Meditações na quarentena (2020/21) enviadas diariamente aos irmãos e irmãs da igreja local em Pirassununga para nosso ânimo mútuo (arquivadas neste blog).
Primeiro eu … Meditações 562
Vivemos numa sociedade egoísta, que ensina cada um a cuidar, em primeiro lugar, de si mesmo. “Ame-se! Você é importante! Dê atenção a você mesmo!”
Mas quando voltamos para a Bíblia, vemos uma mensagem bem diferente.
Temos o ensino do Senhor: “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-Me” (Mt 16:24; Mc 8:34; Lc 9:23).
Temos a exortação do Espírito Santo: “Cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros” (Fp 2:3-4).
Temos o exemplo de Paulo: “Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo” (I Co 15:9).
O que dizer diante disto? Será que Paulo tinha algum problema de autoestima? Será que Deus quer servos inseguros e tímidos, para humilhá-los?
Não; claro que não. A questão é que há uma coragem que nasce da fraqueza; uma confiança que só o contrito tem; uma ousadia que vem de confiar, não em si mesmo, mas em Deus! Quem olha para dentro de si mesmo pode sentir-se melhor do que todos os seus semelhantes, e ainda não será grande coisa — mas quem recusa confiar em si mesmo por sentir a sua fraqueza, e clama a Deus por misericórdia, sente-se invencível nEle!
É a velha luta entre a sabedoria humana (que busca tirar o melhor de nós mesmos) e a verdadeira sabedoria (“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria”). Negar-se a si mesmo por amor ao Senhor, e servir ao próximo (criado à imagem e semelhança de Deus), é o segredo para descobrir todo seu potencial!
“Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica … Mas a sabedoria que do alto vem é primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia” (Tg 3:12-17).
Único — Meditações 563
Cada ser humano é uma criação especial e única de Deus — já pensou nisto? Davi disse: “Pois formaste o meu interior; cobriste-me no ventre de minha mãe. Eu Te louvarei, porque de um modo assombroso, e tão maravilhoso fui feito; maravilhosas são as Tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não Te foram encobertos, quando no oculto fui feito … Os Teus olhos viram o meu corpo ainda informe” (Sl 139:13-16).
Davi entendeu que Deus criou os mecanismos biológicos tão impressionantes que permitem o desenvolvimento da vida dentro do ventre da mãe, mas isto não quer dizer que Ele abre mão do Seu direito de determinar, pessoalmente, as características individuais de Davi, e de todo novo ser gerado. Enquanto a personalidade (“meu interior) e o corpo (“meus ossos”) de Davi eram formados, Deus observava e coordenava tudo.
F. W. Boreham (“The drums of dawn”) escreveu: “A personalidade única que você tem é um dos mais preciosos e sagrados dons de Deus para a humanidade. Ela é absolutamente única. Até um cometa retorna depois de alguns séculos; mas você [passa pela Terra] apenas um vez em toda a eternidade. Depois que Deus cria uma pessoa, Ele quebra o molde. Ele nunca faz cópias.”
Ao contemplar esta enorme variedade de seres únicos, ficamos impressionados com o poder de Deus. Lamentamos, é verdade, que o pecado corrompe cada uma destas obras-primas da criação divina (até ao extremo de levar a criatura a reclamar do Criador!) — por outro lado, louvamos a Deus ao lembrar que Ele, em graça, providenciou um meio de salvação do pecado para “todo aquele que quiser”. Por meio da redenção, aquele que “está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (II Co 5:17), e pode dizer: “Porque somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras” (Ef 2:10).
O salvo exclama: “Fui criado duas vezes por Deus! Uma, no ventre da minha mãe, quando Deus escolheu minhas características físicas e minha personalidade — outra, no dia em que cri no Senhor Jesus, quando Deus me deu uma nova natureza, capaz de lutar contra minha carne e, pelo poder do Espírito Santo, atingir todo o potencial para o qual Deus me criou!”
Que possamos reconhecer o privilégio de sermos “feitura Sua”, e viver unicamente para a honra e glória dEle!
“Eu Te louvarei, porque de um modo assombroso,
E tão maravilhoso, fui feito;
Maravilhosas são as Tuas obras,
E a minha alma o sabe muito bem.”
Único (b) — Meditações 564
Ontem pensamos sobre o caráter único de cada ser humano, uma criação especial de Deus. Já pensou no valor que isto confere a uma alma humana — qualquer uma?
Em dias quando parece que a vida de um animal vale mais do que a vida humana; quando, em nome dos direitos humanos, autoriza-se o assassinato de bebês no ventre da sua mãe (o lugar que deveria ser o mais seguro para um bebê!) — em dias assim, devemos lembrar que Deus valoriza cada vida humana a ponto de afirmar que Ele não tem prazer na morte do ímpio (Ez 33:11). “Ímpio”, neste versículo, é rasha no hebraico; culpado; criminoso; bandido. O ateu, que pensa que todos viemos do nada, acredita que “bandido bom é bandido morto” — mas Deus não tem prazer na morte do bandido!
Existe, sim, a necessidade de justiça. Mas quando, após o Dilúvio, Deus instituiu a pena de morte, Ele realçou também o valor da vida humana: “Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a Sua imagem” (Gn 9:6).
Não estou preocupado em como os governos humanos se posicionam diante da pena de morte — isto é entre eles e Deus. Mas eu, pessoalmente, gostaria de ter mais amor pelas almas perdidas, qualquer que seja o nível moral delas! Quando uma alma (mesmo de alguém que “desperdiçou os … bens com as meretrizes”; Lc 15:30) se arrepende, há alegria tripla: (1) no Céu, (2) diante dos anjos (não “nos anjos”), e (3) no coração do Pai (Lc 15:7, 10, 32).
Quando vemos almas moralmente apodrecendo no lamaçal do pecado e na imundícia da impiedade, nossa primeira reação talvez seja: “Destes afasta-te!” (II Tm 3:5); mas não deveria ser assim. Devemos, sim, fugir de todo comportamento depravado — mas, ao mesmo tempo, precisamos lembrar que estes pecadores são criação única de Deus, e que se um deles for salvo pela graça, haverá alegria e júbilo no Céu!
Ah, Senhor, ajuda-nos a achar o equilíbrio nesta questão!
Único (c) — Meditações 565
Ao pensar na singularidade de cada ser humano, percebemos a importância de cada um de nós viver com responsabilidade a vida que Deus nos deu, e fazê-la valer a pena. Também pensamos sobre a necessidade de valorizar cada vida humana, por mais perdida ou fraca que pareça ser. Uma terceira consequência da nossa criação especial é a necessidade de sermos fieis no casamento.
Mas o que uma coisa tem a ver com a outra? A resposta está em Malaquias cap. 2: “Não temos nós todos um mesmo Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que agimos aleivosamente cada um contra seu irmão, profanando a aliança de nossos pais? … Porque o Senhor foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira, e a mulher da tua aliança. E não fez Ele somente um, ainda que lhe sobrava o espírito? E por que somente um? Ele buscava uma descendência para Deus. Portanto guardai-vos em vosso espírito, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade. Porque o Senhor, o Deus de Israel, diz que odeia o repúdio” (Ml 2:10-16).
Abandonar seu cônjuge é agir aleivosamente contra alguém que Deus criou. Não só isto, mas é também ir contra o princípio de singularidade expresso na Criação. No início, “fez Ele somente um, ainda que lhe sobrava o espírito”. Ao invés de criar muitos homens e muitas mulheres, ele criou somente um — um homem, uma mulher, um casal. Não foi por falta de poder, percepção ou planejamento, pois ainda lhe sobrava o espírito. Se quisesse, Ele poderia ter criado muitos maridos para Eva, ou muitas esposas para Adão. Mas Ele escolheu fazer somente uma mulher para um homem, e uniu-os com a Sua bênção em um único casal, e assim “de um só sangue fez toda a geração dos homens” (At 17:26).
É carnal pensar que qualquer marido serve para qualquer esposa; é diabólico pensar que podemos trocar de cônjuge se cansarmos do atual. Desde o princípio, Deus estabeleceu o padrão: quando Deus cria uma pessoa para quem Ele planejou um casamento (alguns foram criados por Ele para permanecerem solteiros; Jr 16:2), Ele cria também uma outra pessoa, do sexo oposto, como um par perfeito para ela. O crente que reconhece isto manter-se-á fiel para com seu cônjuge.
“Portanto … ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade. Porque o Senhor, o Deus de Israel, diz que odeia o repúdio”
Desculpe-me — Meditações 566
Em The drums of dawn, F. W. Boreham narra uma visita imaginária à cidade na “terra longínqua” onde o filho pródigo “desperdiçou todos os seus bens, vivendo dissolutamente” (Lc 15:13), e descreve as mágoas e prejuízos que ele provavelmente deixou para trás quando retornou à casa do pai. O dono da estalagem local, com raiva, resumiu o sentimento de muitos naquela cidade ao dizer: “Será que ele pensa que o perdão do seu pai é todo o perdão que ele precisa?” Pessoas a quem o pródigo ficou devendo, e outras que ele tratou mal, são um lembrete de que o pecado, mesmo que seja em primeiro lugar uma ofensa contra Deus, afeta também nosso próximo!
Assim que Zaqueu creu, ele disse: “Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado” (Lc 19:8). Que bom ver esta preocupação dele com o prejuízo que ele poderia ter causado a outros, mesmo sem perceber!
Vivemos numa sociedade muito egoísta (as circunstâncias diferentes provocadas pela pandemia ressaltaram isto). Muitas decisões que tomamos no dia a dia talvez seriam diferentes se pensássemos mais no nosso próximo, e não só em nós mesmos!
Reconhecendo que somos propensos a errar, deveríamos ser ligeiros em pedir desculpas! Ou será que pensamos que o perdão do Pai é todo o perdão que precisamos?
O Senhor Jesus disse: “Se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão; e, depois, vem e apresenta a tua oferta” (Mt 5:24). Tiago confirma esta prioridade ao escrever: “Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis” (Tg 5:16).
Não é vergonha pedir desculpas por um erro, e fazer tudo ao meu alcance para corrigir o erro — vergonha é errar contra o próximo, e achar que o perdão do Pai é todo o perdão que preciso!
Os sofrimentos de Cristo (b) — Meditações 567
No domingo passado começamos a pensar sobre os sofrimentos de Cristo em I Pedro, e meditamos em 1:10-11. A próxima referência sobre isto ocorre mais perto do final do primeiro capítulo: “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” (I Pe 1:18-20).
Que afirmação abrangente! Usando como figura os cordeiros sacrificados no tempo do VT, aprendemos algumas coisas sobre a morte do Senhor Jesus:
• Seu valor — o texto contrasta “coisas corruptíveis, como prata e ouro”, com “o precioso sangue de Cristo”. O resultado dos sofrimentos de Cristo (Seu sangue) é muito mais valioso e precioso do que aquilo que o mundo mais valoriza (prata e ouro)!
• Sua pureza — o sangue derramado na cruz é como o sangue “de um cordeiro imaculado e incontaminado”. Cristo, no Seu caráter, é imaculado, e no Seu comportamento, incontaminado — Ele é perfeito. A Sua pureza confere ainda mais valor ao Seu sacrifício.
• Sua eficácia — como resultado da Sua morte, Cristo nos resgatou da nossa vã maneira de viver que por tradição recebemos de nossos pais. O pecado, transmitido de geração a geração, nos mantinha presos e escravizados, tornando-nos inúteis para Deus. Mas os sofrimentos de Cristo nos resgataram desta vida vã! Não foi apenas uma tentativa; não foi o pontapé inicial; foi uma obra perfeita, totalmente eficaz!
• Sua prova — os cordeiros da Páscoa precisavam ser separados no dia 10, e se nenhuma falha fosse encontrada depois de três dias completos, então seriam sacrificados no dia 14 (Êx 12:3-6). Assim o Senhor andou cerca de três anos e meio entre o povo, expondo-Se publicamente ao olhar crítico dos fariseus e saduceus, e ninguém podia acusá-lO de nada! Mas muito antes do dia 10, o pai judeu provavelmente já sabia qual cordeiro seria apresentado publicamente, e depois sacrificado. Assim também Cristo: muito antes de ser apresentado diante dos homens, Ele já havia sido escolhido por Deus — “em outro tempo foi conhecido [escolhido e separado] ainda antes da fundação do mundo”.
Tentamos, em vão, entender plenamente isto! Antes de criar o Universo, Deus já previu nossa ruína e perdição. Ele também sabia que somente um sacrifício perfeitamente perfeito poderia nos resgatar. E então, antes de criar-nos, Ele já deixou certo e combinado (escrevo com reverência) com Seu Filho unigênito que Ele seria o Salvador daquela raça de pessoas que ainda nem existia! Isto quer dizer que nunca houve um segundo sequer do Tempo em que a nossa salvação estivesse “em aberto”; o Sol nunca nasceu sobre um dia em que o nosso Salvador não era conhecido lá no Céu; a Lua jamais iluminou um noite em que Deus procurava alguém para ser nosso Redentor!
Desde a eternidade estava decidido que Ele viria a este mundo para nos comprar com sangue precioso. E, na hora certa, Ele veio “por amor de vós”, diz Pedro!
Que gloriosa redenção temos recebido! Louvemos ao Cordeiro: “Digno és … porque foste morto, e com o Teu sangue nos compraste para Deus de toda a tribo, e língua, e povo, e nação” (Ap 5:9).
Vida normal — Meditações 568
A vida “normal” não é tão normal assim — está repleta de importância eterna. Os eventos se encaixam num padrão comum de causa e efeito, mas interligando tudo existem os propósito de Deus, ocultos a nós. As escolhas humanas são de grande importância e tem profundas consequências, para o bem ou para o mal. (Uplook Magazine).
Quantos exemplos desta verdade temos na Bíblia! Um homem carregando um cântaro de água, sem saber que estava guiando dois discípulos até o lugar escolhido pelo Senhor (Lc 22:10); um soldado atirando uma flecha no meio de uma batalha, sem saber que aquela flecha iria cumprir a profecia do Senhor (I Rs 22:28, 34); um rei perdendo o sono sem saber que esta insônia resultaria na salvação de Mardoqueu e de da nação inteira dos judeus (Et 6:1).
Que vivamos hoje entendendo esta verdade. Todas as coisas — cada encontro “aleatório”; cada ação “rotineira”; cada sintoma físico “comum”; cada unha encravada, cada visita inesperada, cada pneu furado — “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito” (Rm 8:28).
A vida “normal” não é tão normal assim — está repleta de importância eterna.
Diga agora — Meditações 569
Duas vezes no livro dos Salmos encontramos a expressão “Diga agora Israel”. Ela funciona como um tipo de “bis”, conclamando Israel a repetir o que acabou de ser escrito.
No Samo 129, lemos:
“Muitas vezes me angustiaram desde a minha mocidade,
diga agora Israel;
muitas vezes me angustiaram desde a minha mocidade;
todavia não prevaleceram contra mim” (Sl 129:1-2).
A repetição da frase destaca o drama vivido pelo salmista: “Muitas vezes me angustiaram desde a minha mocidade!” As aflições e perseguições que sofreu foram muitas, mas ninguém prevaleceu contra ele — isto é, ninguém o derrotou. Ele saiu ferido, mas vitorioso!
Muitos dos salmos repetem esta verdade espiritual: o servo de Deus tem muitos inimigos, mas o Senhor nunca o abandona. O Senhor é fiel, e a Sua benignidade dura para sempre. E isto é reforçado de forma impressionante na outra ocorrência da expressão “diga agora Israel”, quando não só Israel, mas também a casa de Arão e todos que temem ao Senhor são convocados a repetir esta verdade preciosa:
“Louvai ao Senhor, porque Ele é bom,
porque a Sua benignidade dura para sempre.
Diga agora Israel
que a Sua benignidade dura para sempre.
Diga agora a casa de Arão
que a Sua benignidade dura para sempre.
Digam agora os que temem ao Senhor
que a Sua benignidade dura para sempre”
(Sl 118:1-4).
O princípio divino e eterno é, assim, amplamente repetido, de forma que todos possam entendê-lo perfeitamente: a benignidade do Senhor dura para sempre! Amém!
Pronomes — Meditações 570
Perdoem-me pelo título; poucos são os que se interessam por questões tão pequenas como pronomes. Mas fique tranquilo; esta meditação não será uma aula de gramática!
Só quero chamar a sua atenção para um fato interessante que encontramos em algumas passagens da Bíblia. O escritor inspirado começa falando sobre Deus (usando os pronomes na terceira pessoa, como “Seu”, “Sua”, “Ele”, etc); mas de repente, sem aviso ou justificativa, Ele passa a falar diretamente com Deus (e, portanto, passa a usar os pronomes na segunda pessoa: “Teu”, “Tua”, “Tu”, etc.).
Por quê? Não sei. Mas parece que esta mudança chama a nossa atenção para a experiência pessoal do escritor. É como se ele, inconscientemente, se identificasse tanto com seus comentários sobre Deus que ele passa a falar diretamente com Deus, sem perceber.
Obviamente, tudo isto ocorre sob a inspiração divina — mas, para nós, funciona como uma indicação da natureza pessoal e íntima do que é apresentado. Quando percebemos a mudança, pensamos: “Esta parte mexeu com os sentimentos do escritor!”
Veja dois exemplos:
Lamentações 3:22-23: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as Suas misericórdias não têm fim; novas são cada manhã; grande é Tua fidelidade.” Extasiado com as muitas misericórdias diárias de Deus, Jeremias parece esquecer que está falando com o povo, e louva ao Senhor: “Grande é a Tua fidelidade!”
Salmo 23: “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará … guia-me pelas veredas da justiça, por amor do Seu nome. Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque Tu está comigo; a Tua vara e o Teu cajado me consolam.” Davi nos transmite sua confiança inabalável em Deus, o Pastor que guia e protege sempre. Até no vale da sombra da morte? Sim, até lá — mas Davi, que passara pelo vale da sombra da morte algumas vezes, não se contenta em escrever: “Porque Ele está comigo …”, mas interrompe sua poesia para falar com Deus: “Senhor, Tu estás comigo!”
Na Meditação 34, imaginamos Davi recitando o Salmo 23 para seus súditos, descrevendo para eles o cuidado terno do Bom Pastor. Olhando bem nos olhos do povo, ele diria com voz firme e convicta: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, eu não temeria mal algum …” Uma breve pausa — então ele ergue os olhos ao Céu, e continua com voz reverente e agradecida: “… porque Tu estás comigo; a Tua vara e o Teu cajado me consolam!”
Na nossa leitura das Escrituras, estejamos sempre atentos a estas pequenas grandes variações.
Amigos de Cristo — Meditações 571
A palavra grega philos indica um amigo amado. É relacionada com phileo (“amor”), e é aplicada ao Senhor Jesus no NT em três contextos diferentes.
Em três passagens vemo-lO chamando Seus discípulos de “amigos”; em duas passagens lemos de como os homens O chamaram “amigo de publicanos e pecadores”; e uma última referência O mostra Se unindo aos discípulos e dizendo, acerca de Lázaro: “nosso amigo”!
Seus discípulos
Três vezes está registrado que o Senhor chamou Seus discípulos de “amigos”. Na ordem em que aparecem na Bíblia (que, neste caso, também é a ordem cronológica), estas três passagens nos transmitem:
• Um consolo precioso (Lc 12:4). Certa vez, quando milhares de pessoas se atropelavam para ouvir o Senhor Jesus (v. 1), lemos que Ele dirigiu-Se diretamente ao pequeno grupo dos discípulos, e transmitiu-lhes palavras de conforto e consolo. Como foi precioso para eles ouvir o Senhor dizer: “Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois”, e outras palavras semelhantes. Mas imagine o transbordar de alegria quando ouviram estas palavras: “E digo-vos, amigos Meus: Não temais …” Amigos! Amigos do Messias! Amigos do Rei! Que consolo para nós hoje saber que Ele nos chama “amigos Meus”!
• Uma condição necessária (Jo 15:14). Na primeira e na última destas três ocorrências que estamos considerando, o Senhor chama Seus discípulos de “amigos” — mas nesta referência central Ele revela a condição essencial para desfrutarmos deste relacionamento tão precioso: “Vós sereis Meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando.” Como diz o VT, “o segredo do Senhor é para aqueles que O temem” (Sl 25:14). Se não quisermos obedecê-lO, como poderemos esperar ter comunhão com Ele? Ele só será nosso Amigo se for também nosso Senhor.
• Uma comunicação completa (Jo 15:15). Para corrigir algum pensamento errado que o versículo anterior pudesse produzir, o Senhor imediatamente mostra que Seu senhorio sobre nós não é opressivo. Ele não é um Amigo que quer dominar e sufocar. Ele afirma: “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de Meu Pai vos tenho feito conhecer.” Que sublime! Um senhor apenas dá ordens aos seus servos, mas um amigo revela seu coração. O Senhor quer nossa obediência, sim — como o servo deve servir ao senhor — mas Ele nos trata como amigos, e não como servos! Ele não é um déspota que entrega uma lista de tarefas, e diz: “Faça isto! E depressa!” Não, irmãos, Ele age como amigo! Ele revela-nos o coração do Pai; Ele nos toma pela mão, e caminha conosco pelo caminho até o lar celestial!
Cativados por este grande amor para conosco, com respeito e muita reverência, sejamos submissos a este grande Senhor, que nos tem chamado amigos!
Amigos de Cristo (b) — Meditações 572
Continuando a pensar sobre as ocasiões quando a palavra “amigo” é aplicada ao nosso Senhor, pensemos hoje nos amigos do Filho do Homem. Em Mateus e em Lucas estão registradas as palavras do Senhor Jesus, em que Ele repete o veredito popular sobre Ele: “Veio o Filho do homem … e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores” (Mt 11:19; Lc 7:34).
O Filho de Deus chamado amigo dos publicanos e pecadores! Será que é isto mesmo?
“Não”, diz alguém; “Esta foi a acusação dos judeus contra Ele, não a Sua autodescrição! Ele, que é santo e puro, jamais poderia ser amigo de pecadores!”
Examinando com mais cuidado os contextos em Mateus e Lucas, porém, reconhecemos, maravilhados, que este título descreve perfeitamente nosso amado Salvador.
Veja primeiro Mateus: imediatamente após estas palavras, ele registra o descontentamento do Senhor com as cidades impenitentes, e Sua afirmação de que até a imunda Sodoma teria se arrependido se tivesse a oportunidade que elas tiveram. Lucas registra outro episódio: Simão, o fariseu orgulhoso, e uma mulher pecadora, mas arrependida. Ambos os trechos mostram que aquele que se arrepende (mesmo se for Sodoma; mesmo se for uma mulher com “muitos pecados”, Lc 7:47) será recebido por Ele. Como Ele disse em Mateus, no final daquele cap. 11: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei”.
Não resta dúvida alguma: o Senhor deixou claro que está disposto a receber, de braços abertos, qualquer pessoa — qualquer pessoa — que se arrependa dos seus pecados e queira ser amigo dEle. Visto que só se aproxima dEle, arrependido, aquele que reconhece que é pecador, vemos que é muito adequado e coerente que Ele seja chamado de amigo dos publicanos e pecadores.
Isto não quer dizer que Ele tolera ou aceita nosso pecado! Não; Ele sempre Se manteve distante de todas as práticas erradas e levianas dos homens, e nunca foi amigo do pecado — mas quando o pecador quer deixar seu pecado e aproximar-se dEle, nosso Senhor o aceita como amigo amado!
Se Ele fosse chamado de “amigo dos justos e dos bons”, ninguém aqui na Terra poderia se aproximar dEle. Mas graças a Deus que o Seu andar aqui na Terra demonstrou claramente a preciosidade deste título: “amigo dos publicanos e pecadores” — ou, em outras palavras, meu Amigo!
Acho que gosto tanto deste título porque ele me lembra que o Senhor veio buscar e salvar pecadores como eu!
Amigos de Cristo (c) — Meditações 573
Finalizando esta pequena tríade sobre as ocasiões quando a palavra “amigo” é aplicada ao nosso Senhor, lembramos da ocasião quando o Senhor Jesus diz aos Seus discípulos: “Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono” (Jo 11:11).
Há tanta coisa aqui para elevar nosso coração em louvor a Deus: a condescendência do Senhor em incluir os discípulos com Ele (não “Lázaro, Meu amigo”, mas “nosso amigo”); o afeto genuíno do Criador por uma família simples de Betânia; Seu poder sobre a morte, e muito mais. Mas pense um pouquinho hoje nesta expressão: “vou despertá-lo do sono”.
Aplicando estas palavras espiritualmente, nossos pensamentos correm até o momento do Arrebatamento, quando nossos entes-queridos que morreram em Cristo serão, carinhosamente, despertados do seu sono pelo Senhor Jesus mesmo!
Não que eles estejam, literalmente, dormindo. No instante em que deixaram o corpo pela morte, encontraram-se na presença do Senhor, numa condição muito melhor do que a nossa (Fp 1:23). Fecharam os olhos aqui na Terra, e ao abri-los novamente, viram a face bendita do Cordeiro! Estão na glória já, esperando nos encontrar novamente.
Mas estão, temporariamente, separados do corpo — e os que estão nesta condição, a Palavra de Deus descreve como “os que em Jesus dormem” (I Ts 4:13-18). Assim como o Senhor avisou os discípulos que estava indo despertar o amigo do sono, assim também está chegando o dia (quem sabe seja hoje!) quando o Senhor anunciará lá no Céu: “Chegou a hora! Vou lá despertar Meus amigos do sono, e trazê-los para casa! Trarei também com eles nossos outros amigos que estão vivos ainda, e todos estarão para sempre comigo!”
Será um dia glorioso. Como no dia em que Lázaro foi despertado do sono, muitos de nós estarão chorando e sofrendo pelas saudade dos que já dormem — mas quando aquele dia se cumprir, estaremos em paz e alegria eternas!
Tuas lutas talvez sejam muitas, e o dia talvez esteja escuro — mas regozija hoje nesta verdade gloriosa: teu Deus é teu Amigo!
Os sofrimentos de Cristo (c) — Meditações 574
Temos tentado acompanhar as muitas referências aos sofrimentos de Cristo na primeira epístola de Pedro. Nesta terceira meditação, encontramos estas palavras: “Chegando-vos para Ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa … Assim, para vós, os que credes, é preciosa, mas para os rebeldes, a pedra que os edificadores reprovaram, essa foi a principal da esquina, e uma pedra de tropeço e rocha de escândalo para aqueles que tropeçam na Palavra, sendo desobedientes” (2:4-8).
Nas construções dos tempos bíblicos, a “pedra principal da esquina” era uma pedra escolhida a dedo. Sendo a parte mais importante do alicerce, ela precisava ser perfeita, para dar firmeza e estabilidade ao prédio todo. Broadus, em seu comentário sobre Mateus 21:42, descreve uma pedra que ele viu numa pedreira a poucos quilômetros de Jerusalém, na estrada para Gibeão. Medindo cerca de dois metros e meio de comprimento por um metro de altura e quase o mesmo de espessura, a pedra, vista da estrada, parecia perfeita; mas ao rodeá-la, via-se uma grande falha no seu outro lado. Sendo assim imperfeita, foi rejeitada, e jogada de lado.
Esta é a figura por trás das palavras de Pedro: a principal Pedra da esquina da Casa de Deus, escolhida por Deus mesmo, foi rejeitada pelos homens. Aquele que Deus elegeu — aquele que é o próprio Deus manifesto em carne — foi desprezado pelas criaturas insignificantes e tolas que Ele amou!
Já parou para pensar em como Seu terno coração deve ter se sentido diante do desprezo e rejeição que Ele enfrentou, quase que diariamente? Geralmente concentramos nossas meditações nos sofrimentos físicos do Senhor, e esquecemos das feridas que Ele suportou no Seu íntimo.
Podemos até entender que pessoas de outras cidades achariam estranho ver um Carpinteiro falar com tanta autoridade — mas como entender que o povo que o viu crescer em Nazaré sentiu tanto ódio contra Ele? Na primeira vez que Ele pregou em Nazaré, “todos … encheram-se de ira. E, levantando-se, O expulsaram da cidade” (Lc 4:28-29). Diz a Escritura que “nem mesmo Seus irmãos criam nEle” (Jo 7:5). Como dói ser rejeitado por aqueles a quem você só fez bem!
Podemos até entender um demônio clamando: “Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo?” — mas é incompreensível que a multidão que viu o Senhor livrá-los daquele demônio terrível, também começou a pedir que Ele fosse embora da cidade deles! (Lc 8:28, 37)
Podemos até entender um governador romano cruel, que não O conhecia, condená-lO à morte — mas como deve ter doído no Seu íntimo ouvir o Seu povo clamando, “com grandes gritos”: “Não queremos que este reine sobre nós”; “Fora daqui com este … Crucifica-O! Crucifica-O” (Lc 19:14; 23:18, 21, 23).
Sabendo quão terrível é a dor amarga do desprezo e da rejeição, ficamos comovidos ao pensar neste exemplo extremo: a principal pedra — o Deus perfeito e santo — foi rejeitado por homens ímpios e pecadores! Mas para Deus, e para nós, diz Pedro, esta Pedra é preciosa!
Aquele que enche os Céus de luz disse: “O Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”! (Mt 8:20). Que possamos responder: “Mas em meu coração, ó Cristo, tenho sempre lugar para Ti!” (H. e C. 429).
Fé — Meditações 575
“O homem creu e partiu” (Jo 4:50).
Seria difícil achar um exemplo mais impressionante de fé simples e singela do que este. Este homem nobre havia viajado mais de 30 kms para encontrar com o Senhor, e voltou para a sua casa de mãos vazias — sem qualquer tipo de remédio, sem qualquer presente, até mesmo sem Cristo!
Mas ele tinha a palavra de Cristo ("teu filho vive"), e isto era o suficiente para ele!
Oh, que possamos ter uma fé como esta!
(W. McVey)
40 anos — Meditações 576
“E comeram os filhos de Israel maná quarenta anos, até que entraram em terra habitada” (Êx. 16:35)
Pense bem: durante todo o tempo que os filhos de Israel andaram no deserto (aproximadamente 14.600 dias) Deus lhes providenciou alimento. Qualquer que fosse a atitude deles, o Senhor dava-lhes o maná todo dia.
O maná estava ali na manhã em que os filhos de Israel disseram a Arão: “Levanta-te, faze-nos deuses” (Êx. 32:1). E quando madrugaram, no outro dia, para adorar o bezerro de ouro e prostituir-se perante ele, o maná estava lá!
Não estamos concordando com o pecado, ou tentando diminuir suas consequências. Estamos simplesmente mostrando a fidelidade do nosso Deus. A nossa infidelidade e o nosso pecado não alteram a fidelidade dEle (II Tm 2:13). Pertencemos a Ele, e Ele promete estar conosco todos os dias, até a consumação dos séculos.
L. J. Ondrejack
A perfeição da Bíblia — Meditações 577
“A Lei do Senhor é perfeita” (Sl 19:7).
A Bíblia é perfeita na sua fonte, pois provém do próprio Deus. “Nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (II Pe 1:20-21). É o único livro na face da terra que contém as próprias palavras de Deus, e não simplesmente aquilo que homens escreveram sobre Ele.
A Bíblia é perfeita na sua função, pois é “proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra“ (II Tm 3:16-17). Se queremos ser perfeitos, e perfeitamente capacitados para toda a boa obra, então é este Livro que precisamos conhecer.
A Bíblia é perfeita na sua firmeza, pois “a Palavra do Senhor permanece para sempre” (I Pe 1:25). O Senhor Jesus Cristo disse: “Os Céus e a Terra passarão, mas as Minhas palavras não hão de passar” (Mt 24:35). “Para sempre, ó Senhor, a Tua palavra permanece no Céu” (Sl 119:89).
A Lei do Senhor é perfeita; que possa ser, aos nossos corações, “mais desejável do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doce do que o mel e o licor dos favos” (Sl 19:10).
Palavras únicas — Meditações 578
O mundo já conheceu homens e mulheres que pronunciaram grandes discursos, mas as palavras mais importantes, sem dúvida alguma, vieram dos lábios do nosso Salvador. Até alguns guardas, que foram prendê-lO, tiveram que confessar, depois de ouvir as Suas palavras: “Jamais alguém falou como este Homem” (Jo 7:46).
Ele falou palavras de conforto — “Deixo–vos a paz, a Minha paz vos dou;” (Jo 14:27); de convite — “Vinde a Mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei” (Mt 11:28); de comando — “Ele repreendeu o vento, e disse ao mar: Cala-te, aquieta-te. E o vento se aquietou, e houve grande bonança.” (Mc 4:39); e de cautela— “acautelai-vos dos falsos profetas que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos” (Mt 7:15).
Mas não podemos esquecer da ocasião quando o Senhor permaneceu calado, e cumpriram-se as palavras proféticas de Isaías 53:7: “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a Sua boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha, muda perante os seus tosquiadores, Ele não abriu a Sua boca.” “E os principais dos sacerdotes o acusavam de muitas coisas. Tornou Pilatos a interrogá-lo: Nada respondes? Vê quantas acusações te fazem. Jesus, porém, não respondeu palavra alguma” (Mc 15:3-5).
E depois, no meio dos terríveis sofrimentos da cruz, Ele pronunciou palavras de carinho — “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23:34), e de conquista — “Está consumado” (Jo 19:30).
Realmente, “jamais alguém falou como este Homem” (Jo 7:46).
Enfadonha ocupação — Meditações 579
Certo homem sábio descreveu a vida como “esta enfadonha ocupação” — quanta eloquência em três palavras!
Este sábio escreveu que procurou se “informar com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do Céu”, e como resultado da sua pesquisa, não conseguiu achar proveito ou vantagem em nenhum estilo de vida. Tendo inteligência e dinheiro de sobra, ele experimentou de tudo que o mundo oferece, avaliou tudo, e não viu diferença entre o sábio ou o tolo, o rico ou o pobre, o justo ou o ímpio.
Ele descreveu uma situação muito triste: um pobre sábio que livrou uma cidade inteira com sua sabedoria, mas foi desprezado e esquecido — de que adianta então a sabedoria?
Ele viu que há justo que morre cedo, e ímpio que prolonga os seus dias na maldade — de que adianta então a justiça?
Ele viu que “o tempo e a oportunidade ocorrem a todos”, e que os homens (todos eles) se enlaçam no mau tempo como um peixe cai numa rede, sem perceber que a tempestade está prestes a cair — de que adianta então se precaver?
Ele usou sua enorme riqueza para desfrutar de tudo que o dinheiro pode comprar. Ele disse no seu coração: “Vem, eu te provarei com a alegria … Fiz para mim obras magníficas; edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas … amontoei também para mim prata e ouro … tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma”; mas ele concluiu: “… eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento” — de que adianta então o dinheiro?
Olhando tudo que existe debaixo do Sol, ele não consegui achar propósito ou finalidade em nada nesta vida — tudo parece uma inútil corrida atrás do vento, uma “enfadonha ocupação” que não resulta em nada. Se esta vida é tudo que existe — se não há uma eternidade à frente — então nada faz sentido! O conselho deste sábio é: desfrute da vida o melhor que puder, mas saiba que a vida não lhe dá nenhuma garantia. Rico, saudável e feliz hoje, talvez pobre, moribundo e aflito amanhã! Não há esperança; não há luz no fim do túnel; não há para onde correr!
Mas este sábio (você já sabe que é Salomão) finalizou seu estudo sobre a vida afirmando que esta visão pessimista e triste não é correta, porque esta vida não é um fim em si mesmo — há uma eternidade nos aguardando. Depois de expor toda a inutilidade e vaidade da vida, ele encerra seu livro (escrito por inspiração divina) com estas palavras: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: teme a Deus e guarda os Seus mandamentos; porque isto é dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até às que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más”.
Eis, em resumo, a mensagem do livro de Eclesiastes. Se esta vida fosse tudo que existe, então ela não seria nada! Não haveria justiça, nem garantias de sucesso, nem um segredo para ser feliz. Rico ou pobre, sábio ou tolo, forte ou fraco, tudo poderia acabar num instante — nada seria garantido!
Mas esta vida não é tudo — é apenas um pequeno exercício para nos preparar para a eternidade. “Esta enfadonha ocupação” é, para o salvo, um treinamento para uma eternidade com Deus. Muitas vezes é cansativa e enfadonha — mas ela passará, e dará lugar à eternidade!
Lembre: Deus há de trazer a juízo todas as coisas, e a vida não termina com a morte!
(Trechos de Eclesiastes citados acima: Ec 1:13; 9:14-15; 7:15; 8:14; 9:2-3; 9:11-12; 2:1-11; 12:13-14).
O fim do enfado — Meditações 580
Pensamos ontem resumidamente sobre Eclesiastes, que termina desta forma preciosa: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: teme a Deus e guarda os Seus mandamentos … porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até às que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más”. Mas o que quer dizer, exatamente, este “trazer a juízo”?
Em primeiro lugar, quer dizer que Deus, o Criador e Juiz, não permitirá que nem uma obra (boa ou má, pública ou escondida) fique sem ser tratada. Todo pecado precisa ser (e será) julgado e castigado.
Diz o salvo: “Então Deus vai me pedir explicações pelos muitos pecados que eu já cometi?” Não — se você nasceu de novo os seus pecados foram perdoados (“Vos vivificou juntamente com Ele, perdoando-vos todas as ofensas”; Cl 2:13, etc.). “E estes pecados, então, não serão tratados? São exceções à regra?” Não — Deus já tratou com eles, pois o Senhor Jesus levou estes pecados em Seu corpo sobre o madeiro (I Pe 2:24), e Deus nunca mais Se lembrará deles (Hb 10:17-18). Mas todo aquele que não crê no Senhor Jesus como Salvador terá que tratar com um Deus justo!
Em segundo lugar, porém, devemos lembrar do contexto de Eclesiastes, e perceber uma aplicação mais abrangente. Salomão destacou, no decorrer do livro, várias situações injustas e erradas, que consideramos ontem. Em resumo, diz Salomão, “há justos a quem sucede segundo as obras dos ímpios, e há ímpios a quem sucede segundo as obras dos justos” (8:14). Vemos este desequilíbrio em toda a História da humanidade: o sangue dos mártires, dos órfãos e dos oprimidos, começando com Abel e continuando até hoje, clama a Deus desde a terra (Gn 4:10) — e Salomão está nos lembrando que Deus não deixará nada disto passar em branco! Toda questão será tratada, todo mal será julgado, toda piedade será lembrada!
Eclesiastes não está apenas avisando do Juízo Final — é muito mais do que isto! Ele está nos lembrando que, quando esta vida vã passar e o Tempo não existir mais — quando Deus tiver julgado “os vivos e os mortos, na Sua vinda e no Seu reino (II Tm 4:1) — quando tudo estiver consumado, então ninguém poderá achar nem uma vírgula ou um til de injustiça para apresentar contra Deus! Tudo terá sido resolvido e tratado com perfeição, e a santidade de Deus preencherá todas as coisas. Haverá justiça e paz perfeitas, e “não se fará mal nem dano algum em todo o Meu santo monte, porque a Terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Is 11:9).
Paciência, irmãos; a vida é, realmente, uma “enfadonha ocupação”, mas glória e perfeição nos aguardam na presença de Deus!
Os sofrimentos de Cristo (d) — Meditações 581
Continuando nossas meditações sobre os sofrimentos de Cristo apresentados em I Pedro, chegamos ao quarto trecho: I Pedro 2:19-24. O trecho é precioso e profundo, mas o espaço disponível agora só permite uma consideração superficial dele. Vou citar o trecho por extenso, intercalando alguns breves comentários.
Tendo já enfatizado que os sofrimentos de Cristo cumpriram os propósitos do Pai, Pedro introduz agora um elemento novo, mostrando-nos que o Senhor Jesus sofreu, também, para dar um exemplo de como nós devemos nos comportar quando sofremos. Este não foi o objetivo principal da Sua morte, mas está incluído nela: “Se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as Suas pisadas.” Que exemplo sublime e perfeito!
Há pelo menos quatro detalhes sobre os sofrimentos de Cristo aqui. Lemos que Ele:
• Sofreu sem merecer: “O qual não cometeu pecado, nem na Sua boca se achou engano” — perfeito, porém perseguido;
• Sofreu sem retribuir: “O qual, quando O injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-Se àquele que julga justamente” — sofrendo, porém submisso;
• Sofreu de forma vicária: “Levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” — pagando a nossa dívida;
• Sofreu de forma eficaz: “… para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas Suas feridas fostes sarados” — Seus sofrimentos são nossa salvação!
Sofremos muito nesta vida (alguns mais do que outros); mas nenhum de nós sofre tanto quanto Ele sofreu! Que desafio este trecho nos traz! Ele começa afirmando que Ele padeceu por nós “para que sigais as Suas pisadas”, e termina afirmando que Ele sofreu “para que, mortos para o pecado, pudéssemos viver para a justiça”!
Enquanto meditamos hoje na intensidade dos Seus sofrimentos, lembremos que foi para que seguíssemos as Suas pisadas, e para que vivêssemos para a justiça! Quando sofremos, como reagimos? Ficamos amargurados e revoltados contra quem nos despreza? Não deve ser assim — devemos, como Ele, não injuriar nem ameaçar, mas entregar-nos àquele que julga justamente. Sigamos as Suas pisadas!
Que preço amargo, ó meu Senhor,
Pagaste em meu favor;
Teu Filho amado, singular,
Deitaste sobre o altar.
“Deus Meu, por quê?” foi Seu clamor
Das trevas de horror;
Mas Deus do Céu não respondeu!
Sozinho, ali morreu!
Do Céu não houve intervenção,
Nenhuma compaixão;
A Tua espada não poupou
O Filho que Te amou.
Senhor, o que darei então
Por tanta compaixão?
Que suba deste coração
Eterna gratidão!
Humilhai-vos — Meditações 582
A Palavra de Deus tem muitos avisos contra o orgulho, como este: “Sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (I Pe 5:5; Tg 4:6).
Outro exemplo notável é o lindo poema contra o orgulho que temos em Isaías 2:11 a 17. Vou citar o trecho abaixo na íntegra, separado por versos e contendo três estrofes. A primeira e a última estrofe são quase idênticas; na estrofe central temos uma lista de dez versos indicando aquilo contra que o Senhor agirá — aquilo que Ele abaterá e humilhará.
Espero que isto ajude a mostrar os paralelos e as palavras repetidas, destacando assim um pouco da estrutura perfeita deste trecho. Dois detalhes (tudo ficará claro ao ler a poesia; é muito mais simples do que eu consigo explicar):
1) Os versos marcados com letras (a, b, c) tem um paralelo (a com a.1, b com b.1, c com c.1);
2) Na tradução literal, repare que a poesia começa com os altivos sendo abatidos e os orgulhosos sendo humilhados, mas termina com os altivos sendo humilhados e os orgulhosos sendo abatidos. É uma forma eloquente de Deus dizer: qualquer tipo de altivez ou orgulho será abatido e humilhado, pois Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes!
Que possamos viver à luz desta verdade! Que só o Senhor seja exaltado em nossos corações!
Isaías 2:11-17
a. Os olhos altivos dos homens serão abatidos,
b. e o seu orgulho será humilhado;
c. e só o Senhor será exaltado naquele dia.
Porque o dia do Senhor dos Exércitos será
contra todo o soberbo e altivo,
e contra todo o que se exalta, para que seja abatido;
e contra todos os cedros do Líbano, altos e sublimes;
e contra todos os carvalhos de Basã;
e contra todos os montes altos,
e contra todos os outeiros elevados;
e contra toda a torre alta,
e contra todo o muro fortificado;
e contra todos os navios de Társis,
e contra todas as pinturas desejáveis.
a.1. E a altivez do homem será humilhada,
b.1. E o seu orgulho se abaterá,
c.1. E só o Senhor será exaltado naquele dia.
Vivendo a vida — Meditações 583
Tive o privilégio de ouvir, numa gravação, o irmão Higgins (EUA) pregando sobe a vida rotineira e cotidiana, e dizendo: “É na rotina repetitiva do dia a dia que a vida é realmente vivida”. Seguem alguns pensamentos sugeridos por ele.
Lemos a vida dos heróis da fé em Hebreus 11, e gostaríamos de ter experiências tão profundas como as deles. Mas esquecemos que o que está registrado foram momentos especiais — a maior parte da vida deles foi gasta na rotina diária! O tempo da vida de Abraão desde quando ele deixou Harã até sua morte foi de 100 anos — mas se somarmos todos os dias da vida dele relatados na Bíblia, veremos que não chegam nem a um ano. Durante os outros 99 anos, ele não experimentou nada de espetacular.
Há muitos exemplos também de pessoas que, no cumprimento da rotina diária, tiveram experiências que mudaram suas vidas. Rebeca encontrou o mensageiro de Abraão, e através dele recebeu um marido e muitas riquezas, não num encontro especial de jovens, mas quando foi ao poço tirar água (como fazia todo dia; Gênesis cap. 24). Rute, a viúva moabita, teve sua vida transformada enquanto estava num campo colhendo trigo (Rt 2:3, 20), e Eliseu, “o homem de Deus”, enquanto arava um campo com doze juntas de bois (I Rs 19:19)! Na noite em que o Senhor Jesus nasceu em Belém, os pastores certamente imaginaram que seria mais um noite de vigília cansativa e monótona — até que o “anjo, com uma multidão dos exércitos celestiais”, lhes apareceu no Céu!
“É na rotina repetitiva do dia a dia que a vida é realmente vivida”. Paulo disse aos colossenses: “E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai … E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança; porque a Cristo, o Senhor, servis” (Cl 3:17-24).
Sirvamos a Deus hoje com alegria, empenho e dedicação, pois “é na rotina repetitiva do dia a dia que a vida é realmente vivida”.
Sem Mim … — Meditações 584
“… e naquela noite nada apanharam” (Jo 21:3).
Sete discípulos passaram a noite inteira pescando, mas “nada apanharam”. O que estava faltando?
Será que lhes faltava habilidade? Não, não era a primeira vez que pescavam.
Será que lhes faltava experiência? Não, alguns deles eram pescadores profissionais, que viviam da pesca.
Faltou, então, liderança? Não, Pedro possuía esta qualidade.
Faltou união? Também não; todos queriam pescar.
Quem sabe faltou esforço e dedicação? Não; eles passaram a noite inteira pescando.
Mas o que é que faltava então? Faltava o Senhor. Quando Ele chegou, suas redes logo se encheram com cento e cinquenta e três grandes peixes!
A lição que aprendemos deste acontecimento é: “Sem Mim, nada podeis fazer” (Jo 15:5).
(A. Van Ryn; adaptado)
Confiança — Meditações 585
Extraído de “O Caminho”
“Não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas” (Mt 6:31-32).
Numa casa pequena e humilde, uma jovem mãe, agulhas de tricô na mão, preparava um casaco para o pequeno João que, brincando despreocupadamente no quintal, enchia a casa com seu riso alegre. O marido, cansado depois de um dia árduo de serviço, estava sentado observando a energia do filho.
“Como é que vamos fazer quando chegar o inverno, Jorge?” perguntou a mulher. “Já está difícil no verão; imagine quando o frio chegar, e precisarmos comprar carvão para a lareira, e tantas outras coisas …”
A pergunta da esposa tocou em algo bem íntimo no coração daquele homem, e uma terna compaixão moldou suas palavras e seu olhar. “Querida, que é que você está fazendo?”
“Um casaco bem quentinho para o João usar no inverno, Jorge.”
“Foi o que imaginei. E o João já sabe?”
“Não, ainda não.”
“Não é melhor avisá-lo, Maria, para que ele não se preocupe com o inverno?”
“Ele, se preocupar? Ora, veja como ele brinca alegre, Jorge! Ele está feliz como nunca; e mesmo que ele parasse para pensar no inverno, ele confiaria em nós para mantê-lo bem aquecido.”
Maria então percebeu que havia respondido sua própria dúvida, e seus olhos se encheram de lágrimas. A nuvem de incertezas foi removida de seu coração pela fé singela daquele pequeno garoto, que não se inquietava com o que estava fora do seu alcance.
Façamos fielmente o que Deus nos deu para fazer, e deixemos o amanhã nas Sua mãos. Podemos confiar nEle para nos manter bem aquecidos no inverno!
Errais … Meditações 586
(Extraído de “O Caminho” — L. M. Altoé)
“Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras” (Mt 22:29).
Este texto poderia ocupar um espaço maior, mas de propósito ele é pequeno, para que todos possam ler. Você verá porque.
Tenho encontrado muitos jovens, que professam ser crentes, com muitas dúvidas sobre vários assuntos bíblicos. Ao examinar alguns destes casos, pude constatar um ponto em comum entre eles: preguiça de ler, e principalmente a Bíblia.
As dúvidas, se não forem dissipadas, podem trazer prejuízo espiritual, e muitas vezes nos levam a tomar decisões erradas; e mesmo se agimos certo, porque outros nos orientam, agimos sem convicção, e isso faz de nós crentes desmazelados. Aumentamos o rol daqueles que dizem: “Não importa como fazemos, o que vale é a intenção”.
Não deve ser assim. Se você tem o costume de resolver os seus problemas com “dinheiro emprestado”, isto é, tirar as suas dúvidas apenas consultando opiniões de outros irmãos, sem se dar ao trabalho de examinar as Escrituras, que são a autoridade máxima no assunto, então este texto é para você. Com amor, mas sem rodeio, lhe digo: não tenha preguiça de ler a Bíblia.
Muitos erram por não conhecer as Escrituras, e não conhecem porque não examinam.
“Não cesses de falar deste Livro … antes medita nele … para que tenhas cuidado de fazer tudo quanto nele está escrito” (Js 1:8).
Carpinteiro — Meditações 587
A palavra grega “carpinteiro” só ocorre duas vezes no Novo Testamento, e ambas se referem à ocasião quando o Senhor Jesus pregou pela primeira vez em Nazaré. Mateus diz que o povo da cidade se maravilhou, dizendo: “De onde veio a este a sabedoria, e estas maravilhas? Não é este o filho do carpinteiro?” (Mt 13:55). Marcos, ao relatar a mesma ocasião, registra palavras um pouco diferentes: “Não é este o carpinteiro?” (Mc 6:3).
Aprendemos assim algo sobre a rotina do Senhor Jesus Cristo durante os cerca de trinta anos que viveu em Nazaré. Para o povo da cidade “onde fora criado” (Lc 4:16), o lugar dEle era a carpintaria, não o púlpito na sinagoga! Estavam acostumados a vê-lO, ainda criança, ajudando José na carpintaria, e sabiam que Ele assumira o controle dela após a morte de José. Sentavam em cadeiras feitas pela mão dEle, comiam em mesas que Ele havia fabricado; mas nunca tinham imaginado ouvir palavras de tanta sabedoria vindo da boca dEle! Pela rotina dos últimos trinta anos, Ele era o Carpinteiro, não o Pregador!
E isto nos parece errado. Na nossa ignorância, dizemos: “Alguém com a capacidade espiritual, a perfeição moral, e a estatura intelectual que o Senhor Jesus tem deveria ter sido mais um Samuel, criado no Templo desde a mais tenra idade! Mas ficar perdendo tempo na carpintaria? Que desperdício!”
Não, não foi desperdício! Ah, como precisamos aceitar, pela fé, a beleza deste propósito divino! O Criador do Universo escolheu ser conhecido como o Carpinteiro de Nazaré, não o Escriba de Jerusalém. Lucas nos lembra que era Seu costume ir à sinagoga em Nazaré (Lc 4:16) para ouvir a exposição semanal do Velho Testamento. Sábado após sábado, com paciência divina, Ele assentava-Se naquela sinagoga e ouvia homens limitados expondo de forma limitada as Escrituras perfeitas cujo Autor, e principal Assunto, era Ele. Desde a infância Ele teve inúmeras oportunidades de dizer: “Com licença — sente-se um pouco, e pare de falar bobagens. Eu vou lhe explicar o que este trecho realmente quer dizer!”
Mas não — Ele esperou pacientemente o tempo estabelecido por Deus, e após trinta anos (trinta longos anos) Ele levantou-Se na sinagoga da cidade “onde fora criado”, citou parte de Isaías 61 (“O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu …”), e então disse ao povo ignorante e cego: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos” (Lc 4:16-21).
Ah, com que autoridade e misericórdia estas palavras ecoaram pela sinagoga! Mas ao invés de aclamá-lO como o Messias prometido por Isaías, o povo de Nazaré desprezou o Carpinteiro, e tentou matá-lO naquele dia! (Lc 4:29)
Valorizamos demais o púlpito! Empurramos jovens promissores para lá antes da sua hora, e esquecemos de como o Senhor passou Seus primeiros trinta anos aqui na Terra — numa carpintaria em Nazaré!
Os sofrimentos de Cristo (e) — Meditações 588
No final do cap. 3 (vs. 18-22), Pedro mais uma vez destaca os sofrimentos do Senhor Jesus. Este trecho tem gerado muita discussão sobre Cristo pregando “aos espíritos em prisão”, mas não vamos entrar neste assunto (entendo ser apenas uma referência à pregação de Noé).
Concentrando nossos pensamentos nos sofrimentos de Cristo, lemos estas palavras tão preciosas: “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus”.
Que confortante ler: “uma vez”! Como explica o Comentário Ritchie, “esta palavra [grega] não é pote (uma certa vez), mas hapax (uma vez somente)”. Em contraste com os milhões de animais sacrificados no Velho Testamento, o Novo faz questão de enfatizar que um único sacrifício resolveu para sempre a questão do pecado. “Mas este, havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à destra de Deus” (Hb 10:12).
Ele sofreu apenas uma vez; mas este trecho ensina também por que Ele sofreu. Duas vezes na nossa tradução em português temos a palavrinha “pelos” nesta frase (traduzindo preposições diferentes no grego): “Cristo padeceu uma vez pelos [peri] pecados, o justo pelos [huper] injustos”. A expressão “pelos pecados” nos mostra que Cristo morreu devido ao problema do pecado — os pecados dos homens foram o motivo da Sua morte. Em “pelos injustos”, a preposição huper indica substituição; “em lugar de”. Os injustos (eu e você) deveriam estar sofrendo por causa dos pecados, mas o Justo sofreu em meu lugar.
Se acrescentarmos a estas duas preposições a conjunção (no grego) “para” (“para levar-nos a Deus”), podemos resumir o ensino deste trecho dizendo que os sofrimentos do Senhor foram:
• pelos pecados — a causa;
• pelos injustos — a substituição;
• para levar-nos a Deus — a finalidade.
Por que Ele sofreu?
1) Porque eu tenho cometido pecados (“pelos pecados”) — e, lamentavelmente, ainda cometo, mesmo depois de salvo!
2) Porque eu estava condenado como consequência disto (“pelos injustos”) — eu não merecia nem um minuto de atenção dEle, mas Ele tomou o meu lugar!
3) Porque Deus me quer junto a Si (“para levar-nos a Deus”) — será possível que eu estarei com Ele para sempre? Ah, que glorioso!
O texto menciona também a Sua ressurreição: “mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado no espírito … [a] ressurreição de Jesus Cristo, o qual está à destra de Deus, tendo subido ao Céu, havendo-Se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências”. Ele morreu por nós, venceu o pecado e a morte, e Sua ressurreição é a garantia da nossa ressurreição!
Há muito aqui para nos ocupar hoje. Diante deste fato sublime — o Senhor Justo sofreu por nós, injustos, para nos levar até à presença de Deus — só podemos adorar ao Salvador, hoje e para sempre!
© 2021 W. J. Watterson
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