Saturday 8 January 2022

Meditações 602 a 636



Meditações na quarentena (2020/21) enviadas diariamente aos irmãos e irmãs da igreja local em Pirassununga para nosso ânimo mútuo (arquivadas neste blog).







Os sofrimentos de Cristo (g) — Meditações 602


Temos ocupado alguns domingos pensando sobre como Pedro apresenta o assunto dos sofrimentos de Cristo na sua primeira epístola. No cap. 1, aprendemos que os sofrimentos de Cristo foram preditos pelos profetas — antes de vir, Ele já sabia tudo que sofreria! Este capítulo também nos lembra da preciosidade destes sofrimentos (“o precioso sangue de Cristo”), e da contradição que manifestam (a pedra eleita por Deus foi rejeitada pelos homens).


No cap. 2 vemos que Seus sofrimentos servem de exemplo para o Seu povo, e o cap. 3 destaca que estes sofrimentos nunca mais se repetirão: Ele padeceu uma vez pelos pecados!


No cap. 4, somos lembrados que aqueles que tem comunhão com Cristo na Sua rejeição participarão da Sua glória também; que privilégio ser participante das aflições de Cristo!


Finalmente, no cap. 5, os sofrimentos do Senhor são ligados com a igreja local. Pedro diz: “Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: apascentai o rebanho de Deus que está entre vós” (I Pe 5:1-4).


No cap. 4 lemos sobre sermos participantes das aflições de Cristo — agora é “testemunha das aflições de Cristo”. Pedro foi testemunha literalmente destas aflições, no Jardim (Mt 26:37-38), na casa do sumo-sacerdote (Mt 26:57-58), e no Calvário (Lc 23:49) — nós podemos ser testemunhas espiritualmente, lendo sobre o que Ele sofreu e meditando nestas passagens da Bíblia. Ah, que precioso acompanhar Isaque e Abraão no monte Moriá, ou José na prisão, e ver paralelos com as aflições de Cristo; ou ler trechos proféticos (Salmo 22, Isaías 53, etc.) e ver como retratam antecipadamente as aflições de Cristo; ou seguir, comovido, o relato dos Evangelhos e o testemunho das epístolas. “Ao meditar, Jesus Senhor, na Tua amarga cruz por mim, com gratidão e com louvor celebro a quem me amou assim” (José I. Freire, H. e C. 558).


Conforme formos nos tornando testemunhas mais frequentes das aflições de Cristo, nosso coração será mais compassivo para com nossos irmãos. Ouviremos nosso Senhor perguntar: “Amas-Me?”, e responderemos: “Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que eu Te amo”. E com alegria obedeceremos quando Ele disser: “Apascenta as Minhas  ovelhas” (Jo 21:14-17). Todo cristão será ricamente abençoado se dispuser-se a ser uma testemunha das aflições de Cristo — e o resultado será que as ovelhas do Senhor serão mais bem cuidadas. Pois nem um salvo, ancião ou jovem, consegue meditar na amarga cruz e sentir-se frio em relação aos seus irmãos! Compreendendo mais sobre o alto preço pago para resgatar “o rebanho de Deus” (I Pe 5:1) e “a herança de Deus” (I Pe 5:3), seremos constrangidos a apascentar a “igreja de Deus, que Ele resgatou com Seu próprio sangue” (At 20:28). Os presbíteros devem ser os primeiros nesta tarefa tão importante, e cada um de nós deve ter prazer em sacrificar alguma coisa para cuidar daquilo que é fruto das aflições de Cristo! Não será esforço em vão, pois “quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória” (I Pe 5:4).


Se os sofrimentos de Cristo estiverem diante de nós, seremos adoradores mais agradecidos e servos mais dedicados.



Grandes coisas — Meditações 603


“João não fez milagre algum, mas tudo quanto disse deste era verdade” (Jo 10:41).


Talvez você esteja desanimado consigo mesmo hoje. Contemplando as suas muitas fraquezas, você percebe que não é melhor do que ninguém, não se destaca na multidão. A sua vida parece medíocre, regular. Sempre a mesma coisa, sempre a mesma rotina!


João Batista foi assim. Do nosso ponto de vista, baseados nas Escrituras, ele é um gigante — mas na sua época ele surgiu e desapareceu rapidamente. Ele não fez nenhum milagre, e seu pouco tempo de ministério (um ano talvez) logo foi esquecido quando Herodes cortou a sua cabeça. Poderia parecer mais um que morreu cedo. Mas o Senhor Jesus disse que “entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista” (Mt 11:11). Que testemunho!


Para João, bastava ser a voz que falava aos homens sobre Cristo (Jo 1:23) — e Deus valorizou isto! Esteja disposto a ser apenas uma voz, ouvida mas não vista; um espelho cuja superfície desvanece ao refletir a glória ímpar do Sol; uma brisa que surge logo antes do Sol nascer, clama: “Alvorada! Alvorada!”, e depois desaparece novamente.


De minha parte, estarei satisfeito se, ao partir, pessoas humildes e sinceras disserem simplesmente: “Ele foi um bom homem; não fez nenhuma grande obra, mas ele falou de Cristo e me levou a conhecê-Lo pessoalmente”.


(adaptado de um texto anônimo)


“Procuras tu grandezas para ti mesmo? Não as procures” (Jr 45:5).



Fé — Meditações 604


Enquanto nos comparamos com os homens poderemos estar contentes conosco mesmos — e isto acabará com nossa fé, pois a fé brota do sentimento de dependência.


Mas quando nos comparamos com Jesus Cristo e, através dEle, com Deus, somos humilhados ao pó, e então a fé brota novamente, pois já não nos resta nada a não ser confiarmos na graça de Deus.


W. Barclay (1907-1978)




Procurou onde chorar — Meditações 605


Achei interessante esta frase na história de José: “E José apressou-se, porque as suas entranhas comoveram-se por causa do seu irmão, e procurou onde chorar; e entrou na câmara, e chorou ali” (Gn 43:30).


Os irmãos de José não tinham a menor ideia do turbilhão de emoções que atormentava o coração do grande senhor do Egito naquela hora. Parecendo tão impassível e seguro, ele estava, na realidade, dominado por fortíssimas emoções. Certamente muitos (se não todos) servos de José teriam dado qualquer coisa para trocar de posição com ele — mas quantos o viram procurando onde chorar?


Nunca devemos presumir que nossos irmãos são tão fortes quanto parecem ser. Aquela irmã que nunca perde uma reunião e sempre está sorrindo talvez precise, todo dia, procurar onde chorar! Aquele irmão que está sempre pronto a me ajudar e aconselhar talvez esteja, enquanto me ajuda, procurando desesperadamente onde chorar!


“O coração conhece a sua própria amargura”, disse Salomão (Pv 14:10). Nós, que não vemos o coração, devemos tratar os outros com cuidado e ternura sempre.


“Rogamo-vos, também, irmãos, que … consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes para com todos. Vede que ninguém dê a outros mal por mal, mas segui sempre o bem, tanto uns para com os outros, como para com todos” (I Ts 5:14).



A língua — Meditações 606


Deus nos deu apenas uma língua, mas dois ouvidos (para ouvirmos o dobro do que falamos).


Ele pôs a língua por dentro do nosso corpo, protegida e cercada, mas nossos ouvidos estão do lado de fora, e feitos de tal forma que não podem ser fechados (devemos sempre ouvir, mas nem sempre falar).


Há um ouvido de cada lado da cabeça, de sorte que uma palavra perdida de um lado poder ser ouvida do outro. Em contraste, um lado da língua está preso.


Deus nos deu dois pares de guardas para controlarmos a língua. Temos nossos dentes, que nos permitem morder nossa língua quando somos tentados a dizer algo errado (já reparou que um bebê nasce com todos os membros do corpo, menos os dentes; e estes nascem antes que a criança aprenda a falar!).


Outro guarda da nossa língua são os lábios, que podem impedir a língua de falar bobagens (ou crueldades).


Apesar de tudo isto, precisamos vigiar nossa língua constantemente, e orar ao Senhor: “guarda a porta dos meus lábios” (Sl 141:3).


“A língua é um fogo; como mundo de iniquidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da  natureza, e é inflamada pelo inferno. Porque toda a natureza, tanto de bestas feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza  humana; mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear;  está cheia de peçonha mortal. Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãs, não convém que  isto se faça assim” (Tg 3:1-10).



Quatro perguntas — Meditações 607


Considere quatro perguntas feitas pelo Senhor Jesus enquanto esteve neste mundo.


Lucas 2:49: “Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?” Estas são as primeiras palavras registradas do Salvador, ditas a Maria e José. O menino de doze anos tinha como objetivo cumprir a vontade do Seu Pai. Nisto vemos claramente Sua divindade.


João 18:4: “A quem buscais?” As trevas naquela ocasião no Getsêmani não se comparam às trevas espirituais em que aqueles homens com quem Ele falou andavam. Este acontecimento revela Sua autoridade e poder: caíram por terra diante do grande “Eu Sou”.

 

Mateus 27:46: “Deus meu, Deus meu, por que Me desamparaste?” Podemos entender o desamparo dos discípulos, ou dos Seus familiares terrenos, ou até da nação incrédula; mas esta pergunta ecoa pela escuridão do Calvário, uma pergunta que jamais poderemos entender. É o clamor daquele que carregava nossos pecados.


Lucas 24: 26: “Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória?” Aos dois discípulos desanimados, a pergunta do Senhor traz à memória as Escrituras e o que dEle se achava ali. Sua ressurreição e glória estão claramente incluídas na pergunta. Não é de admirar que seus corações ardiam enquanto Ele falava com eles pelo caminho.


Que nossos corações possam também arder ao contemplar as belezas do nosso amado Salvador.


Adaptado de um texto de Don  Armstrong




Como assim? Meditações 608


Quando Ezequiel profetizou sobre a prisão do rei Zedequias, Deus disse o seguinte: “O levarei à Babilônia, à terra dos caldeus; contudo não a verá” (Ez 12:13). Por intermédio de Jeremias, a profecia foi diferente: “E tu [Zedequias] … certamente serás preso e entregue na sua mão; e teus olhos verão os olhos do rei da Babilônia, e ele te falará boca a boca, e entrarás na Babilônia” (Jr 34:3).


Um cético talvez perguntaria: “Mas como assim? Ele irá para a Babilônia, mas não verá a cidade? Ele verá o rei da Babilônia, contudo não verá a cidade? Isso não faz sentido! Jeremias e Ezequiel estão se contradizendo!”


Mas quando Zedequias foi finalmente preso, tudo aquilo que Deus profetizou dele cumpriu-se perfeitamente: “E tomaram o rei, e o fizeram subir ao rei da Babilônia em Ribla; e foi-lhe  pronunciada a sentença … e vazaram os  olhos de Zedequias, e o ataram com duas cadeias de bronze, e o levaram à Babilônia” (II Rs 25:6-7). Zedequias viu o rei da Babilônia em Ribla; lá, ele teve seus olhos vazados; e nesta condição de cego ele foi levado à Babilônia! Entrou na cidade? Sim! Viu-a? Não, pois estava cego!


Lendo o final da história, vemos com foi tão simples harmonizar as duas profecias. Não havia nada de misterioso ou mirabolante envolvido, e quem acusou os dois profetas de contradição fica envergonhado de ter sido tão precipitado nas suas críticas! Deus revelou uma parte do futuro a Ezequiel, e outra parte a Jeremias — evpara ter a história completa, era necessário aceitar que ambos os profetas estavam certos!


O mesmo acontece até hoje. Homens incrédulos leem um detalhe em Mateus que não combina com Lucas, ou coisa parecida, e imediatamente exclamam: “Tá vendo? A Bíblia tá cheia de contradições!” Mas nós que cremos em Deus dizemos: “Calma! Quando estivermos na presença de Deus e soubermos todos os detalhes, veremos como tudo se encaixa!”


É fundamental para o salvo ter uma confiança absoluta e completa na Bíblia toda! “Toda a Escritura é divinamente inspirada” (II Tm 3:16); “O Céu e a Terra passarão, mas as Minhas palavras não hão de passar” (Mt 24:35).



A glória de Cristo em II Pedro — Meditações 609


Temos meditado um pouco sobre as muitas referências às aflições de Cristo em I Pedro. Quando passamos para a segunda epístola, vemos uma ênfase maior dada à Sua glória (principalmente no cap. 3).


Os dois aspectos foram apresentados na primeira epístola: “os sofrimentos que  a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir” (I Pe 1:11). Também vemos ambos os aspectos na primeira pregação do Evangelho nesta época da Igreja, feita pelo mesmo Pedro: “Saiba, pois, com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2:36).


Que glorioso pensar num Salvador que tanto sofreu por nós, e que hoje está gloriosamente assentado à destra da majestade nas alturas! O Salvador é também o Senhor!


Pensando nisto, é interessante ver que a expressão “Senhor e Salvador Jesus Cristo” ocorre apenas três vezes nas Escrituras — todas elas em II Pedro:


1) “Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de  nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (1:11);


2) “Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos  nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro” (2:20);


3) “Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus  Cristo. A Ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém” (3:18).


Também é interessante que estas três ocorrências estão ligadas com o conhecimento dEle (encontramos cinco vezes a palavra “conhecimento” em II Pedro, nenhuma vez na primeira epístola):


1) O cap. 1 começa desejando “graça e paz … pelo conhecimento de Deus, e de Jesus nosso Senhor” (v. 2), visto que já recebemos dEle “tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela Sua glória e virtude” (v. 3). Na sequência, somos exortados a crescer espiritualmente para não sermos “ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” (v. 8). Conhecendo melhor nosso amado Senhor, teremos ampla entrada ao Seu reino eterno!


2) No cap. 2 aprendemos que aqueles que escaparam “das corrupções do mundo” conseguiram esta libertação “pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2:20). Ele, e somente Ele, livra da escravidão do pecado.


3) Finalmente, no cap. 3, temos o desejo final do apóstolo em relação aos seus leitores: “Crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus  Cristo” (3:18). Não há oração melhor do que esta!


É comovente pensar nas aflições de Cristo, e é uma glória ser participante destas aflições. A primeira epístola de Pedro deixou isto claro. Mas queremos também contemplar a majestade e glória do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Conhecer este grande Salvador que sofreu, e este glorioso Senhor que venceu a morte, traz bênção e paz além de qualquer medida.


Ao contemplá-lO (quer nas Suas aflições, quer na Sua soberania), desejaremos repetir as palavras com que Pedro encerra sua epístola: “A Ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém” (3:18).


Amém!





Trapos velhos — Meditações 610


O cap. 38 de Jeremias descreve como o profeta foi colocado numa cisterna, e depois tirado de lá. Não é uma narrativa detalhada — os fatos são apresentados claramente, mas de forma resumida.


A não ser os vs. 11 e 12, que destoam do restante do capítulo. Eles descrevem detalhadamente como Ebede-Meleque, que libertou Jeremias, foi até à casa do rei e conseguiu “uns trapos velhos e rotos, e roupas velhas”. Ele então instruiu Jeremias a colocar estes trapos “nas axilas, calçando as cordas”; e então “puxaram a Jeremias com as cordas”, sem machucá-lo desnecessariamente.


É comovente ver que Deus Se preocupa em registrar este detalhe dos trapos velhos. Alguém mais prático diria: “Se Jeremias vai ser solto, mesmo que ele fosse puxado pelos cabelos ele ficaria satisfeito!” Sim; mas não é assim que Deus age! Na vontade soberana de Deus era necessário (por causa de Jeremias, de Zedequias, de Ebede-Meleque e outros) que Jeremias fosse colocado na cisterna e depois tirado — não era necessário que ele fosse tirado com sofrimento, com as cordas esfregando nas suas axilas suadas e esfolando a sua pele. Vemos aqui como Deus preocupou-Se em tirar Jeremias de lá da forma mais suave e confortável possível! 


Lembro de irmãos de outra geração orando pelos enfermos e pedindo que Deus “afofasse as suas camas”. No outro extremo, lembro de ouvir pais de outra geração defendendo uma forma de correção exagerada — uma surra sem limites, para “quebrantar” o filho. Deus age da primeira forma, nunca da segunda! Ele disciplina e permite provações, mas Ele nunca age sem medida. Ele “conhece a nossa estrutura, e sabe que somos pó” (Sl 103:14; veja I Co 10:13).


Irmãos, nos planos de Deus nunca há “efeitos colaterais”. Ele prova, sim, e não dilui o remédio que nos restaura nem diminui o tempo de provação necessário — mas tudo que Ele puder fazer para aliviar a tribulação, sem prejudicar o propósito dela, Ele fará! Podemos ter certeza que cada dor e incômodo que sentimos é necessário — nada é “efeito colateral”!


Para quem está passando por alguma aflição é precioso pensar que Deus ajusta aquela experiência para que ela cumpra plenamente o seu propósito, mas com o mínimo de desconforto para nós. Também é precioso examinar nossas vidas e ver quantas vezes Ele nos entregou trapos velhos para calçarmos as axilas!


Ele “sara os quebrantados de coração, e lhes ata as suas feridas” (Sl 147:3). “É por amor que nos castiga; mui perto está e a dor mitiga” (H e C 206).



Alegria no perdão — Meditações 611


O dr. Higgins (https://heaven4sure.com/2021/12/12/brings-him-joy/) escreveu sobre o contexto das três parábolas (ou uma parábola em três partes) de Lucas cap. 15 chamando atenção para a razão pela qual o Senhor falou sobre a ovelha perdida, a dracma perdida, e o filho pródigo. Foi em resposta à acusação dos fariseus e escribas: “Este recebe pecadores e come com eles” (Lc 15:2). Quando O acusaram de passar tempo na companhia de pessoas indignas, “Ele lhes propôs esta parábola” (v. 3), e mostrou que o Pastor alegrou-Se em dar a Sua vida pelas ovelhas perdidas; o Espírito Santo alegra-Se em trazer à luz uma alma que estava nas trevas; e o Pai sente infinita alegria em perdoar quem se arrepende.


Sim, escreve Higgins, “Deus realmente tem alegria em perdoar os rebeldes, em reconciliar os inimigos, e em receber os pródigos. A explicação para a graça é a alegria que a Trindade encontra em derramá-la sobre nós. Quão grande é o nosso Deus!”


“Quem é Deus semelhante a Ti que perdoa a iniquidade, e que passa por cima da rebelião do restante da Sua herança? Ele não retém a Sua ira para sempre, porque tem prazer na Sua benignidade” (Mq 7:18).



Rápido! Meditações 612


Uma geração de cristãos criados na era do computador não tem paciência para aceitar métodos mais lentos e menos diretos de alcançar seus objetivos. Queremos a velocidade da informática no nosso relacionamento com Deus. Lemos nosso capítulo, fazemos um breve devocional, e saímos correndo, esperando melhorar nossa terrível situação espiritual simplesmente por ouvir mais uma pregação.


Os resultados trágicos deste modo de vida são bem visíveis. Vidas sem sentido, filosofias religiosas ocas, a introdução de elementos de diversão nas reuniões, a glorificação do homem, a confiança em religiosidade externa, métodos de marketing na igreja, achar que “personalidade dinâmica” é o mesmo que “poder do Espírito”, etc.; estes são os sintomas de uma doença maligna, um mal profundo e sério do coração.


(Adaptado de uma citação anônima).



A vontade de Deus — Meditações 613


“Ensina-me a fazer a Tua vontade” (Sl 143:10). 


Esta é uma oração preciosa. Hoje em dia, porém, a ênfase parece ser outra. Há muitos livros sobre como conhecer a vontade de Deus; mas a Bíblia apresenta a vontade de Deus como algo a ser obedecido: “Ensina-me a fazer a Tua vontade”. 


Deus apresenta, como pre-requisito para conhecer a Sua vontade, o desejo de fazê-la (Jo 7:17). Se você quer ser guiado por Deus, comprometa-se a obedecê-Lo (em qualquer circunstância), e então você estará preparado para conhecer a Sua vontade.


(Extraído de “O Caminho”).




Vazio ou cheio? Meditações 614


Ao voltar de Moabe, Noemi deu seu testemunho: “Cheia parti, porém vazia o Senhor me fez voltar”. 


Que palavra triste: “vazia”! Tão diferente do testemunho do salmista: “Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda” (Sl 23:5).


Como é a minha vida? Cheia de planos, cheia de correria, cheia de problemas, cheia de divertimentos, mas ainda assim vazia? Ou estou sendo guiado por Deus, enfrentando inimigos mas mesmo assim transbordando de alegria?


O Senhor Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida, e vida com abundância” (João 10:10). Só Ele pode encher-nos de alegria, paz e esperança. Só Ele pode encher uma vida vazia! E Ele enche com abundância, até transbordar!



Amor sacrificial — Meditações 615


O Evangelho diz: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito” (Jo 3:16). “O Filho de Deus … me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2:20).


Para os homens, “amar” é querer possuir e receber. É um amor egoísta, que não pergunta: “Estou amando?” mas sim: “Estou sendo amado?” Encontramos pessoas que não amam ninguém, e ainda reclamam que ninguém as ama — chegamos até ao extremo de ler de pessoas que, se não podem possuir o objeto do seu amor, então matam-no. Que amor estranho e esquisito! 


Mas o verdadeiro amor é o amor de Deus, que deseja ajudar seu objeto mais do desfrutar dele; que deseja dar mais do que possuir! É o amor que diz: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20:35). Como disse Amy Carmichael (1867-1951): “É possível ajudar alguém e não amá-lo, mas não é possível amar alguém e não ajudá-lo”.


Pensemos nisto!



Encarnação — Meditações 616


“E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus Se manifestou em carne” (I Tm 3:16).


O mistério central da nossa fé é a Pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Diante desta sarça ardente descalçamos nossos pés, contemplando humanidade verdadeira e santa em perfeita união com divindade eterna. Como ambas podem estar unidas numa só Pessoa foge da compreensão humana, pois “ninguém conhece o Filho, senão o Pai” (Mt 11:27). Cabe a nós apenas crer, não explicar; apenas adorar, não explorar.


Tentar explicar esta união sublime é espiritualmente perigoso. Diversas teorias humanas já foram apresentadas, mas todas pecam por tentar tornar acessível a nós algo que a Bíblia mesmo chama de “grande mistério”. Devemos evitar estas tentativas e apenas reconhecer a realidade desta união, curvando-nos diante da majestade desta Pessoa.


A encarnação brilha com uma graça que ultrapassa qualquer coisa que mortais possam experimentar. “O Verbo Se fez carne e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1:14).


Meditemos nisto hoje, acompanhando o Verbo na Sua jornada dos Céus até à manjedoura, trabalhando na carpintaria em Nazaré, andando pelas ruas empoeiradas da Galileia, saindo pelas portas de Jerusalém com uma cruz pesada sobre os ombros, as costas ensanguentadas pelos açoites. Podemos vê-lO, pela fé, desamparado na cruz, e depois, triunfante, assentando-Se à destra da majestade lá nos Céus!


E contemplando-O, adoramos diante deste grande mistério da piedade: Deus Se manifestou em carne!



Uma espera proveitosa — Meditações 617


J. Jardine, “O Caminho”.


“Lança o teu pão sobre as águas, porque, depois de muitos dias, o acharás” (Eclesiastes 11:1).


Tenho meditado um pouco nas palavras do “Pregador” estes dias. Dois escritores consultados oferecem a mesma explicação: naquela época, o lugar ideal para ganhar dinheiro era no negócio lucrativo de importação e exportação entre os portos Mediterrâneos. Lançar o pão sobre as águas esperando o retorno depois de muitos dias é a maneira que Salomão usa a fim de descrever o investimento no mercado de compra e venda. Ele está dizendo: “Envie os seus grãos através dos navios”. Passariam meses antes que o navio voltasse, mas quando este retornasse, a disposição do negociante em tomar a responsabilidade pelo risco seria amplamente recompensada.


Muito do que fazemos para o Senhor é “lançar o pão sobre as águas”. Seja em pregar o Evangelho aos domingos à noite, ministrar a Palavra, trabalhar com as crianças, distribuir folhetos e cursos bíblicos, ou outras áreas de serviço, enfrentamos um processo demorado, em que o período de tempo necessário para “os navios voltarem para casa” pode ser muito mais do que alguns meses. Que tenhamos paciência em trabalhar para Deus. A promessa no versículo é certa — depois de muitos dias o pão é encontrado. A recompensa de Deus será vista, ou agora ou na eternidade.


Que aprendamos a esperar o tempo que o Senhor deseja!



A Bíblia e a Ciência — Meditações 618


Hoje em dia, muitos querem sugerir que precisamos escolher entre a Bíblia e a Ciência — ou uma coisa, ou outra. Mas nem sempre foi assim. Grandes cientistas do passado criam em Deus e nas Escrituras. O escocês Sir James Y. Simpson, que descobriu as propriedades anestésicas do clorofórmio, teve sua descoberta criticada por alguns, que alegavam que induzir um sono para evitar que alguém sentisse dor era contrário às leis naturais. Ele defendeu sua descoberta científica citando a Bíblia: “Meus críticos esquecem a narrativa sagrada do segundo capítulo de Gênesis. Se a consultarem, encontrarão o registro da primeira cirurgia a ser feita; e o texto inspirado afirma explicitamente que o Mestre do Universo, antes de tirar a costela do lado de Adão, fez cair um profundo sono sobre ele”.


O livro “E disse Deus” cita muitos exemplos de cientistas que criam em Deus: Johannes Kepler (1571-1630; o pai da astronomia moderna), Robert Boyle (1627-1691; pioneiro da química moderna), Sir Isaac Newton (1642-1727; um dos maiores cientistas que o mundo já conheceu, responsável por descobrir as Leis da Gravidade, as Leis do Movimento, etc.); Michael Faraday (1791-1867; um pioneiro no então desconhecido campo da eletricidade, responsável pela invenção do gerador elétrico e do transformador elétrico), Samuel Morse (1791-1872; inventou o telégrafo e o código Morse, que leva o seu nome. As palavras da primeira mensagem telegráfica oficial enviada foram retiradas da Bíblia: “Que coisas tem feito Deus!” Números 23:23); James Joule (1818-1889; a unidade de energia, “joule”, é uma homenagem a ele), Louis Pasteur (1822-1895; estabeleceu a nova ciência da microbiologia e bacteriologia, inventou as vacinas, a imunização e pasteurização, que ajudaram a salvar muitas vidas, etc. Ele disse: “Quanto mais estudo a natureza, mais admirado fico com o trabalho do Criador”), além de Fleming (pioneiro da eletrônica), Lister (que inventou a cirurgia antisséptica), etc., etc.


Nada mais natural que crer em Deus e na Ciência! Afinal de contas, se o mesmo Deus que escreveu a Bíblia também criou o Universo e todas as leis que o controlam, então os fatos científicos precisam concordar com a Palavra revelada; senão, tudo está errado! 


Só precisamos lembrar do aviso de Paulo a Timóteo: ”Ó, Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado, tendo horror … à oposição da falsamente chamada ciência” (I Tm 6:20). Há uma “falsamente chamada ciência”, que lida com aquilo que não pode ser comprovado e estudado. Só é “fato científico” aquele processo que pode ser reproduzido experimentalmente, ou então que foi observado, atentamente, na natureza. 


Podemos afirmar que todos os fatos científicos que a Ciência já descobriu, e que irá descobrir, concordam, e concordarão, plenamente com a Bíblia, cujo Autor é o mesmo Deus perfeito que criou tudo que a Ciência estuda. As contradições só aparecem quando homens, confundidos por sua arrogância, lançam contra as verdades divinamente inspiradas da Palavra de Deus as teorias da “falsamente chamada ciência” (I Tim. 6:20). Estas teorias humanas, que jamais foram observadas agindo na natureza, nem simuladas em laboratórios, mas que são fruto unicamente de mentes deturpadas pelo pecado, estas sim estão em conflito com a Bíblia; mas elas não fazem parte da verdadeira Ciência.


Digamos, com Paulo: “Creio em Deus” (At 27:25).



Pagando a passagem — Meditações 619


J. Paterson, do livro “A glória de últimas palavras” (a ser publicado, dv)


“E veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até a Minha presença. Porém Jonas se levantou para fugir da presença do Senhor para Társis. E descendo a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem, e desceu para dentro dele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor” (Jn 1:1-3).


É instrutivo ler que Jonas “pagou a passagem”; sempre há um preço a ser pago por desobediência à direção de Deus. Devemos estar onde Deus quer que estejamos. Nos nossos dias, Ele nos instrui a nos reunirmos como parte de uma igreja local. Ele nos colocará numa certa localidade com um serviço específico a fazer. Este serviço envolverá a administração do dom que temos recebido. Ele não nos tirará dali até Ele decidir que nosso trabalho ali terminou.


Quando mudar, ou para onde, não deve ser a nossa decisão, ou a decisão dos nossos parentes ou amigos; nem deveríamos mudar de onde Deus nos colocou porque os salvos em outra igreja local são amáveis conosco. Lembre-se de Ló, que viu a atração das campinas do Jordão e armou as suas tendas até Sodoma, para a completa destruição da sua família e do seu próprio caráter (Gn 13:10, 12).


Tenha cuidado ao “pagar a passagem”!



Saberão que Eu … Meditações 620


A expressão que serve de título para esta meditação é característica de Ezequiel, e destaca a glória de Deus. Cerca de 70 vezes em Ezequiel lemos: “saberão que Eu sou o Senhor”, ou “saberão que Eu, o Senhor, fiz isto”, e frases semelhantes. Dos três grandes livros proféticos do VT, Isaías (que usa esta expressão apenas 3 vezes) destaca a santidade de Deus, Jeremias (onde nenhuma vez lemos “Saberão que eu sou o Senhor”) destaca Sua soberania, mas Ezequiel destaca a glória divina, que será revelada a toda a humanidade num dia futuro.


Um exemplo interessante desta ênfase está no final do cap. 17: “Assim saberão todas as árvores do campo que Eu, o Senhor, abati a árvore  alta, elevei a árvore baixa, sequei a árvore verde, e fiz reverdecer a árvore seca; Eu, o Senhor, o disse, e o fiz!”


Que este versículo precioso nos oriente hoje.


Você sente-se imponente e elevado acima dos seus semelhantes? Pois seja humilde, e lembre que Deus pode abater a árvore alta!


Você sente-se fraco e pequeno? Ânimo! Deus pode elevar a árvore baixa!


Você está no vigor da sua força física, e sente-se imbatível? Cuidado! Deus pode secar a árvore verde!


Você sente-se inútil, sem condições de produzir mais fruto para Deus? Confia nEle — Ele pode fazer reverdecer a árvore seca!


Qualquer que seja a sua situação hoje, Deus está acima dela! Qualquer mérito e glória são dEle, qualquer livramento virá dEle. Ele, o Senhor, o diz, e o fará!


A Ele toda a glória, hoje e para sempre!



Daniel — Meditações 621


 “Ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles pela sua justiça livrariam apenas as suas almas, diz o Senhor Deus … [se] estes três homens estivessem no meio dela, vivo Eu, diz o Senhor Deus, que nem a filhos nem a filhas livrariam; eles só ficariam livres … ainda que aqueles três homens estivessem nela, vivo Eu, diz o Senhor Deus, que nem filhos nem filhas livrariam, mas somente eles ficariam  livres … ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, vivo Eu, diz o Senhor Deus, que nem um filho nem uma filha eles livrariam, mas somente eles livrariam as suas próprias almas pela sua justiça” (Ez 14:14-20).


Este trecho (resumido acima) destaca o quão terrível era a situação de Israel nos dias de Ezequiel — a justiça de Deus apresentada aqui é digna de nota. Também é interessante

o paralelismo nestas quatro afirmações (veja como a primeira é parecida com a última, assim como as duas do meio tem semelhanças entre si). Mas quero destacar outro detalhe: o fato de Daniel, um jovem contemporâneo de Ezequiel, ser incluído com dois gigantes da antiguidade, Noé e Jó.


Deus queria revelar a Ezequiel o quanto Israel pecou, e para tanto escolheu três exemplos de pessoas conhecidas pela sua justiça e santidade, mas que não conseguiriam livrar o povo nesta ocasião. Noé e Jó seriam conhecidos e respeitados por Ezequiel e seus ouvintes — mas o terceiro exemplo foge desta regra!


Faria sentido se fosse Moisés ou Samuel (mencionados em Jeremias 15:1 alguns anos antes), ou o grande patriarca Abraão, ou o rei Davi, ou o profeta Elias! Mas não; é um contemporâneo de Ezequiel, um jovem com idade próxima à dele (os dois teriam em torno de 30 anos), um cativo na Babilônia que ainda não era conhecido como o grande profeta que escreveu o livro de mesmo nome.


Será que Ezequiel pensou: “Daniel? Por que não Abraão, ou Moisés — por que não eu?” Não sei o que ele pensou — mas ele registrou fielmente o que Deus lhe transmitiu, e assim nos ensinou mais um pouco sobre a soberania deste Deus que usa quem Ele quer, quando Ele quer, e como Ele quer, conforme a Sua soberana graça e vontade!


“E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava … Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste, que será? Disse-lhe Jesus: Se Eu quero que ele fique até que Eu venha, que te  importa a ti? Segue-Me tu!” (Jo 21:20-22).



Uma genealogia diferente — Meditações 622


O Novo Testamento inicia, em Mateus, com uma longa genealogia, que tem uma peculiaridade: ela inclui o nome de quatro mulheres do Velho Testamento: Tamar (1:3), Raabe (1:5), Rute (1:5) e Bate-seba (1:6, chamada “a que era de Urias”). 


Além das muitas lições individuais que estas mulheres nos ensinam, é interessante considerar as quatro juntas, pois formam um quadro precioso da salvação:


• Em Tamar, temos ilustrado o pecado do ser humano. Ela entrou na linhagem do Messias ao coabitar com seu próprio sogro, enquanto ele achava que estava se deitando com uma meretriz! Que dia vergonhoso!


• Em Raabe vemos uma fé tão singular que levou-a a ser incluída na lista dos “heróis da fé” em Hebreus 11!


• Em Rute, temos uma figura de redenção — a história dela destaca o papel do “parente remidor”, uma figura muito clara da redenção que temos em Cristo.


• Finalmente, em Bate-Seba vemos uma mulher adúltera sendo elevada à glória do trono, mãe do futuro rei de Israel.


Assim foi a nossa salvação. Cada pecador salvo pela graça de Deus conhece a experiência de sentir-se tão culpado quanto Tamar, o principal dos pecadores (I Tm 1:15). Porém pela fé, como Raabe, alcançamos redenção (como Rute), e descobrimos que Deus sempre teve planos gloriosos para nós (como aconteceu com Bate-Seba).


Cada um de nós veio do fundo do poço (como Tamar), e estaremos associados ao Rei na Sua glória (como Bate-Seba). Como se deu esta grande transformação? Pela fé (como Raabe), pela graça (como Rute).


Louvado seja Deus pela salvação que recebemos!



Quem Cristo é — Meditações 623


Quem pode definir nosso Senhor? Quem pode esgotar as riquezas incompreensíveis de Cristo (Ef 3:8)? Ele é mais — muito mais — do que o maior de nós conseguiria expressar ou entender. É um mar imensurável, um Universo infinito!


Uma forma simples de começar a entender a grandeza dEle é pensar no que Ele poderia representar para diferentes tipos de pessoas. Apresento abaixo um pequeno começo, com quase todas as letras do alfabeto (faltam k, u, v, w, x, y). A lista está longe de ser completa: é apenas um passo numa viagem sem fim!


Para o advogado, Cristo é o maior de todos os advogados, aquele que nos representa na presença de Deus: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo” (I Jo 2:1).


Para o botânico, Cristo é “como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará” (Sl 1:3).


Para o carpinteiro, Cristo é a porta: “Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo que Eu sou a porta das ovelhas” (Jo 10:7).


Para o desenhista, Cristo é o quadro mais belo que poderia ser desenhado: “Tu és mais formoso do que os filhos dos homens” (Sl 45:2).


Para o engenheiro, Cristo é a pedra principal do alicerce — “Eis que ponho em Sião a pedra  principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, a pedra que os edificadores reprovaram, essa foi a principal da esquina” (I Pe 2:6-7).


Para o fazendeiro, Cristo é o grão de trigo que trouxe vida a muitos:  “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (Jo 12:24).


Para o geólogo, Cristo é a Pedra que traz refrigério: “E beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo” (I Co 10:4).


Para o horticultor, Cristo é a videira verdadeira: “Eu sou a videira verdadeira, e Meu Pai é o lavrador” (Jo 15:1).


Para o investigador, Cristo é o grande mistério da piedade: “E, sem dúvida alguma, grande é mistério da piedade: Deus Se manifestou  em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos  gentios, crido no mundo, recebido acima na glória” (I Tm 3:16).


Para o juiz, Cristo é o único juiz perfeito:  “Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os  que amarem a Sua vinda” (II Tm 4:8).


Para o legislador, Cristo é o Príncipe da paz: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado [governo] está sobre os Seus ombros, e se chamará o Seu nome: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9:6).


Para o marinheiro, Cristo é o Senhor dos mares: “E Ele, despertando, repreendeu o vento, e disse ao mar: Cala-te, aquieta-te. E o vento se aquietou, e houve grande bonança … E sentiram um grande temor, e diziam uns aos outros: Mas quem é este, que até vento e o mar lhe obedecem?” (Mc 4:39-41).


Para o negociante, Cristo é o maior tesouro: “Mas o que para mim era ganho, reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de  todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” (Fp 3:7-10).


Para o oftalmologista, Cristo é aquele que ilumina os olhos:  “O pobre e o usurário se encontram; o Senhor ilumina os olhos de ambos” (Pv 29:13).


Para o pregador, Cristo é a Palavra de Deus: “E estava vestido de uma veste salpicada de sangue; e o nome pelo qual Se chama é a Palavra de Deus” (Ap 19:13).


Para o químico, Cristo é o perfume perfeito: “Suave é o aroma dos Teus unguentos; como o unguento derramado é o Teu nome” (Ct 1:3).


Para o rei, Cristo é o Rei dos reis: “E no manto e na Sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor  dos senhores” (Ap 19:16).


Para o servo, Cristo é o único Mestre:  “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos … nem vos chameis mestres, porque um só é vosso Mestre, que é Cristo” (Mt 23:8-10).


Para o teólogo, Cristo é o Autor e Consumador da nossa fé: “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-Se  à destra do trono de Deus” (Hb 12:2).


Para o zoólogo, Cristo é o Leão e o Cordeiro: “E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete  selos. E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto” (Ap 5:5-6).


As Escrituras estão repletas de figuras e títulos para representar as multiformes belezas de “Jesus Cristo, ao qual, não O havendo visto, amais; no qual, não O vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo indescritível e glorioso” (I Pe 1:7-8). Meditemos nEle hoje.



Sua estranha obra — Meditações 624


Um dos muitos avisos solenes do profeta Isaías contra Jerusalém termina com estas palavras (Is 28:14-21):


Porque o Senhor Se levantará,

Como no monte Perazim,

E Se irará,

Como no vale de Gibeão,

Para fazer a Sua obra,

A Sua estranha obra,

E para executar o Seu ato,

O Seu estranho ato.


Em Perazim (II Sm 5:20) e Gibeão (literalmente, “Gibeom”; Js 10:10) Deus lutou a favor do Seu povo; desta vez, porém, Ele faria uma estranha obra, lutando contra o Seu próprio povo, em juízo. Quão grande o pecado do povo que mereceu tal atitude da parte de Deus!


Lembremos que  “o Senhor é tardio em irar-Se, mas grande em poder, e ao culpado não tem  por inocente” (Na 1:3).



Cavalos e mulas — Meditações 625


W. MacDonald


“Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a ti” (Sl 32:9).


Parece-me que o cavalo e a mula retratam duas atitudes erradas que podemos ter quando procuramos a orientação do Senhor. O cavalo quer seguir em frente; a mula quer ficar para trás. O cavalo tende a ser impaciente, fogoso e impetuoso. A mula, por outro lado é teimosa, intratável e preguiçosa. O salmista diz que nenhum dos animais tem entendimento. Ambos têm de ser controlados com freios e rédeas, caso contrário não se sujeitarão ao seu amo.


O desejo de Deus é que sejamos sensíveis à Sua liderança, não nos precipitando na nossa própria sabedoria e não voltando as costas quando Ele nos mostra a Sua vontade.


Eis algumas regras de ouro que podem ser úteis nesse sentido:


Peça a Deus que confirme a Sua orientação pela boca de duas ou três testemunhas. Ele disse: “… pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada” (Mt 18:16). Estas testemunhas poderão incluir um versículo das Escrituras, o conselho de outros cristãos e a maravilhosa convergência das circunstâncias. Se obtiver duas ou três indicações distintas da Sua vontade, não terá quaisquer dúvidas ou receios.


Se está à procura da orientação de Deus e nenhuma orientação vier, então a orientação de Deus é ficar onde está. É ainda verdade que “a ausência de luz para avançar é luz para ficar.”


Aguarde até a orientação ser tão evidente que uma recusa seria desobediência explícita. Os filhos de Israel foram proibidos de avançar sem o avanço das colunas de nuvem e de fogo. Nenhuma racionalização da sua parte poderia desculpar uma ação independente. A sua responsabilidade era avançar quando a nuvem avançasse — não antes, nem depois.


Finalmente, deixe que a paz de Cristo decida no seu coração. Esta é uma tradução livre de Colossenses 3:15. Isto significa que, quando Deus está realmente a guiar, Ele influencia de tal modo os nossos intelecto e emoções que temos paz sobre o caminho correto, e nenhuma paz em nenhum outro caminho.


Se estivermos desejosos de conhecer a vontade divina e obedecer-lhe prontamente, não precisamos do freio e do cabresto da disciplina de Deus.



Obediência — Meditações 626


Há uma lição muito solene, e outra muito preciosa, que aprendemos do livro de Ester. A narrativa destaca que Mordecai (ou Mardoqueu) era descendente de Quis, o pai de Saul (veja I Sm 9:1 e Et 2:5). Além disto, Josefo e outros historiadores judeus afirmam que Hamã (Et 3:1) era amalequita.


Voltando para o início da história de Israel, lemos que Saul desobedeceu à ordem de Deus para destruir totalmente os amalequitas por causa dos seus pecados. Séculos mais tarde um amalequita quase conseguiu destruir o povo de Israel. E nesta situação de emergência, Deus usou um dos parentes de Saul para livrar Seu povo de um perigo que Saul poderia ter evitado, se tivesse obedecido a Deus.


As lições são importantes: nossa desobediência hoje pode trazer problemas para nossos filhos amanhã; Deus, porém, sempre tem, na hora certa e no lugar certo, os Seus instrumentos para executar a Sua vontade.


Se Saul falhar, Deus usará Mordecai!



Oração e fé — Meditações 627


Alguns pensamentos selecionados.


“Não posso fazer nada — só posso orar”, dizemos às vezes, como se tal situação fosse uma segunda opção temerária. Achamos que enquanto estamos agitados, correndo e preocupando, enquanto podemos “dar uma mãozinha”, há esperança; mas se só nos resta esperar em Deus, pensamos que isto é sinal de que estamos em apuros! Ah, quão pequena é a nossa fé! (adaptado de A. J. Gossip; 1873-1954)


Se todos os seus planos e cálculos fracassaram; se, um por um, seus apoios caíram por terra; se todas as portas fecharam, não desanime. Deus está simplesmente tentando lhe dizer que você deve parar de confiar em recursos humanos, e confiar nEle. (Catherine Marshall; 1914-1983)


Quanto mais difícil for orar, mais é preciso orar. (Charles H. Brent; 1862-1929)


Tome cuidado, acima de tudo, para não colocar nenhum limite diante de Deus na sua oração, seja pela sua incredulidade, seja por imaginar que você sabe o que Ele vai fazer. (Andrew Murray)


Jamais se envolva em qualquer negócio pelo qual você não teria coragem de pedir a bênção de Deus em oração. (G. C. Lichtenberg; 1742-1799)



Mais um ciclo — Meditações 628


Hoje é o último dia de 2021.


“E daí?” pergunta alguém; “O calendário é apenas uma convenção humana!” De certa forma, sim; o dia 31 de dezembro é só mais um dia como os outros. Por outro lado, porém, foi o Criador, e não o homem, quem instituiu os “tempos determinados, e dias, e anos” (Gn 1:14). Deus dividiu nossa vida em ciclos, e a passagem dos dias e anos segue a velocidade instituída por Deus na Criação.


Que bom seria se pudéssemos terminar 2021 contando os nossos dias (Sl 90:12), crescendo em sabedoria, estando atentos à passagem do tempo, confiando no Senhor para nos guiar dia a dia, ano a ano!


Como incentivo para encerrar este ciclo (2021) e iniciar um novo (2022), quero relembrar um pequeno Salmo que reparti com os irmãos exatamente um ano atrás; o Salmo 131:

_________________________________

Cântico dos degraus, de Davi.


Senhor, o meu coração não se elevou,

Nem os meus olhos se levantaram;

Não me exercito em grandes matérias,

Nem em coisas muito elevadas para mim.


Certamente que me tenho portado e sossegado

Como uma criança desmamada de sua mãe;

A minha alma está como uma criança desmamada.


Espere, Israel, no Senhor,

Desde agora e para sempre.

________________________________


O v. 1 do Salmo destaca o erro de tentar alcançar o inacessível, exercitando-se em “grandes matérias” e em coisas que são “muito elevadas para mim”. Quanto esforço inútil — queremos saber, queremos resolver, queremos fazer! E queremos isto para hoje!


O v. 2 apresenta o caminho correto: assim como uma criança já desmamada deita no colo da mãe, satisfeita com o abraço e carinho dela, e não chorando mais impaciente pelo seu leite, assim deve ser o cristão em relação a Deus, apreciando o amor dEle mais do que as bênçãos dEle. Devemos dizer: “Certamente que me tenho sossegado — estou tranquilo nos braços de Deus.”


O que posso lhe desejar para 2022? Riquezas, amigos, saúde? Se estas coisas vierem, aproveite-as e agradeça a Deus — mas há algo muito melhor: “Espera no Senhor, desde agora e para sempre. Amém!”



A transfiguração em Mateus — Meditações 629


João é o único dos quatro evangelistas que não menciona a transfiguração — os outros três têm, cada um, os seus detalhes únicos.


Mateus é o Evangelho onde o Senhor é apresentado como o Rei, e no seu relato da transfiguração ele destaca, mais do que os outros, a glória excelsa do Senhor Jesus que foi revelada aos três discípulos privilegiados. Repare alguns detalhes que só se encontram em Mateus.


1) Há uma ênfase em “luz”. Só ele destaca que, na transfiguração, o rosto do Senhor “resplandeceu como o Sol”, e Suas vestes tornaram-se brancas “como a luz”; além do que, apenas ele menciona que a nuvem que os cobriu era “uma nuvem luminosa“ (Marcos e Lucas dizem que ela os cobriu “com sua sombra”). Em Mateus, a glória do Senhor vista no monte da transfiguração é uma glória que brilha e ilumina, lembrando-nos do dia glorioso quando Ele reinará sobre toda a Terra, e Sua cidade “não [necessitará] de Sol nem de Lua para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem iluminado, e o Cordeiro é sua lâmpada. E as nações dos salvos andarão à sua luz” (Ap 21:23-24). Que dia glorioso será!


2) Nas palavras do Pai, só Mateus acrescenta: “… em quem Me comprazo”. Ah, quanto prazer e satisfação o Filho trouxe (e trará) ao Pai! Entre as trevas que reinavam neste mundo escravizado pelo pecado, a única luz que brilhava era a vida perfeita e santa do Senhor Jesus Cristo!


3) Os três evangelhos sinópticos falam do medo dos discípulos, mas apenas Mateus relaciona este medo não com a transfiguração (como Marcos) nem com a nuvem (como Lucas), mas com a voz do Céu. Os discípulos, diz Mateus, ficaram impressionados com este fato: a voz do próprio Deus estava exaltando este homem transfigurado! Ah, como é precioso antecipar aquele dia quando “os Céus e a Terra juntos louvarão” ao nosso Salvador!


4) Finalmente, apenas Mateus diz: “E, aproximando-Se Jesus, tocou-lhes, e disse: Levantai-vos, e não tenhais medo”. Esta revelação da Sua condescendência é sublime, especialmente no contexto de Mateus — o contraste chama nossa atenção. Ele é o Rei eterno; o brilho luminoso da Sua glória é destacado; o prazer do Pai e a aprovação pública dos Céus são claramente apresentadas; mas este grande Rei é tão terno e compassivo que, vendo o temor dos fracos discípulos, Ele preocupa-Se em aproximar-Se deles, abaixar-Se para tocar aqueles que estão prostrados no chão, e dizer-lhes: “Não tenhais medo!”


Este é o grande Rei a quem servimos. Sua glória brilha mais do que o Sol na sua força; Deus e os Céus testemunham da Sua perfeição; e Ele Se preocupa em acalmar nosso temor!


Sirvamo-lO hoje com reverência e confiança!



A transfiguração em Marcos — Meditações 630


Marcos, o evangelho que apresenta o Senhor Jesus Cristo no caráter de Servo perfeito, tem três detalhes únicos na narrativa da transfiguração.


1) Sobre Suas vestes, Mateus e Lucas descrevem sua pureza resumidamente, mas Marcos diz: “Suas vestes tornaram-se resplandecentes, extremamente brancas como a neve, tais como nenhum lavadeiro sobre a Terra os poderia branquear”. Vestes, nas Escrituras, são figura de caráter, principalmente em relação ao testemunho. Vemos aqui que a perfeição demonstrada pelo Servo perfeito de Deus é algo fora da realidade humana. Nenhum esforço humano poderia produzir o tom de branco visto nas vestes dEle, assim como nenhum esforço humano (individual ou coletivo) pode produzir a perfeição de caráter vista no Senhor Jesus. Ele não foi simplesmente o mais perfeito dos homens — a perfeição do Seu caráter era divina! Nunca houve, nem haverá, um ser humano que chegue perto da perfeição e pureza vistas nEle. Nós, que temos uma carne incorrigível e impossível de ser melhorada, devemos adorar ao Homem perfeito que nunca contaminou Suas vestes!


2) Sobre o medo que os discípulos sentiram, aqui em Marcos não é culpa da nuvem (como Lucas), nem da voz do Céu (como em Mateus), mas da transfiguração mesmo. Os discípulos viram aquilo que o homem mortal acha impossível: viram seu Mestre transfigurado, e conversando com dois homens que haviam morrido há séculos. Como será que reconheceram Moisés e Elias? Não sabemos — mas sabemos da realidade do que eles experimentaram aquele dia. Nós cremos no impossível! Cremos que a morte não é o fim, e que a existência eterna dos salvos, em comunhão com Deus, é uma realidade concreta, não um sonho. Esta foi a realidade surpreendente que entenderam lá no monte: os salvos gozam de comunhão eterna com Deus, por meio de Jesus Cristo!


3) Quando vai falar do final da visão, Marcos é o único que mostra o desaparecimento repentino de Moisés e Elias: “E, subitamente, tendo olhado em redor, ninguém mais viram, senão só Jesus com eles”. Marcos (que usa muito palavras de ação) destaca assim, pelo Espírito Santo, que de repente tudo que era supérfluo naquele monte foi tirado, e permaneceu apenas o essencial. Moisés e Elias, apesar da sua grandeza, não mereciam ser o foco das atenções. O Pai diz, de dentro da nuvem: “Este é o Meu Filho amado; a Ele ouvi”. E imediatamente — não aos poucos, como uma cena que se esvai lentamente e deixa lembranças por muito tempo, mas imediatamente — eles só veem o Senhor Jesus Cristo.


Meditemos hoje na perfeição absoluta do nosso Senhor, muito acima daquilo que é visto na Terra; na realidade da Sua comunhão eterna conosco; e na necessidade urgente de ocuparmo-nos somente com Ele. Há muitas aflições e muitas atrações por todo lado — que seja conosco como foi com eles: “subitamente … ninguém mais viram, senão só Jesus.”


Amém!




A transfiguração em Lucas — Meditações 631


Em Lucas temos enfatizada a humanidade perfeita do Senhor Jesus. Se Mateus O apresenta como Rei e Marcos com Servo, Lucas O apresenta como Homem — o único Homem perfeito que andou nesta Terra.


Alguns dos detalhes únicos da narrativa da transfiguração em Lucas (além do detalhe dos “quase oito dias”), são:


1) A oração do Senhor — Lucas diz que Ele “subiu ao monte a orar”, e que, “estando Ele orando, transfigurou-Se …” Que contraste entre a majestade e soberania do Cristo transfigurado, e a dependência de um Homem em oração! Como precisamos aprender com nosso Senhor a orar mais e mais!


2) O assunto da conversa com Moisés e Elias — “… os quais apareceram com glória, e falavam da Sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém”. É interessante ver que a palavra traduzida “morte” aqui é, literalmente, “êxodo”, enfatizando assim que o propósito final da vinda do Senhor ao mundo era morrer por nós no Calvário. É como se Sua ressurreição e ascensão estão incluídas na Sua morte! Este assunto tão sublime, ainda escondido dos discípulos, era conhecido no Céu (Moisés e Elias podiam conversar inteligentemente sobre isto), e será também o assunto de muitas e muitas conversas na eternidade! Jamais nos cansaremos de falar da Sua morte!


3) O sono dos discípulos — “E Pedro e os que estavam com ele estavam carregados de sono”. Assim como no jardim do Getsêmani, os discípulos provavelmente sentiram-se cansados pela intensidade das experiências que estavam presenciando. Lucas destaca assim a diferença entre aqueles três homens, “carregados de sono”, e o Homem perfeito, no pleno vigor da Sua glória celestial! Que Salvador incomparável!


4) O distanciamento de Moisés e Elias — “E aconteceu que, quando aqueles se apartaram dEle, disse Pedro …” Parece que, antes de voltarem aos Céus, Moisés e Elias encerraram sua conversa e afastaram-se, respeitosamente, do Senhor. Mais uma vez é destacada a glória única dEle. Três homens (Pedro, Tiago e João) estão carregados de sono; dois homens (Moisés e Elias) estão respeitosamente distantes dEle; e apenas um Homem manifesta no Seu semblante a glória do Deus eterno!


5) O medo dos discípulos — Marcos associa o medo deles com a transfiguração, e Mateus com a voz de Deus no final. Aqui em Lucas, porém, é quando “[entraram] eles na nuvem” que temeram. Pedro, na sua sincera ignorância, quis igualar Moisés e Elias com o Senhor. “Dizendo ele isto, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra”, e começaram a perceber a grandeza singular e única do Senhor Jesus Cristo.


E então, “Jesus foi achado só” — não é só que eles não viram mais ninguém (como Mateus e Marcos relatam), mas não havia mais ninguém! Que possamos aprender a lição da transfiguração — há muitos homens que serviram (e servem) a Deus, mas há apenas um Homem que importa! Só Ele é digno da nossa adoração e louvor. Num certo sentido, todos os salvos são santos — mas as hostes celestiais apresentam o assunto de outro ponto de vista, ao dizer para o Cordeiro: “Só Tu és santo!” (Ap 15:4).


Que Ele encha nossos corações e mentes hoje!



Mesmo assim … Meditações 632


(Adaptado de um texto anônimo)


• As pessoas ao seu redor agem, muitas vezes, de forma ilógica, irracional e egoística — mesmo assim, ame-os (“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”, Lc 23:34);


• Todos realmente precisam de ajuda, mas muitos não querem ser ajudados— mesmo assim, procure ajudar sempre que puder (“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quisestes”, Lc 4:16-30);


• Quando você tenta, em sinceridade, fazer o que agrada a Deus, será odiado e criticado por muitos que, sentindo-se acusados pelas próprias consciências, dizem que você pensa ser melhor do que os outros — mesmo assim, faça sempre a vontade de Deus (o Senhor Jesus disse acerca do Pai: “Eu faço sempre o que Lhe agrada”; depois vira para os judeus e afirma: “Mas agora procurais matar-Me”; e João acrescenta: “Então pegaram em pedras para lhe atirarem”, Jo 6:29-59);


• A maior parte daquilo que você faz para Deus passa despercebido pelos homens, e as poucas pessoas que percebem o seu esforço, logo se esquecem — mesmo assim, continue servindo fielmente (o Senhor Jesus curou dez leprosos, mas apenas um veio Lhe agradecer, Lc 17:11-19);


• O que você levar anos edificando pode ser derrubado numa noite — mesmo assim, edifique (“Eis que é chegado o que Me trai … então todos os discípulos, deixando-O, fugiram”, Mt 26:36- 56).


Normalmente ficaremos desapontados quando estivermos  esperando algum incentivo ou aprovação das pessoas ao nosso redor. Nosso serviço deve ser sempre feito para o Senhor, esperando a aprovação dEle, preocupados em agradar a Ele, e seguindo o exemplo do nosso amado Senhor. Se quisermos ser populares aqui no mundo, não somos servos de Cristo (Gl 1:10).



Confiança — Meditações 633


D. Logan (adaptado)


“Moisés … era poderoso em suas palavras…” (At 7:22) — “Então disse Moisés ao Senhor: Ah, meu Senhor! Eu não sou homem eloquente” (Êx 4:10).


O jovem e eloquente príncipe teve que passar 40 anos no deserto para aprender a não confiar em si mesmo e na sua capacidade. Mas então ele teve dificuldade em aprender a confiar em Deus. Deus havia prometido a Moisés: “Certamente Eu serei contigo … e ouvirão a tua voz” (v. 12, 18); mesmo assim, Moisés estava desconfiado.


Muitas vezes nós cometemos os mesmos erros. Ou demonstramos uma auto-confiança carnal (“Claro, eu consigo fazer isso, sem problema!”), ou nem temos coragem de tentar (“Não adianta; eu não vou conseguir mesmo!”).


O que a Palavra de Deus nos ensina, porém, é que ambas as atitudes acima estão erradas. Precisamos deixar de lado toda a confiança em nós mesmos, lembrando das palavras do Senhor Jesus: “… sem Mim, nada podeis fazer” (Jo 15:5), mas jamais permitir que nossa confiança em Deus seja abalada, lembrando: “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece” (Fp 4:13).


Confiando em nós mesmos, já estamos derrotados; confiando em Deus, “somos mais do que vencedores” (Rm 8:37).



O Evangelho — Meditações 634


Comentando sobre o Evangelho, e especialmente João 3:16, Sir Robert Anderson (The Gospel and it’s Ministry) escreveu:


Assim como a mão de uma criança pode segurar a semente que contém em si uma grande árvore, assim podemos dizer que conhece o Evangelho a menor criança que for capaz de entender o “sermão de Nicodemos”. Porém em cada palavra deste Evangelho há profundezas e mistérios de sabedoria que só Deus pode plenamente compreender.


Diga-me o que quer dizer “perecer”, e permita-me compreender o que é uma vida eterna. Ajude-me a medir o abismo de iniquidade e culpa do homem durante todos os séculos de sua história manchada pelo ódio, para que eu possa entender um pouco deste mundo que Deus tanto amou; e então, maravilhado ante o fato de este mundo ter sido alvo do amor divino, prossiga descrevendo este amor que deu o Filho. E quando você me levar a compreender este amor que não pode ser compreendido, pois excede todo o entendimento, prossiga ainda e fale-me do sacrifício pelo qual este amor foi demonstrado e provado — Seu Filho, Seu Filho Unigênito. Faze-me conhecer, com a plenitude do entendimento, aquele que declarou que apenas o Pai O conhece. E quando tudo isto for alcançado, eu volto às palavras de Cristo, e leio que foi Deus quem amou o mundo, e eu almejo saber Quem e o que Deus é. Posso compreender o que é amor, quem sabe até amor para com um mundo perverso, e a noção de um amor que entrega seu único Filho não é impossível de sondar; mas quando entendo que Deus foi quem amou, e Deus foi quem deu, e o Filho de Deus quem foi dado, então me prostro maravilhado em adoração na presença do Infinito, e confesso que tal entendimento é alto demais para mim.


“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos!” (Rm 11:33)



Oração de Daniel — Meditações 635


Quando Daniel e seus três amigos souberam que haviam sido condenados à morte, eles decidiram orar e Deus “a  fim de que Daniel e seus companheiros não perecessem”. Sua oração (Dn 2:17-23) é curta, mas impressiona pela sua estrutura ordeira. Parece quase um poema escrito com cuidado e planejamento (mais alguns detalhes no final, para quem interessar).


É claro que não estou sugerindo que nossas orações deveriam ser frias e formais, e que quem orar com mais eloquência ora melhor — creio na necessidade de orarmos com sinceridade, derramando a nossa alma perante o Senhor (I Sm 1:15). Mas diante de tantos exemplos de louvor ordeiro e estruturado nas Escrituras (muitos já tratados nestas Meditações), aprendemos que orar a Deus é algo que merece ser feito com todo capricho e empenho!


Um dos aspectos principais da oração (talvez o mais importante) é que oramos a Deus, e não aos homens. Isto é, quem tentar impressionar os outros com as suas orações estará desagradando a Deus! Mas devo entender que Deus merece o meu melhor, e antes de orar devo pensar sobre o que vou pedir, e como vou pedir. Não quero dizer que devemos sentar e escrever um poema, e depois recitá-lo diante de Deus — isto seria um exagero! Mas devo entender que orar é uma atividade gloriosa, e deve ser feita usando todos os talentos que Deus me deu! Orando de forma displicente, caímos na condenação do povo de Israel oferecendo a Deus animais que não eram perfeitos: “Apresenta-o ao teu governador; porventura terá ele agrado em ti?” (Ml 1:7-8).


Deus aprecia mais o balbuciar incoerente e cheio de erros gramaticais de uma criança sincera do que a oração eloquente e estruturada de um acadêmico orgulhoso — numa emergência, siga o exemplo de Neemias (Ne 2:4-5) e ore a Deus imediatamente, sem rodeios ou preparação — mas ao mesmo tempo, lembre: quem se atreveria a orar a Deus com menos do que 100% de concentração? Dediquemo-nos, portanto, a este exercício tão nobre e eloquente, sem jamais perder a liberdade sincera e confiante da criança.


A estrutura da oração


Na primeira parte da oração Daniel fala sobre Deus, enquanto no final ele dirige-se diretamente a Deus (repare a mudança de “Ele” para “Te”).


Ele louva a Deus por Ele ser o possuidor de duas coisas: sabedoria e força. Após citar alguns exemplos do primeiro, força (Deus muda tempos, remove e estabelece reis), ele trata do segundo assunto, sabedoria (Deus dá sabedoria e conhecimento, revela o profundo e escondido, conhece as trevas, mora na luz). Depois ele termina agradecendo pelas mesmas duas coisas: sabedoria e força.


Introdução: “Seja bendito o nome de Deus de eternidade a eternidade, porque dEle são a sabedoria e a força;”


Força: “e Ele muda os tempos e as estações; Ele remove os reis e estabelece os  reis;”


Sabedoria: “Ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos entendidos. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com Ele mora a luz.”


Agradecimento: “Ó Deus de meus pais, eu Te dou graças e Te louvo, porque me deste sabedoria e força; e agora me fizeste saber o que Te pedimos, porque nos fizeste saber este assunto do rei.”


Daniel 2:17-23



Oração de Daniel (b) — Meditações 636


Ontem pensamos resumidamente sobre a estrutura da oração curta de Daniel em 2:17-23. Quero repetir o que enfatizei ontem: esta estrutura destaca a importância do ato de orar, mas não quer dizer que devemos orar de forma formal e acadêmica. Não podemos estar mais preocupados com a forma do que com o conteúdo da oração! Nossas orações devem ser, em primeiro lugar, sinceras e autênticas — mas isto não tira o brilho e a importância do ato de orar. “Espontaneidade” não é sinônimo de “relaxo”!


Pense um pouco, hoje, sobre como Daniel orou.


Louvor pelo que Deus é: ele começou exaltando a Deus pelos Seus atributos divinos (“Seja bendito o nome de Deus de eternidade a eternidade, porque dEle são a sabedoria e a força; e Ele muda os tempos e as estações; Ele remove os reis e estabelece os  reis; Ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos entendidos. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com Ele mora a luz”). Quantas vezes incluímos louvor nas nossas orações? Pensando nos exemplos bíblicos, uma boa regra é que, em situações normais, devemos sempre começar nossas orações exaltando a grandeza do Deus a quem oramos. Em situações de emergência, é claro, basta clamar: “Senhor, salva-me!” e seremos ouvidos (Mt 14:30). Mas quando nos preparamos para orar com calma, o primeiro pensamento deve ser: quão grande e perfeito é este Deus a quem estou orando!


Agradecimento pelo que Deus fez: tendo usado dez linhas (na versão da Bíblia que estou usando) para louvar a Deus pelo que Ele é, cinco linhas bastam para agradecer: “Ó Deus de meus pais, eu Te dou graças e Te louvo, porque me deste sabedoria e força; e agora me fizeste saber o que Te pedimos, porque nos fizeste saber este assunto do rei.”


Foi uma oração em duas partes. O objetivo específico da sua oração (agradecer pela resposta divina) ocupa o segundo lugar, e o menor espaço. Sugiro que podemos tirar disto uma lição simples: nossas orações devem dar prioridade ao louvor. Mesmo que você passe uma hora na presença de Deus intercedendo pelos outros, tire primeiro alguns minutos para lembrar da grandeza de Deus.


A “oração modelo” do Senhor Jesus confirma esta prioridade (Lc 11:1-4). Primeiro Deus e Seu reino, depois as nossas necessidades.


“Senhor, ensina-nos a orar” (Lc 11:1)






© 2021 W. J. Watterson

 

 

 

 

No comments:

Post a Comment

Dois detalhes sobre Isaías 53

Isaías 53 contém o quarto Cântico do Servo (que inclui os últimos três versículos do cap. 52). Qual seria o centro deste Cântico?