Sunday, 3 October 2021

Meditações 512 a 539


Meditações na quarentena (2020/21) enviadas diariamente aos irmãos e irmãs da igreja local em Pirassununga para nosso ânimo mútuo (arquivadas neste blog). 

 



Jeremias, o “desintegrado” — Meditações 512


“Maldito o dia em que nasci; não seja bendito o dia em que minha mãe me deu à luz. Maldito o homem que deu as novas a meu pai, dizendo: Nasceu-te um filho … Por que [o Senhor] não me matou na madre? Assim minha mãe teria sido a minha sepultura … Por que saí da madre, para ver trabalho e tristeza, e para que os meus dias se consumam na vergonha?” (Jr 20:14-18).


Sentimos pena de Jeremias ao ver a profundidade da sua tristeza — mas admiramos a maneira como ele foi útil nas mãos de Deus! E será que se ele não fosse fraco como foi, ele teria sido útil como foi?


J. Bright (The kingdom of God; 1955) escreve: “Jeremias contradiz a ideia moderna e popular de que a religião tem como objetivo criar uma personalidade integrada, livre de seus medos, dúvidas e frustrações. Jeremias, certamente, estava muito longe desta integralidade. É de se perguntar se ele alguma vez desfrutou de verdadeira paz! Não temos nenhuma evidência de que a sua luta interna acabou … Mas ficamos com a sensação de que, se Jeremias tivesse conhecido a chamada ‘integralidade’, ele não seria mais Jeremias! Saúde espiritual é bom; tranquilidade emocional é bom; mas o chamado da fé não é para alcançar uma ‘personalidade integrada’ ou para encontrar a resposta a todas as suas dúvidas, mas sim para dedicar nossa personalidade — com todas as suas perguntas e medos — ao serviço que Deus escolher para nós”.


Não seja seduzido pela vida vazia e mentirosa que os “influencers” apresentam nas mídias sociais. Não deseje viver como eles vivem, no vazio da inutilidade. Foge destas coisas — não seja mais um seguidor a aumentar a vaidade deles. Não tente apresentar-se para o mundo como uma pessoa perfeita que vive uma vida perfeita. Procure ser útil a Deus (como Jeremias foi), mesmo que você tenha muitas fraquezas (como Jeremias tinha).


“Então disse eu: Ah, Senhor Deus! Eis que não sei falar; porque ainda sou um menino. Mas o Senhor me disse: Não digas: Eu sou um menino; porque a todos a quem Eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar, falarás. Não temas diante deles; porque estou contigo para te livrar, diz o Senhor” (Jr 1:6-8).



Soberania — Meditações 513


Quando um incrédulo ouve um cristão falando sobre a soberania de Deus, ele pode imaginar que esta soberania onipotente significa que Deus age de forma arbitrária e imprevisível. “Já que Ele é soberano (tem direito de fazer o que quer) e onipotente (tem capacidade de fazer o que quer), certamente esta posição será abusada de vez em quando”, argumenta o cético. “Se Ele não precisa dar satisfação a ninguém, nem pedir permissão, então hoje Ele pode ser bom e amanhã mau … e quem vai detê-lO? Ele não deve explicações a ninguém!”


Mas não pode ser assim. Na realidade, como escreveu Colin Lacey, “os atos soberanos do Senhor nunca são contrários ao Seu caráter” (Comentário Ritchie de I Reis). Ele não pode agir de forma a quebrar uma promessa, nem agir de forma a desonrar o Seu caráter santo e perfeito. Deus não pode:


• Mentir — Ele é sempre fiel ao que prometeu: “Aquele que é Força de Israel não mente nem Se arrepende;  porquanto não é um homem para que Se arrependa” (I Sm 15:29); “Uma vez jurei pela Minha santidade que não mentirei a Davi” (Sl 89:35); “… Deus, que não pode mentir, prometeu  antes dos tempos dos séculos ….” (Tt 1:2); “Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta …” (Hb 6:18); “Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Rm 11:29).


• Mudar — Ele é sempre coerente, sempre o mesmo: “Porque Eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois  consumidos” (Ml 3:6); “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das  luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação” (Tg 1:17).


O cético diz: “Viu? Deus não é onipotente! Se existe uma coisa — uma apenas — que Ele não pode fazer, Ele não é onipotente. Você acabou de dizer que Ele não pode mentir; ergo, Ele não é onipotente!”


Mas como já foi dito muito tempo atrás, “Onipotência significa a capacidade de fazer o que é intrinsecamente possível. Deus pode fazer qualquer milagre, mas não coisas absurdas, bobagens. Se você disser: ‘Deus pode dar livre arbítrio a uma criatura Sua, e ao mesmo tempo impedir esta pessoa de ter livre arbítrio?’, você realmente não disse nada sobre Deus. Combinações absurdas de palavras não se tornam coerentes pelo simples fato de dizer ‘Deus pode’. A verdade permanece que todas as coisas são possíveis para Deus — mas bobagens não são ‘coisas’. Não é possível para Deus fazer duas coisas mutuamente exclusivas, que se contradizem — não porque o poder dEle encontrou algum obstáculo, mas porque bobagens são apenas isto: bobagens!” C. S. Lewis (1898-1963), The Problem of Pain. New York: Macmillan, 1944, pág. 16.


Deus é soberano e onipotente, mas Ele é também perfeito. Isto significa que “os atos soberanos do Senhor nunca são contrários ao Seu caráter”. Sendo onipotente, Ele tem poder para fazer o que desejar — sendo quem Ele é, Ele sempre deseja fazer o que é moralmente bom, intrinsecamente puro e benéfico. Sempre!


“Porque Eu, o Senhor, não mudo; por isso vós … não sois  consumidos” (Ml 3:6).



Incoerência — Meditações 514


A história do rei Amazias apresenta uma ilustração do tipo de comportamento incoerente a que todos nós estamos sujeitos.


Em I Crônicas 25:6-10, saindo para guerrear contra os filhos de Seir, Deus lhe enviou uma mensagem por um profeta para que ele mandasse embora 100 mil soldados que ele havia contratado para a batalha. Mesmo diante da perspectiva de ver seu exército diminuído em 100 mil soldados, e do prejuízo financeiro de perder os cem talentos de prata que havia pago a estes soldados, ele confiou no Senhor. Obedeceu, e foi vitorioso contra o inimigo.


Logo depois, porém, tendo sido abençoado por Deus na batalha, ele não só foi após outros deuses (vs. 14), como também se recusou a ouvir o aviso pelo profeta enviado por Deus! (vs. 15-16).


Num momento de fraqueza, confiou em Deus e submeteu-se a Ele; no momento do triunfo, virou as costas ao Senhor!


Não ousamos criticá-lo demais, pois vemos esta mesma tendência em nós. Um dia confiantes e obedientes, no outro vacilantes e rebeldes! Que Ele nos ajude a sermos mais coerentes!


Como disse o Senhor por intermédio de Isaías, que possamos ouvir a voz dos nossos mestres dizendo: “Este é caminho, andai nele, sem vos desviardes nem para a direita nem para a esquerda” (Is 30:21).



Nem metade! — Meditações 515


A frase da rainha de Sabá a Salomão — “eis que não me disseram a metade” (II Cr 9:6) — tornou-se famosa; e com razão. Ela nos ajuda a ter uma ideia, ainda que vaga, da grandeza de Salomão.


Na longínqua terra da rainha, nos “confins da Terra” (Mt 12:42), chegaram as notícias de um grande rei, sábio e poderoso. As notícias eram tão impressionantes que animaram a rainha a visitar este rei, apesar da distância. E vendo-o com os seus olhos, e ouvindo-o com os seus ouvidos, ela exclamou: “Era verdade a palavra que ouvi na minha terra acerca dos teus feitos e da tua sabedoria. Porém não cria naquelas palavras, até que vim, e meus olhos o viram, e eis que não me disseram a metade da grandeza da tua sabedoria; sobrepujaste a fama que ouvi”.


O que ela ouviu havia sido impressionante — a realidade foi mais do que o dobro do que ela ouviu!


Ao falar sobre este episódio, o Senhor Jesus disse: “Eis que está aqui quem é maior do que Salomão” (Mt 12:42). Pense nisto, irmãos. Nós não vamos viajar dos confins da Terra para ver o maior e mais sábio rei que já reinou na Terra — vamos viajar da Terra aos Céus para ver o Rei dos reis e Senhor dos senhores! E, ao vê-lO, certamente diremos como a rainha: “Eis que não me disseram a metade!”


Podemos aplicar a nós as palavras que ela disse sobre os servos de Salomão: “Bem-aventurados estes teus servos, que estão sempre diante de ti, e ouvem a tua sabedoria!” O que já ouvimos do Senhor na Sua Palavra é impressionante — a realidade será muito melhor! Que bem-aventurança pertencer a Ele!


Tenho lido do Salvador, Cristo,

Que recebe o mais vil pecador;

Que perdoa seus muitos pecados

E revela, sem fim, Seu amor.

Tenho lido da graça celeste

Que concede o Pastor divinal;

Mas metade do amor tão profundo

Jamais se contou ao mortal.

(H. e C. 283)




Complementos — Meditações 516


Quando contemplamos uma igreja local, ficamos impressionados com o quanto somos diferentes uns dos outros. E podemos acrescentar: Graças a Deus por isto!


J. B. Phillips (1906-1982; Making Men Whole) escreveu:


No seu entusiasmo pela salvação de pecadores, o evangelista pode achar difícil imaginar que alguém não seria chamado para ser um evangelista! Aquele que tem visão abrangente e planeja grandes coisas tem dificuldade em apreciar o valor daqueles que simplesmente  continuam seguindo o mesmo caminho conhecido. Aquele que é capacitado para ajudar indivíduos nas suas lutas particulares tem pouca consideração pelo teólogo que trabalha cercado por prateleiras de livros. Mas a verdade é que a plenitude de Deus nunca se encontra em apenas um indivíduo, mas sim em diversos indivíduos vivendo e trabalhando juntos como um corpo, cada um suprindo as deficiências dos outros.”


A Bíblia diz: “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos” (I Co 12:4-6).


Portanto, trabalhemos juntos, reconhecendo nossas diferenças!



William Cowper — Meditações 517


William Cowper (1731-1800) é considerado por muitos como um dos maiores poetas “modernos” da língua inglesa (por “modernos”, entenda-se pós-Shakespeare; 1564-1616). No começo da sua vida, porém, Cowper parecia fadado ao fracasso. Aos seis anos de idade sua mãe morreu, e o garoto franzino e doente, com um problema crônico nos olhos, foi despachado para um internato. 


Extremamente inseguro (escondia-se debaixo das cobertas à noite com medo), vítima de bullying, sua saúde mental foi indo de mal à pior, e ele chegou a tentar o suicídio por diversas vezes. Ele vivia atormentado pela consciência do seu pecado, e suas tentativas de suicídio só pioravam a situação, pois ele achava que o suicídio era o “pecado imperdoável”.


Depois dos trinta anos de idade sua saúde mental piorou, até que ele foi internado em um sanatório, onde encontrou, certo dia, uma Bíblia que resolveu começar a ler. Lendo, encontrou estas palavras: “Sendo justificados gratuitamente pela Sua graça”. Anos depois, ele escreveu sobre seus sentimentos ao ler estas palavras: “Os raios benditos do Sol da Justiça penetraram na minha escuridão. Eu vi o valor da expiação feita pelo Senhor, vi que Seu sangue me purifica, e num instante fui salvo”.


Transformado pela graça de Deus, Cowper tornou-se um escritor renomado, autor de hinos e poemas que continuam impactando vidas até hoje (é dele o nº 29 no nosso hinário). Que mudança! E qual sua fonte? Estas palavras benditas: “Justificados gratuitamente pela Sua graça”!


Que todo salvo hoje possa apreciar, novamente, a mudança que Deus efetuou em nossas vidas (“justificados”), não por nenhum esforço nosso (“gratuitamente”) e nem por nenhum valor intrínseco que possuíamos (“pela Sua graça”). Foi tão somente a graça de Deus que nos salvou, e é ela que nos guarda até hoje.


Não eu; mas a graça de Deus que está comigo” (I Co 15:10); Deus “nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas  obras, mas segundo o Seu próprio propósito e graça“ (II Tm 1:19).



Os servos do Cordeiro (22:3-5) — Meditações 518


Finalizando este longo trecho (Apocalipse 21:1 até 22:5) que descreve a alegria eterna dos salvos, temos cinco detalhes (22:3-5) relacionados aos servos do Cordeiro: “E ali nunca mais haverá maldição contra alguém; e nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os Seus servos O servirão. E verão o Seu rosto, e nas suas testas estará o Seu nome. E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do Sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo o sempre.” Como é comum no Apocalipse, podemos agrupá-las na forma de quiasma, apresentando três aspectos do nosso relacionamento com o Senhor:


i) Atividade — O primeiro e o última destes detalhes falam do que estaremos fazendo na eternidade: “E os Seus servos O servirão … e reinarão para todo o sempre” (vs. 3 e 5). Na nossa tradução em português, “servos” e “servirão” são variações da mesma palavra (substantivo e verbo), mas as palavras que a Bíblia usa no original são diferentes. A palavra traduzida “servos” é douloi (literalmente, “escravo”), mas a palavra “servirão” não é o verbo correspondente a douloi (douleuo), mas sim latreuo, que indica um servir mais nobre e espontâneo do que douleuo. Como escreve Allen, “nenhum trabalho escravo ou trabalho árduo está em vista aqui, mas serviço prestado, de coração alegre, ao Senhor Deus Todo-poderoso e ao Cordeiro. O verbo traduzido ‘servirão’ (latreuo) … indica [no NT] serviço sacerdotal.” O sentido aqui é que, por natureza, somos escravos, mas na prática, serviremos voluntariamente. E que serviço faremos? “… reinarão para todo o sempre”! Não entendemos tudo que está incluído nestas palavras, mas vemos nelas um pouco da nossa ocupação eterna. Não estaremos ociosos, mas participando, de alguma forma, no governo do reino eterno do Senhor! Que posição bendita: escravos reinando!


ii) Apreciação — “E verão o Seu rosto … o Senhor Deus os ilumina” (vs. 4 e 5). O segundo e o penúltimo dos cinco detalhes mostram aquilo que poderemos desfrutar na eternidade, vendo o rosto bendito do Senhor e sendo guiados por Ele. A luz que iluminará nossa vida eterna é o próprio Deus — e o que esta luz nos revelará? A cidade gloriosa de ouro e jaspe, luzente como cristal? Sim; mas muito mais que isto, esta luz nos permitirá ver a face bendita do Senhor! Pense nesta frase: “verão o Seu rosto”. Será que existe promessa mais gloriosa para o salvo? Veremos o Senhor face a face! Tudo que poderia ser escrito sobre esta bendita esperança ainda seria totalmente inadequado para descrever sua maravilha!


1. Face a face hei de vê-lO? Oh, será que é mesmo assim?

Face a face com aquele que na cruz morreu por mim?


[Estribilho]

Face a face hei de vê-lO, mais sublime que os Céus!

Face a face em glória eterna! Face a face com meu Deus!


2. Entre sombras olho agora, contemplando-O pela fé;

Mas naquele fausto dia, vê-lO-ei como Ele é!


3. Face a face — que alegria! Dor e medo esquecerei!

Tudo que hoje não compreendo, logo ao vê-lO entenderei!


4. Face a face — oh, que glória ver o Rei que me comprou!

Face a face com aquele cujo amor me cativou!


iii) Associação — No centro da lista, lemos: “e nas suas testas estará o Seu nome”. Hoje em dia é possível que nossa associação com Cristo passe despercebida por aqueles que nos cercam (talvez pelo nosso mal testemunho, talvez pela nossa apatia). Mas naquele dia estará estampado em nossas testas o nome de quem nos comprou para Si por preço elevadíssimo, o Seu próprio sangue!


Podemos resumir este trecho destacando o privilégio que será nosso na eternidade como servos do Cordeiro. Se a rainha de Sabá disse dos servos de Salomão: “Bem-aventurados estes teus servos, que estão sempre diante de ti, e ouvem a tua sabedoria” (II Cr 9:7), muito mais dizemos dos que pertencem ao Cordeiro: “Mil vezes bem-aventurados estes Teus servos!” Não por aquilo que somos ou fizemos, mas unicamente por causa do Cordeiro.


Alegremo-nos hoje ao meditar no privilégio de estar diante dEle, servi-lO eternamente, e ver o Seu rosto.



Amigo de Deus — Meditações 519


Abraão é chamado de amigo de Deus três vezes nas Escrituras. Na ordem em que aparecem nas Escrituras, estas referências nos falam do presente que ele recebeu (a terra; II Cr 20:7), da paz e proteção que ele desfrutava (Is 41:8), e do  preço que esta amizade lhe custou (ofereceu seu filho; Tg 2:23).


O presente: Deus deu ao Seu amigo uma terra livre de inimigos (“Porventura, ó nosso Deus, não lançaste fora os moradores desta terra de diante do Teu povo Israel”), em possessão perpétua (“e não a deste para sempre à descendência de  Abraão, Teu amigo?” (2Cr 20:7). Da mesma forma, Ele tem nos abençoado com toda a sorte de bênçãos espirituais; e  “os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Rm 11:29) — são eternos.


A promessa de paz dada à família do amigo de Deus pode ser apropriada por todos nós: “Tu, ó Israel, servo Meu, tu Jacó, a quem elegi descendência de Abraão, meu amigo … não temas, porque Eu sou contigo; não te assombres, porque Eu sou teu Deus; Eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da Minha justiça” (Is 41:8-10).


Que maravilha — abençoados e protegidos! Mas há também o preço! “Abraão … ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque … e foi chamado o amigo de Deus” (Tg 2:21-23). Aquele que realmente deseja ser amigo de Deus sabe que precisará abrir mão de algumas coisas aqui na Terra. “Disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-Me” (Mt 16:24).


Lembremos do aviso de Tiago, e sigamos o exemplo de Paulo:  “Qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” (Tg 4:4). “Tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de  todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” (Fp 3:8).



Desamparado! — Meditações 520


Como é triste a palavra “desamparado”! Lembra-nos alguém que ninguém quer ou com quem ninguém se preocupa, alguém sem amigos, sem família, sem amparo!


Em II Timóteo cap. 4 Paulo diz duas vezes que foi desamparado: “Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica (v. 10); “Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam” (v. 16). Ficamos comovidos ao pensar no abandono que este grande servo sofreu no final da sua vida. Depois de tanto serviço dedicado e útil no Evangelho, Paulo agora se vê sozinho (humanamente falando; veja o v. 17).


Muito mais comovente, porém, é pensar no nosso amado Senhor. Também por duas vezes lemos do Seu brado na cruz, citando o Salmo 22: “Deus meu, Deus meu, por que Me desamparaste?” (Mt 27:47; Mc 15:34). Como é possível que Ele podia ser abandonado pelo Seu Pai? “Teu Deus a Ti desamparou para amparar-me a Mim”!


Em absoluto contraste com tudo isto, lemos a promessa preciosa do Senhor: “Nunca te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13:5). Como é bendita a nossa segurança! O Senhor está sempre conosco, aconteça o que acontecer!


A mesma palavra grega que aparece nos cinco versículos acima é usada em Hebreus 10:25 para falar de uma responsabilidade nossa: “Não deixando [literalmente, ‘desamparando’] a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros”. Como seria triste ver uma igreja local desamparada, abandonada pelos seus membros — um indo atrás dos seus negócios, outro do seu divertimento, e só um ou dois comparecendo nas reuniões. Que cada um de nós possa mostrar sua apreciação pelo que Deus fez por nós, e pela igreja à qual Ele nos uniu, desta forma bem prática: não desamparando a nossa congregação.




Tempo bom ou tempo melhor? — Meditações 521


“Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele” (Salmo 118:24).


(De um texto anônimo) Toda vez que o clima fica ruim, lembro-me deste versículo. Não porque o contexto dele fala de tempo ruim, mas porque uma irmã idosa usou este versículo para me ensinar uma lição valiosa sobre a vida cristã. Esta irmã anda de bengala, mas isto não a impede de estar presente em todas as reuniões. Ela tem artrite, mas isto não a impede de estar sempre sorrindo.


Uma noite fria e chuvosa, eu comentei: “Que noite horrível!” Sabe qual foi a resposta dela? Ela citou o versículo acima. Quando cheguei em casa e li o Salmo inteiro, percebi que ele fala de confiar e alegrar-se no Senhor apesar das circunstâncias. Também percebi que ele começa e termina com o mesmo versículo: “Louvai ao Senhor, porque Ele é bom; porque a Sua benignidade dura para sempre.”


Esta querida irmã me contou que ela iniciava todo dia com este versículo. Mesmo antes de mover-se na cama para ver se sua artrite estava ruim, mesmo antes de levantar para ver como estava o tempo, ela lembrava deste versículo. Este versículo não fala de tempo bom ou dias especiais. Fala da capacidade que o cristão tem de superar todas as circunstâncias, por saber quão bom é Aquele que fez este dia.


O dia está horrível? Temos um Senhor bom e benigno; portanto, podemos nos alegrar mesmo em dias ruins. “Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele”!



Vinte anos perdidos — Meditações 522


Um certo cristão levava muito a sério a salvação dos pecadores, empregando o seu tempo livre distribuindo porções bíblicas e folhetos. Como campo de atividade, ele escolheu um barco que percorria o rio Clyde, na Escócia.


Certo dia, ao entregar um folheto a um dos passageiros, este comentou que tais esforços não produziam resultado algum. “Não desprezo esse tipo de trabalho”, prosseguiu. “Eu também sou salvo, e até fiz a mesma coisa na minha juventude, mas não colhi fruto algum!”


O evangelista respondeu contando sobre a sua própria conversão, fruto de um folheto recebido na rua quando tinha uns doze anos. Era uma noite fria de inverno quando passava em frente a um local de pregação do Evangelho. Um desconhecido o parou, deu-lhe um folheto e o convidou a entrar para escutar o Evangelho. Ele aceitou e ouviu uma mensagem que despertou a sua consciência, fazendo-o refletir acerca da eternidade e de seu estado pecaminoso diante de Deus. Quando voltou para casa, estava perturbado, mas leu o folheto e encontrou paz e salvação.


O relato dessa experiência despertou grande interesse por parte do passageiro do barco. “Posso lhe perguntar quando isso aconteceu?” Quando soube o nome da rua e a data exata, seus olhos se encheram de lágrimas. Tomando a mão do rapaz, exclamou com muita emoção: “Recordo-me perfeitamente do garoto que convidei a entrar naquela noite na sala de reuniões, pois a mim havia sido confiada, durante várias noites, a tarefa de convidar as pessoas que passavam e de lhes entregar alguns folhetos. Eu era naquela época um recém convertido e, como não via nenhum fruto, acabei por abandonar este serviço. Isso foi a vinte anos atrás, a agora Deus me mostra que aquele esforço em Seu serviço não foi em vão. Se Ele me permitir viver até que retorne à minha cidade, voltarei a fazer, com a Sua ajuda, o trabalho que me havia confiado, trabalho que por infidelidade e falta de fé, não julguei digno de ser realizado”.


Final feliz — pena que o período de vinte anos estava perdido para sempre! Para nós também logo terminará o tempo de servi-Lo. “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” (Gl 6:9).




É para mim — Meditações 523


“Certa vez”, escreveu Moorhouse, “encomendei uma máquina da datilografar, e ela foi entregue a outro homem com o mesmo nome que eu. Desde então, agradeço a Deus por não encontrar meu nome em João 3:16. Se a Bíblia dissesse que Deus amou Harry Moorhouse de tal maneira que deu Seu Filho unigênito para que Harry Moorhouse não perecesse, mas tivesse a vida eterna, eu poderia pensar que Ele estivesse falando do outro Harry Moorhouse. Mas como está escrito: ‘todo aquele que nele crê’, então não tenho dúvida que é para mim!” (Citado por F. W. Boreham, The golden milestone).


As Escrituras tornam-se vivas para nós quando permitimos que, através delas, Deus fale, antes de mais nada, comigo! Os avisos e as promessas podem ser aplicadas a muitas pessoas e muitas situações — mas será que estou esquecendo de aplicá-las a mim, pessoalmente?


Quantas vezes agimos como Pedro: “Vendo Pedro a [João], disse a Jesus: Senhor, e deste, que será?” A resposta do Senhor a Pedro serve para nós hoje: “Disse-lhe Jesus: Se Eu quero que ele fique até que Eu venha, que te importa a ti? Segue-Me tu” (Jo 21:20-22).


Ao ler as Escrituras hoje, estejamos atentos à voz do Senhor falando conosco. Antes de pensar em aplicar as Escrituras àqueles que conhecemos, que digamos com o salmista: “Escondi a Tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra Ti” (Sl 119:11)



Lord Franklin — Meditações 524


“Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque Eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador” (Is 43:2-3).


Sir John Franklin (1786-1847) foi um explorador britânico que fez diversas expedições ao Ártico, ajudando a mapear quase toda aquela extensa e inóspita área. Na sua última expedição, ele e todos sob seu comando (mais de cem homens) morreram de frio ou fome. Cerca de dez anos após a sua morte, finalmente foram encontrados os últimos vestígios da sua expedição: uma pilha de ossos e alguns livros. Um dos livros, com o seu nome inscrito, tinha uma folha dobrada, e um texto marcado. É o diálogo entre um filho e sua mãe, que está morrendo:


“A senhora não tem medo de morrer?”


“Não.”


“Não? Como é que a incerteza de um novo estado não lhe assusta?”


“Porque o meu Deus disse: Quando passares pelas águas, estarei contigo”. 


A história que agradou a Lord Franklin indica que ele também morreu tranquilo, confiando em Deus. Cerca de vinte e cinco anos antes da expedição fatal, na sua primeira expedição ao continente gelado, ele teve a oportunidade de apreciar melhor a imensidão do poder de Deus. Numa carta posterior à sua irmã, ele escreveu que naquele deserto imenso de gelo e neve, as palavras do Senhor Jesus em João 14:6 (“Eu sou o Caminho”) revelaram a ele o caminho para o Céu, e ele nasceu de novo.


E assim, salvo pela graça de Deus, ele desceu ao vale da sombra da morte sem medo, sabendo que o Bom Pastor estava com ele.


Esta é a bênção que todos os salvos podem desfrutar!


Salmo 23


O Senhor é o meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do Seu nome.


Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque Tu estás comigo; a Tua vara e o Teu cajado me consolam. Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.


Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor para sempre.



Eis que cedo venho — Meditações 525


Apocalipse 22:6-21


Apocalipse começou dizendo: “Revelação de Jesus Cristo … para mostrar aos Seus servos as coisas que brevemente devem acontecer”. No final temos palavras semelhantes: “Estas palavras são fiéis e verdadeiras; e o Senhor, o Deus dos santos profetas, enviou o Seu anjo, para mostrar aos Seus servos as coisas que em breve hão de acontecer” (1:1; 22:6).


A palavra traduzida “brevemente” em 1:1 é a mesma traduzida “em breve” em 22:6; é o substantivo tachos (5034), e estas são suas únicas ocorrências neste livro. Apocalipse começa e termina com este lembrete: as coisas que estão reveladas aqui acontecerão rapidamente. Tudo começará no tempo estabelecido por Deus, e tendo começado, nada poderá atrapalhar ou atrasar sua execução.


O advérbio correspondente (tachu, 5035) ocorre sete vezes no livro, numa simetria impressionante. Três vezes nas sete cartas que abrem este livro de Apocalipse o Senhor Jesus usa esta palavra em relação às igrejas (2:5, 16; 3:11), e no cap. 22 Ele a usa outras três vezes falando da Sua vinda. Entre estes dois grupos de três, temos uma referência isolada em 11:14, referindo-se aos juízos da Tribulação.


As três referências no cap. 22 falam conosco de forma muito preciosa.


Na primeira referência, nosso Senhor associa a Sua vinda com o guardar da Sua Palavra: “Eis que cedo venho: bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro” (22:7). Apocalipse começou com uma bem-aventurança associada à Palavra revelada de Deus, e termina da mesma forma, lembrando-nos que devemos, no pouco tempo que nos resta antes da Sua vinda, guardar fielmente a Sua Palavra.


Na segunda referência, o Senhor associa a Sua vinda à recompensa futura: “Eis que cedo venho, e o Meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra” (22:12). O Senhor promete que, na Sua vinda, todo o comportamento humano (v. 11) será recompensado ou julgado. Ele destaca a importância do galardão ao chamá-lo de “Meu galardão” (não é algo que receberemos de amigos ou de anjos, mas da mão do próprio Senhor), a individualidade desta avaliação (“para dar a cada um”), e sua imparcialidade (“segundo a sua obra”).


A terceira referência traz a bendita confirmação da Sua vinda: “Certamente cedo venho! Amém. Ora vem, Senhor Jesus” (22:20). O capítulo (e o livro) terminam com esta promessa bendita pronunciada, com toda convicção, pela boca do próprio Cordeiro: “Certamente cedo venho”!


Que promessa bendita para nos animar do início de mais uma semana! O Senhor vem! Certamente! E será em breve.


“Amém! Ora vem, Senhor Jesus”



https://youtu.be/ZZsBjijdDMo




Vão em vão? Não! Meditações 526


“Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr” (Ec 1:7).


No alto de uma montanha, uma pequena nascente de água espia por entre a mata e desce escorregando pelas rochas. Com alegria e determinação, como quem sabe bem aonde quer chegar, ela segue seu caminho.


Até aonde? Até ao mar; depois, carregada pelas nuvens e caindo na chuva, a água volta para seu reservatório subterrâneo, ansiosa por espiar novamente por entre a mata e correr, outra vez, para o mar.


É o ciclo das águas (tão semelhante ao ciclo da vida!). E o cético pergunta: “Pra que? É tudo em vão! Os rios vão para o mar — mas o mar nunca se enche! O ciclo se repete continuamente, sem mudança e sem progresso! É tudo em vão!”


A pequena nascente do alto da montanha, porém, responde: “Não seja tolo! Siga o meu caminho daqui até o mar, e repare como tudo é mais verde por onde eu passo! Os homens observam, de longe, a faixa verde cheia de vida que abraça as minhas margens, e mesmo sem me ver, sabem que estou passando por ali! Eu vou e volto, mas não em vão — levo saúde, refrigério e vida por onde passo! Ora mais rápido, ora mais lento, estou sempre em movimento — mas nunca é em vão! Meu ciclo é minha vida!”


E nós? Podemos passar pela vida dos outros de forma mais lenta ou mais rápida — mas permita Deus que nunca seja em vão! Que não sejamos como um rio poluído e fedorento, mas como a água cristalina da montanha, trazendo refrigério e bênção por onde passamos.


“Folgo, porém, com a vinda de Estéfanas, de Fortunato e de Acaico; porque estes … recrearam o meu espírito e o vosso. Reconhecei, pois, aos tais” (I Co 16:17-18).




Juízo ou misericórdia? Meditações 527


I Reis cap. 14 conta a triste história da morte prematura de Abias, filho de Jeroboão. Numa dispensação em que “longos dias” na Terra era um sinal claro de aprovação divina (Êx 20:12, etc.), Abias, morto na infância e antes de poder assentar-se no trono do seu pai, parece ter sido alvo da justiça de Deus.


Mas a mensagem de Deus pelo profeta mostra que a morte prematura dele não foi um ato de justiça divina, mas sim de misericórdia e graça! O profeta disse para a mãe de Abias: “Tu, pois, levanta-te, e vai para tua casa; entrando os teus pé na cidade, o menino morrerá. E todo o Israel o pranteará e o sepultará, porque de Jeroboão só este entrará em sepultura, porquanto se achou nele coisa boa para com o Senhor Deus de Israel” (I Rs 14:12-13). Ele não morreu por ser o pior na família de Jeroboão, mas por ser o único com alguma “coisa boa”!


C. Lacey (Comentário Ritchie de I Reis) escreve: “Embora sua morte precoce pode parecer um final cruel e prematuro para um jovem que prometia tanto, foi a graça e misericórdia de Deus que o poupou do fim indigno que aguardava o restante da casa de Jeroboão”.


Quando lembramos que a morte, para o salvo, significa a entrada no lar celestial, entendemos que os únicos prejudicados por uma morte prematura (no caso do salvo, obviamente) são os que ficam! A maioria que lê estas linhas (talvez todos) sabe a dor de perder um ente querido — dor intensa e profunda! Mas a dor é só de quem fica — aquele que partiu para estar com Cristo está “incomparavelmente melhor” (Fp 1:23).


Lembrando de servos e servas que partiram muito cedo, convém lembrar de Abias. Pode ser que Deus os levou para dar-lhes o merecido descanso, e para despertar a nós que ficamos!


“E ouvi uma voz do Céu, que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os seguem” (Ap 14:13).




Tu não os desamparaste — Meditações 528


A bela oração dos levitas registrada em Neemias cap. 9 destaca a misericórdia fiel e constante de Deus. Começamos lendo das muitas bênçãos que Deus deu a Israel (vs. 7-15), e como o povo reagiu com desprezo a estas bênçãos (“porém eles e nossos pais houveram-se soberbamente … e recusaram servir-Te”; vs. 16-17).


Diante de tal ingratidão, Deus teria todo direito de abandoná-los para sempre; mas lemos: “… porém Tu, ó Deus perdoador … Tu não os desamparaste; ainda mesmo quando eles fizeram para si um bezerro de fundição, e disseram: Este é o teu Deus, que te tirou do Egito; e cometeram grandes blasfêmias” (vs. 17-18). Como é impressionante a profundidade da Sua misericórdia!


Vemos as provas desta misericórdia pelo fato que, mesmo julgando e disciplinando o povo em várias ocasiões, Deus nunca retirou certas bênçãos básicas deles. Durante os quarenta anos no deserto Ele não os abandonou (“Todavia Tu, pela multidão das Tuas misericórdias, não os deixaste no deserto”), nunca os privou de direção (“a coluna de nuvem nunca se apartou deles de dia, para os guiar  pelo caminho”), proteção (“nem a coluna de fogo de noite, para lhes iluminar”), instrução (“e deste o Teu bom espírito, para os ensinar”), alimento (“e o Teu maná não retiraste da sua boca”), refrigério (“e água lhes deste na sua sede”) e provisões materiais (“De tal modo os sustentaste quarenta anos no deserto; nada lhes faltou; as suas roupas não se envelheceram, e os seus pés não se incharam”; Ne 9:19-21).


É impressionante pensar nesta fidelidade diária de Deus, nunca agindo de forma contrária às Suas promessas. Pense no maná: apesar de todas as suas muitas rebeldias, o maná nunca deixou de estar toda manhã sob o orvalho. Nos dias horríveis quando o povo se prostituía diante do bezerro de ouro, por exemplo, alguns israelitas piedosos podem ter acordado de manhã pensando: “Nós ofendemos terrivelmente a Deus! Cuspimos no Seu rosto! Certamente Ele não nos dará maná hoje!” Mas Ele nunca retirou o Seu maná da boca deles — nem um dia sequer!


Este é o nosso Deus. Quando erramos, Ele nos corrigirá, mas nunca nos desamparará. “Se formos infiéis, Ele permanece fiel” (II Tm 2:13).


Enquanto louvamos a Deus pela Sua fidelidade em nunca nos desamparar, devemos também, com corações reverentes, meditar nas palavras profundas que ecoaram nas trevas do Calvário: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?”


“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos!” (Rm 11:33).




Quanto vale? Meditações 529


Trinta moedas de prata! Foi este o preço com que os homens avaliaram o Senhor. Vários séculos antes, Zacarias havia profetizado sobre este acontecimento. Jeová disse: “Se parece bem aos vossos olhos, dai‑Me o que Me é devido, e, se não, deixai‑o. E pesaram o Meu salário, trinta moedas de prata. O Senhor me disse: Arroja isso ao oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles” (Zc 11:12‑13).


Vários detalhes desta profecia se cumpriram na traição do Senhor. O preço, as moedas arrojadas, o oleiro (Mt 27:5-7). Mas o mais solene são as palavras de Jeová: “…esse belo preço em que fui avaliado por eles.” Nestas palavras vemos a incredulidade e dureza de coração dos judeus, avaliando o seu Rei em apenas trinta moedas!


Antes de criticá‑los, porém, precisamos examinar nossas consciências diante do Senhor. Como tem sido a nossa avaliação dEle? É claro que confessamos tê‑Lo como Senhor das nossas vidas, a quem devemos tudo o que temos, e tudo o que somos. Mas será que vivemos de acordo com isto que confessamos?


Deus sonda os nossos corações. Ele sabe quão precioso Cristo é aos meus olhos e na minha vida; Ele sabe em quanto eu avalio o Seu Filho Unigênito. Que Ele nos ajude a tirarmos os olhos das distrações que existem ao redor, e maravilharmo‑nos com as riquezas insondáveis de Cristo, “em quem estão escondidos todos os tesouros” (Cl 2:3).


Nosso irmão Terry escreveu, muitos anos atrás:


Se os mundos fossem todos meus,

Fariam mui pobre oblação;

Ó estupendo amor de Deus!

Dou vida, tudo, em gratidão.




A brasa solitária — Meditações 530


Num país distante, onde o frio faz com que todos tenham lareiras em casa, ocorreu um fato interessante.


Um membro de uma igreja local (podemos chamá-lo de “irmão F”) começou a faltar às reuniões. Numa noite fria, outro irmão resolveu visitá-lo. Deduzindo logo a razão pela qual estava sendo visitado, o irmão F recebeu sua visita cordialmente, mas com certo constrangimento, e ambos sentaram-se, em silêncio, diante da lareira onde ardia um belo fogo.


Depois de alguns minutos contemplando as chamas saltando em torno do carvão na lareira, a visita inclinou-se e, com um espeto de ferro (acessório comum nas lareiras), empurrou uma brasa para um lado, longe do fogo. Depois tornou a reclinar-se na sua cadeira.


O irmão F observava atenciosamente, curioso. A brasa foi esfriando até que, com um último lampejo, apagou-se por completo. Era só um pedaço de carvão.


Ainda em silêncio, a visita se levantou e colocou o carvão frio de volta no centro do fogo. E em pouco tempo era uma brasa que ardia e brilhava, aquecendo e iluminando como as outras.


O irmão F, após observar longamente a lareira, pensativo, virou-se para a visita, dizendo: “Irmão! Obrigado pela visita e pela exortação. Amanhã eu estarei na reunião!”


——————————————

Obviamente, esta parábola moderna simplifica muito a questão. Mas apesar de muitas outras coisas que podem estar presentes numa situação como esta (detalhes, mágoas, ressentimentos, fraqueza e depressão), permanece verdade que cada um de nós precisa da comunhão com nossos irmãos e irmãos. Quem continua reunindo espera, ansioso, que eu volte, sentindo falta do calor que eu trazia às reuniões da igreja local.


Que Deus ajude todos nós a recebermos a exortação das Escrituras: “E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai  aproximando aquele dia … Porque necessitais de perseverança, para que, depois de haverdes feito a  vontade de Deus, possais alcançar a promessa. Porque ainda um pouquinho de tempo, e o que há de vir virá, e não tardará … Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados, e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja não se desvie inteiramente, antes seja sarado … tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma  raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem … Permaneça o amor fraternal” (Hb 10:24-25, 36-37; 12:12-15; 13:1).



Matemática divina — Meditações 531


Responda rápido: qual vale mais: R$ 0,10 ou R$ 200,00? Bem, depende!


Para efetuar qualquer negócio aqui no mundo, vinte centavos não valem quase nada. A Bíblia mostra-nos, porém, que em determinadas circunstâncias as regras se invertem!


No Templo, os ricos depositavam grandes quantias na arca do tesouro. Uma pobre viúva depositou dois quadrantes (Mc 12:42). Um quadrante era a menor moeda existente naquele tempo. Quem depositou mais? Contrariando todas as regras de matemática e de economia, o Senhor Jesus Cristo declarou: “Em verdade vos digo que esta pobre viúva depositou mais do que todos”.


É isto mesmo! O Senhor não olhou para aquilo que foi ofertado, mas para aquilo que foi guardado (Mc 12:44). Os ricos davam muito, mas guardavam muito mais para si; a viúva deu pouco, mas não guardou nada!


Eis a matemática do Criador do Universo! Seu livro nos ensina que:


• é melhor perder uma discussão do que perder a comunhão com Deus e com seu irmão;


• é melhor perder seu orgulho do que seu auto-controle;


• é lucro perder dinheiro para não perder a eficácia do seu testemunho perante o mundo!


Aprendamos hoje a matemática divina.



Títulos finais — Meditações 532


Na conclusão do Apocalipse (22:6-21), encontramos diversos títulos dados ao Senhor Jesus Cristo.


No v. 13 há três que já examinamos nestes estudos (veja a Meditação 244): “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, o Primeiro e o Derradeiro”. O primeiro deles ocorre também em 1:8, 11 e 21:6; “o Princípio e o Fim” encontramos também em 1:8 e 21:6, e “o Primeiro e o Último” em 1:11, 17 e 2:8. Todos são característicos do Apocalipse, e ocorrem juntos apenas aqui em 22:13.


Lembrando que Alfa é a primeira letra do alfabeto grego, e Ômega a última, percebemos que todos estes títulos trazem à nossa mente a ideia de algo completo, algo eterno; todos falam de algo que abrange tudo naquela esfera.


O Senhor Jesus Cristo é eterno. Quando a Bíblia O chama de Alfa e o Ômega ela nos lembra que Ele é, na Sua revelação, tudo que o Pai deseja ensinar e revelar. O título “o Princípio e o Fim” indica que, nas Suas obras, Ele fez tudo que o Pai criou, enquanto “o Primeiro e o Último” afirma que Ele é, na Sua essência, tudo que o Pai é. Seja qual for a esfera que você contemplar, Cristo é completo — Ele é tudo! Na esfera do ensino, Ele é o Alfa e o Ômega. Na esfera da Criação, Ele é o Princípio e o Fim. E quanto à Sua existência, pessoa e caráter, Ele é o Primeiro e o Último. A eternidade será proveitosamente ocupada conhecendo melhor este grande Deus!


Em seguida, ouvimos este Deus dizer: “Eu, Jesus, enviei o Meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas” (v. 16). Temos aqui a repetição da verdade anunciada em 1:1 (agora associada ao nome humano do Senhor): as verdades deste livro vieram diretamente do Senhor Jesus.


No v. 8 João escreveu: “Eu, João …” Aqui temos palavras semelhantes, mas ao mesmo tempo tão diferentes: “Eu, Jesus …”


Somente aqui na Bíblia encontramos esta expressão tão maravilhosa, que deve ter trazido à memória de João preciosas lembranças: “Eu, Jesus!” Não “Senhor Jesus” (indicando sua autoridade), nem “Jesus Cristo” ou “Cristo Jesus” (ligando Seu nome humano com Seu título messiânico), mas simplesmente “Jesus”, o nome pelo qual os homens O conheceram. Em cinco passagens do Apocalipse encontramos este nome desta forma (14:12; 17:6; 19:10; 20:4; 22:16), mas apenas aqui precedido do pronome “eu”. No livro que apresenta vislumbres preciosos da glória e majestade do Cordeiro, vemos este Rei eterno identificando-Se com Belém, Nazaré, Jerusalém e o Calvário. O Cordeiro vitorioso é o mesmo Jesus que Israel rejeitou e crucificou, o mesmo que caminhou por esta Terra onde habitamos!


É sublime e glorioso lembrar que o Alfa e Ômega é Jesus — aquele que revela toda a sabedoria de Deus fez-Se uma criança e frequentou a escola comum em Nazaré! Aquele que é o Princípio e o Fim, que criou o Universo, veio trabalhar numa carpintaria! Aquele que é o Primeiro e o Último, existindo eternamente, submeteu-Se à passagem do tempo (nove meses no ventre de Maria, depois um bebê, uma criança…). Aquele que a Bíblia chama Alfa e Ômega diz de Si mesmo: “Eu, Jesus …”


Eis o glorioso mistério da encarnação! “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas fez a Si mesmo de nenhuma reputação, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2:5-11).



Provado pelos louvores — Meditações 533


“Como o crisol é para a prata, e o forno para o ouro, assim o homem é provado pelos louvores” (Pv 27:21).


Escrevendo sobre este versículo, Amy Carmichael disse: “Como você reage a um elogio? Você se sente envaidecido, ou humilhado? Você pensa: ‘Realmente, eu devo ser uma pessoa especial!’, ou você pensa: ‘Quão pouco esta pessoa sabe sobre mim!’? O louvor lhe torna relaxado no seu serviço, ou faz você ficar muito mais atento? Você guarda para você o elogio, ou o deposita aos pés do Senhor que lhe dá tudo que você tem? Quando Deus permite que você seja elogiado, o que sobra no crisol — ouro, ou pedregulhos sem valor?”


Poole apresenta os mesmos sentimentos em outras palavras: somos provados pelo “nosso comportamento diante dos elogios: ou andando humildemente e com modéstia, gratos a Deus e reconhecendo nossas limitações, como convém aos bons; ou andando ambiciosamente e com vaidade, atribuindo a nós a honra que deveria ser dada a Deus, como fazem os ímpios”.


Sigamos o exemplo de Paulo: “Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a Sua graça para comigo não foi vã; antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo” (I Co 15:10).



Na praia — Meditações 534


“Ao clarear da madrugada, estava Jesus na praia” (Jo 21:4, ARA).


Este versículo une duas figuras interessantes: a aurora e a praia.


Na escuridão da noite, o vigia aguarda, ansioso, a aurora. Os primeiros raios do Sol surgindo no horizonte são bem-vindos, anunciando a chegada de um novo dia — a noite está findando!


Para quem está em alto mar, a praia representa o destino seguro, o porto de chegada. A viagem chega ao fim; o confinamento no navio se encerra, e a terra firme (talvez ainda desconhecida) se oferece ao explorador!


Unindo as duas figuras, que quadro precioso! Sete discípulos haviam passado a noite inteira pescando, mas “naquela noite nada apanharam”. Cansados, frustrados, com fome, finalmente chegam ao final da jornada. E o que encontram? Quando a noite termina e a madrugada clareia; quando já avistam a praia; eis que “estava Jesus na praia”!


Eles não pescaram nada, mas Ele tinha brasas, peixe, pão (v. 9), e provisão em abundância (v. 6-8). Tudo acabou bem, pois “ao clarear da madrugada, estava Jesus na praia”. Não precisavam de nada mais!


A noite que você enfrenta hoje, passará. O mar tempestuoso tem uma praia. E quando clarear a madrugada, seus olhos verão o seu Senhor em pé na praia. Ele acompanha você hoje na sua tribulação, e lhe levará seguro ao destino eterno.


“Ao clarear da madrugada, estará Jesus na praia”. 




Cuidado! Meditações 535


Tiago ensina algo que pode parecer estranho à primeira vista: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo” (Tg 3:1). A palavra traduzida “mestres” é didaskaloi, da raiz de onde derivamos nossa palavra “didática” — quer dizer, literalmente, “professor”, “ensinador”. Tiago está nos lembrando que quem ensina será cobrado pelo Senhor (“receberemos mais duro juízo”).


Por quê? Uma razão está relacionada com quem estamos representando, e mostra a diferença entre orar e pregar. Quem ora numa reunião pública está falando com Deus representando a igreja — ele fala em nome da igreja toda (assim deveriam ser as orações públicas nas igrejas locais). Mas quem se levanta para ensinar está falando com a igreja representando a Deus — isto é, falando em nome do Senhor! 


Quão solene é isto! Se me levanto, em nome da igreja, e não falo o que a igreja falaria, posso ser cobrado pelos meus irmãos; mas se me levanto em nome do Senhor, e uso esta posição para falar aquilo que Ele não me mandou falar, Ele precisará interferir.


Por isso devemos orar sempre a Deus para guiar um irmão quando se levanta para pregar. Não se trata só do proveito pessoal que eu receberei da pregação — é muito mais do que isso! E por isso todo pregador deve sempre ocupar o púlpito com temor e tremor!


“Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus” (I Pe 4:11).



A obra do Senhor — Meditações 536


Duas vezes apenas no NT encontramos a expressão “a obra do Senhor”. Ambas as referências estão em I Coríntios, separadas por apenas nove versículos. Temos o exemplo de Timóteo e Paulo (“E, se Timóteo for, vede que esteja sem temor convosco; porque trabalha na obra do Senhor, como eu também”; I Co 16:10), e uma exortação aos coríntios (“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor”; I Co 15:58).


O que é “a obra do Senhor”?


Repare que não é “obra para o Senhor”, mas “obra do Senhor” — indica uma obra que pertence a Ele, e na qual Ele  nos permite participar (o artigo definido é importante!). Não inclui tudo que o homem faz para Deus, mas apenas aquilo que ele faz sob a orientação direta do Senhor. Muita coisa é feita em nome do Senhor que não pode ser chamada de “obra do Senhor” (convém pensar bem nisto).


A obra do Senhor, portanto, não é o que eu faço para Ele, mas é o projeto dEle — no qual Ele permite que eu faça alguma coisa. Que privilégio! Que sejamos “firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor”, sabendo que o Senhor recompensa quem deseja participar da Sua obra!


Pouco tempo, e tanto a fazer!

Eis os campos — ó, quem vai colher?

Minha vida, Senhor, Te darei,

E o pouco que posso, farei!


Viverei uma vez;

Não terei outra chance aqui!

Viverei uma vez;

Quero dar esta vida pra Ti !


(Hino completo: https://youtu.be/6cuDmiw7QJ8)



Brotando — Meditações 537


Três semanas atrás, passei em frente a uma área devastada pelo fogo perto de São Simão. Toda a margem da rodovia estava preta. Onde antes havia um pequeno bosque, agora só haviam árvores queimadas, parecendo pedaços de carvão em pé. Difícil imaginar uma cena mais triste do que aquela!


Hoje passei novamente no mesmo local. As árvores continuam com o tronco preto como carvão — mas em muitas delas já se vêem folhas verdes na ponta dos galhos secos, e algumas árvores já estão cobertas de verde! Quase não choveu nestes dias, mas mesmo assim a natureza (que Deus criou e sustenta) trouxe vida da morte!


Jó entendeu isto: “Porque há esperança para a árvore que, se for cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus renovos. Se envelhecer na terra a sua raiz, e o seu tronco morrer no pó, ao cheiro das águas brotará, e dará ramos como uma planta.”


Pena que ele não parou aí, mas continuou, manifestando a sua ignorância da natureza humana ao dizer: “Porém, morto o homem, é consumido; sim, rendendo o homem o espírito, então onde está ele?” (Jó 14:7-10).


Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, responde a pergunta pessimista de Jó: “Semeia-se o corpo em  corrupção; ressuscitará em incorrupção; semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória; semeia-se em fraqueza,  ressuscitará com vigor; semeia-se corpo natural, ressuscitará corpo espiritual … E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a  imagem do celestial … Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade,  e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e  isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? … Graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (I Co 15:42-57).


Se a paisagem ao teu redor (literalmente, ou espiritualmente) parece seca, morta e sem esperança, não desanime. Deus, que faz brotar flores no deserto queimado pelo fogo, trará alegria e bênção à sua vida — aqui, ou na presença eterna dEle mesmo!


 “O deserto e o lugar solitário se alegrarão disto; e o ermo exultará e  florescerá como a rosa … Fortalecei as mãos fracas, e firmai os joelhos trementes. Dizei aos turbados de coração: Sede fortes, não temais; eis que o vosso Deus virá com vingança, com recompensa de Deus; Ele virá e vos salvará. Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão. Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará; porque águas arrebentarão no deserto, e ribeiros no ermo. E a terra seca se tornará em lagos, e a terra sedenta em mananciais de águas” (Is 35:1-7).


Ele permitiu o fogo (por alguma razão); Ele fará a árvore queimada brotar novamente! Confia nEle!



Gaiola — Meditações 538


Criado em cativeiro, o pequeno pássaro só conhecia a vida na gaiola. Por isso, quando o garotinho abriu, lentamente, a porta da gaiola e se afastou, ele ficou apenas olhando. A porta aberta era uma tentação — mas enfrentar o desconhecido não é fácil! Saberia ele voar, como já virá tantos pássaros voando? E se voasse, voaria para onde? Haveria alimento lá fora, neste grande “Ar Livre”? A gaiola aberta assustava a pequena alma insegura!


Contraste isto com o que Hugo escreveu sobre Marius em Les Misérables. Durante as muitas aflições pelas quais este jovem passou, ele “sentia-se encorajado e animado por uma força secreta que possuía dentro de si. A alma ajuda o corpo e, em certos momentos, o eleva; é o único pássaro que eleva a sua própria gaiola”.


Séculos antes dele, Salomão já desvendara este segredo: “A ansiedade no coração deixa o homem abatido, mas uma boa palavra o  alegra … Todos os dias do oprimido são maus, mas o coração alegre é um banquete contínuo … O coração alegre é como o bom remédio, mas o espírito abatido seca até os ossos … O espírito do homem susterá sua enfermidade, mas ao espírito abatido, quem o suportará?” (Pv 12;25; 15:15; 17:22; 18:14).


O ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, possui uma alma e um espírito (imateriais) que vivem num corpo material, como pássaros em gaiolas. Mas não devemos pensar que a alma está presa no corpo, e que o estado dela depende do estado dele! Não; ela controla e influencia aquilo que parece ser sua gaiola!


“Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também no nosso corpo” (II Co 4:8).



Últimas figuras (Ap 22:16) — Meditações 539


Domingo passado consideramos alguns dos títulos finais do Senhor Jesus em Apocalipse (22:13 e 16). No final do capítulo temos a última promessa e o último título neste livro, mas antes disto, o v. 16 menciona as duas últimas figuras que a Bíblia apresenta dEle. Nenhuma delas é nova — ambas são preciosas: “Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã”.


“Raiz e geração de Davi” (que já foi usado em 5:5) parece um paradoxo, pois raiz é a fonte, o começo; geração é o fruto, o fim. Como é possível que a mesma pessoa seja tanto a raiz quanto a geração de outro? É verdade que “raiz”, simbolicamente, pode indicar um broto, uma descendência, e poderíamos ver em “raiz e geração” duas formas de dizer que o Senhor viria de Davi. Mas quando olhamos para o que o VT profetizou, e quando pensamos na eternidade do Alfa e Ômega, o Princípio e o Fim, o Primeiro e o Último, veremos que há muito mais incluído nesta figura!


Muitas profecias diziam que o Rei justo e perfeito que trará paz e justiça a este mudo conturbado seria descendente de Davi (por exemplo, Is 11:1; Jr 23:5; II Sm 7:12-16). Mas o VT também revelava outro detalhe sobre o Messias prometido: além de ser descendente de Davi, Ele seria também seu Senhor! Davi escreveu: “Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-Te à Minha mão direita” (Sl 110:1). Que mistério! O próprio Senhor Jesus usou estas palavras de Davi para confundir os judeus com a soberania eterna do Filho de Davi: “Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é seu filho?” (Mt 22:41-46).


A encarnação resolve este enigma. A Criança que nasceria da linhagem de Davi seria o “Pai da Eternidade” (Is 9:6), Deus manifesto em carne. Aquele que “nasceu da descendência de Davi segundo a carne foi declarado Filho de Deus em poder” (Rm 1:3-4). O Criador e Senhor de Davi, sua raiz, fez-Se, voluntariamente, a geração de Davi para morrer por nós!


Estrela da manhã


Já consideramos esta figura, resumidamente, na carta à igreja em Tiatira. Sendo a última figura aplicada ao Senhor Jesus Cristo em toda a Bíblia, convém meditar um pouco mais nela.


Aquilo que os homens chamam de “estrela da manhã” (ou “estrela d’alva”) é, na realidade, o planeta Vênus, visível alguns meses por ano ao pôr do Sol; em outra época do ano, aparece logo antes do Sol nascer. A olho nu parece uma estrela, mas seu brilho supera, em muito, o brilho de qualquer estrela visível à noite. É impossível que ela passe despercebida — quando aparece no Céu, ela sempre se destaca.


Quando o Senhor diz: “Eu sou a resplandecente estrela da manhã”, Ele quer nos fazer lembrar deste brilho intenso, maior do que o de qualquer outra estrela, que aparece no horizonte um pouco antes do Sol raiar, indicando que “a noite termina e o dia já vem”. Poucos a observam, pois a maioria ainda dorme — mas quem vê a estrela da manhã surgir no Céu sabe que logo o Sol nascerá.


Esta figura forma um par (e deve ser contrastada) com aquela usada por Malaquias, quando ele diz: “nascerá o Sol da justiça” (Ml 4:2), que fala do Senhor vindo em glória à Terra para tratar com Israel no final da Tribulação. Cristo como a Estrela da manhã nos lembra da Sua vinda para a Igreja no Arrebatamento; Cristo como o Sol da justiça nos lembra da Sua vinda até a Terra. Considere:


i) A estrela da manhã aparece no Céu antes do nascimento do Sol, quando se aproxima a hora mais escura da noite (não literalmente, mas simbolicamente, pela longa duração da noite). Assim, o Arrebatamento acontecerá antes da Tribulação e antes da Vinda.


ii) A estrela da manhã só é vista por quem acorda cedo, enquanto o Sol desperta os dorminhocos. Assim o Senhor não será visto pelo mundo no Arrebatamento, mas “todo olho O verá” na Sua Vinda;


iii) O VT trata especificamente da esperança de Israel, enquanto o NT apresenta a esperança da Igreja; por isso a última figura de Cristo apresentada no VT (Sol da justiça) fala da Sua Vinda, enquanto a figura que encerra o NT fala do Arrebatamento da Igreja.


Como foi dito acima, esta é a última figura de Cristo que encontramos na Bíblia. Quanto consolo e esperança ela nos traz! Ela nos lembra que, antes de revelar-Se ao mundo como o Sol da Justiça, em glória assustadora e majestosa, Ele irá revelar-Se para a Igreja como a resplandecente Estrela da manhã. Para o mundo, esta revelação passará quase despercebida — mas nós veremos o Senhor nos ares, vindo nos levar para a casa do Pai, livrando-nos da Tribulação! Ah, que graça! Que glória!


“Amém! Ora vem, Senhor Jesus!” (22:20).



© 2021 W. J. Watterson


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Dois detalhes sobre Isaías 53

Isaías 53 contém o quarto Cântico do Servo (que inclui os últimos três versículos do cap. 52). Qual seria o centro deste Cântico?