Friday 6 August 2021

Meditações 477 a 480

Meditações na quarentena (2020/21) enviadas diariamente aos irmãos e irmãs da igreja local em Pirassununga para nosso ânimo mútuo (arquivadas neste blog).

 

 Nunca contrariado — Meditações 477


O primeiro livro dos Reis começa com uma tentativa de golpe em Israel: Adonias, filho de Davi, tenta tomar o trono de seu pai e do legítimo herdeiro, Salomão. Chamou-me a atenção o que a Bíblia diz sobre este jovem. Como que explicando por que ele ousou revoltar-se, está escrito: “E nunca seu pai o tinha contrariado” (I Rs 1:6) — isto é, Davi nunca tinha dito “Não” para ele, mas deixou que ele fizesse a sua própria vontade, sempre.

Para a sociedade moderna, perfeito! Escondendo-se atrás da falsa sabedoria da ciência, o mundo prega que a criança deve ter plena liberdade para se expressar e desenvolver, e o pai ideal é aquele que nunca contraria seu filho.

Se cremos na Bíblia, porém, precisamos admitir que esta é uma receita para o desastre! Quando Salomão (o herdeiro rejeitado por Adonias) cresceu, Deus lhe deu mais sabedoria do que qualquer homem antes ou depois dele (I Rs 3:12), e o inspirou a escrever: “A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da correção a afugentará dela … Não retires a disciplina da criança; … tu a fustigará com a vara, e livrarás a sua alma do inferno … A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe” (Pv 22:15; 23:13, 14; 29:15).

Pais e mães hoje em dia precisam fazer uma escolha muito importante: seguir a sabedoria deste século, ou seguir a Palavra de Deus. Que Ele mesmo oriente e dê sabedoria a cada pai e mãe que lê estas poucas linhas, para que, com muito amor e carinho (e desde o berço), aprendam a dizer “Não” para seus filhos.

Não seja como Eli, que foi repreendido por Deus por que não repreendeu seus filhos (I Sm 3:13). Seja como nosso Pai celeste, que “corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho” (Hb 12:6).

 

Mirra — Meditações 478


Ao lermos a palavra “mirra”, imediatamente pensamos num perfume muito comum nos tempos bíblicos. Apesar do perfume ser comum, a palavra é rara no Novo Testamento — só é mencionada duas vezes (ambas nos Evangelhos).

Logo no começo dos Evangelhos, Mateus descreve a visita dos magos, que vieram de longe ver o Menino Rei dos Judeus, e “ofertaram-lhe dádivas: ouro,  incenso e mirra” (Mt 2:11). Concluindo o relato inspirado dos quatro Evangelistas, João diz que, após a morte do Senhor, veio “Nicodemos (aquele que anteriormente se dirigira de noite a Jesus), levando quase cem arráteis de um composto de mirra e aloé” (Jo 19:39).

Quando Seu Filho amado entrou neste mundo, Deus demonstrou Sua satisfação com este ato ao trazer gentios de longe para presenteá-lO com mirra. Cerca de trinta e três anos mais tarde, quando Ele concluiu Sua obra aqui na Terra, Deus novamente manifesta Sua plena satisfação com Seu Filho, usando um dos principais dos judeus para ungi-lO com mirra.

Através destes dois pequenos atos praticados por pessoas que não estão entre os líderes do povo de Deus, o Pai diz, em alto e bom som: “Desde o nascimento até à morte, Meu Filho viveu uma vida cuja fragrância jamais deixou de ser sentida aqui no Céu. Em cada momento de cada dia, do começo ao fim, a fragrância dos Seus atos, Sua palavras e Seus pensamentos perfumaram o Céu.”

De Israel, Deus disse: “Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem Me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante Mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os Meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs … As vossas luas novas, e as vossas solenidades, a Minha alma as odeia; já Me são pesadas; já estou cansado de as sofrer” (Is 1:11-14).

Mas do Filho, Ele proclamou: “Eis aqui o Meu Servo, a quem sustenho, o Meu eleito, em quem se apraz a  Minha alma … Eis que o Meu Servo procederá com prudência; será exaltado, elevado, e mui sublime” (Is 42:1; 52:13).

Que a fragrância de Cristo nos acompanhe hoje.

 

Sem quebra — Meditações 479


Os livros da Bíblia foram escritos sem “quebras” — as divisões de capítulos e versículos foram inseridas mais de mil anos depois dos apóstolos. Somos gratos a Stephen Langton, Hugo Caro, Santes Pagnino, Robert Estienne e outros que se empenharam nesta tarefa enorme de dividir o texto, primeiro em capítulos, depois em versículos. Nossa leitura e estudo ficam muito mais fáceis devido ao esforço deles.

Mas, infelizmente, em uma ou outra ocasião a quebra de capítulos esconde um contraste importante, que salta aos olhos quando lemos o texto sem quebras.

Um exemplo é o final de I Reis cap. 6 e o começo do cap. 7. O texto está falando de como o rei Salomão se ocupou da construção da Casa do Senhor. Na junção dos capítulos, lemos (sem quebras):

“… [a casa do Senhor] edificou em sete anos. Porém a sua casa edificou Salomão em treze anos.”

Lendo assim, sem quebra, o contraste nos atinge em cheio: ele gastou quase o dobro de tempo na construção da sua casa do que gastou na Casa do Senhor! O texto sagrado não faz nenhuma crítica ou condenação a Salomão, e não devemos desprezar o empenho dele na construção do Templo. Mas também não podemos deixar de perceber o constraste, e perguntar a nós mesmos: onde está a nossa prioridade? Não é simplesmente uma questão de horas/minutos e de reais/centavos, mas de onde está o nosso coração. O que realmente valorizamos mais?

Nosso amado Salvador disse: “Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt 6:21). Que Deus me ajude a olhar para dentro do meu coração, vendo aquilo que está escondido aos olhos do meu próximo. Que eu possa perguntar a mim mesmo: “Onde está o meu tesouro?

 

Sem quebra (b) — Meditações 480


Ontem pensamos sobre o contraste impressionante entre o final do cap. 6 e o começo do cap. 7 de I Reis. Outro exemplo de contrastes que a divisão de capítulos esconde está entre os caps. 16 e 17 de Gênesis (é interessante que em ambos os trechos o contraste é relacionado ao tempo, e  inclui um período de 13 anos).

Sem quebras, lemos: “Era Abrão da idade de oitenta e seis anos quando Agar deu a luz Ismael. Sendo, pois, Abrão da idade de noventa e nove anos …” — e pensamos: “Epa! Para onde foram os últimos treze anos? De 86 passamos para 99! Não aconteceu nada digno de ser registrado neste longo período da vida do amigo de Deus (Tg 2:23)?”

Mesmo sendo um trecho tão conhecido, convém repetir a lição solene que ele ensina. Deus prometeu um filho a Abraão (15:4); diante das circunstâncias aparentemente impossíveis, Abraão resolveu “dar uma mão”, e gerou um filho de sua serva, Agar. Pronto: agora Abraão tinha um filho e um herdeiro! Mas o plano de Deus não era este — o plano de Deus seria cumprido no filho que Abraão teria de Sara, sua esposa. A precipitação de Abraão trouxe vários prejuízos, um dos quais foram estes treze anos perdidos!

Meditemos hoje nesta experiência de Abraão e Sara, e procuremos aprender a esperar o tempo de Deus.

“Porque a visão é ainda para o tempo determinado, mas se apressa para o fim, e não falhará. Se tardar, espera, porque certamente virá; não falhará … Porque ainda um pouquinho de tempo, e o que há de vir virá, e não tardará” (Habacuque 2:3 e Hebreus 10:37).


© 2021 W. J. Watterson

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