O relato cronológico dos juízes começa no cap. 3 com a invasão feita pelo rei da Mesopotâmia, Cusã-Risataim, e termina no final do cap. 16, ainda dentro dos quarenta anos da opressão dos filisteus nos dias de Sansão. Da invasão de Cusã até o final do período de paz quando Débora e Baraque julgavam, são duzentos e seis anos, e da invasão dos midianitas (ca.p 6) até o final da opressão dos filisteus são cento e oitenta e quatro anos (o segundo período sendo um pouco menor do que o primeiro).
É interessante ver as semelhanças e contrastes entre estes dois períodos históricos. Até o cap. 6 lemos de três períodos em que Israel foi invadido por nações estrangeiras (Mesopotâmia, Moabe e Hazor), intercalados com períodos de paz, e até o final do livro encontramos mais três períodos em que Israel é dominada por nações estrangeiras (Midiã, Amom e os Filisteus), novamente intercalados com períodos de paz.
As três nações opressoras da primeira metade do livro (Mesopotâmia, Moabe e Hazor) tem semelhanças impressionantes com as três da segunda metade (Midiã, Amom e os Filisteus), semelhanças que são destacadas no mapa abaixo:
- As duas primeiras em cada lista são nações que não tem fronteira com Israel, e que distam centenas de quilômetros da terra prometida. A Mesopotâmia é o lugar de onde Abraão foi chamado por Deus. Ficava ao oriente do Jordão, e sua capital, Ur, ficava cerca de mil km de Jerusalém. Quanto a Midiã, não temos tanta certeza da sua localização. Sabemos, de Gn 25:1-6, que Abraão enviou seu filho Midiã (o progenitor desta nação) “ao oriente, para a terra oriental” (isto é, de volta para a Mesopotâmia, ou pelo menos na direção dela). A localização de Midiã que é normalmente aceita pelos estudiosos é no norte da península Arábica, em torno de trezentos km de Jerusalém.
- As duas nações opressoras que ocupam o segundo lugar em cada parte do livro (Moabe e Amon) são nações irmãs (Moabe a Amon foram os dois filhos que Ló teve com suas duas filhas), e vizinhas. Ambas fazem fronteira com Israel ao lado oriental, os amonitas ao Norte dos moabitas.
- Já as duas nações que ocupam o último lugar nas duas listas são nações que ainda não haviam sido completamente expulsas de Canaã, e moravam dentro dos termos da terra prometida: Jabim governava sobre Hazor, no Norte de Canaã, e os filisteus habitavam no Sul da terra prometida.
Ou seja, Deus está claramente repetindo, na segunda metade do período dos Juízes, o padrão apresentado na primeira metade (assim como a segunda parte do livro, dos caps. 17 a 21, que não é cronológica, vai narrar duas histórias diferentes, mas que contém muitas semelhanças entre si). Os primeiros três opressores são nações que estão cada vez mais perto de Israel (o primeiro é muito distante, o segundo é vizinho de Israel, o terceiro mora dentro de Canaã). Os outros três opressores mencionados no livro seguem exatamente o mesmo padrão: muito distante, vizinho, inimigo interno.
Há outras semelhanças entre os dois períodos dos Juízes, como o fato de que em ambas as partes, Deus nos mostra como é que o último libertador foi levantado por Deus: Ele enviou uma mensagem profética para Baraque, e veio pessoalmente (como o Anjo do Senhor) no caso de Sansão.
Mas igualmente instrutivos são os contrastes entre as duas partes, começando com o espaço que o Espírito Santo usa neste livro para descrever cada etapa: a segunda parte ocupa um espaço mais de quatro vezes maior do que a primeira parte. Só o relato da vida de Gideão, ou o da vida de Sansão, qualquer um deles sozinho ocupa mais espaço do que todo o relato da primeira parte deste período.
Há uma diferença importante também na relação entre o número de anos de opressão e de paz. Se na primeira parte temos cento e sessenta anos de paz (quarenta, depois oitenta, depois quarenta novamente) e quarenta e seis de opressão, no segundo são apenas cento e dezesseis anos de paz para sessenta e cinco anos de opressão. Na primeira parte, houve aproximadamente três anos e meio de paz para cada ano de opressão, mas na segunda parte do livro esta relação cai para menos de dois anos paz para cada ano de opressão.
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