Sunday 5 September 2021

Meditações 505 a 511


Meditações na quarentena (2020/21) enviadas diariamente aos irmãos e irmãs da igreja local em Pirassununga para nosso ânimo mútuo (arquivadas neste blog).


 Bem-aventurados (e) — Meditações 505


A quinta bem-aventurança diz: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 5:7).


“Misericórdia” — que palavra expressiva! Em português, é derivada do latim miseria cordis, “dor do coração”. Descreve o sentimento que invade o coração ao ver a dor de outrem, e que nos leva a procurar aliviá-la. A palavra grega usada pelo Senhor enfatiza a ação provocada pelo sentimento. Misericórdia é mais do que chorar com os que choram — é oferecer ajuda para secar as suas lágrimas. “Mansidão” (a terceira bem-aventurança) é uma virtude passiva; “misericórdia” é ativa, e nos leva a agir em prol do sofredor (visitando os enfermos e enlutados, auxiliando financeiramente os necessitados, etc.).


Quando o Senhor voltar em glória para reinar sobre este mundo no Milênio, as nações serão congregadas diante dEle, e Ele separará as ovelhas dos bodes. E qual será a grande virtude característica das Suas ovelhas? Misericórdia! Leia: “Então dirá Rei aos que estiverem à Sua direita: Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-Me de comer; tive sede, e destes-Me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-Me; estava nu, e vestistes-Me; adoeci, e visitastes-Me; estive na prisão, e fostes ver-Me. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando Te vimos com fome, e Te demos de comer? Ou com sede, e Te demos de beber? E quando Te vimos estrangeiro, e Te hospedamos? Ou nu, e Te vestimos? E quando Te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-Te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes” (Mt 25:34-40).


Eis a bênção da misericórdia: ao aliviar a dor do próximo, estamos servindo ao Senhor! “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 5:7).




Interrupções — Meditações 506


Certa vez, lemos que o Senhor disse aos discípulos: “Vinde vós aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco” (Mc 6:31). A correria era tanta que não tinham tempo nem para comer, e realmente precisavam descansar.


Infelizmente, porém, uma multidão atrapalhou o seu descanso (Mc 6:33) — e qual foi a atitude do Senhor? Lucas diz que Ele “os recebeu” (Lc 9:11; a palavra grega dá a ideia de receber com alegria), e Marcos acrescenta que Ele sentiu compaixão deles (Mc 6:34). Que exemplo.


Como reagimos quando nossos planos são frustrados, ou quando nosso descanso é interrompido?


“É necessário que façamos as obras daquele que Me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar” (Jo 9:4).




Bem-aventurados (f) — Meditações 507


“Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus” (Mt 5:8). Esta sexta bem-aventurança parece, como Maclaren escreve, algo totalmente inacessível ao homem mortal. Pois quem ousaria dizer que tem um coração puro? Mão puras, ou andar puro, podemos almejar — mas um coração que nunca deseja nada impuro, nunca pensa em vingança? Parece impossível! E quem poderia ver a Deus? Afinal, Ele “habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver”! (I Tm 6:16)


Mas Deus não é homem para que minta, e nosso bendito Salvador não nos ilude, prometendo o que não podemos ter. Esta sexta bem-aventurança não é um sonho impossível, mas um alvo no qual devemos focar.


Sendo assim, perguntamos: como ter um coração puro? A Escritura diz que “se andarmos na luz, como Ele na luz está … o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (I Jo 1:7; leia atentamente o trecho todo, do v. 6 até 2:2). Pela morte do Senhor Jesus, podemos ser purificados em Cristo.


E como ver a Deus? Clarke explica que esta expressão, na Bíblia, não descreve tanto a visão natural, mas sim o privilégio de conhecer e ter comunhão. Quando o Salmista disse:  “Não permitirás que o teu Santo veja corrupção” (Sl 16:10), e quando o Senhor disse: “Aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo 3:3), ambos usaram “ver” no sentido de “conhecer, ter o privilégio de possuir”. Assim, nesta bem-aventurança, o Senhor está dizendo: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles conhecerão a Deus e terão comunhão com Ele”.


Obviamente, o cumprimento pleno e permanente disto será na eternidade, mas já podemos desfrutar de vislumbres desta bem-aventurança hoje. Podemos conhecer ao Senhor intimamente até nesta vida, e este conhecimento crescerá na medida em que pedimos ao Senhor forças para evitar tudo aquilo que desagrada a Ele (inveja, amargura, imoralidade, ganância, ira, etc.). Quando amamos o que Ele ama, e odiamos o que Ele odeia, conhecemos o Seu coração.


“Quem subirá ao monte do Senhor? Quem há de permanecer no Seu santo lugar? O que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura dolosamente. Este obterá do Senhor a bênção e a justiça do Deus da sua salvação” (Sl 24:3-5). “O segredo do Senhor é com aqueles que O temem; e Ele lhes mostrará Sua aliança” (Sl 25:14). “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12:14).


Já vimos ao Senhor hoje?




Bem-aventurados (g) — Meditações 508


A sétima bem-aventurança diz: “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de  Deus” (Mt 5:9).


Maclaren sugere que estas primeiras sete bem-aventuranças, todos relacionadas ao caráter do salvo (a última fala sobre suas circunstâncias), chegam ao seu ápice aqui. O fundamento é a primeira bem-aventurança — pobre em espírito — e o ponto alto é “pacificador”.


Repare que o Senhor não disse “pacífico” (que ama a paz; que procura viver em paz), mas “pacificador” (aquele que promove ou estabelece paz). É bom ter paz com todos (Ro 12:18); muito melhor é lutar para estabelecer paz. “Lutar” e “paz”, ao contrário do que muitos pensam, combinam, sim, porque a verdadeira paz só é alcançada com muito empenho, e não por abrir mão de tudo sempre. Muitas vezes será necessário ser firme para preservar a paz entre irmãos.


Num sentido bastante prático, devo pensar em como minhas atitudes afetam a paz entre os outros. Gosto de passar adiante uma fofoca? Gosto de colocar lenha na fogueira, ou tento acalmar os ânimos? Quando percebo uma divergência entre irmãos, arregalo os olhos e ouvidos para captar todo detalhe e passá-lo adiante (geralmente de forma exagerada), ou oro fervorosamente a Deus para que se entendam e se perdoem? Sou provocador, ou pacificador?


Os pacificadores serão chamados filhos de Deus. Pelo mundo, provavelmente serão perseguidos (v. 10-11); mas Deus honrará esta característica divina neles, e terá prazer em ser conhecido como o Pai deles. Eles estarão seguindo o exemplo do Filho unigênito de Deus, aquele que “é a nossa paz … [que] desfez a inimizade … fazendo a paz … e, vindo, evangelizou a paz” (Ef 2:14-17).


“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de  Deus”.




Bem-aventurados (h) — Meditações 509


A oitava e última bem-aventurança diz: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque  deles é reino dos Céus”. Aplicando isto aos discípulos de forma bem prática, o Senhor acrescenta: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo,  disserem todo o mal contra vós por Minha causa” (Mt 5:10-11).


Que surpresa! Talvez estávamos esperando que, ao final das bem-aventuranças, o Senhor falaria sobre a glória e o sucesso dos bem-aventurados. Ao invés disto, lemos de perseguição e injúrias!


Que surpresa — mas não deveria ser! No mundo que crucificou o Senhor da glória, aqueles que procuram viver para Ele, e como Ele, não poderão ser honrados. Eles buscam — e sabem que buscam — uma recompensa futura, não presente!


Maclaren sugere que a primeira bem-aventurança é a base de todas, esta última é a consequência final, e as seis intermediárias estão em pares. Em cada par, a primeira fala do que somos internamente, a segunda do que somos em relação ao próximo (veja gráfico anexo).


A mensagem do trecho é clara: os pobres em espírito sofrerão perseguições, mas são bem-aventurados! Vale a pena? Com certeza — ouça a afirmação clara das Escrituras: “Para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8:18).


Bem-aventurados seremos se confiarmos em Deus e vivermos para Ele!




Não minta para Deus — Meditações 510


O irmão A. J. Gossip (1873-1954) escreveu o seguinte parágrafo solene sobre o ato da oração:


“Algumas regras fundamentais sobre a oração foram apresentadas por Jeremy Taylor. A principal delas é: não minta para Deus! E este conselho, jogado assim sobre nós de forma tão brusca, é realmente de suma importância. Não queime fogo estranho sobre o altar de Deus; não faça pose, nem tente enganar a Ele ou a você mesmo. Não diga algo que você não sente, nem use linguagem exagerada que ultrapassa os fatos — lembre que você está falando com alguém cuja palavra é a verdade!”


“Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos Céus, e tu, na Terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras” (Ec 5:2).




O Cordeiro é a vida — Meditações 511


Continuando nosso estudo de Cristo no Apocalipse, encontramos três referências à vida eterna (21:27 a 22:2), e vemos a confirmação do que disse João: “e esta vida está em Seu Filho” (I Jo 5:11).


Em primeiro lugar, lemos sobre o direito à vida: “E não entrará nela coisa alguma que contamine, e cometa abominação e mentira; mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro”. O livro pertence ao Cordeiro (não é o mesmo que Ele tomou no cap. 5), e somente aquele cujos nomes foram escritos neste livro é que tem o direito de entrar na cidade celestial. Ele conquistou, no Calvário, o direito de conceder vida eterna a quem Ele quiser, e Ele diz sobre aqueles que creem nEle: “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer” (Jo 10:28). Temos direito à vida eterna por causa dEle!


Além do livro da vida, lemos também da água da vida, que representa a fonte desta vida eterna: “E mostrou-me o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro.” Três vezes em Apocalipse lemos da água da vida (21:6; 22:1, 17), e aqui aprendemos que o rio que conduz esta água é puro (como tudo na cidade celestial); ele é “claro como cristal”, brilhante, refletindo a glória do Cordeiro; e ele nasce no trono de Deus e do Cordeiro. O trono é o símbolo de autoridade e governo — que precioso pensar que a vida que desfrutamos em Cristo está em plena comunhão com o trono santo de Deus. A mente humana imagina, às vezes, que nossa salvação só é possível porque a misericórdia de Deus tampou os olhos da Sua justiça, e sussurrou: “Eu sei que eles merecem ser condenados, mas vamos ter compaixão deles; vamos fazer vistas grossas ao seu pecado”. Não — de forma alguma! A misericórdia de Deus tem plena harmonia com a Sua justiça (Rm 3:26, etc.), e o rio da água da vida não passa de largo, nem se esconde atrás, do trono do Seu governo, como se fugisse da justiça de Deus — o rio da água da vida procede do trono! Ninguém precisa tentar convencer a justiça de Deus a aceitar os pecadores, pois é o próprio trono que jorra este rio puro da água da vida!


Em terceiro lugar, lemos da manutenção desta vida, que é proporcionada pela árvore da vida. “No meio da sua praça, e de um e de outro lado do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a saúde das nações.” Creio que a árvore é figurativa, como já vimos em Apocalipse 2:7, e representa o Senhor Jesus. Ela “produz doze frutos”. A próxima frase (“dando seu fruto de mês em mês”) sugere que ela produz doze tipos de fruto diferente, uma colheita por mês — algo milagroso, e completamente diferente de tudo que conhecemos hoje. E além da variedade de frutos, lemos que “as folhas da árvore são para a saúde das nações”. Isto não quer dizer: “Quando surgir uma doença, a árvore contém a cura”, mas significa: “Não haverá doenças, pois a árvore da vida está ali”. É semelhante à expressão de 21:4: “Deus limpará de seus olhos toda lágrima” — não que, quando alguém chorar, Deus irá consolá-lo, mas sim que, por causa de Deus, não haverá mais lágrimas! Assim também, aprendemos aqui que na cidade eterna não haverá mais doença alguma, e a razão para esta plenitude de vida é o Cordeiro!


Unindo estas três coisas, temos motivos de sobra para glorificar o Cordeiro. Meditando no livro da vida do Cordeiro, lembramos das palavras do Senhor Jesus: “alegrai-vos … por estarem os vossos nomes escritos nos Céus” (Lc 10:20) — uma vida garantida. Considerando o rio da água da vida, vemos que este rio sai do trono do Cordeiro, e louvamos a Deus por nos fazer “agradáveis a si no Amado” (Ef 1:6) — uma vida justa e digna. Aproximando-nos da árvore da vida, maravilhamo-nos com a plenitude desta vida,simbolizada pela variedade de frutos e pela “saúde” que esta árvore proporciona, e lembramos das palavras do nosso bendito Salvador: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10:10).


Louvado seja o Cordeiro, a quem devemos tudo que somos, tudo que temos, e tudo que desfrutaremos na eternidade.





© 2021 W. J. Watterson

No comments:

Post a Comment

Dois detalhes sobre Isaías 53

Isaías 53 contém o quarto Cântico do Servo (que inclui os últimos três versículos do cap. 52). Qual seria o centro deste Cântico?