Sem concessões — Meditações 400
Um pequeno esboço sobre nosso Senhor Jesus Cristo.
Seu nascimento — sem defeito. “E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1:35).
Seu comportamento — sem desforra. “O qual não cometeu pecado, nem na Sua boca se achou engano. O qual, quando O injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-Se àquele que julga justamente” (I Pe 2:22-23).
Sua trajetória — sem desvios. “E aconteceu que, completando-se os dias para a Sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém” (Lc 9:51).
Sua morte — sem derrota. “E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos” (Ap 5:5).
Seu retorno — sem demora. “Eis que venho sem demora … Certamente, cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus” (Ap 3:11; 22:20).
Que possamos adorá-lO sem reservas.
Perto — Meditações 401
“Deus Se revela com clareza suficiente para estimular nossa fé — não, porém, ao ponto de deixar esta fé sem provações.”
Esta citação, de um historiador do século XIX, resume bem o que a Bíblia fala sobre Deus. Ele “não Se deixou a Si mesmo sem testemunho” (At 14:17), desejando que os homens “buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, O pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós” (At 17:27) — mas Ele não Se apresenta visivelmente a todos, como fez em algumas situações excepcionais (com Moisés na sarça, ou na conversão de Paulo). Quer dizer, Ele não Se esconde, mas não aparece escrito nas nuvens toda manhã: “Deus existe!”
E por quê? Uma razão, certamente, é a exposta na citação acima: para exercitar nossa fé. Ou, como Ele disse através de Jeremias: “Buscar-Me-eis, e Me achareis, quando Me buscardes com todo o vosso coração” (Jr 29:13).
Temos uma Criação que declara a Sua glória (Sl 19:1); muito mais claro do que isto, temos um Livro que nos revela a Sua Pessoa através da história do Seu Filho! Que possamos buscá-lO hoje, de todo o coração!
———— SCHAFF, Philip. History of the Christian Church vol 1, pág. 105.
Também Cristo — Meditações 402
Três vezes no NT (nas versões Corrigida e Trinitariana) encontramos a expressão “como também Cristo”, seguida de um verbo descrevendo o que Cristo fez que nós devemos imitar.
Ele amou a nós, individualmente — “andai em amor, como também Cristo vos amou, e Se entregou a Si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (Ef 5:2). Como foi que Cristo nos amou? Seu amor foi manifestado pelo fato dEle ter oferecido a Si mesmo por nós como um holocausto. A imagem do sacerdote oferecendo um sacrifício sobre o altar tem uma carga simbólica muito elevada — mas não permita que isto esconda a mensagem central (e prática) do versículo: a medida do meu amor (para com Deus, com os salvos e com o próximo) deve ser a medida do amor de Cristo por mim, demonstrado na Cruz. Enquanto eu não alcançar isto, estou devendo!
Ele amou a Igreja — “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a Igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela, para a santificar … Assim devem os maridos amar as Suas próprias mulheres” (Ef 5:25-33). Como foi que Cristo amou a Sua Igreja? Como vimos acima, foi um amor sacrificial, mas com outro detalhe acrescentado — foi para benefício dela (“para a santificar”). O meu amor pela minha esposa resulta em bênçãos para ela? Ajuda ela a crescer espiritualmente, a sentir-se valorizada e útil no serviço do Senhor? Amar é muito mais do que dizer: “Eu te amo”, muito mais do que dar e receber carinho.
Ele nos recebeu — “Portanto recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus” (Rm 15:7). O assunto continua sendo amor, mas o contexto (desde o cap. 14) está falando de diferenças doutrinárias, de judeus e gentios, de cristãos fracos e fortes. “Cristo não agradou a Si mesmo” (15:3) — assim também “cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação” (15:2). Cristo nos recebeu quando não sabíamos nada sobre verdade importantes que, com o passar do tempo, fomos aprendendo — por que desprezarmos um irmão que consideramos “fraco” na doutrina? (15:1). Há diferenças doutrinárias que me impedem de trabalhar ombro a ombro com outros irmãos (“andarão dois juntos se não estiverem de acordo?”; Am 3:3), mas elas não me impedem de chamá-lo “irmão”, e de desejar o seu crescimento espiritual.
Realmente, todo o ensino prático para o salvo poderia ser resumido nesta expressão: “como também Cristo!” Se andarmos “como também Cristo” andou; se falarmos “como também Cristo” falou; se vivermos “como também Cristo” viveu; certamente Deus será glorificado em nossas vidas!
Sete vezes mais — Meditações 403
Uma expressão solene e dura chamou minha atenção hoje no final de Levítico. Ela é repetida quatro vezes no espaço de onze versículos (e só aparece uma outra vez na Bíblia):
“E, se ainda com estas coisas não Me ouvirdes, então Eu prosseguirei a castigar-vos sete vezes mais, por causa dos vossos pecados … E se andardes contrariamente para comigo, e não Me quiserdes ouvir, trar-vos-ei pragas sete vezes mais, conforme os vossos pecados … Se ainda com estas coisas não vos corrigirdes voltando para Mim … Eu mesmo vos ferirei sete vezes mais por causa dos vossos pecados … E se com isto não Me ouvirdes, mas ainda andardes contrariamente para comigo, também Eu para convosco andarei contrariamente em furor; e vos castigarei sete vezes mais por causa dos vossos pecados” (leia Levítico 26, a partir do v. 14).
Destacamos tanto a misericórdia e bondade de Deus (e com razão!) que precisamos, às vezes, de um trecho com este para nos lembrar que “o Senhor corrige o que ama, a açoita a qualquer que recebe por filho” (Hb 12:6). Convém analisar nossa vida hoje, e perguntar a nós mesmos: quanto das nossas aflições presentes podem ser resultado da nossa insistência em desobedecer a Deus, e não seguir o caminho que Ele traçou para nós?
“Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar” (Is 55:7).
Sete vezes mais quente — Meditações 404
Ontem pensamos sobre o juízo de Deus e a repetição quádrupla da expressão “sete vezes mais” em Levítico 26. A única outra ocorrência da expressão em português é em Daniel 3:19: “Então Nabucodonosor se encheu de furor, e mudou-se o aspecto do seu semblante contra Sadraque, Mesaque e Abednego; e falou, e ordenou que a fornalha se aquecesse sete vezes mais do que se costumava aquecer” (Dn 3:19).
A situação parecia perdida. Ser lançado na fornalha de fogo já era algo sem volta; com a fornalha sete vezes mais ardente do que o normal, então, nem se fala! Era morte na certa!
Tanto é que lemos do triste fim dos servos de Nabucodonosor. Ele ordenou que “os homens mais poderosos que estavam no seu exército atassem a Sadraque, Mesaque e Abednego, para lançá-los na fornalha de fogo ardente … E, porque a palavra do rei era urgente, e a fornalha estava sobremaneira quente, a chama do fogo matou aqueles homens que carregaram a Sadraque, Mesaque, e Abednego.”
Todos conhecemos o fim da história. Nabucodonosor se impressiona ao ver que os três homens que ele desprezou e procurou matar estavam “passeando dentro do fogo, sem sofrer nenhum dano”! Inacreditável!
E mais — eles tinham um Companheiro na fornalha, do qual Nabucodonosor disse: “O aspecto do quarto é semelhante ao Filho de Deus”! Não sei o que levou Nabucodonosor a dizer isto; seria algo na aparência dEle, que brilhava mais que o fogo? Seria algo na Sua postura e forma de andar? Não sei — mas Nabucodonosor teve certeza que o quarto era o Filho de Deus.
“Entã Sadraque, Mesaque e Abednego saíram do meio do fogo. E reuniram-se os príncipes, os capitães, os governadores e os conselheiros do rei e, contemplando estes homens, viram que o fogo não tinha tido poder algum sobre os seus corpos; nem um só cabelo da sua cabeça se tinha queimado, nem as suas capas se mudaram, nem cheiro de fogo tinha passado sobre eles.”
Que consolo lembrar deste evento! Deus não promete nos livrar de toda tribulação e nos dar uma vida sem problemas — mas Ele diz: “Eis que estou convosco todos os dias. Eu não te deixarei, nem te desampararei. E assim com confiança ousamos dizer: O Senhor é o meu ajudador; não temerei o que me possa fazer o homem” (Mt 28:20; Hb 13:5-6).
Ele estará conosco dentro da fornalha — ainda que ela se aqueça sete vezes mais do que o normal!o
O Cordeiro e Seus santos (19:6-9) — Meditações 405
Este é o terceiro trecho em Apocalipse onde o título “Cordeiro” é usado num contexto que destaca o povo do Cordeiro. No cap. 7, vimos aquela multidão de gentios salvos durante a Tribulação; no cap. 14, os 144.000 judeus selados; e aqui, a Igreja.
Isto nos lembra que nosso bendito Salvador é o Senhor de muitos, e não apenas da Igreja. Nós, os salvos desta dispensação, iremos louvá-lO por toda a eternidade — mas não seremos os únicos ocupados nisto. Lemos que todo o joelho se dobrará diante dEle, dos que estão nos Céus, e na Terra, e debaixo da Terra, e toda a língua confessará “que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2:5-11). Ele será o alvo de louvor eterno de todos os remidos, e de todas as hostes celestiais. Lemos de “milhões de milhões e milhares de milhares” de anjos, “que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças” (Ap 5:11). Realmente, é o propósito de Deus “tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos Céus como as que estão na Terra” (Ef 1:9-10).
Reconhecemos a universalidade do louvor do Cordeiro, mas nos gloriamos no relacionamento privilegiado que a Igreja tem com Ele. Apocalipse 19 apresenta o Cordeiro e Sua Noiva nos dias das Suas bodas — que dia glorioso! A noiva é a Igreja, composta daqueles que são aqui chamados “santos”; isto é, todos os salvos desta dispensação, desde Atos cap. 2 até o dia do Arrebatamento. Haverá vários grupos de criaturas adorando e louvando ao Senhor por toda a eternidade — anjos, Israel, gentios salvos durante o VT, durante a Tribulação, durante o Milênio — mas o Cordeiro tem apenas uma Noiva!
Louvemos ao Senhor hoje por fazer parte desta Noiva, e pelas glórias e belezas morais do Noivo, o Cordeiro.
Amanhã, se Deus permitir, podemos começar a meditar neste trecho tão sublime.
A Noiva do Cordeiro (19:6-9) — Meditações 406
Ontem começamos a pensar sobre as Bodas do Cordeiro. Há três coisas que podemos destacar neste trecho: as circunstâncias das bodas, o casamento em si, e as consequências das bodas. Quero pensar na primeira destas hoje.
As circunstâncias (19:1-6)
Um sinal do destaque dado às Bodas do Cordeiro é o fato de encontrarmos, apenas aqui no NT, a palavra “aleluia”. Não a encontramos no acontecimento notável da encarnação, nem quando os anjos vieram anunciar o nascimento do Filho de Deus. Ela não foi usada acerca dos muitos milagres maravilhosos que Cristo realizou, nem foi pronunciada na vitória contundente no Calvário. Diante do túmulo vazio ou na glória da ascensão, teria sido tão apropriado um “aleluia” — mas é apenas aqui, quando os propósitos de Deus estão chegando ao seu ponto culminante, e quando o Cordeiro recebe a Sua esposa, que ressoa pelos Céus este hino de louvor: “Aleluia!”
Os três trechos que falam do Cordeiro e Seu povo (7:9-17; 14:1-5; 19:1-10) apresentam cânticos de louvor. No cap. 7 é a grande multidão que canta, louvando a Deus. No cap. 14 quem canta é um coro celestial, e sua voz é semelhante à voz de muitas águas e à voz de um grande trovão. Aqui no cap. 19, porém, parece que todas estas vozes se unem num imenso coral. Temos a voz de uma grande multidão (v. 1), a voz dos vinte e quatro anciãos e dos quatro seres viventes, e a voz que sai do trono, “como que a voz de uma grande multidão, e como que a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes trovões”. Todas estas vozes se unem num grande “Aleluia!” que ecoa pelos Céus.
Repare que aqui aparece a voz que sai do trono, que não se manifestou nos outros dois trechos que consideramos. Esta voz é mencionada apenas duas vezes na Bíblia: aqui e em Ap 16:17, onde lemos que, ao derramar a última taça da ira de Deus, a voz do trono clama: “Está feito”. Ali a voz do trono celebra o final dos juízos de Deus contra um mundo rebelde: aqui esta mesma voz convoca todos os servos de Deus, “assim pequenos como grandes”, para se alegrarem devido à chegada das Bodas do Cordeiro. Ambos os pronunciamentos ocorrem mais ou menos no mesmo momento, bem no final da Tribulação, e bem pode ser que sejam simultâneos. É possível que esta voz que sai do trono seja ouvida apenas uma vez em toda a história da humanidade, e que o cap. 16 apresenta a primeira parte do seu pronunciamento, e o cap. 19 a segunda parte. Ao final da Tribulação, a voz do trono de Deus diz: “Está feito! Todos os juízos foram executados, e agora o Cordeiro pode se assentar sobre o Seu trono em paz e justiça. Então vinde, todos os servos de Deus, assim pequenos como grandes; vinde e alegrai-vos, porque vindas são as bodas do Cordeiro”. A batalha foi ganha; o Cordeiro agora pode desfrutar de comunhão com a Sua esposa.
É verdade que ainda haverá a batalha de Armagedom mencionada no final do cap. 19, e a rebelião no final do Milênio. Mas estas coisas não podem atrasar o programa de Deus. Os juízos da Tribulação sendo encerrados, o Cordeiro tem pressa em unir-se à Sua esposa.
Diante de tudo isto, nada mais apropriado que clamar: “Aleluia” (literalmente, “Louvai ao Senhor”). Chegou a hora do cumprimento de um dos propósitos da morte do Senhor Jesus, que “amou a Igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela … para a apresentar a Si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5:25-27).
Que futuro glorioso nos aguarda! Aleluia!
O prazer do Senhor — Meditações 407
Li um texto do dr. Higgins hoje de manhã, onde ele cita três passagens nos Salmos que falam, profeticamente, do prazer do Senhor Jesus Cristo:
• Ele tem prazer na Palavra de Deus — “Antes tem o Seu prazer na lei do Senhor, e na Sua lei medita de dia e de noite” (Sl 1:2).
• Ele tem prazer nos propósitos de Deus — “Tenho prazer em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração” (Sl 40:8).
Este dois são fáceis de entender, pois como o irmão destaca no seu texto, “há uma correspondência moral inerente da Palavra e da vontade de Deus com a Sua Pessoa” — isto é, moralmente, estas duas coisas são compatíveis com a perfeição do caráter do nosso Senhor, e combinam com Ele.
Mas como entender o terceiro “prazer”?
• Ele tem prazer no povo de Deus — “Mas aos santos que estão na Terra, e aos ilustres em quem está todo o Meu prazer” (Sl 16:3). Nós, que éramos por natureza inimigos, e só nos aproximamos dEle porque Ele veio ao nosso encontro! Como entender que nós podemos ser uma fonte de prazer para este Salvador tão bendito?
Como disse o poeta: “Que mar imensurável é Teu profundo amor!” Não o compreendemos, mas cremos, e nos alegramos nesta verdade preciosa!
Encerro citando alguns outros versículos que apresentam a mesma verdade:
”Alegrando-Me perante Ele em todo o tempo, regozijando-Me no Seu mundo habitável e enchendo-Me de prazer com os filhos dos homens” (Pv 8:31);
“Ele verá o fruto do trabalho da Sua alma, e ficará satisfeito” (Is 53:11);
“Eu sou do meu amado, e Ele me tem afeição” (Ct 7:10);
“Nunca mais te chamarão: Desamparada, Nem a tua terra se denominará jamais: Assolada; Mas chamar-te-ã: O Meu prazer está nela, E à sua terra: A casada; Porque o Senhor se agrada de ti” (Is 62:4);
Deus “nos fez agradáveis a Si no Amado” (Ef 6:1).
Incompreensível foi a Tua dor
Na cruz por mim.
Imensurável Teu divino amor,
Amor sem fim.
Não poderei jamais o merecer;
Só posso, então, prostrado, agradecer.
Escolhendo a fraqueza — Meditações 408
Deus não escolhe como nós escolhemos. Basta uma olhada superficial nos instrumentos que Deus usou para realizar a Sua vontade, e veremos a confirmação das palavras do Espírito Santo: “Deus escolheu as coisas loucas deste mundo … e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo … e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são” (I Co 1:27-28).
Repare que foi uma escolha — não era a Sua única opção! Ter à disposição apenas instrumentos fracos, e fazer o melhor que podemos com tais instrumentos, é uma coisa boa — mas escolher instrumentos fracos é bem diferente!
Mas por que escolher a fraqueza? Por que escolher os loucos, os fracos, os desprezíveis? O Espírito mesmo responde: “Para que nenhuma carne se glorie perante Ele … Para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor” (I Coríntios 1:29-31). “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós” (II Coríntios 4:7). Ao escolher os instrumentos mais fracos que havia, Deus destaca o Seu poder.
Falando sobre a esterilidade de Isabel (Lucas 1:7), Darby escreveu: “Deus realizou a Sua obra de bênção enquanto manifestava a fraqueza do instrumento que Ele usava”.
Entendemos essa verdade — mas como é difícil apreciá-la! Queremos ser usados pelo Senhor para a nossa glória. Queremos ser louvados pelos sacrifícios, pelas tribulações, e pelas coisas das quais abrimos mão. Queremos que nossos irmãos fiquem maravilhados com a nossa humildade. Queremos ser lembrados como instrumentos poderosos nas mãos de Deus. Queremos pensar que, se formos humildes, o Senhor fará com que todos nos honrem — se sofrermos perda por Ele, todos ficarão admirados da nossa dedicação. Queremos que o Senhor realize a Sua obra de bênção enquanto manifesta o quanto somos úteis para Ele.
Mas sabemos, bem lá no fundo, que para Deus receber toda a glória, eu devo ser esquecido! Como disse João Batista: “É necessário que Ele cresça e que eu diminua” (João 3:30). Precisa acontecer — é necessário! Para que Deus seja glorificado, a vasta maioria daqueles que me cercam deve se maravilhar da minha loucura, da minha fraqueza, da minha falta de preparo para a obra a ser feita.
Será que realmente quero isso? Ou será que ainda sofro ao pensar na possibilidade de ser desprezado e despercebido? Quero que o Senhor receba toda a glória — ou quero uma parte dela para mim?
Eu sei que Deus escolhe os fracos e loucos — quero que Ele escolha a mim? “Sonda-me, — Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos” (Sl 139:23).
Meu afastamento — Meditações 409
Uma frase solene em Números chamou minha atenção hoje. Quando o Senhor está repreendendo o povo por não crer nEle e tomar logo posse da Terra Prometida, Ele avisa sobre os quarenta anos no deserto, e diz: “Levareis sobre vós as vossas iniquidades quarenta anos, e conhecereis o Meu afastamento” (Nm 14:34).
Eles precisariam conhecer o afastamento do Senhor — conhecer experimentalmente, na prática e na alma (não só na teoria e no entendimento). “Mas por que não se arrependeram logo?”, alguém pergunta. Arrependeram, sim — no outro dia, de madrugada! (v. 40) Mas já era tarde. A sentença havia sido dada, e eles precisariam sentir na pele sua disciplina! Arrependimento nem sempre evita disciplina — mesmo quando buscado com lágrimas! (Hb 12:17)
Que solene pensar que precisariam conhecer o afastamento do Senhor! Viver neste mundo deserto e não sentir a presença do Senhor conosco é o pior castigo para os filhos de Deus! Melhor entrar na fornalha aquecida sete vezes e ter comunhão com Ele, do que andar tranquilo, mas sozinho!
“Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel [incrédulo], para se apartar do Deus vivo” (Hb 3:12). Que Deus nos preserve perto dEle hoje.
O Deus de paz — Meditações 410
Deus é chamado de “Deus de paz” cinco vezes no Novo Testamento. Duas vezes lemos as palavras tão confortadoras: “O Deus de paz seja com vós” (Rm 15:33 e Fp 4:9). As outras três ocorrências deste título nos apresentam três coisas que o Deus de paz promove em nós.
Ele nos aperfeiçoa (Hb 13:20-21). “Ora, o Deus de paz, que pelo sangue da aliança eterna tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo … vos aperfeiçoe em toda a boa obra, para fazerdes a Sua vontade”. Estamos crescendo em boas obras? Apesar de todas as nossas faltas e falhas, deve haver progresso nas nossas vidas, cada dia nos aproximando mais da perfeição vista em Cristo.
Ele nos santifica (I Ts 5:23). “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo …” Neste mundo imoral e perverso, estamos permitindo que o Deus de paz santifique nosso espírito, alma e corpo?
Ele nos dará vitória (Rm 16:20). “E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés.” Que promessa bendita. Satanás será derrotado, e em breve! Maravilha de maravilhas, será debaixo dos nossos pés! O Deus de paz derramará o Seu juízo sobre o mal, para permitir que tenhamos uma paz perfeita e eterna. O mal que tanto nos aflige hoje será esmagado debaixo de nossos pés em breve, e teremos paz em todos os sentidos da palavra!
Esta promessa pode me consolar hoje: “Conheça Deus, e encontre paz”!
Autoridade — Meditações 411
Há um contraste impressionante no VT relacionado a como os homens tratam quem está numa posição de autoridade. Refiro-me à revolta de Coré contra Moisés e Arão (Números 16) e à submissão de Davi a Saul (I Samuel 24:6, etc.).
No primeiro caso, era impossível ter dúvida de que o Senhor mesmo escolhera Moisés e Arão, e que os dois eram perfeitamente capacitados para a obra. A saída do Egito, a travessia do Mar Vermelho, a entrega da Lei no Sinai, a construção e dedicação do Tabernáculo — todos os sinais externos de que Deus havia escolhido os dois, e de que a escolha de Deus era boa, estavam presentes. E ainda assim, Coré e seus amigos tiveram a ousadia de desafiar a autoridade instituída por Deus.
No segundo caso, tudo é o oposto. Deus mesmo já deixara claro que Saul havia sido rejeitado, e Davi escolhido em lugar dele (I Samuel 15:26; 16:12-13). O comportamento de Saul provava a todos que Deus estivera certo em rejeitá-lo — carnal e violento, ele não merecia estar no trono de Israel. E ainda assim, Davi recusou rebelar-se contra Saul! Seus companheiros insistiam com ele, mas vez após vez ele manifestou sua disposição de esperar até que o Senhor agisse.
Estas Escrituras ilustram duas verdades:
a) que os líderes levantados por Deus sempre serão alvo de críticas e de insatisfação — quem serve a Deus nesta capacidade precisa estar preparado para isto;
b) que o povo de Deus jamais deveria levantar-se contra aqueles que Deus pôs em autoridade. “Insubordinação” e “insurreição” podem até rimar com “cristão”, mas não combinam com este título tão nobre!
Que sejamos mais parecidos com Davi, e menos com Coré.
As bodas do Cordeiro (19:7-10) — Meditações 412
No final de semana passado pensamos sobre as circunstâncias em que as Bodas são descritas em Apocalipse 19. Pensemos um pouco sobre o casamento em si.
Os vs. 7 a 9 dividem-se em três partes, formando um quiasma:
a. Uma notificação — a cerimônia (v. 7); b. Uma noiva (v. 8); c. Uma notificação — a ceia (v. 9).
Na verdade, quase nada é dito sobre as bodas do Cordeiro ou sobre a ceia que segue. Certamente ficamos curiosos em imaginar como serão estas duas grandes celebrações, mas Deus preferiu não nos revelar estas coisas.
Sobre a Noiva, porém, Ele nos revela alguns detalhes. São usados três verbos para descrever a sua condição, e temos também três palavras que descrevem o seu vestido. Quero primeiro enumerar resumidamente estas seis coisas, para depois destacar a lição sublime, séria e solene que podemos aprender do quadro apresentado nesta passagem.
Repare os três verbos, e veja como cada um deles mostra-nos um pouco mais da condição da noiva neste dia tão memorável.
a) Preparada (“já … se aprontou”, v. 7). As Bodas não a apanharão de surpresa; cuidadosa e precavida, ela já estará preparada para o maior acontecimento da sua existência. Creio que o único acontecimento mencionado na Bíblia que combina com este preparo é o Tribunal de Cristo, quando os salvos que compõem a Igreja terão o seu serviço avaliado pelo Senhor, e todo serviço que foi contrário à Sua Palavra será queimado pelo fogo (I Co 3:11-15). A noiva não vem para as Bodas sem primeiro se preparar.
b) Premiada (“foi-lhe dado”, v. 8) — Este verbo está na voz passiva no grego, indicando que alguém agiu em favor da noiva. O texto não diz quem, mas só pode ser o Senhor dela. Pela graça dEle, ela recebeu um prêmio. Novamente vemos uma referência ao Tribunal de Cristo, no qual todos os salvos receberão o seu galardão do Senhor (I Co 3:14; 4:5). A noiva já passou pelo Tribunal, e já foi considerada digna de receber o dote dado pelo seu Noivo.
c) Purificada (“que se vestisse”, v. 8) — Se o verbo anterior está na voz passiva, este está na voz média (indica que o sujeito pratica a ação em si mesmo) e no modo subjuntivo (o modo de possibilidade e potencial). O fato do verbo estar na voz média indica que é a própria esposa que se veste; o fato do verbo estar no modo subjuntivo indica que ela recebeu, não as vestes, mas o direito de se vestir. Não foi-lhe dado um vestido; foi-lhe dado que se vestisse de linho fino. Uma parte do seu dote é o direito de usar estas vestes que indicam pureza e santidade. Tendo sido purificada pelo Tribunal de Cristo, a Igreja agora está em condições de ser apresentada com vestes brancas perante o seu Noivo.
Enquanto meditamos na beleza moral do Noivo, nosso Senhor Jesus Cristo, que possamos pensar também na necessidade de não “sujarmos nossas vestes” — de mantermo-nos puros neste mundo tão vil, aguardando o dia bendito das Bodas do Cordeiro.
As bodas do Cordeiro (b) — Mediações 413
Ontem começamos a pensar sobre este maravilhoso casamento. Quero destacar agora mais detalhes sobre as características das vestes da noiva, que são descritas de três formas. São vestes:
a) Incomparáveis (“linho fino” — uma palavra só no grego). Esta palavra ocorre só quatro vezes na Bíblia. Uma vez descreve a grande cidade, Babilônia, com a sua imitação daquilo que Deus faz, e três vezes descreve as vestes da Noiva. O linho fino era um tecido “delicado, suave e caro” (Thayer). A ênfase aqui é na preciosidade desta veste.
b) Incontaminadas (“puro”). A ênfase aqui é na pureza. A noiva já passou pelo Tribunal de Cristo, e tudo que contamina foi retirado pelo fogo.
c) Irrepreensíveis (“resplandecente”). A palavra aqui traduzida “resplandecente” pode ser traduzida “claro” (como o rio em 22:1). Também sugere pureza. Talvez a diferença entre esta palavra e a anterior seja que “puro” enfatiza mais a pureza do tecido usado (sem misturas) enquanto que “resplandecente” enfatiza mais a limpeza do vestido na sua preservação (sem manchas).
O Cordeiro, portanto, consumará, naquele dia glorioso, um dos propósitos da Sua morte. Ele “amou a Igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela … para a apresentar a Si mesmo Igreja gloriosa [vestida de linho fino], sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa [linho puro] e irrepreensível [resplandecente]” (Ef 5:27).
Quando meditamos neste quadro tão belo, sentimos a responsabilidade que pesa sobre nós hoje. Pois o trecho termina a descrição da noiva dizendo: “… o linho fino são as justiças dos santos”. As vestes incomparáveis, incontaminadas e irrepreensíveis que vestiremos naquele dia são vestes que estamos preparando hoje! Naquele dia não nos serão dadas roupas divinas; receberemos o direito de nos vestir com as roupas que nós preparamos durante esta vida — os nossos “atos de justiça” (ARA).
Mas como poderão estas nossas vestes serem tão perfeitas? A resposta é o Tribunal de Cristo, que removerá todas as impurezas, e nos deixará somente com aquilo que foi feito na orientação de Deus, conforme a Sua vontade e para a Sua glória. Todo o resto será queimado pelo fogo. Quanto sobrará?
Que possamos, com zelo, diligência e muito cuidado, irmos preparando nossas vestes espirituais para aquele dia bendito.
As consequências (19:11-21)
Vemos que, imediatamente após as Bodas do Cordeiro, o Senhor volta à Terra para por fim ao período da Tribulação e estabelecer o Seu reino milenar. A vitória do Cordeiro será completa! Com reverência, podemos sugerir que o Milênio será a Lua de Mel do Cordeiro e da Sua noiva.
Que glória nos aguarda! Que grande Salvador, que preparou coisas tão sublimes para servos tão pequenos e fracos como nós! A Ele, pois, toda a glória e toda a honra.
Jumento — Meditações 414
Um evento extraordinários no VT foi o caso de “Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça”. Pedro nos diz que este homem ganancioso “teve a repreensão da sua transgressão; o mudo jumento, falando com voz humana, impediu a loucura do profeta” (II Pe 2:16).
Deve ter sido impressionante ouvir um jumento falando com voz humana — mas, convenhamos, deve ter sido extremamente humilhante. Não é muito honroso ser repreendido por um jumento, e reconhecer que este animal, símbolo de burrice, é mais sagaz do que eu!
Pensando nisto, lembrei de Isaías 1:2-3: “Ouvi, — Céus, e dá ouvidos, tu, — Terra; porque o Senhor tem falado: Criei filhos, e engrandeci-os; mas eles se rebelaram contra Mim. O boi conhece o seu possuidor, e o jumento conhece a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o Meu povo não entende.”
Conhecemos o Senhor? Buscamos agradá-lO? Vivamos hoje de tal forma a jamais merecer esta comparação com o jumento!
A morte dos justos — Meditações 415
Quando Balaão contemplava Israel acampado no deserto, ele disse: “Que a minha alma morra da morte dos justos, e seja o meu fim como o seu” (Nm 23:10).
Apesar de todos os seus erros, o ganancioso Balaão recebeu sabedoria para declarar algumas verdades importantes: entre elas, a glória da morte dos justos!
Morrer, todos morrerão. Há uma ou outra excessão (como o Arrebatamento, por exemplo), mas a regra é que “aos homens está ordenado morrer” (Hb 9:27). Mas nem todos morrem da mesma forma.
Há relatos de homens que, ao final de uma vida de prepotência, sentiram-se fracos e assustados diante da morte. Outros deram a impressão de viver uma vida cheia, mas diante da morte confessaram que estavam vazios.
“Mas o justo, até na morte se mantém confiante” (Pv 14:32). Tendo gasto sua vida, não correndo atrás de riquezas, ou prazer, ou fama, mas no serviço de Deus, ele sabe que Deus não o desamparará nesta hora de maior necessidade. Ele aprendeu a conhecer o Senhor, e sabe que o Senhor nunca falha. Ele encara a morte, e diz: “Para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1:21). “Agora, Senhor, despedes em paz o Teu servo, segundo a Tua palavra; pois já os meus olhos viram a Tua salvação” (Lc 2:29-30).
Ele tem a mesma certeza de Paulo: “Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos Céus” (II Co 5:1).
Senhor, que a minha alma morra a morte dos justos!
A morte dos santos — Meditações 416
Ontem pensamos sobre a expressão “a morte dos justos”, que destaca a confiança que o homem pode ter diante da morte. No Salmo 116, o Salmista usa uma expressão parecida, mas que destaca a atitude do Senhor diante da morte do salvo: “Preciosa é à vista do Senhor a morte dos Seus santos” (Sl 116:15).
Os salvos aqui não são mais descritos como “justos” (aquele que procura andar corretamente), mas “santos” (aquele que Deus separou para Si). Por isso o pronome aparece aqui. Não é só: “a morte dos santos”, mas: “a morte dos Seus santos”. Eles já pertencem a Ele, e a morte é apenas o meio que Deus usa para levá-los para casa, para estarem com Ele.
Nas Escrituras, portanto, a morte é apresentada (para o salvo) como sendo uma bênção. É ruim para os entes-queridos que ficam para trás, desprovidos da companhia e comunhão de quem partiu — mas para o salvo e para o Senhor, é uma bênção.
Como disse a voz do Céu em Apocalipse 14:13: “Bem-aventurados os mortos que … morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras o seguem”.
Só um! — Meditações 417
“E busquei dentre eles um homem que estivesse tapando o muro, e estivesse na brecha perante Mim por esta terra, para que Eu não a destruísse; porém a ninguém achei” (Ez 22:30).
Um homem seria suficiente para preservar a cidade. Geralmente achamos que é preciso muita gente para fazer alguma diferença, mas a Palavra de Deus destaca, repetidas vezes, a importância do indivíduo. Ou seria melhor dizer, ela destaca as maravilhas que Deus pode fazer, mesmo com um único instrumento. O poder é sempre dEle.
Um garoto com cinco pães e dois peixinhos (Jo 6:9) — que é isso para uma multidão? Nas mãos do Senhor, é mais do que suficiente!
Quem sou eu? Ninguém importante! Que sou eu? Nada! Mas se eu estiver disposto a ser apenas um remendo na brecha no muro, Deus poderá ser glorificado — mesmo que eu estiver sozinho.
Só é preciso uma pessoa que esteja disposta a ser usada por Deus. Quem se habilita?
Não reconhece — Meditações 418
No livro de Oseias lemos de uma esposa ingrata, que imaginava receber seu sustento dos seus amantes. Deus diz dela: “Ela, pois, não reconhece que Eu lhe dei o grão, e o mosto, e o azeite, e que lhe multipliquei a prata e o ouro, que eles usaram para Baal” (Os 2:5-8).
E, por esta ingratidão, ela seria provada até aprender que as coisas não eram como ela achava que eram!
Nós também deixamos de agradecer por tantas bênçãos, e reclamamos de tanta coisa, porque não reconhecemos a realidade que vivemos. Quantos “ele não reconhece” o Senhor pode dizer em relação a mim?
Ele reclama que não entende as Escrituras — mas ele não reconhece o quão pouco se dedica e esforça pra isso!
Ele lamenta por tantas coisas que queria ter, e não tem — mas ele não reconhece quantas bênçãos ele já recebeu!
Ele reclama que ninguém se preocupa com ele — mas ele não reconhece que a sua própria amargura afastou as pessoas dele!
“Ele não reconhece...” — que sejamos gratos pelo que Deus nos dá!
Aves, não! — Meditações 419
Apesar de serem aceitas para holocaustos e ofertas pelo pecado, aves (rolas ou pombinhos) não faziam parte do ritual da oferta pacífica. Por quê?
Posso sugerir uma explicação simples. A oferta pacífica era a única da qual todos participavam: Deus recebia a gordura, os sacerdotes recebiam o peito e a espádua direita, e o ofertante alimentava-se do restante da carne. Uma ou duas aves simplesmente não teriam carne suficiente para uma distribuição adequada entre todas estas partes — não satisfariam a todos.
Como a oferta pacífica representa a paz e comunhão que nós gozamos em Cristo (Deus e o pecador alimentando-se da mesma oferta), o uso de aves nesta oferta poderia sugerir uma escassez de recursos. E, para evitar qualquer sugestão de que a comunhão que desfrutamos em Cristo tem alguma limitação, Deus não permitia o uso de aves nesta oferta.
Infelizmente, a nossa apreciação dEle é, muitas vezes, limitada. Mas nEle habita corporalmente toda a plenitude da divindade (Cl 2:9). Ele nunca deixará de satisfazer ao Pai, e o salvo que busca comunhão com Deus nEle nunca ficará desapontado!
“Deus contente está com Cristo, E eu contente estou também” H. e C. 242
Rasgado — Meditações 420
Em Mateus caps. 26 e 27 vemos que, naquele dia tão solene da crucificação, houve três ocasiões diferentes em que algo foi rasgado.
Em primeiro lugar, lemos que “o sumo sacerdote rasgou as suas vestes” (26:65). Foi um ato hipócrita, fingindo estar escandalizado com a afirmação feita pelo Senhor. Sem perceber, porém, Caifás estava também indicando, simbolicamente, que o seu ofício de sacerdote havia acabado. Não precisamos mais de sacerdotes humanos, pois temos o próprio Filho de Deus (Hb 7:26-28).
Algumas horas mais tarde lemos que “o véu do Templo se rasgou em dois, de alto a baixo” (27:51). Este ato (acompanhado pelo rasgar das pedras e dos sepulcros) era um sinal divino de que Deus havia aprovado o sacrifício do Senhor na cruz. Não foram homens que rasgaram o véu; foi “de alto a baixo”, pela mão de Deus, indicando assim que o caminho para o santuário estava agora aberto (veja Hb 9:6-14).
E entre estes dois eventos, lemos estas palavras tão comoventes:“Tendo mandar açoitar a Jesus, entregou-O para ser crucificado” (27:26). Lembramos das palavras do Salmista sobre Israel, que se aplicam ao Senhor nesse momento:“Os lavradores araram sobre as Minhas costas; compridos fizeram os seus sulcos” (Sl 129:3). O açoite romano rasgou as costas do meu Salvador, para que hoje eu tivesse o direito de ser recebido com amor por Ele nos átrios eternos.
Que preço amargo, ó meu Senhor,
Pagaste em meu favor;
Teu Filho amado, singular,
Deitaste sobre o altar.
O Senhor lhe perdoará — Meditações 421
Lendo Números 30 hoje de manhã, chamou-me a atenção a expressão: “O Senhor lhe perdoará”, repetida três vezes. Em cada caso, temos uma mulher sob autoridade que desejava servir a Deus através de um voto, mas seu pai (v. 5), ou seu marido (v. 8 e 12) a proíbe. Nestes casos, onde a mulher não poderia servir a Deus por causa de alguém a quem deveria ser submissa, o Senhor, com compaixão e compreensão, perdoa a mulher pela sua falha, e não a prende ao seu voto.
Muitos filhos, ainda sob a autoridade dos pais, e outros salvos em diversas outras situações, certamente apreciam esta demonstração da compaixão de Deus, aquele Senhor cujo jugo é suave, e cujo fardo é leve (Mt 11:30).
Mas há um aviso no final: “Porém se de todo lhes anular … então ele levará a iniquidade dela” (v. 15). A desobediência ao voto não seria de todo esquecida; onde houvesse a necessidade de um acerto de contas, o Senhor cobraria da parte responsável — neste caso, do marido ou pai.
Que a equidade e equilíbrio do nosso Mestre nos conforte hoje, e sirva de exemplo para nós no trato com nosso próximo.
“Este é o amor de Deus: que guardemos os Seus mandamentos; e os Seus mandamentos não são pesados” (I Jo 5:3).
Prioridades (do Sermão da Montanha) — Meditações 422
Somente três vezes no Sermão da Montanha o Senhor Jesus usa a pequena palavra “primeiro” (proton, no grego). Uma consideração destes versículos nos ajudará a acertarmos nossas prioridades.
1) “Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta” (Mt 5:24). Não podemos esquecer que reconciliação vem antes de adoração. Como posso querer oferecer algo a Deus enquanto continuo em meu pecado? Como podem meus lábios engrandecerem ao Pai das Misericórdias enquanto meu coração despreza meu irmão? “Aceitaria Eu isso de vossa mão? diz o Senhor” (Ml 1:13). Não — primeiro devo me reconciliar com meu irmão, depois posso apresentar a minha oferta a Deus.
2) “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6:33). Também, as coisas de Deus devem vir antes das nossas próprias necessidades. Quanto prejuízo sofremos devido à nossa falta de apreciação desta verdade! Como podemos esperar crescer no conhecimento de Deus e da Sua vontade enquanto nos preocupamos primeiro com as coisas deste mundo? Como podemos esperar agradá-lo enquanto não lhe damos o primeiro lugar?
3) “Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão” (Mt 7:5). Finalmente, há o problema da hipocrisia — quer dizer, a correção precisa começar em mim! Como podemos tentar ajudar nossos irmãos enquanto ignoramos nossas próprias falhas? Não podemos ser super compreensíveis conosco mesmos, e insensíveis com nossos irmãos! Que aprendamos a examinar primeiro nossas vidas perante Deus, na solenidade santa da Sua presença, e então teremos a humildade e graça que são necessárias para ajudar nossos irmãos.
Senhor, ajude-me a definir minhas prioridades!
A ternura do Todo-Poderoso — Meditações 423
“Como pastor apascentará o Seu rebanho; entre os Seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no Seu regaço; as que amamentam guiará suavemente” (Is 40:11).
Algumas vezes (como aqui) a Bíblia nos pega de surpresa. O Espírito Santo insere uma palavra ou frase totalmente inesperada que, à primeira vista, parece não ter nenhuma relação com o contexto — mas o contraste realça ainda mais as belezas da Palavra de Deus.
Veja o contexto da citação acima. O cap. 40 de Isaías é uma das mais ricas descrições do poder eterno do Todo Poderoso. Leia os vs. 12 a 31, e veja a riqueza da linguagem poética, a beleza das figuras usadas para descrever o poder de Deus. Diante dEle, as nações são como um pingo de água que cai de um balde, como “o pó fino das balanças”. Ele chama cada estrela pelo Seu nome, e não Se cansa nem Se fatiga. “A quem, pois, fareis semelhante a Deus, ou com que O comparareis?” Ele é incomparável no Seu poder.
São poucas as partes da Bíblia que descrevem, com tanta riqueza de detalhes, o poder de Deus. Mas como tudo começa? Com o trovão do Seu poder? Não: com a ternura de um Pastor que toma os cordeirinhos entre os Seus braços, e guia suavemente as que amamentam! Os mesmos braços que manifestam o terrível poder de Deus são usados para carregar os cordeirinhos.
Que precioso descansar nos braços deste Terno e Todo-poderoso Pastor e Deus!
Ouse ser um Daniel! — Meditações 424
Estas palavras tão desafiadoras são a tradução de palavras escritas em inglês por Phillip B. Bliss em 1873 (http://www.cyberhymnal.org/htm/d/a/daretobe.htm — link em inglês). Elas revelam com admirável beleza a coragem e determinação deste servo de Deus, tirado do seu lar e da sua família enquanto ainda jovem, mas disposto a honrar o seu Deus em meio à idolatria da Babilônia.
Repare, porém, que a fidelidade de Daniel fez com que ele discordasse até mesmo de seus irmãos. Quando ele e seus três amigos decidiram “não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia” (Dn 1:8), eles foram separados de um grupo de jovens que estava sendo preparado para servir ao rei. Este grupo de jovens era composto de filhos de Israel, e não gentios (Dn 1:3). Os jovens que continuaram a comer a comida do rei eram irmãos (conterrâneos) de Daniel!
Qual será que foi a reação deles? Será que ficaram ofendidos com a atitude de Daniel? Será que o desprezaram? A Bíblia não nos revela esses detalhes. Ela também não menciona nenhuma insistência da parte de Daniel para que seus irmãos seguissem o seu exemplo, muito menos alguma tendência de desprezar aqueles que não o fizessem. Daniel e seus três amigos seguiram o caminho que o Senhor pôs diante deles, sem concessões e sem orgulho.
Quão difícil ser um Daniel! Se nossos irmãos não estão dispostos a seguir o caminho ermo que o Senhor coloca diante de nós, quão fácil retroceder, com medo de andar sozinho. Ou se avançamos, quão fácil fazê-lo com um espírito de orgulho e superioridade.
Tenha a coragem para fazer tudo o que o Senhor pede de você, sem concessões e sem orgulho! Ouse ser um Daniel!
Herança dos gentios — Meditações 425
Muita gente tem uma ideia distorcida do relacionamento de Deus com o mundo, imaginando que Ele abandonou os ímpios à sua própria sorte enquanto Se preocupa, exclusivamente, em salvar aqueles que O buscam.
Mas Deuteronômio cap. 2 é um dos trechos da Bíblia que mostra que Deus não abre mão do Seu direito de interferir nos rumos do nosso planeta. Ali somos lembrados que, além de dar a Terra Prometida em herança a Israel, o Senhor também distribuiu a herança dos gentios!
Lemos sobre os edomitas (“Não vos envolvais com eles … porquanto a Esaú tenho dado o monte Seir por herança”; v. 5), os moabitas (“Não contendas com eles … porque tenho dado a Ar por herança aos filhos de Ló”; v. 9), e sobre os amonitas (“Não os molestes … porque da terra dos filhos de Amon não te darei herança, porquanto aos filhos de Ló a tenho dado por herança”; v. 19). Sobre os amonitas lemos, inclusive, que havia gigantes na herança deles, mas “o Senhor os destruiu de diante dos amonitas” (v. 21).
Estes povos, como bem sabemos, eram todos inimigos de Israel. Mesmo assim, a herança deles veio do Senhor, pois é um princípio universal que “o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer” (Dn 4:17). Nenhuma nação enriquece ou é derrotada sem que o Senhor o permita — Ele está em controle absoluto e total daquilo que acontece entre os gentios.
É claro que existe uma “diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não O serve” (Ml 3:18). Não estou sugerindo que Deus cuida do ímpio como cuida dos Seus filhos. Mas é bom lembrar que Deus está de olho no que os ímpios fazem até hoje, e segura nas Suas mãos as rédeas do controle global!
O nosso Deus, “do lugar da Sua habitação, contempla todos os moradores da Terra” ( Sl 33:13-16). Descansemos nisto hoje!
Quem dera … — Meditações 426
“Quem dera que eles tivessem tal coração que Me temessem, e guardassem todos os Meus mandamentos todos os dias, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos para sempre” (Dt 5:29).
Este versículo precioso revela o desejo bondoso de Deus para Seu povo. Lendo-o com atenção, sentimos até a emoção na voz do Senhor (falo como homem) ao apresentar Seu desejo para o povo: “Quem dera tivessem tal coração!” O que Deus deseja para eles não é inteligência, coragem, nem prosperidade, mas sim submissão a Ele!
Esta submissão seria manifestada em dedicação: “… guardassem todos os Meus mandamentos todos os dias”. O alvo desta dedicação deveria ser o Senhor (“os Meus mandamentos”); sua abrangência seria completa (“guardassem todos os Meus mandamentos”); e sua assiduidade deveria ser perfeita (“todos os dias”).
E por que Deus deseja isto? Para bênção deles — “Para que bem lhes fosse”. A bênção também é abrangente (“a eles e a seus filhos”) e permanente (“para sempre”).
Eis um bom alvo para nós hoje, pelo qual podemos orar sabendo que é conforme a vontade de Deus. Quem dera que eu tenha tal coração; que tema a Deus e guarde todos os Seus mandamentos! Amém.
O testemunho de Jesus — Meditações 427
[No domingo passado eu estava em viagem, e não foi possível preparar a continuação do estudo sobre Cristo no Apocalipse. Como já fazem quinze dias desde o último, talvez seria bom uma breve recapitulação.]
Em Apocalipse 19 encontramos as únicas ocorrências no NT da palavra “aleluia” (ela aparece quatro vezes aqui). Esta palavra tão conhecida, e tão repleta de significado, não foi usada no acontecimento notável da encarnação, nem quando os anjos vieram anunciar o nascimento do Filho de Deus. Ela não se encontra no contexto dos muitos milagres que Cristo realizou, nem foi pronunciada na vitória contundente no Calvário. Diante do túmulo vazio ou na glória da ascensão, teria sido tão apropriado um “aleluia” — mas é apenas aqui, quando os propósitos de Deus estão chegando ao seu ponto culminante, e quando o Cordeiro recebe a Sua esposa, que ressoa pelos Céus este hino de louvor: “Aleluia!”
Já pensamos sobre os primeiros 9 versículos do capítulo, que descrevem, bem resumidamente, a gloriosa expectativa da Noiva. Agora, no v. 10, vemos que a revelação das gloriosas verdades sobre as Bodas do Cordeiro, e a Ceia das Bodas, enche João de espanto maravilhado, e, sentindo-se diante de algo muito além da capacidade humana, algo que nenhum homem conseguiria imaginar ou inventar, ele tem uma reação errada, mas compreensível: ele tenta adorar o anjo, que é mero porta-voz das notícias. O anjo o proíbe claramente — “Adora a Deus!” — citando duas razões:
a) A pobreza de todo servo: “Sou teu conservo, e de teus irmãos”. Isto é: “Eu, você e teus irmãos somos apenas servos, e todos servimos ao mesmo Deus!” Precisamos lembrar disto, pois temos a tendência de exaltar aqueles que são superiores a nós aqui na Terra, esquecendo-nos que toda a glória deve ser dada só ao Senhor.
b) A preeminência do Senhor: “o testemunho de Jesus é o espírito de profecia”. O anjo destaca que a verdadeira essência desta profecia (isto é, do livro de Apocalipse), e de toda profecia, é dar “testemunho de Jesus”. Quando desviamos o olhar de todos os detalhes circunstanciais de qualquer profecia, e focamos no objetivo central, vemos que Deus sempre — sempre — tem por objetivo engrandecer Seu Filho.
Nosso Senhor recebe aqui Seu nome humano. Cada título e nome dado a Ele realça algum aspecto da Sua Pessoa e obra, e “Jesus”, quando usado sozinho, destaca a pobreza associada à Sua humanidade. Muitos que O amaram O chamaram “Jesus Cristo” ou “Senhor Jesus”, mas Seus inimigos só O conheciam como “Jesus”. E o anjo testifica agora que este mesmo “Jesus” é o alvo final, e o assunto principal, de toda profecia dada por Deus: o espírito de profecia (a essência dela, e a própria causa dela existir) é dar “testemunho de Jesus”.
Que Deus nos ajude a reconhecer “os que trabalham entre [nós] … e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra” (I Ts 5:12-13) — mas nunca esquecer que eles só nos ajudam porque Deus os ajuda primeiro! Que nunca sejamos culpados de honrar e servir mais a criatura do que o Criador (Rm 1:25), atribuindo à ferramenta os méritos do Artesão.
Contemplemos hoje a glória deste “Jesus”! Só Ele merece adoração. Nenhum profeta, nenhum anjo, ninguém mais: “Adora a Deus!”
Salmos 96 a 99 — Meditações 428
Estes quatro Salmos apresentam uma estrutura interessante. Veja a primeira frase de cada um deles:
“Cantai ao Senhor um cântico novo” — 96
“O Senhor reina” — 97
“Cantai ao Senhor um cântico novo” — 98
“O Senhor reina” — 99
Os Salmos 96 e 98 conclamam Seu povo a cantar e glorificar a Deus. Os motivos são vários, mas um tema se repete nos dois Salmos: salvação (96:2; 98:1, etc.).
Os outros dois Salmos (97 e 99) mostram porque podemos cantar: porque o Senhor reina! Separe um tempinho hoje para ler estes dois Salmos, e veja as duas consequências do reinado do Senhor:
• Salmo 97: “O Senhor reina; regozije-se a Terra; alegrem-se as muitas ilhas”. Veja como o tema de alegria, proteção e livramento permeia este Salmo.
• Salmo 99: “O Senhor reina; tremam os povos”. Veja como a santidade dEle é destacada — os vs. 3, 5 e 9 repetem a expressão: “pois é santo”.
Um Deus santo e salvador reina hoje sobre a Terra — portanto, “regozije-se a Terra … tremam os povos”
Bezalel e Aoliabe — Meditações 429
Não sinta-se mal se você não conseguir identificar imediatamente estes dois nomes. O primeiro homem é mencionado por nome apenas sete vezes na Bíblia, o segundo, cinco vezes. São desconhecidos da maioria do povo de Deus, apesar de terem sido escolhidos e usados por Deus para um serviço extremamente sagrado, e incrivelmente difícil: a construção do Tabernáculo! Quando pensamos no Tabernáculo, lembramos de Moisés e Arão, mas só lembramos de Bezalel e Aoliabe quando lemos Êxodo!
Os dois nos ajudam a lembrar que os serviços mais preciosos podem ser (e, na maioria das vezes, são) feitos por servos e servas anônimas. Quem anunciou o nascimento do Senhor foi o anjo Gabriel (Lc 1:26); mas Deus preferiu não revelar o nome do anjo escolhido para a tarefa muito mais nobre e sublime de fortalecer o Senhor no Getsêmani (Lc 22:43 — que consideramos na Meditação 103). Quem foi a viúva pobre que ofertou a Deus “mais do que todos”? (Lc 21:1-4) Quem foi o homem rico que cedeu um cenáculo mobiliado para o Senhor reunir-Se com Seus discípulos? (Lc 22:8-13) Nós não sabemos — mas Deus sabe!
Devido à nossa fraqueza humana, queremos ser reconhecidos pelo que fazemos para o Senhor. É natural — quem não gosta de ouvir um “Muito bom! Obrigado!” sincero?
Mas é bobagem! O reconhecimento e aprovação dos homens é algo ilusório e passageiro, mas servimos um Deus que vê tudo que é feito, e que nos exorta: “Sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor” (I Co 15:58).
Disse o Senhor Jesus: “Quem vos recebe, a Mim Me recebe; e quem Me recebe a Mim, recebe aquele que Me enviou. Quem recebe um profeta em qualidade de profeta, receberá galardão de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá galardão de justo. E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá seu galardão” (Mt 10:4-42).
Nenhum fermento na casa de Ló — Meditações 430
Foi uma surpresa para mim descobrir, não faz tanto tempo, que a primeira menção de pão sem fermento na Bíblia está em Gênesis 19:3: “…e [Ló] fez-lhes banquete, e cozeu bolos sem levedura, e comeram.” Lembrando que fermento, na Bíblia, representa o pecado, e que pão sem fermento representa algo que não tem pecado, eu esperaria encontrar pão sem fermento mencionado no cap. 18, quando Abraão hospedou os mesmos anjos que visitaram Ló. Mas é Ló (e em Sodoma, cidade que Deus estava prestes a destruir!) o primeiro a ser apresentando com pão sem fermento em sua casa.
Este pequeno detalhe nos sugere aquilo que Pedro confirma: que Ló, apesar das suas muitas falhas, foi um homem justo (II Pe 2:7-8). Aquele que terminou seus dias deitado numa caverna praticando atos de imoralidade, era, apesar de tudo isto, um homem justo! Se não fosse pela revelação inspirada de Pedro, dificilmente imaginaríamos isto!
As verdades que este exemplo de Ló nos ensinam são solenes. Que possamos meditar nelas, e tomar Ló como um exemplo terrível das profundezas de pecado às quais um verdadeiro cristão pode cair, se ele se afastar da comunhão de Deus e do Seu povo. O fato de eu ter sido justificado pelo sangue do Senhor Jesus me garante a vida eterna — mas não me torna imune ao pecado!
“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo” (I Jo 2:1).
A tragédia da fraqueza — Meditações 431
Que quadro triste o sumo sacerdote Eli nos apresenta! Nele vemos um homem sinceramente desejoso de honrar o Senhor, mas falhando completamente na prática disto.
Sua reverência e devoção são vistos claramente na maneira como pelo menos tentou conversar com seus filhos (I Sm 2:23-25); na forma como aceitou, calmamente, a profecia da disciplina de Deus (I Sm 3:18); e principalmente na maneira como ele morreu. Ele caiu da cadeira, aterrorizado, e morreu, não quando o mensageiro lhe contou da morte dos seus dois filhos, mas quando ele (o mensageiro) fez “menção da arca de Deus” (I Sm 4:18). Aqui podemos ver o coração de Eli, e percebemos que a arca de Deus era o que realmente importava para ele.
Apesar disto, o Senhor não nos deixa em dúvida quanto à Sua avaliação da vida de Eli: “Por que pisastes o Meu sacrifício e a Minha oferta de alimentos … e honras a teus filhos mais do que a Mim? … aos que Me honram honrarei, porém os que Me desprezam serão desprezados” (I Sm 2:29-30). Eli foi culpado de pisar sobre os sacrifícios de Deus, e de desprezá-lO. Ele amava o Senhor, mas amava seus filhos mais — e Deus precisa ter o primeiro lugar nos nossos corações!
Ah, como precisamos examinar nossos corações! Não basta amar o Senhor, nem sinceramente desejar honrá-lO. Boas intenções não nos levam a lugar algum! Devemos ter certeza de que o nosso amor pelo Senhor transborde e afete nossas vidas, e que as nossas boas intenções se manifestem em boas obras. Ah, quão grande a tragédia de pregar aos outros, e eu mesmo ficar reprovado (I Co 9:27).
Eu amo ao Senhor? De verdade?
Sacrifício e maldição — Meditações 432
Deuteronômio cap. 21 começa com um morto que precisa receber justiça, e termina com um morto que precisa ser enterrado logo! Começa com um inocente sendo honrado, termina com um criminoso sendo maldito!
Se houvesse em Israel um assassinato sem testemunhas, Deus não permitia que o crime fosse ignorado — alguém tinha que assumir a culpa. Os anciãos da cidade mais próxima deveriam oferecer um sacrifício especial para expiar aquele sangue inocente, e “assim tirarás o sangue inocente do meio de ti” (Dt 21:1-9).
Por outro lado, se houvesse em Israel alguém condenado à morte que fosse pendurado num madeiro, era necessário ter pressa! “Certamente o enterrarás no mesmo dia; porquanto o pendurado é maldito de Deus; assim não contaminarás a tua terra” (Dt 21:22-23). Vemos assim a enorme diferença entre uma vítima anônima e alguém pendurado num madeiro.
Este trecho é citado em Gálatas 3:13, quando lemos: “Cristo nos resgatou da maldição da Lei, fazendo-Se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”. Perceba a profundidade do que Deus está dizendo. Por intermédio da Lei, Ele tornou um tipo de morte, em especial, um símbolo de maldição — e o mesmo Deus escolheu justamente este tipo de morte para ser o meio de Seu Filho expiar os nossos pecados!
Ficamos pasmos diante do horror do pecado, que exigiu um preço tão alto, e maravilhados diante do amor de Deus, que pagou por completo este preço!
O Calvário ainda tem muito a ser revelado!
Trabalho digno — Meditações 433
Quando o salvo começa a crescer espiritualmente, ele passa a valorizar mais o espiritual do que o material. Isto é bom; afinal, o Senhor disse: “Buscai primeiro o reino de Deus e a Sua justiça, e todas estas coisas [comida, alimento, etc.] vos serão acrescentadas” (Mt 6:33).
Mas é preciso tomar cuidado para não ir ao extremo de achar que podemos abandonar o material, ou que trabalhar para ter seu sustento é algo a ser desprezado, um mal necessário (ou, na melhor das hipóteses, algo vão e inútil). É verdade que viver só para isto é vaidade — mas ocupar-se nisto com diligência é mais uma forma de agradar a Deus.
Uma prova desta qualidade do trabalho manual é a exortação do NT: “E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai … Vós, servos, obedecei em tudo a vossos senhores segundo a carne, não servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em simplicidade de coração, temendo a Deus. E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança; porque a Cristo, o Senhor, servis” (Cl 3:17-24).
Palavras não poderiam ser mais claras — mas dizem que uma imagem vale mais que mil palavras, então considere o exemplo supremo, o Filho eterno de Deus. Imagine-O, dia após dia, serrando tábuas com ferramentas manuais (nada de serra elétrica!), medindo, martelando, pondo no esquadro … Ao final de mais um dia cansativo de trabalho, será que Ele pensaria (escrevo com reverência): “Estou perdendo tempo nesta carpintaria! Bolhas nas mãos, músculos cansados — pra que? E esses clientes chatos, que nunca estão satisfeitos! Será que é pra isso que vim ao mundo?”
Beira a blasfêmia pensar assim! Certamente nunca houve nEle esta insatisfação com Suas responsabilidades. Imagino Ele orando a Deus, cansado, mas satisfeito: “Mais um dia de serviço concluído, para a Tua glória e honra!”
Ao lavar a louça ou o carro, trabalhando para seu patrão ou seu sustento, lembre-se sempre deste sublime Carpinteiro, e faça tudo em nome do Senhor Jesus. “Porque a Cristo, o Senhor, servis”.
A batalha final — Meditações 434
Continuando nossa meditação sobre Cristo no Apocalipse aos finais de semana, vemos que, imediatamente após as Bodas do Cordeiro (na sequência do livro) o Senhor volta à Terra para por fim ao período da Tribulação e estabelecer o Seu reino milenar. A vitória do Cordeiro será completa! Com reverência, podemos sugerir que o Milênio será a Lua de Mel do Cordeiro e da Sua noiva. Haverá ainda uma rebelião futura no final do Milênio (Ap 20:7-10), mas não creio que ela pode ser chamada de “batalha”. Aqui em Apocalipse 19:11-21 temos a Batalha Final!
O trecho é dividido em três partes menores pela expressão “E vi”: “E vi o Céu aberto” (vs. 11-16); “E vi um anjo” (vs. 17-18); “E vi a besta” (vs. 19-21).
Vi o Céu aberto (19:11-16)
A primeira parte descreve a glória com que o Senhor voltará a esta Terra no final da Tribulação. Começamos com a descrição daquele que Se assenta sobre um cavalo branco (v. 11-13), e depois vemos que Ele é seguido pelos exércitos do Céu, também em cavalos brancos (v. 14-16). Em ambas as partes deste trecho, os mesmos assuntos são apresentados; lemos de santidade, sucesso, sangue e soberania (veja a tabela enviada anteriormente). Consideremos estas coisas.
Santidade
O começo de cada subseção deste trecho (vs. 11 e 14) reforça a ideia da santidade, pureza e justiça do Senhor: “Eis um cavalo branco, e o que estava assentado sobre ele chama-Se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça … E seguiam-no os exércitos no Céu em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro”.
Pelo menos quatro detalhes aqui apontam para isto.
Primeiro, a figura — o Senhor e os exércitos que O seguem estão montados sobre cavalos brancos. Em 14:14 o Senhor estava assentado numa nuvem branca; aqui, é um cavalo branco; em 20:11, um trono branco. Nos três casos Ele está agindo em juízo, e em cada caso Ele está assentado sobre algo branco, símbolo da pureza e justiça dos Seus julgamentos. Seja o juízo da Tribulação (14:14), seja a terrível batalha final do Armagedom (19:11), seja o solene julgamento do Grande Trono Branco (20:11) — sempre que Ele se assenta para julgar, a cor branca está em destaque. O mundo já viu tantos juízes injustos e corruptos, mas o destino final dos homens está nas mãos de um Juiz absolutamente puro!
Em segundo lugar, Seu exército. As vestimentas dos Seus seguidores também são “de linho fino, branco e puro”. É impressionante pensar na visão espetacular que este exército fornecerá para os pecadores reunidos em torno de Jerusalém naquele dia. Lucas diz (21:25-27) que haverá “homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão” — os sinais que antecedem a Sua vinda terão despertado a todos, que estarão atentos e assustados, imaginando o que significa aquele brilho intenso que apareceu, de repente, no Céu. “E então verão vir o Filho do Homem numa nuvem, com poder e grande glória”, seguido de uma multidão de salvos transformados (você e eu!), brilhando como o Sol! Nosso Senhor deixará os Céus em glória e majestade, e nós O seguiremos! Nada de ataques traiçoeiros pelas costas, como Amaleque (Dt 25:18) — na Batalha Final veremos o Senhor liderando um exército de branco, vindo ao encontro da Besta e dos seus exércitos!
Em terceiro lugar, Seu nome também realça a pureza e santidade desta batalha. Ele “chama-Se Fiel e Verdadeiro”. Em 1:5 Ele foi descrito como uma testemunha fiel, e em 3:14 uma testemunha fiel e verdadeira. Neste trecho, porém, estas duas palavras não são usadas como adjetivos, mas como nomes próprios! Isto é, Ele não é descrito como sendo um juiz que é fiel e verdadeiro — o texto diz que o nome dEle é “Fiel e Verdadeiro” (um nome composto). É como se Deus dissesse: “Vocês querem saber como é Fidelidade, e como é Verdade? Olhem para Meu Filho! Ele é tão perfeito na Sua fidelidade, e tão puro em relação à verdade, que estas duas palavras servem de nome para Ele! Ele é a personificação de fidelidade e de verdade!” Que perfeição e pureza!
Finamente, a afirmação clara das Escrituras resume todos estes detalhes: Ele “julga e peleja com justiça”. Será um dia terrível para a raça humana, dia de pranto e lamentação — mas ninguém reclamará de injustiça ou parcialidade da parte deste Juiz! A sentença será pesada (com “vara de ferro”), mas todos terão que reconhecer que é absolutamente merecida.
A justiça humana é falha e imperfeita — muito em breve, porém, o mundo verá os Céus se abrindo, e se curvará diante de um Juiz vitorioso, que julga e peleja com justiça! E nós estaremos com Ele naquele dia tão majestoso! Que glória nos aguarda! Que grande Salvador, que preparou coisas tão sublimes para servos tão pequenos e fracos como nós!
Outro dia podemos continuar, se Deus permitir.
Ajuda constante — Meditações 435
“Bendito seja o Senhor, porque ouviu a voz das minhas súplicas. O Senhor é a minha força e o meu escudo; nEle confiou o meu coração, e fui socorrido; assim o meu coração salta de prazer, e com o meu canto O louvarei. O Senhor é a força do Seu povo; também é a força salvadora do Seu ungido. Salva o Teu povo, e abençoa a Tua herança; e apascenta-os e exalta-os para sempre” (Sl 28:6-9)
Amy Carmichael (Thou givest, they gather) destaca a lição importante que estes versículos trazem, instruindo-nos a confiar no Senhor todo dia, o dia todo. O salmista recebeu livramento (“fui socorrido”), e desatou a cantar em gratidão a Deus (“o meu coração salta de prazer, e com o meu canto O louvarei”). Mas ele entendeu que não podia ser sustentado por vitórias passadas, e que seus cantos alegres não o ajudarão amanhã; por isso ele ora: “Salva o Teu povo, e abençoa a Tua herança; e apascenta-os e exalta-os para sempre”.
É bom louvar ao Senhor pelas Suas muitas misericórdias, mas é importante lembrar que Ele não é nossa “opção de emergência”. Nas grandes decisões da vida, e no “pão nosso de cada dia”; nas crises e pandemias, bem como no sono de cada noite — em tudo, Ele sempre será nosso único refúgio!
Devemos orar cada dia: “Salva o Teu povo, e abençoa a Tua herança; e apascenta-os e exalta-os para sempre”.
Amém.
Sempre — Meditações 436
Três vezes apenas o NT usa a palavra grega pantote em relação ao Senhor Jesus Cristo. Estas três passagens destacam três aspectos da Sua perfeição.
Consagração constante: “E aquele que Me enviou está comigo. O Pai não Me tem deixado só, porque Eu faço sempre o que lhe agrada” (Jo 8:29). Se qualquer outro Homem dissesse isto, seria tachado de louco. Mas nos lábios do humilde Carpinteiro de Nazaré, as palavras soam perfeitamente adequadas. Depois de milênios vendo homens e mulheres que constantemente O desagradavam, Deus finalmente pode contemplar um Bebê, depois uma Criança, Adolescente, Jovem e finalmente Homem adulto, que sempre, e somente, fez o que era agradável e aprazível a Deus!
Comunhão constante: “Eu bem sei que sempre Me ouves, mas Eu disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que Tu Me enviaste” (Jo 11:42). Esta é a consequência do que vimos acima. Era inevitável que este Homem perfeito vivesse em comunhão perfeita com o Pai. “Sempre Me ouves!” Que consolo isto traz à nossa alma, quando lembramos que é este Homem perfeito que intercede por nós hoje! “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Rm 8:31-35).
Mas adiantei-me em relação ao terceiro ponto! Este Homem perfeitamente consagrado, que goza de comunhão ininterrupta com Deus, também Se ocupa com intercessão constante: “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7:25).
Diante destas verdades sublimes, creio que nada mais precisa ser escrito!
Depois … — Meditações 437
“Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que Eu faço não o sabes tu agora; mas tu o saberás depois” (Jo 13:7).
“Não o sabes agora …”
Mas Senhor, por que não?
Estou pronto, agora,
Pra qualquer revelação!
“Não, Meu filho, não agora!
Cada coisa tem seu tempo,
Cada sonho sua hora;
Ainda há muito tempo!”
Mas me sinto pronto, Pai;
Sou maduro agora!
Vejo a pétala que cai,
O sonho que evapora …
Noto a lágrima rolando,
Ouço os pássaros cantando,
E tanta coisa mais!
Não sou insensível!
Cresço cada dia mais;
Sou quase invencível!
“Não, Meu filho, não agora;
Ainda não é hora!
És ainda tão menino,
Nada sabes do destino
Ou do que vem depois!
Mas tu o saberás depois …”
“Paciência, Meu filho; tenha calma;
Eu estou cuidando da tua alma.
O que faço, não o sabes agora;
Mas tu o saberás … depois!”
Jericó e Ai — Meditações 438
Josué caps. 6 e 7 fornecem muitos contrastes interessantes. Relendo o trecho hoje, me impressionou a relação entre a fé e a derrota.
Muitas vezes esquecemos que a fé, apesar de tão importante, precisa estar acompanhada de outras virtudes. É verdade que, se não houver fé, tudo está perdido (“Sem fé é impossível agradar” a Deus; Hb 11:6) — mas a fé, sozinha, não basta!
Comparando estes dois capítulos, veremos que no segundo episódio o desafio diante do povo diminuiu e a fé deles aumentou, mas mesmo assim passaram da vitória para a derrota! Diante das muralhas de Jericó, a fortaleza “rigorosamente fechada” (6:1), o povo saiu vitorioso; diante de Ai, que parecia tão vulnerável e desprotegida comparada com Jericó (7:3), o povo marchou confiante, mas saiu derrotado! Como entender estas coisas?
Perceba que houve duas mudanças no cap. 7: ainda havia fé (uma fé mais forte, até), mas agora havia pressa e pecado.
Pressa autoconfiante. Em Jericó seguiram as instruções de Deus, e durante seis dias ficaram apenas rodeando a cidade uma vez por dia, e depois voltavam ao seu acampamento. Somente no sétimo dia, e só depois de rodear a cidade mais sete vezes, é que viram as muralhas cair. Mas em Ai não não vemos nenhuma preocupação deles em esperar uma direção divina; estão com pressa, e autoconfiantes: “E voltaram a Josué e disseram-lhe: Não suba todo o povo; subam uns dois mil, ou três mil homens, a ferir a Ai; não fatigueis ali a todo o povo, porque poucos são” (Js 7:3). Parecia tão fácil!
Nossa fé perde sua eficácia quando nossa confiança em Deus precisa competir com nossa autoconfiança! A fé é preciosa — mas ela nunca esquece que Deus é o único alvo digno dela! Uma fé que confia em mim mesmo, e não em Deus, não é a fé apresentada na Bíblia!
Pecado não tratado. O principal problema no cap. 7 foi o pecado de Acã: “Israel pecou … Por isso os filhos de Israel não puderam subsistir perante os seus inimigos … porquanto estão amaldiçoados; não serei mais convosco, se não desarraigardes o anátema do meio de vós” (7:11-12).
Nossa fé é contaminada quando achamos que o pecado entre nós não precisa ser tratado. Quando pecarmos (“pois não há homem que não peque”, I Rs 8:46) precisamos tratar este pecado o mais rápido possível. A fé é poderosa — mas ela nunca esquece que Deus é santo!
Que tenhamos fé em Deus hoje: uma fé humilde (que tem só Ele como alvo), e uma fé santa (“odiando até a túnica manchada da carne”; Jd v. 23). E que Deus, na Sua graça, nos dê a vitória!
Que alegria é essa? — Meditações 439
Costumamos associar tristeza e lágrimas com partidas, e alegria com retornos — mas há exceções!
Lucas encerra seu evangelho com estas palavras: “E, adorando-O eles, tornaram com grande júbilo para Jerusalém. E estavam sempre no Templo, louvando e bendizendo a Deus. Amém” (Lc 24:51-53). Ficamos impressionados com a alegria dos discípulos, mas as palavras imediatamente anteriores a este “grande júbilo” e “louvando e bendizendo a Deus” nos confundem: “E aconteceu que, abençoando-os Ele, Se apartou deles e foi elevado ao Céu”!
Repare bem: o Senhor acabou de ausentar-Se deles, voltando para o Céu. Como escreveu Amy Carmichael (Thou givest, they gather), “aquele que desejavam acima de tudo, aquele cuja preciosidade agora compreendiam como nunca antes, foi embora”! Seria natural lermos da tristeza e do desânimo dos discípulos! Mas não; estão jubilando, louvando e bendizendo a Deus! Separados do Senhor, mas alegres!
Se lermos novamente as últimas palavras do Senhor aos discípulos registradas por Lucas (isto é, as palavras que ele associa diretamente com a partida do Senhor), entenderemos a razão da alegria deles. O Senhor mostrou como tudo que acontecera até então estava de acordo com os profetas (vs. 46-47); destacou o privilégio dos discípulos em testemunhar disto (v. 48); e prometeu estar com eles neste testemunho (v. 49):
“E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos, e em Seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém. E destas coisas sois vós testemunhas. E eis que sobre vós envio a promessa de Meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24:46-49).
Se eu, hoje, crer que o Senhor está em controle; alegremente submeter-me a Ele como testemunha, servo e discípulo; e descansar na promessa do Seu poder — então eu também terei um dia alegre, apesar do que possa acontecer.
105 anos — Meditações 440
J. A. Harrow escreveu a um conhecido:
Devo estar me aproximando do fim da minha jornada aqui, pois estou já no meu 105º ano. O que me espera é extremamente convidativo, grande, sublime e glorioso!
Os propósitos de Deus, em graça e glória, estão muito, muito acima do que a mente humana poderia inventar. Este amor incomparável que me sustentou até aqui, continuará pelos séculos dos séculos. Serei apresentado incorruptível diante do Seu trono glorioso. Poderei assentar-me debaixo da Sua sombra com alegria, minha alma eternamente satisfeita com refrigério doce e agradável. Este corpo fraco e frágil que hoje carrego terá sido transformado na semelhança do corpo glorioso do meu Senhor; portanto, será com visão perfeita que eu poderei contemplar a Sua face! O esplendor da Sua personalidade majestosa, Suas perfeições e atributos sublimes ali evidenciados, irão continuamente enlevar a minha alma, fazendo brotar de meus lábios um eterno e perfeito louvor.
Eis o futuro de todo salvo: ”… tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é incomparavelmente melhor” (Fp 1:23)
O sucesso da Batalha Final — Meditações 441
Semana passada pensamos na primeira parte das duas seções que compõem Apocalipse 19:11-16 (veja tabela enviada anteriormente), ambas destacando a perfeição santa e pura do Senhor que virá. A segunda parte de cada seção enfatiza a glória avassaladora deste Senhor, que ostenta muitos diademas na cabeça e domina sobre as nações: “E os Seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a Sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão Ele mesmo … E da Sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e Ele as regerá com vara de ferro”.
Temos menção aqui de pelo menos cinco aspectos da Sua soberania futura.
Em primeiro lugar, lemos dos Seus olhos, que eram “como chama de fogo” — exatamente a mesma expressão usada na visão que abre o livro (1:14). Como destacamos ali, isto nos lembra que Seu olhar penetra até ao mais íntimo do meu ser — são olhos que conhecem cada detalhe da minha vida! No cap. 1 este discernimento é no contexto dos salvos e do seu comportamento, enquanto aqui nos lembra da justiça do Senhor em juízo contra Seus inimigos. Seus juízos nunca são equivocados, pois Ele conhece todos os detalhes dos casos que Ele julga.
Também vemos que Ele tem, na Sua cabeça, “muitos diademas”, ou “coroas”. O grego tem duas palavras que podem ser traduzidas “coroa”: uma indica uma coroa usada por mérito, como um prêmio (4:10, 14:14, etc.), mas a palavra usada aqui descreve a coroa usada por direito, a coroa do rei. Nosso Senhor, simbolicamente, está com muitas destas coroas na Sua cabeça. Na primeira visão do livro Ele estava com a cabeça descoberta, revelando a brancura dos Seus cabelos (sinal de maturidade e sabedoria; 1:14) — mas aqui Ele vem em juízo contra os reis da Terra, e os diversos diademas mostram que Ele tem direito abundante de exercer este juízo.
Em terceiro lugar, lemos que Ele tinha um nome escrito (provavelmente nas coroas) que ninguém mais conhece. Nem a Sua Noiva, que já passou pelo Tribunal de Cristo e pelas Bodas do Cordeiro, conhece este nome dEle! Ah, irmãos, nunca esqueçamos que, por mais que cresça nosso conhecimento do Senhor e das Suas glórias, sempre haverá mais para ser revelado; e o Pai (que conhece o Filho completamente) irá nos revelando estas coisas conforme nossa capacidade de apreciá-las.
Estas três primeiras descrições mostram a aparência dEle ao sair da presença de Deus; no v. 15 vemos a forma como Ele executará Seu juízo, não só nesta ocasião, mas durante o Milênio.
Lemos da “aguda espada” que sai da Sua boca — outra descrição idêntica à usada no cap. 1. Tanto lá, como aqui, enfatiza que o juízo do Senhor é baseado na Palavra revelada de Deus. Ele sempre agirá conforme aquilo que está revelado nesta Palavra.
E terminamos esta parte vendo a forma rígida e absoluta como Ele governará aqui durante o Milênio: “Ele as regerá com vara de ferro”. A palavra traduzida “regerá” é usada de pastores cuidando do seu rebanho: a ideia aqui é que, durante todo o Milênio, o Senhor estará no Seu trono, gerenciando, governando e garantindo o suprimento de todas as necessidades de todos os habitantes da Terra — mas Ele fará isto com vara de ferro, não permitindo desvios e desobediências.
Cada uma das duas sessões deste trecho (19:11-16) começa destacando a perfeição da Pessoa que virá; em seguida (na parte que consideramos hoje), cada uma delas mostra a perfeição da Sua vitória. Nada, e ninguém, poderá se esconder da visão destes “olhos como chama de fogo”; ninguém questionará o direito deste Rei que ostenta muitos diademas, e que é muito mais majestoso do que qualquer um consegue compreender; ninguém resistirá diante da Palavra afiada com que Ele julga Seus inimigos, e ninguém ousará se rebelar contra este Rei que pastoreia com vara de ferro.
Que possamos honrar e guardar Seu “mandamento sem mácula e repreensão, até a aparição de nosso Senhor Jesus Cristo, a qual a seu tempo mostrará o bem-aventurado e único Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores … ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém!” (I Tm 6:14-16).
Contemplação — Meditações 442
O que nos ocupa mais quando oramos? Nossas necessidades, ou nosso Deus? Nossas “soluções”, ou a vontade dEle? Oramos principalmente para apresentar a Ele o que nós queremos que Ele faça, ou para tentar entender o que Ele quer que nós façamos?
Li o seguinte ontem:
“Quando os salvos aumentam em maturidade espiritual e sua vida de oração se torna mais profunda, Deus costuma levá-los a usar menos tempo em meditação discursiva, na qual a mente está ocupada com seus pensamentos, e mais tempo em contemplação, quando esta atividade mental se acalma, e o espírito se ocupa em comunhão silenciosa e extasiada com Deus”. (Citado de forma anônima em Things concerning Himself, nº 64).
Vale a pena pensar nisto!
Quem dera! (b) — Meditações 443
Dia 12 passado pensamos sobre o “Quem dera!” de Deuteronômio 5:29. Interessante chegar no final deste livro e ver Deus usando a mesma expressão uma segunda vez (na versão em português da Bíblia, esta expressão é usada apenas três vezes por Deus — homens a usam com mais frequência).
E o que Deus deseja no final de Deuteronômio? Ele diz: “Porque são gente falta de conselhos, e neles não há entendimento. Quem dera eles fossem sábios! Que isto entendessem, e atentassem para o seu fim! Como poderia ser que um só perseguisse mil, e dois fizessem fugir dez mil, se a sua Rocha os não vendera, e o Senhor os não entregara?” (Dt 32:28-30).
Se no início de Deuteronômio Deus deseja que Seu povo seja submisso, desta vez Ele deseja que sejam sábios, e entendam que as vitórias passadas deles foram, realmente, vitórias dEle! Eles nunca teriam conseguido derrotar seus milhares de inimigos se o Senhor não tivesse entregado estes inimigos na mão de Israel. Deveriam confiar no Senhor, a sua Rocha, e não nas vitórias passadas.
Quantas vezes achamos que foi a nossa “esperteza” que nos livrou de uma queda, ou a nossa “coragem” que nos livrou de uma derrota. Na verdade, porém, o que aconteceu foi que “até aqui nos ajudou o Senhor” (I Sm 7:12). Cada um de nós está tão seguro quanto for a vontade do Senhor que estejamos! Somos imortais até que termine nosso serviço aqui na Terra, e não sobreviveremos nem um minuto após este prazo!
Não estou sugerindo que nossas ações não tenham nenhuma influência aqui na Terra — muito pelo contrário! Nestes dias diferentes que estamos vivendo, as ações dos salvos estão afetando, e muito, o testemunho do Evangelho no Brasil! Muitos de nossos irmãos estão se comportando como cabos eleitorais, e não servos do Deus Altíssimo — e o mundo percebe esta incoerência!
Estou apenas tentando enfatizar que, apesar do fato que Deus normalmente usa recursos materiais para fazer a vontade dEle em nossas vidas, a fonte de toda vitória sempre é o Seu próprio braço.
“Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Teu nome dá glória, por amor da Tua benignidade e da Tua verdade” (Sl 115:1).
“Quem dera — ah, quem dera eles fossem sábios, e que isso entendessem!”
Indignos — Meditações 444
“E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios” (Mc 16:9).
Muita gente hoje em dia pensa que a Bíblia é uma fábula — mas a honestidade dos quatro evangelistas é uma das maiores provas (entre muitas) da sua autenticidade. Se alguém fosse inventar a história do Cristo ressurrecto, teria caprichado mais nos detalhes dos Seus discípulos, e não registrado tantos defeitos deles.
O que encontramos nos evangelhos? A primeira pessoa a quem o Senhor se revelou na manhã da ressurreição não foi nenhum dos apóstolos, mas uma mulher “da qual tinha expulsado sete demônios”! Não havia ninguém que fosse mais digno desta honra?
O único outro encontro particular do Senhor naquele domingo da ressurreição, registrado na Bíblia, foi com Pedro (Lc 24:34) — justo o discípulo que O negou três vezes. E os quatro evangelistas registram este triste episódio! Por que não João, ou Maria, Sua mãe?
Mas há mais! Quem escreveu o primeiro Evangelho, o livro que abre o Novo Testamento? Não João, “o discípulo a quem Jesus amava”; nem Lucas, “o médico amado”; nem Marcos, filho de uma discípula rica e influente em Jerusalém (At 12:12); mas “Mateus, o publicano” (Mt 10:3). Um publicano sendo incluído no seleto grupo dos autores inspirados das Escrituras? E o primeiro do Novo Testamento?
Exemplos poderiam ser multiplicados, mas o princípio é claro: para ser útil a Deus, não importa o que você foi no passado, mas sim o que você quer ser agora! Até um malfeitor condenado à morte (com justiça, como ele mesmo reconheceu) pôde, ao arrepender-se, ouvir o Senhor Jesus dizer: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso”.
Não quero diminuir a gravidade do pecado, que precisa ser confessado, e que traz consequências. Mas a graça de Deus pode restaurar qualquer pecador. O caminho pode ser longo e doloroso — mas nunca é impossível!
Todos nós somos 100% indignos de servir a Deus — porém uma ferramenta maleável nas mãos dEle, mesmo que velha e enferrujada, é mais útil que outra que só consegue enxergar o seu próprio brilho!
“De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra” (II Tm 2:21).
Magreza — Meditações 445
Muita gente hoje em dia deseja ser magro (ou, pelo menos, mais magro do que é atualmente); mas no contexto do Salmo 106, magreza é realmente trágico!
Falando de Deus tratando com Israel, está escrito: “E Ele lhe cumpriu o seu desejo, mas enviou magreza às suas almas” (Sl 106:15). O que o povo desejava não era para o bem deles, mas tal foi sua fixação com aquilo que eles queriam, que Deus, em disciplina, “cumpriu o seu desejo” — receberam aquilo que pediram.
Mas houve um preço alto à ser pago; logo perceberam que aquilo que tanto almejavam não lhes trouxe felicidade. Ainda sentiam-se magros espiritualmente!
Depois deste v. 15 lemos de cinco episódios diferentes narrados em Êxodo e Números, que mostram a “magreza das suas almas”. Mas há um detalhe interessante — eles não estão mencionados aqui em ordem cronológica! Se Deus inspirou o salmista a seguir outra ordem, o que ele queria nos ensinar com isto?
Precisamos deixar isto para outro dia; por hoje, fica a lição solene de um povo que foi resgatado por Deus, liberto da escravidão do Egito (vs. 9-10), mas quando chegaram na sua herança (dada por Deus) cometeram o pecado criminoso de sacrificar seus próprios filhos a demônios! (vs. 36 a 38)
E tudo começou porque insistiram em pedir o que não era bom para eles! Deus cumpriu o seu desejo, mas enviou magreza às suas almas!
Que Deus nos livre desta magreza diabólica.
Velai comigo — Meditações 446
“Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani … Então lhes disse: Ficai aqui, e velai comigo” (Mt 26:36-46).
Recentemente um irmão chamou minha atenção para o fato do Senhor pedir para os discípulos “velarem” (vigiar) com Ele, mas nunca pediu que eles orassem por Ele.
Amando-os, Ele desejava o carinho e companheirismo deles. Naquela hora tão extrema do Getsêmani, era precioso para Ele saber que Eles estavam, assim, unidos com Ele. Sendo Homem, Ele valorizou este amor fraternal.
Sendo Deus, porém, Ele não podia pedir que eles intercedessem diante de Deus por Ele — especialmente naquela hora! Ele tinha plena consciência do Seu poder e das Suas responsabilidades — Ele sabia que eles precisavam dEle, e não o contrário.
Nós podemos (devemos!) amá-lO, mas nunca poderemos ajudá-lO. Sempre seremos dependentes da ajuda e da intercessão dEle.
E quão precioso lembrar que Ele nunca falha!
Nunca falha, nunca falta! Quantas vezes o provei, Desde que, com fé singela, Tudo a Cristo eu entreguei! Quanto mais Jesus conheço, Mas anseio por trazer Aos Seus pés o mundo inteiro, Seu amor pra conhecer! (H. C. 360)
Combinações — Meditações 447
As glórias que nosso Senhor Jesus demonstrou aqui no mundo são imensuráveis! Um aspecto deste assunto glorioso é destacado por J. G. Bellet ao falar de algumas combinações improváveis entre atributos do Senhor. Os pensamentos abaixo são adaptados dos seus escritos.
Nosso Senhor chorou ao Se aproximar do túmulo de Lázaro, mesmo tendo plea consciência que Ele trazia vida para o morto. Aquele que disse, poucos minutos antes: “Eu sou a ressurreição e a vida”, chorou na presença da morte! O poder divino que Ele possuía não impedia que Suas emoções humanas tivessem livre curso! Que perfeição!
Mas há outras combinações no caráter do Senhor. Podemos ver em Seus atos compaixão e carinho, como jamais foram vistos em outro homem — ao mesmo tempo, sempre fica claro que Ele era um “forasteiro” aqui na Terra. A intimidade que Ele cultivava, e a distância que Ele mantinha, eram perfeitas. Ele não limitou-Se a apenas olhar a miséria ao Seu redor; Ele participou dela com uma compaixão única. Por outro lado, Ele não limitou-Se a evitar a contaminação que existia a Seu redor; Ele manteve distância dela — a distância exata da santidade absoluta de Deus! Ele sempre foi consistente nesta combinação de graça e santidade. Ele esteve perto de nós no nosso cansaço, nossa fome, nosso perigo — Ele esteve longe de nós na nossa ira e egoísmo. Sua graça e compaixão O mantinham ocupado num mundo tão aflito e necessitado — Sua santidade fez com que Ele fosse um estranho e forasteiro num mundo tão sujo e poluído! Todos precisavam dEle, mas ninguém O compreendia — Ele ajudava a todos, mas “não confiava eles” (Jo 2:24).
Que quadro perfeito Ele nos apresenta — um quadro que precisava ser revelado antes de ser explicado! As duas naturezas nunca se misturam, mas o brilho da glória divina não ofusca a Sua humanidade, e a santidade do Homem ornamenta a Sua divindade. Não há nada semelhante — e nem poderia haver — em toda a Criação. Sim, o humano era humano, o divino era divino! O Senhor Jesus dormiu num pequeno barco açoitado pelas ondas; Ele é Homem. O Senhor Jesus repreendeu o vento e o mar, e imediatamente houve bonança; Ele é Deus!
”E, sem dúvida alguma, Grande é o mistério da piedade:
Deus Se manifestou em carne, Foi justificado no Espírito,
Visto dos anjos, Pregado aos gentios,
Crido no mundo, Recebido acima na glória” (I Tm 3:16).
O sangue — Meditações 448
Nas duas semanas passadas pensamos sobre as primeiras duas partes das duas seções que compõem Apocalipse 19:11-16 (veja tabela enviada anteriormente), que destacam, respectivamente, a perfeição santa e pura do Senhor que virá, e a glória avassaladora deste Senhor, que ostenta muitos diademas na cabeça e domina sobre as nações. Chegando na terceira parte de cada seção, veremos que o assunto principal é sangue: as vestes do Senhor estão “salpicadas” (ou “tingidas” de sangue), e Ele pisa o lagar da ira de Deus (o suco produzido no lagar também é figura de sangue). A pergunta importante é: de quem é o sangue que manchou as vestes do Senhor?
Talvez nosso primeiro pensamento seria o sangue dEle mesmo, derramado no Calvário. Mas quando olhamos a referência da segunda seção (v. 15), vemos que o sangue nas Suas vestes não é Seu, e sim dos Seus inimigos! Lemos: “Ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso”. A figura é clara: assim como um lavrador mancharia suas vestes com o suco das uvas que ele esmagava debaixo de seus pés no lagar, assim o Senhor, ao executar juízo para Deus (“o furor e da ira do Deus Todo Poderoso”), está com as vestes manchadas de sangue.
Ou seja, Ele é visto aqui num contexto bem diferente da Sua primeira vinda! Naquela ocasião, Ele permitiu que os homens O maltratassem, pois Ele veio oferecer-Se como sacrifício pelo pecado. Na Sua segunda vinda, porém, cumprir-se-á a profecia feita antes do Dilúvio: “Eis que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos, para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra Ele” (Jd 1:14-15).
Será um dia terrível e sombrio, mas glorioso. Lemos palavras semelhantes em Isaías 63:1-6, onde encontramos a mesma figura que temos aqui: o Senhor com vestes salpicadas de sangue, pisando o lagar do vinho do furor e da ira de Deus, “glorioso na Sua vestidura, que marcha com a Sua grande força”. Será um dia de terror para Seus inimigos, e “todas as tribos da Terra se lamentarão sobre Ele” (Ap 1:7), mas um dia glorioso para os que amam a justiça, e amam ao Senhor.
É solene pensarmos no fim da Besta e dos seus seguidores — mas é precioso saber que a impiedade, imoralidade e injustiça que existem hoje estão com os dias contados! A linguagem usada aqui não deixa dúvidas quanto à situação terrível deles, e de todos que rejeitam o Salvador. Juízo precisa ser executado, e só Ele é digno disto.
A ênfase está no fato dEle ser o único que pode exercer este juízo: “Ele mesmo é o que pisa o lagar”. Isaías enfatiza mais ainda esta verdade. Há dois versículos muito parecidos em Isaías; em ambos vemos o Senhor maravilhando-Se de que não há ninguém digno de ajudá-lO na execução do juízo divino, portanto Ele age sozinho: “E, vendo que ninguém havia, maravilhou-se de que não houvesse um intercessor; por isso o Seu próprio braço lhe trouxe a salvação, e a Sua própria justiça O susteve … E olhei, e não havia quem Me ajudasse; e admirei-Me de não haver quem Me sustivesse, por isso o Meu braço Me trouxe a salvação, e o Meu furor Me susteve” (Is 59:16; 63:5). O contexto de Isaías 59 e 63 é o juízo — em ambos os trechos, vemos a mesma lição destacada em Apocalipse. Quando chegar a hora de impor a vontade de Deus aqui na Terra e derrotar todos os impérios e reinos, só há um que poderá agir em nome de Deus. Ele, sozinho, “pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso”!
Só houve Um que tinha condições de ir até o Calvário sofrer pelos nossos pecados — só há Um que terá condições de pisar o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso!
O paralelo entre as duas seções vai ficando cada vez mais evidente. Começamos os vs. 11-13 vendo a Pessoa perfeita que vem; em seguida, lemos do Seu poder e majestade; agora, vemos como Seus inimigos serão totalmente destruídos. Passamos para a segunda seção (vs. 14-16), e vemos a mesma sequência: santidade, sucesso e sangue. O Cordeiro é perfeitamente santo, perfeitamente digno, e perfeitamente vitorioso!
Que Ele receba nosso louvor e adoração hoje, e sempre!
Ornamento da doutrina — Meditações 449
Paulo foi inspirado a escrever esta expressão tão linda, exortando uma classe de cristãos a comportarem-se de tal forma a serem “ornamento da doutrina” — isto é, as atitudes deles seriam como enfeites que chamariam atenção para, e realçariam o brilho, da doutrina do Evangelho. A figura de linguagem é muito eloquente.
E que classe de salvos seria esta? “Só podem ser os pregadores do Evangelho”, diz um irmão; “São eles que divulgam as boas novas, e tornam conhecidas as belezas do Evangelho até na corte do Imperador romano!” Outro afirma: “Não; os apóstolos são os verdadeiros ornamentos da doutrina, pela base que forneceram para a Igreja”. Um terceiro sugere: “Eu penso que são os ensinadores, que nos ajudam a ver belezas na doutrina que antes não tínhamos percebido!”
Mas, não — estão todos errados! Sem tirar o mérito das classes mencionadas acima, olhe para o contexto em que encontramos esta exortação (Tito 2:9-10). Ela foi dirigida a escravos no império romano; pessoas desprezadas e humilhadas. E como estes escravos poderão ser “ornamento da doutrina”? “Exorta os servos [literalmente, “escravos”] que se sujeitem a seus senhores, e em tudo agradem, não contradizendo, não defraudando, antes mostrando toda a boa lealdade, para que em tudo sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador”.
Grandes feitos podem atrair muita gente ao Evangelho — mas o que realmente convence o incrédulo do valor desta gloriosa mensagem é o comportamento submisso e manso dos salvos. O homem natural é insubmisso, e só se sujeita quando tem medo das consequências; mas quando o mundo vê a força da submissão voluntária de um salvo, ele entende que aquilo não veio do homem — é de Deus!
A espada embainhada (Traduzido de “The undrawn sword”, de James M. S. Tait)
Louve ao servo verdadeiro e fiel, Que tinha espada mas não lutou; Tal qual seu Senhor que, contra ódio cruel, Suas legiões não chamou.
A espada embainhada maior mérito pode indicar Do que daquele que luta com ferocidade; “Melhor”, está escrito, “o ânimo controlar Do que tomar uma cidade”. (Pv 16:32)
Tua força é tua fraqueza, se abusá-la; Tua coragem, covardia, se não domada; Ter a força para derrubar, e não usá-la, É força duplicada!
Migração — Meditações 450
As andorinhas da terra dos meus pais partem todo outono para a África do Sul. Quando o verão termina, e antes que o inverno rigoroso chegue, elas começam sua longa viagem. Partem do Reino Unido, atravessam a França e Espanha, entram no continente Africano e descem até o sul.
Viajam mais de 300km por dia, cerca de 14 mil quilômetros no total, durante cerca de seis semanas — e, mesmo sem gps, sabem onde estão indo! Quem ensina a estes pequenos seres o caminho do verão? Quem os trás de volta no ano seguinte, geralmente para o mesmo local? Como conseguem viajar 28 mil quilômetros e chegar no destino certo?
Realmente, a Criação de Deus é perfeita, e manifesta um pouquinho da perfeição do Criador!
Mas a partida das andorinhas nos lembra de outra partida. Para os habitantes do Reino Unido, a migração das andorinhas é silenciosa, completa, e no tempo certo. Ninguém as vê partindo, mas nenhuma delas fica para passar o inverno. Assim será no Arrebatamento: ninguém estará nos observando partir, mas nenhum de nós ficará para trás para passar pela Tribulação. “O Senhor mesmo descerá dos Céus … e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (I Ts 4:13-18).
O Deus que cuida dos passarinhos virá, na hora certa, nos levar ao lar eterno — e todos os salvos partirão!
Quem sabe seja hoje!
Mata-me, Senhor! — Meditações 451
Lemos nas Escrituras de três homens que dirigiram-se a Deus pedindo que Ele os matasse.
Jonas estava descontente com Deus (Jn 3:10-4:5). Seu problema foi que ele não se compadeceu dos cidadãos de Nínive — sentiu inveja porque outros estavam sendo abençoados. Tenho eu este problema? Sinto inveja quando vejo que outros recebem as bênçãos do Senhor? Que Ele nos livre deste sentimento carnal como fez com Jonas, mostrando-nos mais e mais da Sua misericórdia (4:10-11).
Moisés estava descontente com o povo (Nm 11:10-16). Seu problema foi, simplesmente, falta de paciência com eles. Tenho eu este problema? Será que acho muito pesado o cargo que Deus me deu? Que Ele nos mostre, como fez com Moisés, o Seu imenso poder (v. 23). Ele nunca nos pediu para levarmos nossas cargas sozinhos, mas promete estar sempre conosco.
Já Elias estava descontente consigo mesmo (I Rs 19). Ele desanimou por não ver nenhum resultado da sua fidelidade (“só eu fiquei…”), e desistiu de lutar.
Jonas e Moisés não queriam mais servir; Elias achava que não podia mais. É fácil errarmos como Elias — mas o Senhor está sempre pronto para nos fortalecer, alimentando-nos (vs. 5-8), falando ao nosso coração com Sua voz mansa e delicada (vs. 9-13 — tão suave que, se você não prestar atenção, não conseguirá ouvir), e mostrando-nos Sua fidelidade (“… deixei ficar em Israel sete mil …”).
Irmão ou irmã, se o desânimo quer lhe derrubar, ore a Deus. Ele é misericordioso, poderoso e fiel. Confie nEle, e Ele lhe fortalecerá. Mas nunca desista da luta — complete a sua carreira com sucesso!
Deus preparou — Meditações 452
II Crônicas cap. 29 descreve um maravilhoso reavivamento nos dias de Ezequias. A situação espiritual anterior era terrível: Acaz, o pai de Ezequias, “se houve desenfreadamente em Judá, havendo prevaricado grandemente contra o Senhor” (28:19), e chegou ao ponto de fechar o Templo (28:24).
Mas então surge Ezequias, que começou a obra de restauração já desde o primeiro dia do seu reinado (compare 29:3 e 17). Pouco mais de duas semanas depois (29:17), tudo estava pronto — o que havia sido quebrado fora restaurado, e tudo purificado e santificado — e o povo se reuniu diante do Senhor para lhe prestar o verdadeiro culto, conforme a vontade do Senhor (29:25).
O capítulo termina dizendo: “Assim se restabeleceu o ministério da casa do Senhor. E Ezequias, e todo o povo, se alegraram por causa daquilo que Deus tinha preparado para o povo; porque apressuradamente se fez esta obra” (29:36). É interessante que a Bíblia, depois de descrever todo o esforço e dedicação do rei e dos seus servos, destaca que foi Deus quem preparou aquilo!
Realmente, qualquer reavivamento só será possível quando Deus preparar Seu povo para isto. Não digo isto para que nos acomodemos (“Enquanto Deus não agir, eu não preciso fazer nada”), mas para que saibamos reconhecer a mão de Deus nos preparando em toda boa obra que fazemos para Ele.
Ou seja, toda a glória e todo o mérito pertencem sempre (e exclusivamente) a Deus.
“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela” (Sl 127:1). “Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (I Co 1:31).
Preste atenção! — Meditações 453
“…para, e considera as maravilhas de Deus” (Jó 37:14). Estas palavras de Eliú a Jó chamam nossa atenção: “Para, e considera!”
“Para”. Quão fácil se envolver tanto com nosso serviço (até serviço para Deus!) a ponto de esquecer dEle — ocupados em servi-lO, podemos deixar de contemplar a Sua glória e graça. Quando nos encontrarmos correndo para todos os lados e não indo a lugar nenhum, lembremos desta exortação: “Para, e considera!”
“Considera”. “Por que as coisas acontecem?”, pergunta Eliú. O homem entende os mecanismos por trás dos eventos naturais, e acha que tudo é aleatório. Ele esquece (ou ignora) que o trovão é a voz de Deus (v. 5); o mesmo Deus que diz à neve, à garoa e à forte chuva: “Caiam sobre a Terra” (v. 6); o mesmo Deus que governa sobre os homens e as feras (vs. 7-8); que chama os tufões e tempestades (v. 9); cujo sopro cria a geada, “e as largas águas se congelam” (v. 10) — e tanta coisa mais!
Estamos vendo a mão de Deus em tudo que acontece ao nosso redor? Cremos que Ele domina sobre os reinos dos homens, e os dá a quem Ele quer (Dn 5:210); e também que nenhum passarinho morre fora da vontade de Deus? (Mt 10:29) Uma tempestade assustadora ou uma noite calma de luar — um leão soberbo ou um frágil beija-flor — um por do Sol magnífico ou uma estrela piscando discretamente — ah, quanta coisa para considerarmos!
“Para, e considera as maravilhas de Deus”.
O mesmo! — Meditações 454
Quando o Senhor foi assunto ao Céu, dois anjos apareceram aos apóstolos e disseram: “Homens galileus, por que estais olhando para o Céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no Céu, há de vir assim como para o Céu O vistes ir” (At 1:11).
Três vezes eles repetem a palavra “Céu”, destacando a sublimidade do evento que os apóstolos haviam presenciado. Olhavam para o Céu, porque o Senhor foi levado ao Céu, e é do Céu que Ele voltará!
Mas o que mais me impressionou foi a expressão “esse Jesus” — literalmente, “esse mesmo Jesus”.
Naquele dia eles saíram de Jerusalém sem chamar a atenção de ninguém, um grupo sem importância para o mundo, e subiram o Monte das Oliveiras. Ali os apóstolos viram um Homem que conheciam bem, com as marcas dos cravos nas mãos e nos pés, subindo ao Céu, sem alarde nem barulho.
Num dia futuro, será diferente: todos os habitantes do mundo (Ap 1:7) verão o Céu aberto, e um cavalo branco; e o que estará assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julgará e pelejará com justiça. E os Seus olhos serão como chama de fogo; e sobre a sua cabeça haverá muitos diademas, e um nome escrito, que ninguém conhece senão Ele mesmo. E estará vestido de uma veste salpicada de sangue; e o nome pelo qual se chama é Palavra de Deus. E estarão seguindo-O os exércitos do Céu em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro. E da Sua boca sairá uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e Ele as regerá com vara de ferro; e Ele mesmo pisará o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso. E no manto e na Sua coxa estará escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores (Ap 19:11-16).
Que diferença entre as duas cenas — mas é o mesmo Jesus! O fato dos anjos usarem o nome humano, Jesus, ao invés de Senhor, realça esta verdade preciosa. Quando os Céus explodirem com a glória de Deus, e o mundo, aterrorizado, curvar-se diante do Rei dos reis e Senhor dos senhores, os salvos estarão regozijando na presença “desse mesmo Jesus”, tão conhecido e tão amado! O mesmo que nos acompanha na jornada hoje, e que permanece “o mesmo, ontem, hoje, e para sempre” (Hb 13:8).
“Amém! Ora vem, Senhor Jesus!” (Ap 22:20).
Soberania — Meditações 455
Já pensamos nas primeiras três partes de cada sessão de Apocalipse 19:11-16. Finalmente, a quarta parte de cada seção destaca um nome do Senhor: “E o nome pelo qual Se chama é a Palavra de Deus … E no manto e na Sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores”.
A palavra traduzida “palavra” aqui é a mesma traduzida “Verbo” no evangelho de João. É interessante ver que este nome é dado ao Senhor somente nos escritos de João:
• No evangelho, Ele é simplesmente “o Verbo” (1:1, 14), destacando Sua existência eterna com o Pai, e Sua encarnação: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus … O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós; e vimos a Sua glória”. A glória eterna do Deus eterno só pode ser revelada por meio do Verbo.
• Em I João 1:1 Ele é “a Palavra [Verbo] da vida” — aqui a ênfase recai sobre o tempo que Ele passou entre nós: “… o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida”. A vida eterna do Deus eterno só pode ser recebida e desfrutada por meio do Verbo.
• Aqui em Apocalipse 19 Ele é “a Palavra [Verbo] de Deus”, e já temos visto que a ênfase neste trecho está no juízo dos ímpios, que permite ao Senhor reinar em paz e justiça num dia futuro. O justo juízo de Deus será executado e revelado pelo Verbo.
Assim vemos que todo o poder, perfeição e preciosidade da Palavra escrita, a Bíblia, encontram sua expressão máxima em Cristo, a Palavra viva!
Na segunda sessão, o título é: Rei dos reis e Senhor dos senhores. Este título ocorre três vezes no NT:
• Em I Timóteo 6:15, é aplicado ao Pai na Sua glória;
• Em Apocalipse 17:14 é aplicado ao Cordeiro (na ordem inversa: “Senhor dos senhores e Rei dos reis”);
• Aqui está escrito no manto e na coxa do Senhor.
O sentido do título é muito claro. Quando os hebreus queriam destacar algum adjetivo, costumavam repeti-lo (“Cântico dos cânticos”, por exemplo — o maior de todos os cânticos). Assim, o Rei dos reis é o rei supremo, e o Senhor dos senhores é o senhor supremo. “Rei” destaca liderança em combate; “Senhor” destaca autoridade e possessão.
O mundo já conheceu muitos reis que, pela sua coragem e força, subjugaram reinos e impérios. Alguns chegaram a reinar sobre grande parte da Terra, sobre os chamados “impérios mundiais” — um título altamente subjetivo. Mas mesmo o maior império que o mundo já conheceu, em termos absolutos (o império Britânico do século XIII) dominou sobre menos de 30% da superfície terrestre do nosso planeta. Cristo será o único Rei a realmente governar sobre toda a Terra, o verdadeiro Rei dos reis.
Da mesma forma, o mundo já conheceu muitos senhores que, pelo poder econômico e político, tornam-se proprietários de verdadeiros impérios econômicos. Mas acima de toda autoridade e de todo domínio, o Senhor terá a posse e o domínio de tudo — literalmente, tudo!
Conclusão
Este pequeno trecho apresenta quatro aspectos do Senhor quando Ele voltar a este mundo no final da Tribulação. Lemos da santidade da Sua Pessoa (v. 11), do sucesso da Sua luta (v. 12), do sangue dos Seus inimigos (v. 13a) e da soberania do Seu nome (v. 13b). As mesmas coisas são repetidas nos vs. 14-16, na mesma ordem.
Todas estas coisas destacam a forma completa e contundente com que Ele derrotará todos os Seus inimigos, e reinará para sempre, cumprindo a profecia de Daniel 2: “O Deus do Céu levantará um reino que não será jamais destruído” (Dn 2:44).
É interessante ver quantos nomes do Senhor são mencionados aqui! Ele chama-Se Fiel e Verdadeiro (v. 11); Ele tem um nome “que ninguém consegue entender” em sua plenitude (v. 12); é chamado de “a Palavra [Verbo] de Deus”, e de “Rei dos reis e Senhor dos Senhores”.
Quão variados e gloriosos são os Seus títulos! Quanto ao Seu povo desta época da Igreja, com reverência e amor nós O chamamos de “nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (I Pe 1:11, etc.).
Que possamos meditar hoje na glória da Sua vinda, e alegrarmo-nos na esperança daquele dia glorioso, quando grandes vozes no Céu dirão: “Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e Ele reinará para todo o sempre” (Ap 11:15). Amém.
Sombra — Meditações 456
Sidlow Baxter (Explore the Book) destaca um detalhe interessante do segundo livro dos Reis, um livro que destaca o contraste entre o bom exemplo de Davi e o péssimo exemplo de Jeroboão (detalhes no final). Ele escreve:
“Devemos meditar na sombra lançada por Davi e Jeroboão. Todos nós estamos lançando sombras enquanto caminhamos pelo mundo. Assim como nosso corpo, involuntariamente, lança sombras, assim nós estamos continuamente, e involuntariamente, lançando a sombra da nossa influência moral e espiritual sobre outros. Assim como nosso corpo físico não pode se livrar da sua sombra, assim também não podemos nos desvincular desta influência que temos sobre outros. O que podemos fazer é escolher que tipo de sombra iremos lançar. Nossa influência (sem contar as palavras que falamos) pode contribuir para a salvação eterna, ou para a condenação eterna, de outras almas. Deus nos livre de lançar uma sombra como a de Jeroboão. Por todos os lados, há pessoas jovens e idosas que encontram-se, por vários motivos, naquele estado de ânimo sensível que os torna susceptíveis à sombra de outra personalidade que cair sobre eles. É solene pensar que a sombra da nossa influência pode produzir resultados eternos!”
Lembramos com carinho de irmãos e irmãs que já partiram para a glória, e cuja sombra nos influenciou para o bem. Provavelmente eles nunca perceberam o quanto nos influenciaram pelas suas atitudes e forma de viver — mas o Tribunal de Cristo revelará tudo isto!
E nós — que sombra estamos lançando?
Detalhes
Sobre Davi, lemos três vezes em II Reis que Judá foi preservada “por amor de Davi” (8:19; 19:34; 20:6), e quatro vezes lemos de Davi sendo o padrão de justiça com o qual seus descendentes são comparados (14:3; 16:2; 18:3; 22:2).
Em contaste, pelo menos quinze vezes II Reis fala de Jeroboão como uma padrão de injustiça e pecado, refletido nos que vieram depois dele (3:3; 9:9; 10:29, 31; 13:2, 6, 11; 14:24; 15:9, 18, 24, 28; 17:21, 22; 23:15).
Pode resistir ao fogo — Meditações 457
Quando Deus instituiu a lei sobre o procedimento após uma guerra, Ele incluiu este detalhe: “Toda a coisa que pode resistir ao fogo, fareis passar pelo fogo, para que fique limpa … mas tudo que não pode resistir ao fogo, fareis passar pela água” (Nm 31:23).
O fogo é simbólico, na Bíblia, de provações. Pode ser que sofremos como culpa dos nossos próprios erros (Gl 6:7) — mas quando estamos sofrendo por que Deus está provando a nossa fé, podemos tomar alento e receber ânimo deste pequeno detalhe na lei da guerra.
Escrevendo sobre isto, Amy Carmichael disse: “É um grande conforto lembrar que uma provação indica que Deus sabe que podemos suportar aquele fogo. As coisas que não podiam suportar o fogo seriam purificadas com água, um teste bem menos intenso; e Deus é mais cuidadoso com pessoas do que com coisas! Ele não nos fará passar pelo fogo a não ser que Ele saiba que possamos resistir ao fogo.”
Ele guia todos os nossos passos. Se estamos nos esforçando para andar em Seus caminhos, e tentando (apesar das nossas limitações) fazer aquilo que agrada a Ele, podemos ter certeza que o fogo das provações é sinal da Sua aprovação. Ele nos faz passar pelo fogo, porque sabe que podemos resistir àquela prova.
“Meus irmãos, tende grande gozo quando passardes por várias provações, sabendo que a prova da vossa fé produz paciência” (Tg 1:2-3).
Amy Carmichael — Meditações 458
Diversas vezes desde que comecei estas Meditações, tenho citado algo de Amy Carmichael. A história dela é interessante, e pode servir de incentivo para alguém; convém contá-la.
Ela nasceu em 1867 na Irlanda do Norte. Desde a sua mocidade, dedicou-se a servir a Deus ajudando crianças e moças desprovidas em Belfast. Ela sofria de nevralgia, doença que causa muitas dores nos nervos — quando tinha ataques mais fortes, chegava a ficar acamada por semanas. Em 1887, com vinte anos de idade, ela sentiu-se chamada a servir a Deus na China após ouvir Hudson Taylor falar sobre a situação ali. Devido à sua saúde frágil, porém, ela foi persuadida a não ir.
Quase dez anos depois ela foi orientada a mudar-se para a India por causa da sua saúde (o clima lá favoreceria o quadro dela), e ali ela descobriu sua verdadeira vocação. Viveu cinquenta e cinco anos naquele país, e nunca mais voltou para a Irlanda.
Naquela época na êndia, muitas famílias pobres vendiam suas filhas para os sacerdotes hindus, para serem dedicadas aos deuses. Na verdade, estas crianças eram forçadas a se prostituírem para conseguir dinheiro para os sacerdotes. Uma menina chamada Preena conseguiu fugir da escravidão do templo hindu, e tendo ouvido sobre Amy, procurou abrigo com ela. Amy cuidou da menina, e não cedeu diante da pressão dos sacerdotes (que queriam sua escrava sexual de volta) ou da família, que pedia a menina de volta (para revendê-la aos sacerdotes).
Amy passou o resto da sua vida cuidando destas meninas — Preena foi a primeira de mais de mil meninas que ela acolheu em Dohnavur, êndia. Quando perguntavam às meninas o que as atraía a Amy, a resposta mais ouvida era: “Foi amor. A Ammai nos amava” (“Ammai” é “mãe” na língua Tamil, e era a forma como Amy era conhecida na êndia). Usando as roupas tradicionais das castas inferiores da êndia, ela serviu a Deus por muitos anos nestas circunstâncias.
Em 1931, com 64 anos de idade, um acidente complicou ainda mais a triste situação física de Amy, e ela precisou passar os próximos vinte anos (até sua morte em 1951) praticamente confinada ao seu quarto. Nesta fase da sua vida, ela dedicou-se a escrever textos devocionais para a sua “família”, como chamava as meninas indianas. Pelo menos dezesseis livros foram publicados neste período, nos quais fica evidente a grande fé e o precioso contentamento desta serva de Deus. Sofrendo mais que a maioria de nós, mostrava-se alegre e confiante em Deus.
Amy morreu em 1951, com 83 anos de idade. Ela havia pedido que não fosse feita nenhuma lápide no seu sepulcro. As meninas de Dohnavur colocaram uma banheira para pássaros sobre seu túmulo, com a simples inscrição “Ammai 18-1-1951”.
“A fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver” (Hb 13:7).
Nota: O sistema de dedicação de meninas aos templos hindus, que conduzia à sua prostituição, é ilegal na êndia hoje. As primeiras leis relacionadas a isto datam de 1924, e culminaram no Maharashtra Devadasi Bill (Lei da Abolição da Dedicação) em 2005.
O coração de Deus — Meditações 459
“Quão grandes são, Senhor, as Tuas obras! Mui profundos são os Teus pensamentos” (Sl 92:5).
O dr. Higgins escreveu recentemente: “Conhecer um pouco sobre a grandeza da obra do Calvário não é apenas o conhecimento mais necessário nesta vida — é também emocionante e libertador. Mas conhecer os pensamentos que levaram a esta obra é alcançar o conhecimento mais elevado que podemos adquirir nesta vida, pois equivale a conhecer o coração de Deus!” (negrito meu)
Ele destaca como a obra do Calvário revela algumas das profundezas do coração de Deus:
“Naturalmente, pensamos primeiramente no amor de Deus … um amor que nos ama desde a eternidade! Quando saiu o decreto divino que criou a Terra, foi com a plena consciência que este seria o palco do enorme sacrifício [do Calvário]. Pense também na profundeza da Sua misericórdia e longanimidade para conosco … Sua bondade, compaixão e carinho. E o que dizer da Sua graça que superabundou para conosco? (Rm 5:20) Considere a sabedoria de Deus revelada na maravilhosa obra da redenção. Em aparente fraqueza e loucura, o poder e a sabedoria de Deus foram revelados (I Co 1:18-25). Só podemos adorar!”
Nosso amado Salvador caminhou do Céu até o Calvário, resolutamente manso, conscientemente submisso, dignamente “mudo perante os Seus tosquiadores”. Ao morrer pelos pecadores, e ressuscitar ao terceiro dia, Ele nos revelou profundezas do coração de Deus que superam, em muito, o que conseguiríamos aprender de todos os livros do mundo, todos os sermões dos pregadores, e toda a argumentação dos teólogos. Ele fez isto com mais eloquência do que os melhores poetas, e mais beleza do que os maiores pintores — e como se isto fora pouco, Ele revelou o coração divino com uma simplicidade que cativa até crianças!
Busquemos conhecer mais dEle hoje!
“Oh! Quão santa a cruz de Cristo, Que me diz ser Deus amor E ser luz, que eu tenho visto Vencer trevas em redor! A justiça tem achado Sua plena afirmação; Deus na cruz tem revelado Seu bondoso coração” (McNair, H. e C. 65)
Três relacionamentos — Meditações 460
A libertação de Israel do Egito e sua chegada à terra prometida, atravessando o deserto, é uma figura de como Deus age conosco (I Co 10:6). Entre as muitas lições que podemos aprender destas experiências reais do povo de Deus do passado, podemos destacar três relacionamentos distintos da nossa realidade presente:
a) Quanto ao nosso corpo, estamos no Egito. Já temos sido libertados da escravidão do pecado, mas ainda vivemos num mundo mau e contaminado. Esta Terra não é nosso lar, pois ”a nossa pátria está nos Céus” (Fp 3:20). Tentar nos envolver com a política deste mundo, achando que podemos fazê-los entender nossas convicções espirituais, é inútil. “O mundo está no maligno” (I Jo 5:19) — vivemos aqui, mas não fazemos parte desse sistema.
b) Quanto à nossa alma, estamos no deserto. A alma é a fonte das emoções — e a alma do cristão sofre por viver neste mundo, longe do seu Senhor! Existem “oásis” neste deserto (encontramos alegria com família, na beleza da natureza, e muito mais), mas nossa alma anseia por algo melhor — almejamos o Céu. E diante das glórias do Céu, e da expectativa de lá encontrarmos aquele que morreu por nós, este planeta tão belo parece realmente um deserto!
c) Mas quanto ao nosso espírito, podemos viver (hoje) em Canaã. Não precisamos esperar chegar no Céu para vivermos nas regiões celestiais. Pela fé, entendemos que Deus “nos ressuscitou juntamente com [Cristo], e nos fez assentar nos lugares celestiais” (Ef 2:4-7). Vivendo na Terra, podemos respirar o ar do Céu!
Fisicamente, estamos na terra do Egito; emocionalmente, vivemos no deserto; espiritualmente, nosso “habitat” é Canaã! Ou, para dizer a mesma coisa em outras palavras: apesar do gemermos devido à fraqueza do corpo em que vivemos (II Co 5:2), e de afligirmos nossa “alma justa, vendo e ouvindo” todo o mal que nos cerca (II Pe 2:7-8), podemos, em espírito, andar nas ruas celestiais e contemplar a glória de Deus, “porque andamos por fé, e não por vista” (II Co 5:7)!
Ele sabe! — Meditações 461
Quem nunca se identificou com Jó, sentindo a insensibilidade das pessoas ao seu redor? Ele disse: “Eis que clamo: Violência! Porém não sou ouvido!” (Jó 19:7). Muitas vezes a falta de sensibilidade dos que nos cercam machuca mais do que a ferida que nos castiga, e esperamos em vão por uma palavra de apoio. Não buscamos livramento — apenas gostaríamos de ter uma mão carinhosa nos apoiando, e saber que alguma alma sensível entende o que estamos passando.
Nestas horas, nunca podemos esquecer que temos um Senhor que tudo sabe, e que acompanha cada passo das Suas ovelhas. Diz a Bíblia: “Em toda a angústia deles Ele foi angustiado” (Is 63:9).
Vemos isto ilustrado em Marcos cap. 6, em relação a três áreas da nossa vida:
• Cansaço físico e emocional: “E os apóstolos ajuntaram-se a Jesus, e contaram-lhe tudo, tanto o que tinham feito como o que tinham ensinado. E Ele disse-lhes: Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco” (Mc 6:30-31). Atarefados e estressados, os discípulos estavam servindo ao Senhor quando Ele os chamou à parte para “repousar um pouco”, e recuperar suas energias.
• Necessidade material: “E Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e teve compaixão deles … disse: Dai-lhes … de comer” (Mc 6:34-37). O Senhor passou 40 dias sem comer, mas compadeceu-Se da necessidade da multidão.
• Fraqueza e medo: “E vendo que se fatigavam a remar, porque o vento lhes era contrário, perto da quarta vigília da noite aproximou-se deles, andando sobre o mar” (Mc 6:47-48). Ele viu o sofrimento dos discípulos, e foi ao encontro deles.
No primeiro caso vemos Sua preocupação com nossas necessidades, preparando descanso; no segundo, Sua provisão na multiplicação dos pães; no terceiro, Seu poder em acalmar a tempestade.
“Então aqueles que temeram ao Senhor falaram frequentemente um ao outro; e o Senhor atentou e ouviu; e um memorial foi escrito diante dEle, para os que temeram o Senhor, e para os que se lembraram do Seu nome. E eles serão Meus, diz o Senhor dos Exécitos; naquele dia serão para Mim joias; poupá-los-ei, como um homem poupa a seu filho, que o serve” (Ml 3:16-17).
A vitória — Meditações 462
Faz mais de um mês que nos aproximamos de Apocalipse 19:11-21 (Meditações 434, 441, 448 e 455). Um trecho pequeno no tamanho mas grande no conteúdo, ele fala sobre um dos eventos mais impressionantes da História, passada ou futura, deste mundo. O Calvário foi mais importante do ponto de vista espiritual, mas a vinda de Cristo será mais impressionante, do ponto de vista dos homens.
Temos pensado em vários detalhes sobre o trecho que começa com João dizendo: “E vi o Céu aberto …” (19:11-16), e meditamos sobre a descrição tão preciosa do nosso Salvador apresentada aqui. Concluindo este trecho, veja resumidamente os outros dois “vi …”.
Vi um anjo (19:17-18)
João começou olhando para o Céu (v. 11); em seguida, sua atenção é atraída ao Sol, onde está um anjo anunciando o fim e convocando as aves a comerem os cadáveres dos inimigos de Deus. Todas as classes de pessoas (“reis … tribunos … livres e servos, pequenos e grandes”) estão incluídas no anúncio do anjo. Todos serão derrotados. A batalha ainda não ocorreu, mas o fim deles é certo e inevitável!
Vi a besta (19:19-21)
Finalmente, no terceiro parágrafo, lemos dos inimigos reunidos para a batalha. João já descreveu a glória do Senhor que vem pisar o lagar “do furor e da ira do Deus Todo Poderoso”; apresentou-nos o anjo que declara que os inimigos do Senhor estão condenados; e agora ele descreve estes inimigos: “E vi a besta, e os reis da Terra, e os seus exércitos reunidos para fazerem guerra àquele que estava assentado sobre o cavalo,”. É um exército formidável — todos unidos “juntamente contra o Senhor e contra o Seu ungido” (Sl 2:2).
A sequência da narrativa de João parece um anticlímax. Acostumados com as obras de ficção dos homens, em que o herói quase é derrotado, mas finalmente vence, surpreendemo-nos com a descrição resumida e honesta que temos aqui. Todas as forças do mal estão reunidas para guerrear contra o Senhor — mas não lemos de nenhuma batalha feroz e sangrenta, nenhum “duelo de titãs” entre o Dragão e o Cordeiro. João apenas registra, de forma lacônica e direta, que a besta e o falso profeta foram presos e lançados vivos no Lago de Fogo (v. 20), os demais homens foram todos mortos pela espada do Senhor (v. 21), e o próprio Satanás foi preso também (20:1-3). Tão simples assim? É só isso?
Lembramos do trecho paralelo em 17:14-15, que descreve esta mesma vitória do Cordeiro. É o cumprimento do Salmo 2 — os reis da Terra unidos contra o Cordeiro, e “aquele que habita nos Céus” rindo das ameaças deles (Sl 2:4). Sabemos que o inimigo das nossas almas é muito mais forte do que nós, mas o Senhor o derrotará com a facilidade própria do Criador corrigindo a criatura rebelde!
Zacarias descreve a praga que matará os inimigos do Senhor naquele dia: “a sua carne apodrecerá, estando eles postados de pé, e lhes apodrecerão os olhos nas suas órbitas, e a língua lhes apodrecerá na sua boca” (Zc 14:12). Virarão um contra o outro, e serão completamente derrotados.
A visão começou (19:11) com o Senhor assentado sobre o cavalo — ela termina com o Senhor na mesma posição (v. 21). Os inimigos reunidos contra Israel assustarão o povo de Deus (pelo seu número e pelo seu poder diabólico), mas não serão uma ameaça para o Cordeiro!
Assim terminará a maior batalha da História, e Cristo dará início aos procedimentos para instalar Seu reino de paz e justiça. Que nossa meditação nesta vitória completa e contundente do Senhor contra Satanás e todas as suas hostes (demônios e homens) nos leve a admirá-lO e louvá-lO cada vez mais. Sejamos gratos a Deus por termos sido salvos por este forte e vitorioso Senhor!
Uma vida atada no feixe — Meditações 463
Hoje estive em mais um velório — nunca estamos longe da sombra da morte, que atinge todo ser humano. Mas mesmo sendo verdade que a morte, sem distinção alguma, atinge a todos, o que ela representa para cada um varia muito de indivíduo para indivíduo.
Basicamente, há duas formas de encarar a morte: como algo que destrói, ou como algo que preserva. Para quem não tem Cristo, a morte é o fim desta vida terrena, e o início de uma eternidade de tormentos. Não existe destruição pior do que esta!
Para o que crê, porém, a morte é apresentada através de diversas figuras na Bíblia — por exemplo, despir-se deste tabernáculo terrestre (nosso corpo físico) e sermos “revestidos da nossa habitação que é do Céu” (II Co 5:1-4).
Uma figura se destacou no trecho que li hoje de manhã, e é muito preciosa — foi usada por Abigail, uma das muitas mulheres sábias mencionadas na Bíblia. Ela disse sobre Davi: “A vida de meu senhor será atada no feixe dos que vivem com o Senhor teu Deus; porém a vida de teus inimigos Ele arrojará ao longe” (I Sm 25:29).
A figura é da colheita: o Senhor passa pela Terra arrojando ao longe os ímpios, que são como a palha que o vento espalha (Sl 1:4). Mas os salvos são como o trigo que é cuidadosamente colhido e atado em feixes. Os ímpios; jogados fora, não tem utilidade para Deus. Os salvos, porém, são preciosos para o Senhor!
Quando um salvo morre ele é tirado deste mundo de sofrimentos e colocado, bem seguro, no feixe daqueles que vivem com o Senhor! Ele morre para o mundo, e vive com o Senhor!
“Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? … graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.” (I Co 15:55-57)
Um adorador — Meditações 464
Mark Sweetnam escreveu recentemente sobre um personagem marcante do Velho Testamento. O nome dele significa “sopro, vapor, vaidade”. Ele não foi o primogênito de seus pais. Não lemos de nenhuma palavra que ele falou, e de apenas um ato que ele praticou. “A chama da sua vida cintila apenas brevemente nas páginas das Escrituras”.
Parece pouco — mas Deus deu testemunho dos dons deste jovem, e hoje, milhares de anos depois da sua morte, a fé dele, diz a Bíblia, “ainda fala”!
Sim, estamos falando de Abel: “Pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e por ela, depois de morto, ainda fala” (Hb 11:4).
O primeiro adorador registrado nas Escrituras não destacou-se pela inteligência, nem pela coragem; não pelas palavras que falou, nem pelas batalhas que venceu; mas pelo seu sacrifício, oferecendo ao Senhor “dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura” (Gn 4:4).
Lembremos que “o Pai procura [adoradores] que assim O adorem” (Jo 4:23).
Não o noticieis em Gate — Meditações 465
O lamento de Davi após a morte de Saul e Jônatas (I Sm 1:19-27) é um lindo exemplo de nobreza e perdão. Davi teria muitos motivos para comemorar a morte do seu maior inimigo, pois agora, depois de tantos anos e tanto sofrimento, ele finalmente tinha liberdade para assumir o trono que Deus preparou para ele. Mas ao invés de comemorar, ele chora. Sentimos a sinceridade da sua dor quando ele escreve:
“Não o noticieis em Gate, Não o publiqueis nas ruas de Ascalom, Para que não se alegrem as filhas dos filisteus, Para que não saltem de contentamento as filhas dos incircuncisos.”
Gate e Ascalom eram cidades dos filisteus, os inimigos de Israel, e Davi instrui seu povo a não proclamar entre os inimigos a derrota de Israel. Qualquer vantagem pessoal que Davi receberia ficou ofuscada pela dor e vergonha da derrota do povo.
Quantas vezes esquecemos disto. Quando há uma derrota entre o povo de Deus, a notícia corre como o vento. Ao invés de nos envergonharmos e lamentarmos pela derrota, parece que sentimos prazer em espalhar a notícia (ou o boato) e assim criticar quem pecou (talvez para nos sentirmos superiores a ele!).
Os exemplos de Daniel (Dn 9:5) e Esdras (Ed 9:6), nos seus contextos, mostram o princípio visto em Davi: irmãos inocentes que incluíram-se junto com os pecadores. Mesmo que não tivessem, pessoalmente, participado do pecado, participaram, coletivamente, da vergonha!
Não quero diminuir a gravidade do pecado, nem a necessidade de presbíteros agirem em disciplina — mas vemos aqui um princípio muito ignorado em nossos dias. Quando há derrotas entre o povo de Deus, todos nós saímos perdendo, não só quem caiu!
Portanto, ao ouvir de uma queda entre o povo de Deus, lembre deste versículo: “Não o noticieis em Gate …”
Perspectiva — Meditações 466
No seu último discurso antes de Deus se revelar a ele, e já tendo suportado muita aflição, Jó disse: “Ah! Quem me dera ser como eu fui nos meses passados!” (Jó 29:2). Poucas horas depois, porém, ele disse: “Na verdade, falei do que eu não entendia … Eu Te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos Te vêm” (Jó 42:3-5, versão Almeida Atualizada).
Quando desejou que o tempo voltasse, e que ele nunca tivesse passado pela provação, Jó não sabia quão perto ele estava de ver a Deus com os próprios olhos. Diante de pressões que fazem a nossa presente aflição parecer um refresco, ele desejou nunca ter conhecido aquela dor — mas logo depois, quando a tempestade passou, Jó era infinitamente mais rico que “nos meses passados”! A aflição de Jó foi terrível, mas teve o seu “fruto pacífico de justiça” (Hb 12:11).
Que Deus nos ajude a ver nossas aflições desta perspectiva: são desagradáveis, sim, mas trarão um fruto pacífico. Ao invés de dizer: “Ah! Quem me dera ser com eu fui antes da pandemia”, que possamos esperar para ver o que Deus irá nos ensinar com estas circunstâncias.
Quando a tempestade passar, certamente diremos: “Foi-me bom ter sido afligido” (Sl 119:71).
Deus e os homens — Meditações 467
Como Deus age? Sempre na autonomia absoluta da Sua divindade, ou normalmente usando vasos humanos como instrumentos do Seu poder? Sabemos a resposta, mas nem sempre conseguimos discernir corretamente isto no dia-a-dia. O parágrafo abaixo (extraído do Comentário Ritchie de Gálatas 2:2), pode ajudar.
Em relação aos fatores divinos e humanos, devemos notar que em Números 13:1-2 lemos que o enviar dos espiões foi uma ordem de Deus a Moisés, ao passo que em Deuteronômio 1:22 é mencionado como sendo um pedido do povo. Outra vez, em Atos 9:29-30, quando a ameaça de matar Paulo foi descoberta, os irmãos o ajudaram a escapar, e em Atos 22:17-21 Paulo nos diz que o Senhor o mandou deixar Jerusalém, depressa. Em Atos 13:1-4 foi o Espírito Santo que chamou Paulo e Barnabé para uma nova esfera de trabalho, mas o chamado foi feito através de um profeta. Desta forma, por meio de um instrumento humano, a vontade de Deus foi revelada aos servos e à igreja. Atos 10 nos fornece ainda mais uma ilustração; a visão e a voz do Espírito, preparando Pedro para a visita dos servos de Cornélio.
“Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade” (Fp 2:13).
Brecha — Meditações 468
No início do relato do reino unificado de Davi, lemos de dois lugares aos quais ele deu um novo nome: Baal-Perazim (II Sm 5:20) e Perez-Uzá (II Sm 6:8).
Se você achou as palavras Perazim e Perez parecidas, é porque são exatamente a mesma palavra no original (perazim é o plural de perez, uma palavra que aparece diversas vezes neste trecho — veja nota no final).
Não sabemos quanto tempo se passou entre os dois eventos, mas Deus relatou os dois um atrás do outro para que percebêssemos mais facilmente a relação entre os dois.
E qual é esta relação? Em Baal-Perazim Deus rompeu (este é o significado de perez) contra Baal (os deuses falsos dos filisteus; 5:21); em Perez-Uzá Deus rompeu contra Uzá, um do Seu próprio povo. No primeiro evento, a ação de Deus trouxe alegria e vitória; no segundo, derrota e tristeza amarga (6:8-9).
Que diferença! E qual seria a explicação para tal diferença? Perceba que, no primeiro trecho, Davi é visto consultando ao Senhor antes de cada passo (5:19, 23), mas no segundo não há nenhuma menção desta consulta (e em I Crônicas 15:13, Davi explicitamente diz que Deus “fez rotura em nós, porque não O buscamos segundo a ordenança”).
Ou seja, Deus está nos ensinando que quando procurarmos andar segundo a Sua Palavra, Ele irá romper contra nossos inimigos. Mas quando negligenciarmos esta orientação, será necessário Ele romper contra nós em disciplina!
É claro que há uma enorme diferença entre os dois “romper” — Deus nunca trata Seus filhos da mesma forma que trata os ímpios. Não devemos imaginar que Ele é vingativo e insensível! Mas por meio destes dois eventos Deus nos mostra, mais uma vez, a importância de procurarmos sempre ser guiados pela Palavra de Deus.
“Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem-sucedido” (Js 1:8).
Nota: Uma citação parcial de II Samuel 5:20 a 6:8, destacando as palavras hebraicas 06555 (verbo: “romper”, “fazer uma brecha”) e 06556 (substantivo: “brecha”, “abertura”): “Então foi Davi a Baal-Perazim [01167+06556]; e feriu-os ali Davi, e disse: Rompeu [06555] o Senhor a meus inimigos diante de mim, como quem rompe [06555] águas. Por isso chamou o nome daquele lugar Baal-Perazim [01167+06555]. E deixaram ali os seus ídolos … E, chegando à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus, e pegou nela; porque os bois a deixavam pender. Então a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta imprudência; e morreu ali junto à arca de Deus. E Davi se contristou, porque o Senhor abrira [06555] rotura [06556] em Uzá; e chamou àquele lugar Perez-Uzá [06556+05798] até o dia de hoje.” (II Sm 5:20-6:8).
O milênio (20:1-6) — Meditações 469
Entrando em Apocalipse cap. 20, vemos que João continua usando a expressão “e vi”. Neste trecho ele viu um anjo prendendo Satanás (vs. 1-3), viu tronos sobre os quais alguns se assentam, e viu a ressurreição dos salvos que morreram durante a Tribulação (v. 4).
Em relação a Cristo, destaca-se neste trecho o Seu reino milenar. Cinco vezes nestes versículos lemos destes “mil anos” (v. 2, 3, 4, 5 e 6). Satanás estará preso (e provavelmente seus demônios também), e haverá paz e justiça em toda a Terra. Não será ainda o estado eterno, pois Satanás ainda será solto no final do Milênio “por um pouco de tempo” (v. 3) — mas será uma prévia gloriosa da eternidade. “Não se fará mal nem dano algum em todo o Meu santo monte, porque a Terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Is 11:9).
Muitos detalhes sobre este período são revelados no Velho Testamento (Isaías caps. 11 e 35, Zacarias cap. 14, etc.). Aqui, porém, temos apenas a afirmação clara e resumida: “… reinaram com Cristo durante mil anos … serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com Ele mil anos” (v. 4-6).
Vemos assim enfatizado o reino completo e total do Senhor, e a Sua condescendente graça em repartir esta autoridade com Seu povo. Ele reina, e os Seus reinam com Ele. Provavelmente a Igreja é vista no começo do v. 4, os salvos da Tribulação no final do mesmo versículo, e toda a multidão dos redimidos (incluindo os salvos do Velho Testamento) no v. 6.
Não conseguimos imaginar como será, na prática, este “reinar” — mas nos gloriamos hoje em saber que Ele terá prazer em repartir Sua autoridade e glória com o Seu povo, que Ele resgatou com o Seu próprio sangue.
É precioso pensar na Sua glória revelada universalmente. Somos lembrados de Filipenses 2: “E, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus O exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos Céus, e na Terra, e debaixo da Terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2:8-11). Como disse Pedro ao povo de Jerusalém cinquenta dias depois da Crucificação: “Esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2:36).
Hoje podemos orar: “Venha o Teu reino; seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu” (Lc 11:2). Amém!
Três grupos — Meditações 470
Phillip Schaff, em seu ótimo livro History of the Christian Church, fala dos três grupos em que o judaísmo se dividia nos dias do Senhor aqui na Terra (fariseus, saduceus e essênios), e como eles representavam as três grandes tendências humanas — vistas também na filosofia grega (estoicismo, epicurismo e platonismo), no maometismo (sunitas, xiitas e sufistas), etc., etc. Realmente, não há nada de novo debaixo do Sol!
Até hoje podemos ver estas tendências entre a raça humana:
Formalismo — os fariseus ilustram bem a tendência humana ao formalismo, que produz hipocrisia. A observância externa de regras e regulamentos não purifica a alma; ser educado e polido não é sinônimo de beleza de caráter. É bom para o salvo preocupar-se com seu exterior (seu testemunho), mas precisamos entender que é preciso mais do que isto!
Ceticismo — os saduceus representavam o ceticismo (não criam na ressurreição, nem em anjos, etc.). Muitos hoje são céticos: querem uma explicação racional e lógica, segundo as leis da física, para tudo. Mas os salvos sabem que há muita coisa que só pode ser recebida pela fé.
Misticismo — já os essênios são conhecidos como a “seita judaica mística”. Procuravam manter-se afastados dos grandes centros urbanos, praticavam o vegetarianismo, e eram conhecidos por expulsar demônios e outras práticas que associamos ao misticismo. Assim como muitos hoje, indo ao extremo oposto do ceticismo, acreditam que tudo deve ter uma explicação sobrenatural.
E nós? O que somos?
Somos filhos de Deus, e como tal devemos evitar o formalismo hipócrita dos fariseus, o ceticismo prepotente dos saduceus, e o misticismo ingênuo dos essênios, entendendo que:
• além de um comportamento externo digno, Deus também exige um interior limpo e humilde;
• Deus criou um Universo que funciona de forma perfeita, previsível e inteligível, e a verdadeira Ciência é nossa aliada, não inimiga (mas Deus, o Criador, reserva para Si o direito de ultrapassar estas “leis” sempre que Ele quiser);
• Deus age, sim, além das leis da física — mas estas “leis” foram criadas por Ele, e Ele não as ultrapassa à toa.
Que Deus nos ajude a nos comportarmos como “filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo” (Fp 2:15). Amém.
Deus sabia — Meditações 471
“Bem tens conhecido a Minha afronta, e a Minha vergonha, e a Minha confusão; diante de Ti estão todos os Meus adversários. Afrontas Me quebrantaram o coração, e estou fraquíssimo; esperei por alguém que tivesse compaixão, mas não houve nenhum; e por consoladores, mas não os achei. Deram-Me fel por mantimento, e na Minha sede Me deram a beber vinagre” (Sl 69:19-21).
A. J. Higgins escreveu ontem sobre um fato comovente: só o Pai realmente sabia o que o Filho suportou na Cruz. Ninguém mais conhecia tão perfeitamente a glória eterna do Senhor e Sua natureza santa para conseguir compreender quanto a zombaria e as afrontas representavam para Ele.
“Mas havia Um que podia medir a distância do trono à cruz, da glória ao Gólgota. Ele sabia quanta vergonha, desprezo e escárnio Seu Filho suportou. E deve ter sido precioso ao Pai, e resultado em infinita alegria ao Seu coração, saber que foi o amor do Filho pelo Pai que O levou até aquele ponto. Toda a vergonha, escárnio e desonra foram suportados por devoção e amor ao Seu Pai. Só Deus podia apreciar a profundidade do motivo; só Deus podia medira a extensão da vergonha.”
Sim, Deus sabia; e Ele sabe também a nossa necessidade hoje! “Tu contas as minhas vagueações; põe as minhas lágrimas no Teu odre. Não estão elas no Teu livro?” (Sl 56:8).
Consolemo-nos hoje com esta verdade preciosa.
Davi e Bate-Seba (a) — Meditações 472
O pequeno trecho que engloba os caps. 11 e 12 de II Samuel abrange um período de pelo menos dois anos, e narra o episódio mais triste e vergonhoso da vida do rei Davi. Podemos aprender lições importantes ao considerar o início, meio e fim desta narrativa.
Tudo começou de forma despretensiosa e, aparentemente, simples: “No tempo em que os reis saem à guerra, enviou Davi a Joabe, e com ele os seus servos, e a todo o Israel; e eles destruíram os filhos de Amom, e cercaram a Rabá; porém Davi ficou em Jerusalém” (II Sm 11:1). Houve outros passos na sua queda — mas sua omissão foi o primeiro passo registrado nas Escrituras.
O erro dele é realçado pelo contraste com Urias, o homem de quem Davi tirou a esposa e a vida. Quando Davi, após o adultério, chamou Urias de volta (sem dúvida, tentando encobrir a gravidez de Bate-Seba e ocultar seu pecado), Urias recusou descer à sua casa, e disse ao rei: “A arca, e Israel, e Judá ficaram em tendas; e Joabe, meu senhor, e os servos de meu senhor, estão acampados no campo; e hei de eu entrar na minha casa, para comer e beber, e para me deitar com minha mulher? Pela tua vida, e pela vida da tua alma, não farei tal coisa” (II Sm 11:11).
Urias mostrou muito mais discernimento do que Davi! Se meus irmãos estão no vale da aflição, como posso me preocupar apenas com o meu conforto? Davi, pela posição e influência que tinha, deveria ter mostrado o exemplo, mas acabou sendo repreendido pelo bom exemplo de Urias. Lembramos da exortação de Tiago: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tg 4:17).
Que Deus nos dê mais senso das responsabilidades que temos, e mais empatia para obedecermos à instrução da Sua Palavra: “Alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram” (Rm 12:15).
Davi e Bate-Seba (b) — Meditações 473
Quase um ano depois do pecado de Davi, chegamos à segunda parte da narrativa: a disciplina do Senhor sobre Seu servo. As famosas palavras de Natã a Davi — “Tu és este homem!” (II Sm 12:7) — atingiram em cheio a consciência do rei, e também tem despertado a milhares de salvos desde então.
Após cometer adultério com Bate-Seba e planejar a morte do marido dela, parece que Davi passou pelo menos nove meses sem reconhecer seu pecado duplo, e sem que sua consciência o acusasse. Mas é possível um salvo passar tanto tempo assim sem reconhecer que pecou?
Obviamente, sim. A criança que resultou deste pecado já havia nascido quando Natã foi enviado a falar com o rei, que ainda não havia confessado seu pecado. Natã contou uma parábola sobre o egoísmo de um homem rico que rouba a única ovelha do seu vizinho, e lemos que “o furor de Davi se acendeu em grande maneira contra aquele homem” (v. 5). O rei logo deu seu veredito: “Digno de morte é o homem que fez isto … Então disse Natã a Davi: Tu és este homem!”
Que choque para Davi — doloroso, porém necessário! Pensamos ontem sobre a necessidade de evitar o pecado da omissão, e aqui vemos algo que ajuda muito a termos um comportamento digno da nossa vocação: saber que “o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho” (Hb 12:6-7).
Lembremos disto, irmãos! Tenhamos o hábito de seguir as instruções claras das Escrituras: “Considerai os vossos caminhos” (Ageu 1:5, 7); “Examine-se, pois, o homem a si mesmo” (I Co 11:28); “Prove cada um a sua própria obra” (Gl 6:4).
Além deste exercício diário, devemos orar: “Sonda-me, — Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139:23-24).
Mantendo a consciência e o coração em paz com Deus, desfrutaremos da confiança que João menciona: “Amados, se o nosso coração não nos condena, temos confiança para com Deus” (I Jo 3:21).
Amém!
Davi e Bate-Seba (c) — Meditações 474
Temos pensado sobre a omissão de Davi no início deste episódio tão triste, e na disciplina do Senhor após cerca de um ano. Passando mais um ano adiante, chegamos ao fim da história, onde brilha a graça e benignidade de Deus.
Davi e Bate-Seba tiveram outro filho (a primeira criança foi levada por Deus ao descanso eterno), a quem chamaram Salomão; mas Deus lhe deu outro nome: Jedidias. E lemos: “O Senhor o amou. E enviou pela mão do profeta Natã, dando-lhe o nome de Jedidias, por amor ao Senhor” (II Sm 12:24-25).
É impressionante a graça de Deus revelada aqui, de duas formas. Primeiro, Salomão é o único indivíduo no VT de quem lemos as palavras “o Senhor o amou” (Malaquias 1:2 refere-se à nação de Israel, não a Jacó). Além disto, Deus mesmo deu-lhe outro nome, “Jedidias” — que significa “amado por Jeová”.
Por que esta ênfase no amor do Senhor por uma criança, fruto de um pecado horrível? Por causa de Davi? Por causa de Salomão? Não! Por causa da suprema riqueza da Sua graça!
Esta graça já havia sido revelada na repreensão dada por Natã, que, falando das muitas bênçãos que Davi já recebera, acrescentou: “E, se isto é pouco, mais te acrescentaria tais e tais coisas” (II Sm 12:8).
Como é bom servir a Deus! O incrédulo, ao ouvir da justiça disciplinadora de Deus, imagina um Ser vingativo e cruel. Mas Deus é misericordioso na Sua justiça, e justo na Sua benignidade. “O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em poder, e ao culpado não tem por inocente” (Naum 1:3).
“Bendize, — minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o Seu santo nome. Bendize, — minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de Seus benefícios. Ele é que perdoa todas as tuas iniquidades, que sara todas as tuas enfermidades, que redime a tua vida da perdição; que te coroa de benignidade e de misericórdia, que farta a tua boca de bens, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia … Misericordioso e piedoso é o Senhor; longânimo e grande em benignidade. Não reprovará perpetuamente, nem para sempre reterá a Sua ira. Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos recompensou segundo as nossas iniquidades. Pois assim como o Céu está elevado acima da Terra, assim é grande a Sua misericórdia para com os que O temem. Assim como está longe o oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões. Assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor Se compadece daqueles que O temem. Pois Ele conhece a nossa estrutura; lembra-Se de que somos pó … a misericórdia do Senhor é desde a eternidade e até a eternidade sobre aqueles que O temem” (Sl 103:1-17).
Sim — como é bom servir a Deus!
Uma ovelha perdida — Meditações 475
J. N. Darby escreveu sobre uma experiência notável na sua vida, quando pediram que ele visitasse um rapaz que estava muito doente. Ele caminhou mais de uma hora até a pequena casa no interior da Irlanda onde a família, muito pobre, morava. Deitado sobre um pouco de palha perto da lareira, um garoto com 17 ou 18 anos de idade estava esperando a morte chegar.
Conversando com ele, Darby logo percebeu que o rapaz não conhecia o Evangelho, e nunca lera a Bíblia — aliás, ele nunca aprendera a ler! Darby escreve:
“Fiquei desanimado, quase desesperado. Eu estava diante de um ser cuja alma eterna estava à beira da eternidade, a morte obviamente espreitando-o. Não havia tempo a perder — mas o que eu poderia fazer? Como poderia ensinar para ele, nos últimos instantes da vida, os princípios básicos do Cristianismo? Não me lembro de ter me sentido tão fraco antes … mas pedi ao Pai celestial que, por amor de Cristo, me guiasse nesta situação tão difícil, e que me revelasse pelo Seu Espírito um meio de apresentar as boas novas de salvação de tal forma que pudessem ser entendidas por este pobre viajante.”
Ele descreve como ficou em silêncio um pouco, orando a Deus e olhando ansiosamente para o rapaz. Pensou que seria bom tentar descobrir o nível de entendimento e desenvolvimento dele em coisas normais da vida, para saber a melhor forma de apresentar-lhe o Evangelho. Ele então começou a conversar sobre sua saúde.
“Percebo que você está muito doente; faz tempo que você está assim?”
“Sim; faz quase um ano já”.
“E como começou esta tosse? Eu imagino que um rapaz de Kerry seria bem forte, e acostumado com este clima frio!”
“Ah, sim, eu era … até aquela noite terrível, quase um ano atrás. Meu pai cria umas poucas ovelhas nas montanhas. É assim que sobrevivemos. Quando ele contou as ovelhas aquela noite faltava uma, e ele me enviou a procurá-la.”
“Com certeza foi um choque deixar a lareira e sair no vento gelado das montanhas.”
“Ah, sim. Havia neve no chão, e o vento cortava meu corpo; mas não me importei, pois eu estava ansioso por encontrar a ovelha perdida do meu pai”.
“E você a encontrou?” perguntei, ficando cada vez mais interessado.
“Sim! Demorou, mas eu não parei até encontrá-la.”
“E como você a trouxe de volta? Deve ter sido difícil; ou ela te seguiu prontamente?”
“Bem, eu não quis confiar no instinto dela; além disto, ela estava exausta. Então eu a pus sobre os ombros e a carreguei de volta pra casa”.
“E quando você chegou, todo mundo se alegrou com o seu retorno?”
O rapaz então descreveu como ele chegou quase ao amanhecer, exausto e doente pela longa noite na neve, mas satisfeito por ter encontrado a ovelha. Contou como a família e os vizinhos se alegraram com ele. E mesmo tendo contraído aquela tosse, e estando à beira da morte, era evidente a satisfação do rapaz pela ovelha perdida, mas encontrada.
Darby pensou: “Que maravilha! Aqui está a mensagem do Evangelho completa! A ovelha perdida, e o Pai enviando Seu Filho para buscá-la. O Filho indo voluntariamente até o fim, dando a Sua vida para salvar a ovelha!”
Ele agradeceu a Deus por responder sua oração, e leu para o pobre garoto a parábola da ovelha perdida em Lucas 15. A semelhança entre a parábola e a experiência dele o ajudou a compreender o amor do Salvador pelas pobres ovelhas perdidas, e ele foi salvo.
Poucos dias depois o rapaz morreu, tendo orado a Deus para que o Pastor celestial o levasse seguro aos Céus nos Seus ombros. Darby escreveu: “Ele morreu em paz, quase exultando, e o nome de Jesus, meu Salvador e meu Pastor, foi a última palavra que seus lábios pronunciaram.”
“Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a Sua vida pelas ovelhas” (Jo 10:11).
“Porque éreis como ovelhas desgarradas; mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas” (I Pe 2:25).
O Grande Trono Branco (Ap 20:11-15) — Meditações 476
Domingo passado pensamos no Milênio. Quando terminar esse reino de paz e justiça, Satanás será solto “por um pouco de tempo” (v. 3), e logo Se levantará contra Deus pela última vez. Mas ele será rapidamente derrotado e lançado no Lago de Fogo “para todo o sempre”. O Senhor Jesus não é diretamente mencionado nos vs. 7-10 .
Na sequência, os pecadores serão julgados (o assunto que está diante de nós), e logo depois começará o estado eterno: novos Céus e nova Terra, onde nada mais (nunca!) abalará a paz e a segurança do povo de Deus.
Nos vs. 11-15, portanto, lemos da ocasião solene quanto todos os pecadores serão julgados. O destino deles já estava decidido desde quando morreram (Jo 3:18), mas Deus, sendo absolutamente perfeito na Sua justiça, precisa mostrar a cada um deles as razões por que serão condenados.
Este trecho não menciona o nome do Senhor Jesus nem uma vez, mas não há dúvida que é Ele o Juiz descrito aqui. O NT deixa bem claro que todo o juízo foi confiado a Ele: “Também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo” (Jo 5:22); “Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do Homem que destinou” (At 17:31). Como vimos ao estudar a visão do cap. 1, o fato de Deus julgar os homens por meio de um Homem é de suma importância.
Seu trono é descrito como “grande trono branco”. Lembrando do que pensamos ao destacar que Ele sai do Céu montado sobre um cavalo branco (19:11), podemos ver aqui indicações do Seu poder para julgar (“grande”), Sua prerrogativa (“trono”), e Sua pureza (“branco”). Somente um rei puro e santo, um Juiz vitorioso contra todos os Seus inimigos, poderia assentar-se sobre este grande trono branco.
Sua posição condiz com Sua autoridade — Ele está assentado, soberano e intocável. Aquele que foi conduzido por mãos imundas para fora de Jerusalém, levando a Sua própria cruz, agora está assentado sobre o trono. Não há oposição nem luta; não há reclamações que exigem Sua atenção — todos aqueles que O desprezaram ou rejeitaram durante suas vidas estão agora atentos à voz soberana do Senhor Jesus.
Esta autoridade dEle é realçada pela expressão extremamente interessante: “… de cuja presença fugiu a Terra e o Céu, e não se achou lugar para eles”. O fato de o Universo todo deixar de existir é inevitável, pois esta Criação terá que dar lugar a um novo Céu e uma nova Terra (21:1) — mas o interessante é que isto não é narrado como uma destruição, mas como um fugir de diante da presença do Senhor Jesus! Hebreus nos ensina que “a palavra do Seu poder” sustenta a Terra na sua órbita anual em torno do Sol, a Lua na sua órbita em torno da Terra, e todas as galáxias nos seus devidos caminhos. Tudo funcionou até hoje (e continuará funcionando até o momento que estamos considerando) pela palavra do Seu poder — mas quando chegar este momento solene, o poder da Sua presença será tão impressionante que “os Céus, em fogo, se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão” (II Pe 3:12)! Quão grande é nosso Salvador!
Vários detalhes sobre este juízo nos deixam curiosos. Se não há mais um Universo, onde será este julgamento? Será que poderia ser no “Céu dos céus”, onde Deus habita? E onde estaremos nós durante este julgamento? Não sabemos — mas será glorioso descobrir como Deus irá agir naquele dia!
Um último detalhe sobre Cristo neste trecho merece ser destacado: Sua divindade. O Juiz é, claramente, o Filho do Homem (como já vimos acima) — mas na única vez neste trecho que João dá algum nome ou título ao Senhor, ele simplesmente afirma que os mortos “estavam diante de Deus”. Não “Deus, o Filho”, nem “o Filho de Deus”, mas simplesmente “Deus”! Não é necessária nenhuma explicação nem qualificação — aquele Homem bendito que nasceu, viveu e morreu aqui na Terra, é Deus!
Como é precioso para nós hoje lembrarmos que nunca seremos convocados para comparecer diante do Grande Trono Branco, pois já estamos livres da condenação (Jo 5:24). Mas presenciaremos este dia de glória e majestade do nosso Salvador. Não sei exatamente onde estaremos, mas certamente veremos a Sua glória sendo manifestada na prática, enquanto Ele julga aos mortos, “pequenos e grandes”. Ali veremos os arrogantes e prepotentes deste mundo quebrantados, curvando-se diante dEle e reconhecendo que Ele é o Senhor!
“Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus … Porque dEle, e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém” (Rm 11:22, 36).
© 2021 W. J. Watterson
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