occurred, and comparing the B.C. date of these descriptions with the date in the Babylonian calendar (all the descriptions in VAT 4956 have the hour, day and month of observation) it is possible to determine, with certainty, that Nebuchadnezzar's 37th year went from the Spring of 568 B.C. to the spring of 567 B.C. Thus the regular motion of the celestial bodies (and not simply ancient lists of kings) establishes the date of Nabuchadnezzar's reign.
  • Not only that, but thousands of comercial contracts for that period have been discovered (search for “House of Egibi”, or “Egibi family tablets” for an example). All these contracts are dated with the inscription: “Year XX of king XXXXXX”. Among these thousands of tablets discovered, there are tablets dated to every year of every king mentioned in Ptolemy's canon.

Based on these facts, it is not possible for me to continue believing what I believed up to a few days ago. I must admit that the received chronology for the Neo-Babylonian period is trustworthy, and we have no reason to doubt it's accuracy.

Allow me to point out, however, that the issue here was never between the Word of God and the word of Ptolemy. When the wise men of this world openly contradict the Word of God (as in the “Creation x Evolution” debate) I have no qualms about taking a firm stand for the Word of God. But the question here was not really between the Hebrew prophet and the Egyptian astronomer, but between my theories and Ptolemy's facts.

So, I hope that sets the record straight :-)

Pregações de R. E. Watterson

Na conferência em Pirassununga, 15/11/2007
Seguem abaixo links para algumas gravações de pregações feitas pelo meu pai, Ronald E. Watterson. Em Agosto de 1997, depois de muito tempo buscando um diagnóstico para os problemas que o incomodavam, foi confirmado que meu pai sofria do Mal de Parkinson. Ele ainda continuou pregando por mais de uma década depois deste diagnóstico, lutando contra o avanço desta doença cruel.

Meu pai faleceu em 30 de Maio de 2016, com 80 anos de idade. Desde que publiquei os links abaixo, tive acesso a outras mensagens dele — hoje, esta página contém links para 101 pregações. Agradeço aos irmãos José Carrasco e Ubiratã Torres, que forneceram diversas destas mensagens.

Que Deus seja glorificado, e Seu povo edificado, através destas pregações.

Atualização em 19/08/2019 — Devido a configurações de privacidade da Microsoft, os links abaixo estão com problema. Temporariamente, acesse a pasta com todas as pregações neste link.


A vinda do Senhor

Estudo ministrado em Ituiutaba em 1974.

Estudos em Apocalipse

Uma série de oito estudos sobre o livro de Apocalipse, ministrados na Vl Beatriz (SP) em 1985.
  • 1º Estudo: Apocalipse 1:1 a 11;
  • 2º Estudo: Apocalipse 1:12 a 20;
  • 3º Estudo: Apocalipse 1:17 a 20;
  • 4º Estudo: Apocalipse 2:1 a 7 (carta à igreja em Éfeso); 
  • 5º Estudo: Apocalipse 2:8 a 11 (carta à igreja em Esmirna);
  • 6º Estudo: Apocalipse 2:18 a 29 (carta à igreja em Tiatira);
  • 7º Estudo: Apocalipse 3:7 a 13 (carta à igreja em Filadelfia);
  • 8º Estudo: Apocalipse 3:14 a 22 (carta à igreja em Laodiceia). 

Estudos em Apocalipse cap. 4 em diante

Sequência dos estudos acima, no mesmo local (data desconhecida).

A Igreja e as igrejas

Série de cinco estudos ministrados em Tupi Paulista na década de 80.

Estudos em Filipenses

Série de estudos ministrados em São Bernardo do Campo em Dezembro de 1987.

A vinda de Cristo

Quatro estudos sobre este tema:

II Timóteo

Série de dez estudos na Escola Bíblia Samuel.

O Evangelho de Deus

Série de nove estudos ministrados na Escola Bíblia Samuel.

    Desenvolvimento e destino da igreja

    Série de três estudos ministrados em Sacramento. Inclui perguntas e respostas. Qualidade do áudio não é boa.

    Estudos em Filipenses

    Série de estudos ministrados em São Carlos. Data desconhecida.

    Primeiro Samuel

    Dois estudos no primeiro livro de Samuel, Out/Nov de 1995.

    Estudos em Atos

    Série de 6 estudos sobre o livro de Atos. Possivelmente foi na década de 90, em São Joaquim da Barra (Praça).

    Estudos em Gênesis

    Série de três estudos — conferência em Sacramento, Abril de 1996.

    Estudos sobre o Tabernáculo

    Estudos ministrados à igreja local em Pirassununga no ano de 2001.

    A preciosidade de Cristo

    Estudo ministrado na conferência em Pirassununga, 15 de Novembro de 2005.


    A direção do Espírito Santo

    Estudo ministrado na conferência em Pirassununga, 15 de Novembro de 2007. São apresentados os princípios bíblicos relacionados à direção do Espírito Santo na vida do cristão, e nas reuniões dos salvos.

    A supremacia de Cristo

    Estudo ministrado na conferência em Ibaté, 1º de Maio de 2009. Uma das últimas pregações dele, quando o Parkinson já incomodava bastante.

    As dispensações

    Um correto entendimento das dispensações é fundamental para compreender a Bíblia. Quanta confusão existe hoje entre o povo de Deus por não perceber a diferença entre Israel e a Igreja, e entre a Lei e a Graça. Os oito estudos abaixo foram pregados para a igreja no bairro Tupi, em Belo Horizonte (não sei qual ano).

    Relacionamentos

    Série de quatro estudos sobre os relacionamentos entre salvos. Pirassununga, SP.

    Outros

      Pregações do Evangelho


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