Sunday 29 August 2021

Meditações 490 a 504


Meditações na quarentena (2020/21) enviadas diariamente aos irmãos e irmãs da igreja local em Pirassununga para nosso ânimo mútuo (arquivadas neste blog).





De 15/08/2021 a 29/08/2021





Coisas ausentes — Meditações 490


Domingo passado contemplamos, de forma bem resumida, algumas coisas na cidade celestial relacionadas ao Cordeiro. Em continuação, e ainda olhando de forma geral para a descrição da cidade celestial em Apocalipse 21:22 a 22:5, quero destacar hoje cinco coisas que não estarão presentes na cidade eterna, e sua relação com a glória do Cordeiro (veja também as coisas ausentes da cidade nos vs. 1-8). Estas cinco coisas (duas são repetidas em 22:5) são:


i) Nenhum templo (21:22);

ii) Nem Sol nem Lua (21:23; 22:5);

iii) Nenhuma noite (21:25; 22:5);

iv) Nada que contamine (21:27);

v) Nenhuma maldição (22:3).


Analisando esta lista, vemos que:


i) Os primeiros dois itens formam, claramente, um par, pois são os únicos dois que são seguidos pela explicação “porque Deus e o Cordeiro”. Por que não haverá templo ali? Porque Deus e o Cordeiro são seu templo. Por que não haverá nem Sol nem Lua naquela cidade? Porque Deus e o Cordeiro a iluminam. É somente nestes dois versículos, neste trecho, que Deus e o Cordeiro são apresentados como a razão da ausência de algo. Portanto, vemos que a presença de Deus e do Cordeiro enchem aquela cidade de glória divina, tornando templo e iluminação coisas obsoletas.


ii) Os últimos dois, igualmente, formam um par, ambos falando da pureza espiritual que caracterizará aquela cidade. Em 21:27 lemos que não haverá nenhuma contaminação na nova cidade, e em 22:3 lemos da ausência de maldição. A contaminação não existirá porque ali só entrarão “os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro” — isto é, aqueles que foram lavados de seus pecados pelo Cordeiro de Deus, e receberam dEle a vida eterna. A maldição não existirá porque o trono de Deus e do Cordeiro está ali — isto é, Ele é o juiz, e tendo já julgado todo o mal, nunca mais será necessário haver alguma maldição. Portanto, vemos que a purificação providenciada por Deus e pelo Cordeiro garantem a santidade eterna daquela cidade.


iii) Resta a referência central, a única que não tem nenhuma referência direta ao Cordeiro, mas que ensina uma verdade gloriosa: estas condições sublimes permanecem perpetuamente! As portas da cidade estarão sempre abertas, e haverá um fluxo constante de pessoas de toda a Terra, vindo adorar o Cordeiro e contemplar a Sua luz; pessoas que receberam dEle a vida eterna, e que desfrutam da Sua bênção. Isto continuará vinte e quatro horas[*] por dia, ininterruptamente, pois as portas da cidade estarão sempre abertas. As cidades antigas fechavam suas portas ao pôr-do-sol (por motivos de segurança), mas aqui não haverá noite!


Há muitos detalhes aqui para considerar, mas por ora, aprecie este quadro geral. Leia este trecho e procure imaginar a glória eterna que será nossa, servos do Cordeiro (22:3). Quando Salomão falou do Templo, Ele disse: “Deus está nos Céus, e tu na Terra” (Ec 5:1), mas naquela cidade não será mais necessário um templo para adorar um Deus distante — o próprio Cordeiro estará habitando ali! Não precisaremos de lâmpada, nem Sol ou Lua, para nos guiar e nos revelar as belezas da cidade celestial — o Cordeiro iluminará tudo. Não precisaremos nos preocupar mais com a nossa velha natureza, pois o Cordeiro nos purificou com Seu sangue. E não precisaremos temer nenhuma maldição — aquele que estará no trono é quem nos salvou e nos recebeu!


E com que frequência os servos do Cordeiro poderão se aproximar dEle? Até quando poderemos desfrutar destas bênçãos? Ah, que maravilha! Poderemos vir a qualquer hora, e “para todo o sempre” (22:5), pois as portas desta cidade “não se fecharão de dia, porque ali não haverá noite!” (21:25).


Todas as limitações impostas pelo tempo e pela nossa fraqueza física presente desaparecerão, e a apreciação das bênçãos conquistadas para nós pelo Cordeiro será eterna; o dia todo, todo dia! Que isto nos anime hoje!


———————-

[*] — Nota sobre “vinte e quatro horas por dia” — uso a expressão de forma figurativa, indicando algo que nunca é interrompido. No Estado Eterno não haverá horas como as conhecemos hoje.




Durma bem — Meditações 491


Quando Davi fugia de Absalão, ele escreveu: “Eu me deitei e dormi; acordei, porque o Senhor me sustentou” (Sl 3:5; veja também 4:8: “Em paz também me deitarei e dormirei, porque só Tu, Senhor, me fazes habitar em segurança.”). Correndo risco real de morte, com motivos de sobra para estar preocupado e perder o sono, Davi dormiu em paz, pois confiava em Deus.


Uma das mais famosas obras de ficção — Les Misérables, publicado em 1862 — fornece uma ilustração disto. Um ladrão (Jean Valjean) está a ponto de roubar um bispo que o acolhera e lhe dera hospedagem. Ele se aproxima da cama do bispo, que dorme tranquilamente, e de repente a Lua sai do seu esconderijo atrás de uma nuvem, e ”o vulto do bispo adormecido destacou-se como no meio de uma auréola … A Lua no céu, o repouso da natureza, o jardim em perfeita quietação, a casa em completo sossego, a hora, a ocasião, o silêncio, tudo acrescentava um não sei quê de solene e indizível ao venerável repouso daquele homem, envolvendo, numa majestosa e serena auréola, aqueles cabelos brancos e os olhos fechados, a fronte em que tudo era esperança e confiança, a cabeça de ancião e o sono infantil. Havia naquele homem, sem que ele o suspeitasse, o que quer que fosse quase divino.”


“Jean Valjean conservou-se na sombra, de pé, imóvel, com a barra de ferro na mão, debatendo-se com a mais estranha impressão. O aspecto daquele ancião coruscante apavorava-o. Nunca na sua vida vira coisa semelhante. O seu grande destemor amedrontava-o.”


“O mundo moral não possui mais grandioso espectáculo do que o de uma consciência perturbada e inquieta chegada à beira de uma má acção, e contemplando o sono de um justo” (da tradução de F. F. S. Vieira, 1851-1888; negrito meu).


F. W. Boreham (The Golden Milestone), que cita o texto de Victor Hugo acima, conta também um caso semelhante — mas este tirado da história, não da ficção. Archibald Campbell, o 9° Conde de Argyll (1629-1685), foi condenado à morte pelo rei James II (rei católico da Grã Bretanha que perseguiu muitos cristãos). Uma ou duas horas antes do horário marcado para a execução do Conde, um dos seus traidores foi à sua cela e o encontrou dormindo. Ao ver o condenado dormindo tão tranquilamente, a consciência deste homem agitou-o profundamente, e ele correu para uma casa próxima ao castelo, de conhecidos seus. Seus amigos, vendo-o aflito e perturbado, acharam que ele estava doente. “Não, não”, ele disse, “Eu fui ver Argyll na prisão. Eu o vi, a uma hora da eternidade, dormindo mais tranquilamente que qualquer outro que já vi. Mas quanto a mim …” 


O Conde havia escrito para sua filha: “O que direi neste grande dia, quando, do meio de uma nuvem escura, eu vejo o Sol brilhando?  Não posso desejar nada melhor para você do que o conforto do Senhor; que Ele brilhe sobre você como brilha sobre mim, e que permita que você experimente o amor dEle ao permanecer no mundo, da mesma forma que eu o experimento ao sair do mundo.”


Como é precioso ter a consciência tranquila, como Pedro, “dormindo entre dois soldados” (At 12:6) na noite anterior à sua esperada execução!


Irmão, irmã, se o Senhor está conosco, então andemos na Sua luz, e durmamos bem! Amém!




Enquanto dormem — Meditações 492


Frederico, o Grande (1712-1786), foi rei da Prússia de 1740 até a sua morte. Conta-se uma história interessante sobre ele.


Certa tarde, ele tocou a campainha que servia para alertar seu pagem que ele precisava de algo. Como ninguém respondeu, o rei saiu à procura do seu pagem, e achou o garoto dormindo. Ao seu lado havia uma carta aberta, que ele obviamente estivera lendo ao cair no sono. Era da sua mãe, e o rei leu as seguintes palavras: “Meu filho, obrigado pelo dinheiro que você me enviou. Vai ser muito útil. Deus te abençoe por isto”.


O rei Frederico, então, voltou ao seu quarto, pegou algumas moedas de ouro, e as colocou no bolso do pagem adormecido.


Quando este acordou e percebeu as moedas no bolso, ficou preocupado e, temendo ser acusado de roubo, correu a contar a história ao rei.


“Está tudo certo”, disse Frederico; “É para você e sua mãe. Na Bíblia há um texto que diz que Deus dá aos Seus amados enquanto dormem. Agora você sabe o que este texto quer dizer!” (Citado por Boreham, The Golden Milestone).


Provavelmente o rei se referia a Salmo 127:2, que a Atualizada traduz assim: “Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, e comer o pão que penosamente granjeastes; aos Seus amados Ele o dá enquanto dormem”. 


Que verdade preciosa! Obviamente, este trecho não incentiva a preguiça (veja II Ts 3:10), mas nos faz lembrar que mesmo na nossa hora de maior vulnerabilidade, quando aparentemente estamos indefesos e não-produtivos, Deus continua agindo por nós, e nos abençoando.


Como pensamos ontem: “Eu me deitei e dormi; acordei, porque o Senhor me sustentou … Em paz também me deitarei e dormirei, porque só Tu, Senhor, me fazes habitar em segurança” (Sl 3:5; 4:8).


Amém.




Madeira no Templo — Meditações 493


Três madeiras foram usadas para forrar o interior do Templo; o cedro, madeira incorruptível; a faia (cipreste), madeira forte; e a oliveira, madeira oleosa (a palavra para “oliveira” usada nos vs. 23, 31-33, enfatiza o liquido extraído da oliva).


Muitos comentaristas sugerem que as verdades associadas a estes diversos tipos de madeira, e ao ouro que cobria tudo, estão presentes quando Paulo descreve os corpos ressurrectos dos santos: “Semeia-se o corpo em corrupção, ressuscitará em incorrupção [cedro]. Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória [ouro]. Semeia-se em fraqueza, ressuscitará em vigor [faia]. Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual [a oliveira, uma figura do Espírito Santo]” (I Co 15:42-44).


Que esperança maravilhosa! Nossos corpos serão “conforme o Seu corpo glorioso” (Fp 3:21), pois “assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial” (I Co 15:49). Na verdade, seremos “conforme a imagem do Seu Filho” (Rm 8:29).


Mais um pouquinho de tempo, e esta será a nossa realidade!


(Extraído do Comentário Ritchie de I Reis)




Igrejas em Cuba — Meditações 494


Para mudar um pouco o enfoque destas meditações, quem sabe algumas notícias da obra do Senhor em outras partes sirvam para nos animar hoje.


Missionários de diversos países chegaram a Cuba quase um século atrás: Thomas e Jean Smith (do Canadá) e George e Betty Walker (USA) por volta de 1940; logo depois, Arnold e Kathleen Adams (Canadá) e Robert e Effie Leighton (Escócia), seguidos de Edward Doherty (Irlanda do Norte) e outros.


Nas décadas de 40 e 50, um irmão norte-americano (Henry Dedman) financiou a construção de salões em três locais (Vedado, Vibora e Pinar del Rio) que continuam em uso por igrejas locais até hoje. Uma van equipada com duas camas foi usada por alguns para viajar de ponta a ponta do país, distribuindo folhetos e Novos Testamentos. O mesmo irmão Dedman instalou uma gráfica em Cuba — um irmão cubano (hoje com 90 anos), que participou do início desta obra, continua até hoje na igreja local em Pinar del Rio.


Após a revolução cubana (1959), os estrangeiros precisaram deixar o país. Por muitos anos houve muitas restrições a viagens para Cuba, e até viagens internas, e muitas dificuldades. Mas as igrejas foram preservadas por Deus, e Ashley Milne escreve: “As igrejas locais continuam bem sadias até hoje … Uma nova geração de jovens salvos é bem ativa nestas igrejas”.


Hoje em dia há mais liberdade para visitar Cuba. O irmão Milne (que é a fonte das informações neste texto) visitou as igrejas em Cuba em outubro e novembro do ano passado.


Oremos por nossos irmãos em Cuba.




Considerai — Meditações 495


Mais uma citação do excelente Thou givest, they gather:


Sempre há aqueles que estão passando por um tribulação tão intensa que certamente cairão se não lembrarem que seguem um Cristo crucificado, não um Cristo popular.


Eu tenho plena convicção, pois já o experimentei, que uma longa e demorada contemplação do Calvário nos fortalece mais do que qualquer outra coisa. “Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra Si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos” (Hb 12:3). Tente, você que está no meio da tempestade. Tente, e você provará o poder que há nesta consideração … 


Considera aquele que suportou tanta contradição dos pecadores contra Si mesmo, e você será mais do que vencedor.


[…] Se alguma vez as pequenas agulhadas da vida querem parecer como feridas de cravos, e tristezas ameaçam escurecer nosso Céu, e começamos a pensar que nossa aflição — talvez algo pequeno que seguir o Crucificado nos custou — é a pior possível, ah! Olhemos para os sinais dos cravos nas Sua mãos e nos Seus pés!


Este é o caminho: “Considerai aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra Si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos”.




Janelas dos Céus — Meditações 496


Duas vezes encontramos esta expressão no relato do Dilúvio: “No ano seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete dias do mês, naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos Céus se abriram … Cerraram-se também as fontes do abismo e as janelas dos Céus, e a chuva dos Céus deteve-se” (Gn 7:11; 8:2). Aqui aprendemos sobre o juízo de Deus contra um mundo pecador — Deus abre e fecha as janelas dos Céus quando Ele vê que é necessário. Hoje, vendo o mal avançar por todos os lados, podemos descansar sabendo que Deus ainda continua em controle da Sua Criação. Não lhe faltam recursos para julgar os ímpios e ateus; não precisamos pegar em armas para “ajudá-lO”. Quando chegar a hora, as janelas dos Céus serão abertas, e o terrível juízo da Tribulação cairá sobre este mundo ímpio.


Outras duas vezes a expressão é usada nos dias de Eliseu: “Porém um senhor, em cuja mão o rei se encostava, respondeu ao homem de Deus e disse: Eis que ainda que o Senhor fizesse janelas no Céu, poder-se-ia fazer isso? E ele disse: Eis que o verás com os teus olhos, porém disso não comerás” (II Rs 7:2, 19). Aqui vemos a graça de Deus livrando Seu povo da destruição, e suprindo todas as Suas necessidades. A situação era tão extrema que o capitão do rei achou impossível, mesmo que Deus fizesse janelas no Céu — mas o que é impossível aos homens é simples para Deus. Na nossa necessidade hoje, confiemos num Deus que cuida do Seu povo!


A quinta e última ocorrência da expressão é em Malaquias: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do Céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes” (Ml 3:10). “Será que vale a pena servir a Deus?”, pergunta o incrédulo. Ah, com certeza! Aos que servem a Deus fielmente, Ele promete derramar uma bênção que fará parecer que as janelas dos Céus foram abertas — será muito mais do que podemos pedir ou imaginar (Ef 3:20). Talvez esta bênção não será medida em bens materiais ou saúde, mas será preciosa!


As janelas do Céu prefiguram a abundância daquilo que está à disposição de Deus — não há limites para o que Ele pode fazer. Seja em juízo (como no Dilúvio), ou em livramento (como nos dias de Eliseu), ou em bênçãos (como em Malaquias), os recursos são infinitos.


Deus nos contempla com amor e carinho, e abrirá as janelas dos Céus para a nossa bênção, conforme à Sua vontade. Melhor ainda, em breve Ele abrirá a porta e nos chamará para o Seu lar eterno!





O Cordeiro é o Templo (21:22) — Meditações 497


Tendo considerado o final de Apocalipse de forma abrangente nos últimos dois domingos, tentamos destacar vários detalhes em relação ao Cordeiro nestes versículos — mas ainda há muita coisa na qual podemos pensar. Comecemos pensando sobre Apocalipse 21:22, e a afirmação: “o seu templo é o Senhor Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro”.


Na antiga Jerusalém, o Templo se sobressaía. Ele era construído sobre um lugar elevado (o monte Moriá), chamando a atenção de quem se aproximasse da cidade, e enchendo a visão de todos que habitavam nela. Além deste destaque material, havia também o destaque espiritual: o Templo era o local mais sagrado e precioso para o povo de Deus no passado. Quase poderíamos dizer: Jerusalém sem Templo não era Jerusalém!


Agora João vê “a nova Jerusalém” (21:2), “a santa Jerusalém que de Deus descia do céu” (21:10), mas ele procura em vão por um templo! Por quê? Antes que alguém possa lamentar esta ausência, achando que seja um prejuízo, ele acrescenta: “… porque o seu templo é o Senhor Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro”.


Tente entender isto no contexto de Jerusalém e do povo de Deus. O Templo, que foi descrito por Deus como “o Meu santuário, a glória da vossa força, o desejo dos vossos olhos, e o anelo das vossas almas” (Ez 24:21), não existe mais — e ninguém sente falta dele! A nova Jerusalém não perde nada por não ter templo, pois a sombra deu lugar à realidade! O Cordeiro, que substituiu o Templo, é muito superior a ele, e a nova Jerusalém, sem Templo, é muito superior à velha Jerusalém com Templo! Cristo é que faz a diferença. Tendo o Cordeiro no seu meio, ninguém lembrará do Templo, que outrora foi a glória da sua força!


Convém lembrar que, assim como o Templo de Jerusalém para Israel, todas as coisas que compõem a nossa vida eclesiástica hoje são passageiras. Valorizamos muito a igreja local, a Ceia do Senhor, etc. — e com razão! Mas lembre: um dia tudo isto passará! Não sentiremos falta da igreja, nem da Ceia, nem de nada que é tão importante e necessário hoje em dia, pois habitaremos na presença do Senhor Deus Todo-Poderoso e do Cordeiro!


Isto é muito mais do que imaginamos — e está mais perto de acontecer do que pensamos!




Tenho-vos dito — Meditações 498


Apenas cinco vezes (cinco, na Bíblia, é o número da graça divina) na versão Trinitariana em português encontramos a expressão “Tenho-vos dito”. Todas as ocorrências são do Senhor Jesus falando com Seus discípulos no cenáculo, na noite em que foi traído.


A primeira ocorrência fala da vinda do Espírito Santo para continuar instruindo os discípulos, como o Senhor havia feito: “Tenho-vos dito isto, estando convosco. Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará …” (Jo 14:25).


A segunda mostra que a intenção do Senhor em instruir os Seus era proporcionar-lhes alegria e gozo verdadeiros: “Tenho-vos dito isto, para que o Meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo” (Jo 15:11).


Na terceira, vemos outra intenção: preparar os discípulos para perseguições futuras: “Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis. Expulsar-vos-ão das sinagogas …” (Jo 16:1).


A próxima ocorrência reforça isto, mostrando que o Senhor desejava que, quando viessem provações, eles lembrassem que tinham sido avisados por Ele: “Mas tenho-vos dito isto, a fim de que, quando chegar aquela hora, vos  lembreis de que já vo-lo tinha dito” (Jo 16:4).


Finalmente, o Senhor resumiu tudo ao dizer: “Tenho-vos dito isto, para que em Mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo” (Jo 16:33). 


Este é o resumo de uma vida cristã bem vivida: no mundo temos aflições, mas em Cristo temos paz! Portanto, “tende bom ânimo; Eu venci o mundo!”





Primeiro o natural — Meditações 499


Começando a leitura de I Crônicas, nos deparamos com uma longa lista de nomes, que ocupa praticamente nove capítulos. Entre muitas coisas interessantes que este trecho nos ensina está o princípio espiritual destacado por Paulo: “Não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual” (I Co 15:46).


Quem primeiro chamou minha atenção para isto foi meu saudoso pai, que destacou que Sem (o filho de Noé que é o cabeça da linhagem humana na qual nasceu o Senhor Jesus), apesar de ser o primeiro filho de Noé mencionado em Crônicas, é o último a ter sua linhagem descrita. O texto diz: “Noé, Sem, Cão e Jafé. Os filhos de Jafé foram … Os filhos de Cão … E foram os filhos de Sem” (I Cr 1:4, 5, 8, 17). O mesmo acontece com Isaque e Ismael (vs. 28-34). Também os filhos de Esaú (1:35-54) são mencionados antes dos filhos de Jacó (cap. 2).


Por que esta ordem? Por que mencionar primeiro os filhos que não fazem parte da linhagem escolhida por Deus, e só depois mencionar aqueles através dos quais viria o Messias? Não deveria ser o contrário?


Não, pois “não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual” (I Co 15:46). A vida física vem antes da vida espiritual, o corpo físico vem antes do corpo celestial, Adão veio (aqui no mundo) antes de Cristo.


Que consolo para nós que gememos neste corpo humano. Frustramo-nos devido ao nosso entendimento limitado, vemos nossa força física diminuindo ano a ano, lutamos contra emoções que não conseguimos subjugar plenamente — e pensamos: “Será que será sempre assim? Isso é tudo que sou? É isso que serei eternamente?”


E Deus responde: “Não, Meu filho. Primeiro é o natural, depois o espiritual. Primeiro você enfrenta as limitações do natural, para depois poder apreciar melhor a realidade espiritual e celestial, plena e ilimitada! Este teu corpo abatido será transformado para ser conforme o corpo glorioso do Meu amado Filho [Fp 3:21], e vem o dia em que tu verás a Minha glória [Jo 17:24; I Jo 3:2]. Não serás sempre como és hoje! Primeiro é o natural — mas depois é o espiritual!





Bem-aventurados — Meditações 500


“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus” (Mt 5:3).


Sabemos o que é ser pobre — mas o que significa “pobre em espírito”? Não pode ser “pobre espiritualmente”, ou “pobre quanto ao Espírito Santo”, pois tais condições não seriam benditas. Significa “consciente da sua pobreza interior”. Alguns sugerem o publicano de Lucas 18:13 como o exemplo perfeito. Uma palavra sinônima seria “humilde”.


Muitas pessoas tem uma concepção exagerada de si mesmo, esquecendo que (como disse McLaren) a distância até uma estrela longínqua não é diferente quer você esteja no chão ou encima de um cupinzeiro. Como miseráveis cupins, desprezando as formigas aos seus pés, muitas pessoas sentem-se importantes do alto das suas riquezas, inteligência ou conquistas — esquecem que “todo homem, por mais firme que  esteja, é totalmente vaidade. (Selá) Na verdade, todo homem anda numa vã aparência” (Sl 39:5-6).


Mesmo se eu fosse maior (em qualquer sentido da palavra) do que todo o restante da humanidade, ainda assim não seria nada diante da grandeza de Deus, do qual disse Isaías: “Eis que as nações são consideradas por Ele como a gota de um balde, e  como o pó miúdo das balanças … Todas as nações são como nada perante Ele; Ele as considera menos do que nada, e como uma coisa vã” (Is 40:15-17).


Que tolice ser orgulhoso e convencido! Mas quão frequentemente nos assustamos com tais pensamentos malignos em nosso espírito! Ah, Senhor, ensina-nos a sermos pobres em espírito!




Bem-aventurados (b) — Meditações 501


A segunda bem-aventurança diz: “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados” (Mt 5:4). Como a primeira, esta também precisa ser entendida no seu contexto.


Não devemos imaginar que esta afirmação se aplica indiscriminadamente a todo ser humano, em toda situação. Para provar isto, basta pensar na condenação dos ímpios, onde haverá choro e ranger de dentes e nenhum consolo.


O que ela quer dizer, então? Há duas respostas a esta pergunta.


Primeiro, podemos ligar esta bem-aventurança com a primeira: quem está chorando aqui são os pobres em espírito (choram pelas suas misérias e fraquezas), e este tipo de tristeza é abençoado. Quem ignora a sua fraqueza e seus pecados sofrerá o justo castigo, mas quem chora pelas suas falhas alcança perdão. Na presença do pecado, a alegria é uma intrusa. Como disse Salomão: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração … O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria” (Ec 7:2-4).


JFB escreveu: “A segunda bem-aventurança é o complemento da primeira. Uma é o aspecto intelectual, a outra o emocional … [os pobres em espírito] retiram beleza das cinzas, azeite das lágrimas, vestes de louvor de um espírito pesado. Semeando em lágrimas, colhem com alegria”.


Em segundo lugar, podemos ver aqui um princípio geral que os homens experimentam: assim como o Sol brilha com mais ternura depois da tempestade, assim também a maior alegria é aquela que vem depois do choro. Bruce escreveu: “Não pode haver consolo onde não houve tristeza”, e I. E. Ewan diz o mesmo em forma de poema (em tradução livre): “Há uma alegria que se esconde com as pérolas no fundo do mar; Fundo demais para quem nunca aprendeu a chorar”. Quem nunca sofreu conhece a alegria mediana da tranquilidade; mas a alegria revigorante do consolo só é conhecida por quem chorou!


O Salmista mostra que Deus está atento ao sofrimento dos Seus: “Tu contas as minhas vagueações; põe as minhas lágrimas no Teu odre. Não estão elas no Teu livro?” (Sl 56:8) “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito” (Sl 34:18).


Ou seja, temos aqui um consolo e um ânimo para o futuro. “O choro  pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30:5). Se sofremos hoje, em comunhão com Deus, podemos nos consolar lembrando que há um consolo eterno prometido: “E ouvi uma grande voz do Céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens ... E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21:3-4).


Sim, “bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados”. 





Bem-aventurados (c) — Meditações 502


A terceira bem-aventurança diz: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra” (Mt 5:5).


A palavra “manso” é uma de várias palavras cujo significado normal a Bíblia elevou. Vincent fala sobre o sentido antigo dela no mundo: “Aristoteles a define como … uma fraqueza de caráter que não condena nem o erro. Para Platão … pode ser usada da atitude conciliatória do demagogo que deseja ser popular”. Para muitos hoje em dia, mansidão ainda é sinal de fraqueza, mas o salvo segue um Senhor que disse: “Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde  de coração” (Mt 11:29).


Amy Carmichael fala sobre os “pequenos atos despercebidos de grosseria que cometemos, e que tornam mais difícil para os outros verem Cristo em nós. E se alguém pensa que grosseria e honestidade são companheiras, ou que ser manso equivale a ser falso, vou lhe dizer o que descobri: as pessoas mais fortes, corajosas e sinceras que já conheci foram também as mais mansas. Poderíamos imaginar nosso Senhor sendo rude?”


A ideia de mansidão que o mundo tem é sinônima de fraqueza (ou, no mínimo, de hipocrisia), mas a mansidão que vem de Deus é corajosa e forte frente ao pecado, ao mesmo tempo que é suave e meiga em relação aos outros. Ser manso, segundo as Escrituras, é seguir o exemplo de Cristo, “o qual, quando O injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-Se àquele que julga justamente” (I Pe 2:23).


Para os irmãos, diz o Senhor: “Ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos” (II Tm 2:24); e para as irmãs: “O enfeite delas não seja o exterior … [mas] o incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus” (I Pe 3:3-4).


Que nos esforcemos para melhorar neste ponto, pois são “bem-aventurados os mansos”.





Bem-aventurados (d) — Meditações 503


A quarta bem-aventurança diz: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mt 5:6). Considere, resumidamente, três detalhes deste versículo.


Definindo o desejo — Ter fome e sede de justiça é bem diferente de desejar vingança. Quando o incrédulo ofendido diz: “Eu quero justiça”, ele quer dizer: “Quem fez isto deve pagar pelo que fez!” O salvo deseja ver o bem triunfar sobre o mal, sim, mas ele sabe que a vingança pertence ao Senhor e não se preocupa com isto (Rm 12:19). Ele deseja justiça em si mesmo, não sobre os outros — ele quer ser mais justo, viver de forma mais correta e agradável a Deus. Em suma, ele deseja ser mais semelhante a Deus. Ter fome e sede de justiça não é desejar ver os ímpios sofrerem, mas sim, desejar ver o meu espírito ser mais justo.


Sua intensidade — as palavras usadas (fome e sede) indicam um desejo intenso e sincero, não um desejo qualquer. Não como Balaão, que desejou morrer a morte dos justos (Nm 23:10) mas não estava disposto a viver como eles; nem como Pilatos, que queria saber o que é a verdade (Jo 18:38), mas não esperou para ouvir a resposta; nem como o jovem rico, que desejava a vida eterna mas não abria mão das suas propriedades (Mt 19:16, 22)! Esse tipo de desejo, morno e superficial, não será satisfeito! Devemos desejar a justiça de Deus como um pobre perdido no deserto deseja alimento e água!


Sua satisfação — “serão fartos”. Que precioso! Não só “satisfeitos”, mas “fartos”. A palavra grega usada pelo Senhor Jesus é a mesma que fazendeiros usavam para descrever a engorda de animais, alimentados com abundância. Ouvi de uma senhora que servia pouca comida, e quando via as travessas vazias, exclamava: “Perfeito! Não houve sobras, e todo mundo está satisfeito” (seus hóspedes geralmente tinham outra opinião!). Alguns desejos são satisfeitos pela metade, ou de forma passageira — mas quem tem fome e sede de justiça será como aquele que senta diante de uma mesa farta, e percebe logo que sua fome estará saciada muito antes da comida acabar!


O que desejamos hoje? Se não quisermos ser desapontados, ouçamos este recado do Senhor: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”.





O Cordeiro é a lâmpada — Meditações 504


Continuando a meditar no que o Apocalipse fala sobre o Senhor Jesus, consideremos agora 21:23-26: “E a cidade não necessita de Sol nem de Lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem iluminado, e o Cordeiro é a sua lâmpada. E as nações dos salvos andarão à sua luz; e os reis da Terra trarão para ela a sua glória e honra. E as suas portas não se fecharão de dia, porque ali não haverá noite. E a ela trarão a glória e honra das nações”. Estes versículos revelam diversos detalhes sobre a luz no dia eterno.


a) Fonte da luz — “a glória de Deus a tem iluminado, e o Cordeiro é a sua lâmpada”. O sentido é que a glória de Deus iluminará aquela cidade como a luz do Sol clareia um dia ensolarado, e que o Cordeiro será o Sol. Isto é, a luz que brilha é a glória de Deus, e ela emana do Cordeiro. Como imaginar o cumprimento disto? Nossa mente, tão limitada, fica confusa: “Se nos cega o Sol ardente, quando visto em seu fulgor, quem pode encarar aquele que do Sol é Criador?” (H. e C. 136). Se Cristo brilhará mais do que o Sol, isto quer dizer que não poderemos olhar para Ele, nem discernir os contornos do Seu rosto? Não, irmãos — nós veremos o Seu rosto (22:4)! Com os corpos mortais que temos hoje, isto seria impossível, pois ficaríamos cegos se tentássemos olhar para tal glória. Mas naquele dia, transformados, poderemos vê-lO face a face, e contemplar no Seu rosto uma glória divina que brilha mais que “o Sol quando na sua força resplandece” (1:16). Será a consumação daquilo que já podemos experimentar hoje: “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem” (II Co 3:18).


b) Os resultados da luz — Lemos que “as nações dos salvos andarão à sua luz”, e também que “os reis da Terra trarão para ela a sua glória e honra” (isto é repetido, com uma ligeira modificação, no v. 26: “a ela trarão a glória e honra das nações”). A vida na Terra hoje depende do Sol — a vida na nova Terra dependerá da luz da cidade santa, e esta luz é o Cordeiro! As diversas nações que habitarão esta Terra reconhecerão isto, e trarão “glória e honra” ao Cordeiro na cidade celestial. Não podemos afirmar como isto se cumprirá, na prática, mas nos curvamos diante da sublimidade destas revelações.


c) A permanência da luz — como é precioso ver que estas condições perfeitas não continuam apenas para sempre (isto é, sem fim), mas também continuamente (isto é, sem interrupção)! Lemos que as portas daquela cidade “não se fecharão de dia, porque ali não haverá noite”. Estamos tão acostumados a viver em ciclos (dia/noite, acordados/dormindo, etc.) que temos dificuldade em imaginar uma eternidade sem interrupções ou pausas para descanso! Mas assim será: durante toda a eternidade, e sem interrupções, as portas da cidade celestial não se fecharão.


Meditando nisto, ficamos maravilhados com esta visão da glória do Cordeiro — uma glória pura e intensa, que brilhará num eterno dia! Com razão oramos: “Venha o Teu reino!”








© 2021 W. J. Watterson



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