Saturday 5 March 2022

Meditações 637 a 649


Meditações na quarentena (2020/22) enviadas diariamente aos irmãos e irmãs da igreja local em Pirassununga para nosso ânimo mútuo (arquivadas neste blog).

Moriá, monte do sacrifício — Meditações 637


Já mencionamos algumas vezes nestas Meditações o monte Moriá, onde está construída uma parte de Jerusalém. Quero pensar com mais detalhes neste lugar solene.


K. Moody-Stewart o descreve como “um pequeno monte que atrairia pouquíssima importância geograficamente, situado na fronteira entre Judá e Benjamim”. O platô onde Jerusalém foi construída é cortado por diversos vales, produzindo assim cinco elevações, das quais uma é chamada monte Moriá (as outras são o monte das Oliveiras, o monte Sião, e os montes Acra e Bezeta). O monte Moriá, que tinha ao ocidente o monte Sião e ao oriente o monte das Oliveiras, ficava do lado de fora da antiga cidade dos Jebuseus, mas nos dias de Salomão passou a fazer parte de Jerusalém. Salomão inclusive construiu um grande viaduto entre o monte Moriá (onde construiu o Templo) e o monte Sião (onde ficava seu palácio).


Ocorrências no VT


Este monte é mencionado, por nome, apenas duas vezes nas Escrituras. Como o Templo foi construído neste monte, são muitíssimas as referências indiretas a ele na Bíblia, mas o nome só ocorre duas vezes.


A primeira vez é numa das figuras mais lindas e tocantes do Calvário em todo o Velho Testamento, quando Deus disse a Abraão. “Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que Eu te direi” (Gn 22:2).


Este acontecimento representa o ponto mais alto na vida de Abraão. É difícil pensar em outro acontecimento na Bíblia em que um homem tem uma experiência tão profunda com Deus. É com dificuldade que pensamos no que Abraão experimentou.


A própria forma como Deus escreve a narrativa nos chama a atenção. A conversa entre Abraão e Deus começa lentamente, solenemente. Diferentemente de todas as outras vezes em que Deus falou com Abraão, agora Ele começa chamando-o: “Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.” O Senhor não tinha o costume de chamar Abraão pelo nome — a única outra vez que isto acontece, fora deste capítulo, é em 15:1. Normalmente o Senhor simplesmente falava a Abraão o que Ele queria falar, sem preâmbulo ou introdução. Desta vez, porém, foi diferente. Ele não apenas o chama pelo nome, mas Ele espera uma resposta de Abraão antes de prosseguir (vs. 1 e 11). No v. 7, onde temos a única conversa registrada entre Isaque e seu pai, vemos a mesma coisa: “Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui, meu filho!” Parece que todos estão pensando antes de falar, falando com cautela e reverência! Deus está nos indicando, pela maneira de escrever a história, que trata-se de algo solene. E conforme lemos a história, vemos quanta solenidade!


A exigência de Deus


O Senhor diz: “Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que Eu te direi.” O que será que passou pela mente de Abraão nesta hora em que Deus lhe pediu o filho que lhe era especial? Abraão também amava seu outro filho, Ismael, mas Isaque era o único “filho da promessa”, como diz a Bíblia. Alguns comentaristas judeus da antiguidade imaginaram que, enquanto Deus falava, Abraão respondia em seus pensamentos (seguindo a ordem das palavras no texto hebraico), desta forma:


“Abraão, toma agora o teu filho.”

“Senhor, eu tenho dois filhos”.

“Toma o teu único filho.”

“Senhor, ambos são filhos únicos de suas mães.”

“Toma o filho a quem amas.”

“Senhor, eu amo a ambos”.

“Abraão, toma Isaque!”


Abraão entendeu, neste momento, um pouquinho da dor que pesava no coração de Deus ao dar o Seu Filho. Nós, que lemos esta história e já sabemos do resultado alegre da viagem, ainda assim nos comovemos por Abraão — imagine o que ele sentiu ao ouvir o Senhor lhe pedindo seu único filho, seu filho amado, o seu Isaque!


E imaginando isto, começamos a apreciar a dor de Deus Pai. Estamos tão acostumados e citar João 3:16 (Meditações 634) que nem sempre percebemos a imensidão do que Deus fez ao dar Seu Filho unigênito. Eu tenho imensa dificuldade em avaliar o quanto custaria para mim oferecer, voluntariamente, uma das minhas filhas a um sacrifício doloroso e profundo. Mas isto é pouco — diante da perfeição do amor de Deus pelo Seu Filho, e da profundidade do sofrimento no Calvário, como medir o quando custou ao Pai dar o Seu Filho?


Nos curvamos diante deste amor divino, sobre-humano, e louvamos a Deus por sofrer esta imensa dor por nós!


Que preço amargo, ó meu Senhor,

Pagaste em meu lugar;

Teu Filho amado, singular,

Deitaste sobre o altar!



Oração de Daniel (c) — Meditações 638


Tendo pensado um pouco sobre a estrutura e o assunto da oração registrada em Daniel 2:17-23, pense resumidamente sobre duas coisas que ela nos ensina.


1) A força de Deus nos tranquiliza. Diz Daniel: “Ele muda os tempos e as estações; Ele remove os reis e estabelece os  reis”. Este é um tema recorrente no pequeno, mas precioso, livro de Daniel. Deus está em controle das circunstâncias naturais (“tempos e estações”) e na política mundial (“reis”). Como cristãos, podemos até nos assustar com o que acontece (veja Dn 4:19), mas jamais devemos desesperar. As coisas que estão acontecendo hoje, e as decisões tomadas por aqueles que pensam estar no controle, estão todas sendo controladas pela mão onipotente de Deus! Cremos nisto hoje?


2) A sabedoria de Deus nos orienta. “Ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos entendidos. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com Ele mora a luz”. Não cremos apenas que Ele conhece, intimamente, as trevas e a luz, mas também que “Ele dá sabedoria … e revela o escondido”. Ele nem sempre vai nos explicar por que Ele faz o que faz, mas Ele sempre nos mostrará como devemos agir em cada situação (Tg 1:5).


“Quer dizer”, dizer alguém, “Que você nunca tem medo, e sempre tem certeza sobre o que fazer?” Não — infelizmente, não! Mas sempre podemos agir como a criancinha que, completamente confusa, sente segurança ao pegar na mão do seu pai e permitir que ele a guie pelo meio da multidão até o destino seguro.


Eu nem sempre sei — mas Deus sabe, e Ele me ajudará a entender também!


Que os sentimentos de Daniel na sua oração sejam os nossos também hoje!



A face de Cristo — Meditações 639


Em II Coríntios, Paulo foi inspirado a escrever algo sublime sobre o efeito do Evangelho na vida daquele que crê — e que transformação ele descreve! Antes fazíamos parte daquela multidão a quem “o deus deste século cegou os entendimentos … para  que lhes não resplandeça a luz do Evangelho da glória de Cristo, que é imagem de Deus” — mas agora, “Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” (II Co 4:3-6).


Que mudança! Leia atentamente estas palavras inspiradas, e veja:


Quem? O mesmo Deus que, no primeiro diz da Criação, disse: “Haja luz!” e houve luz, é quem resplandeceu em nossos corações!


Para que? “Para iluminação do conhecimento da glória de Deus!” A luz só é útil quando nos revela algo, e a luz do Evangelho revela algo de suprema importância: o conhecimento da glória de Deus! Ah, como medir isto? Pecadores cegos e ignorantes podem vir a conhecer a glória de Deus!


Onde? E onde brilha esta glória? No Céu? Diz o texto: “na face de Jesus Cristo!” Ah, que bênção contemplar, pela fé, a face do Bebê nos braços de Maria, e ver o brilho da glória de Deus! Olhamos para uma face que atraía as criancinhas; uma face transfigurada num monte, enchendo os discípulos de temor; uma face ensanguentada numa cruz, ferida pelos nossos pecados; uma face enchendo os Céus de luz — olhamos pela fé, e vemos na face de Jesus Cristo todo o brilho da glória de Deus!


Um dia, diz a Bíblia, os salvos “verão o Seu rosto” (Ap 22:4; a mesma palavra traduzida “face” em II Co 4:6). Que glória! Mas hoje mesmo já podemos, pela luz divina que brilha em nossos corações, conhecer a glória de Deus no rosto de Jesus Cristo!


Que possamos aproveitar a oportunidade!



Produtividade — Meditações  640


Somos exortados a remir o tempo (Ef 5:16 e Cl 4:5), e a não sermos preguiçosos — um ensino que endosso 100%.


Mas sempre há o outro lado da moeda! Surgem situações quando a única coisa que podemos fazer é, como Daniel, sentar atônitos por uma hora (Dn 4:19); ou, como Esdras, por várias horas (Ed 9:4); ou pior ainda, ficar uma semana inteira em silêncio (Jó 2:13)!


É comum nos sentimos culpados por estes períodos sem produtividade. Mas muitas vezes — mesmo que pareça um contra-senso — é justamente nestas horas de inatividade que lutamos nossas maiores batalhas!


Se as ondas te afligem hoje, espera em Deus. Fincar os pés no chão para não ser levado pela correnteza não vai fazer você progredir — mas muitas vezes, não retroceder já é uma enorme vitória.


Como disse Davi: “O choro  pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30:5).



Cuidado com o farisaísmo — Meditações 641


Ah, irmãos, quão fácil é se tornar um fariseu! Não no sentido literal (um membro da seita), mas no comportamento. Quão fácil é ter um coração legalista que se contenta apenas em observar a letra da Lei, sem misericórdia ou compaixão pelos fracos. Damos tapinhas nas nossas costas pelas coisas boas que fazemos, enquanto pisamos por cima dos nossos irmãos! De que adianta dizer: “Eu leio dez capítulos da Bíblia por dia, e nunca perco uma reunião!” se não me compadeço dos necessitados e fracos?


Não estou sugerindo que ler a Bíblia e frequentar as reuniões não é importante (pelo contrário, acho fundamental!). Creio que os dois lados da moeda (conduta e coração) são essenciais. Talvez o melhor resumo sobre este assunto está nas palavras do Senhor Jesus em Mateus 23:23: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a  misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas” (Mt 23:23).


Se nos gloriamos do nosso sacrifício, estamos sacrificando em vão! É importante fazer o que é certo — mas nossas boas obras só terão valor se forem feitas pelos motivos certos!


Abaixo, um lista de versículos que enfatizam como é importante que eu me preocupe com meu coração e minha atitude:


“Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos  e sacrifícios, como em que se obedeça à Palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a  gordura de carneiros” (I Sm 15:22).


“Fazer justiça e juízo é mais aceitável ao Senhor do que sacrifício” (Pv 21:3).


“Eis que para contendas e debates jejuais … Seria este o jejum que Eu escolheria? …Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os  oprimidos, e despedaces todo o jugo?” (Is 58:4-6).


“Porque Eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de  Deus, mais do que os holocaustos” (Os 6:6).


“Com que me apresentarei ao Senhor, e me inclinarei diante do Deus altíssimo? Apresentar-me-ei diante dEle com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do  meu ventre pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?” (Mq 6:6-8).


“Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício” (Mt 9:13).


“Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes” (Mt 12:7).



Juízo imediato — Meditações 642


Há três situações nos caps. 4 a 6 de Daniel que mostram como Deus às vezes age imediatamente. Estando tão próximas uma da outra no texto sagrado, chamam a nossa atenção.


A primeira é quando Nabucodonosor se exaltou. Contemplando a glória da grande cidade de Babilônia, ele disse: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para  a casa real, com a força do meu poder, e para glória da minha magnificência?” Como Herodes (At 12:23) ele não deu glória a Deus, e o juízo veio tão repentinamente quando no caso do outro rei: “Ainda estava a palavra na boca do rei, quando caiu uma voz do Céu: … Passou de ti o reino” (Dn 4:31). Cuidado com o orgulho!


A segunda foi quando Belsazar, servindo aos seus deuses, zombou de Deus. E após receber o aviso de Deus pela escrita na parede, o capítulo termina com estas palavras solenes: “Naquela noite foi morto Belsazar, rei dos caldeus” (Dn 5:30). Cuidado com a irreverência!


A terceira e última foi quando homens invejosos tentaram incriminar Daniel, e acabaram lançados na cova dos leões que prepararam para o servo de Deus. Mas se Daniel passou uma noite inteira com os leões sem ser importunado por eles, estes invejosos não tiveram nem tempo de correr, pois “ainda não tinham chegado ao fundo da cova quando os leões  se apoderaram deles, e lhes esmigalharam todos os ossos” (Dn 6:24). Cuidado com a inveja!


Deus geralmente não age assim.  Ele “é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (II Pe 3:9) — mas é bom lembrarmos que Ele sempre julga, e muitas vezes é sem demora.


“Não erreis: Deus não Se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6:7).




Quem sabe? Meditações 643


Salomão deu este conselho aos semeadores: “Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará; se esta, se aquela, ou se ambas serão igualmente boas” (Ec 11:6).


Devemos semear a palavra do Evangelho crendo que o alcance da mensagem pode ser muito maior do que imaginamos. É um assunto que já abordei antes (Meditações 367, 522, 561), mas que merece ser repetido. Cito dois exemplos.


Li ontem sobre a salvação de um irmão falecido há poucos anos (A Hull). Criado num lar cristão, ele conhecia o Evangelho, mas havia se afastado e afundado no pecado. Uma noite, cansado do pecado e desejando ser salvo, ele voltava para sua casa pensando se haveria perdão para ele. Passando em frente a um pequeno salão onde o Evangelho estava sendo pregado, ele ouviu pelas janelas abertas um hino, e um pouco da pregação (isto na Irlanda do Norte, país frio onde janelas ficam sempre fechadas). Continuou seu caminho, e foi salvo naquela noite na sua casa. Ele descobriu noutro dia que só havia seis pessoas presentes na reunião aquela noite, e que um dos irmãos havia dito: “Estamos só em seis, e todos nós somos salvos. Vamos abrir as janelas — quem sabe alguma pessoa lá fora ouça!” Ele gostava de dizer: “Eu era aquela ‘alguma pessoa’ naquela noite”.


Recentemente um irmão distribuía folhetos aqui em Pirassununga. De repente uma moto o alcançou e parou, e o condutor lhe disse: “Você entregou isto aqui naquela casa um quarteirão atrás, não é? Não mora ninguém ali — eu só estava ali fazendo um serviço, e estou voltando para minha casa. Mas esta literatura era para mim hoje. Obrigado”.


Que sejamos incentivados a continuar testemunhando do Senhor: seja pelo nosso testemunho em casa ou no serviço, seja com folhetos, seja de que forma for, porque não sabemos qual “semente” produzirá fruto. E mesmo que nunca soubermos de nenhum resultado concreto do nosso serviço, termos a consciência de que ocupamos bem o nosso tempo servindo a Deus.


Lembremos: “o vosso trabalho não é vão no Senhor” (I Co 15:58).



Moriá, monte do sacrifício (b) — Meditações 644


Pensamos domingo passado a respeito da dor de Abraão ao oferecer Isaque sobre o monte Moriá — mas é igualmente comovente pensar em Isaque.


Ele não era mais uma criança. Não sabemos a idade dele, mas o fato dele ter força suficiente para carregar, sozinho, a lenha para o holocausto (Gn 22:6) sugere que ele já seria um moço, quase na idade adulta. Não se trata de uma vítima ignorante e indefesa, mas de um filho submisso à vontade do seu pai.


O texto de Gênesis destaca a solidão de Abraão e Isaque. Os dois servos podiam acompanhá-los durante a viagem, mas quando se aproximaram de Moriá Abraão precisou dizer: “Ficai-vos aqui … eu e o moço iremos até ali” (22:5). Ninguém mais poderia presenciar aquele ato tão íntimo e solene!


Lembramos do nosso Senhor dizendo aos discípulos, poucas horas antes da Sua morte: “Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que … Me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo” (Jo 16:32). Eles O tinham acompanhado muitas vezes — mas ali na cruz, quando Deus cobriu o monte Moriá com densas trevas, o Pai e o Filho precisavam estar, espiritualmente, sós. Ninguém podia interferir ou participar, e nem sequer observar o que aconteceu ali!


Junto com a solidão, pensamos na comunhão. Abraão e Isaque estavam sós, mas tinham um ao outro. Duas vezes o relato histórico diz: “caminharam ambos juntos” (22:6, 8). Novamente lembramos do Senhor, abandonado por todos mas afirmando: “Não estou só, porque o Pai está comigo!” O Calvário manifesta a comunhão íntima e perfeita entre a Trindade, quando “Cristo pelo Espírito eterno Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus” (Hb 9:14). A cruz revela quão perfeita é a comunhão e o amor divino. Que dia glorioso foi aquele em que Deus e Seu Filho subiram “ambos juntos” o monte Moriá!


Sim, mas também — que dia solene! Porque ali na cruz, de uma forma que não entendemos perfeitamente, também houve uma solidão mais profunda e insondável que qualquer abismo conhecido ou imaginado. Lá no monte Moriá ouviu-se um clamor: “*Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?*” Curvamos nossas cabeças e dizemos: “Foi por nossas transgressões” … mas como entender a profundidade disto? Como é possível que Ele fosse desamparado?


Assim como Abraão, num certo sentido, precisou virar as costas ao seu filho amado, assim Deus precisou clamar:  “Ó espada, desperta-te contra o Meu pastor, e contra o homem que é o Meu companheiro,” (Zc 13:7).


“Deus Meu, por quê?” foi Seu clamor

Das trevas de horror!

Mas Deus do Céu não respondeu;

Sozinho ali morreu! 


Do Céu não houve intervenção,

Nenhuma compaixão;

A Tua espada não poupou

O Filho que Te amou.


Meditemos hoje neste trecho tão precioso, que revela uma figura preciosa do sacrifício do Senhor Jesus Cristo. Assim como Isaque carregou a lenha do holocausto, assim o Senhor Jesus carregou Sua própria cruz até o Calvário, na mesma região do monte Moriá onde Isaque foi oferecido.


E meditando, louvemos ao Senhor pelo Seu sacrifício.



Exemplo — Meditações 645


Há muitos anos ouvi de um homem que abandonou as bebidas alcoólicas depois de uma experiência com seu filho pequeno. Numa tarde quente, ambos entraram numa lanchonete. O pai pediu uma cerveja, e depois deu ao garoto a oportunidade de fazer o seu pedido, como de costume. Mas ao invés de pedir o refrigerante costumeiro, a criança disse: “Eu quero o mesmo que papai!” O pai, assustado, pediu refrigerantes para os dois, e mudou sua prática.


Não há como negar que nossas atitudes servem de exemplo para muitos ao nosso redor. Crianças imitam, inconscientemente, seus pais e mães. Uma pessoa mais destacada em uma comunidade acabará atraindo alguns “discípulos”. E assim por diante.


Será que nos preocupamos devidamente com o exemplo que estamos dando? Ao escolher entre “A” e “B”, pensamos apenas em qual opção é melhor para nós? Ou pensamos sobre o exemplo que estaremos dando àqueles que nos observam? Teríamos coragem de nos colocarmos como exemplo a ser seguido?


O Senhor Jesus tinha autoridade divina para dizer, após lavar os pés aos discípulos: “Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13:15). Por inspiração divina, o apóstolo Paulo teve o direito de dizer: “Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo  que tendes em nós” (Fp 3:17). 


Mas sentimos demais nossas fraquezas para termos a ousadia de achar que servimos de exemplo para os outros! É bom ter esta sinceridade; mas devemos acatar a exortação que Paulo fez a Timóteo e Tito (e, por extensão, a todos nós): “Sê exemplo dos fiéis, na palavra,  no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza” (I Tm 4:12); “Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra incorrupção,  gravidade, sinceridade” (Tt 2:7).


Em suma, creio que podemos dizer: “Eu não me considero um bom exemplo — mas quero me esforçar para ser!”


Amém!



Exemplo (b) — Meditações 646


Pensando mais detalhadamente sobre os trechos citados ontem, considere I Timóteo 4:12. Ali temos o que Paulo desejava para seu filho na fé, Timóteo. Como será que a lista de Paulo se compara com aquilo que nós desejamos para nossos filhos?


Baseado nos comentários de J. Allen (comentário Ritchie), Paulo queria que Timóteo fosse exemplo:


Na palavraen logo, na fala. Timóteo deveria escolher suas palavras cuidadosamente. Preocupamo-nos com o linguajar utilizado pelos nossos filhos e filhas?


No trato. Isto abrange todas as áreas da vida (veja como Paulo usa esta expressão em Gl 1:13 e Ef 4:22). Ensinamos nossos filhos e filhas a serem corteses e respeitosos?


No amor. Não é meramente um impulso emotivo, mas um interesse voluntário que procura o bem estar dos outros, quer sejam cristãos ou não — exige uma vida de sacrifícios em benefício dos outros. Estamos mostrando-lhes, pelo nosso exemplo, que “mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”? (At 20:35) 


No espírito — Enfatiza especialmente o relacionamento com Deus. Oramos principalmente pela sua salvação e seu crescimento espiritual, ou primeiro pelas coisas materiais?


Na fé. É o que os homens devem a Deus por Ele ser Deus. Isto é confiança e esperança depositados na Sua Pessoa, e consequentemente, na Sua Palavra. Nos alegra ver em nossos filhos uma confiança humilde em Deus, ou queremos que sejam autoconfiantes?


Na pureza. Descreve a castidade que não se limita a evitar os pecados da carne — a pureza de motivos que foge de tudo que é impróprio ou impuro. 


A maioria dos desejos acima é o contrário do que o incrédulo deseja para seus filhos — mas se vivermos a realidade da nossa fé, estaremos apresentando a estas pequenas vidas que Deus nos confiou um exemplo muito mais elevado. Que possamos realmente desejar que eles vivam para os outros, e não para si mesmos, e que confiem em Deus, e não em si mesmos!



Exemplo (c) — Meditações 647


Continuando a pensar no exemplo que Paulo queria transmitir aos seus filhos na fé, vemos seu desejo em relação a Tito: “Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível” (Tt 2:7).


Novamente, podemos comparar isto com aquilo que desejamos para nossos filhos. Resumindo do Comentário Ritchie (D. West — ênfase minha), lemos:


Inicialmente, a ênfase está nos atos de Tito. “Boas obras” se refere não simplesmente a atos de bondade, mas a obras que são boas e louváveis aos olhos de Deus. Mas conduta … não é tudo, portanto a ênfase agora passa ao ensino de Tito. A ordem é significativa, pois exemplo vem antes de exortação; Lucas nos fala de “tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar” (At 1:1).

 

Paulo trata, primeiramente, da maneira como Tito deveria ensinar … “Incorrupção” e “gravidade” [e “sinceridade] se referem não ao conteúdo de seu ensino, mas à atitude e comportamento de Tito como ensinador. Em seguida, Paulo enfoca a substância do ensino de Tito … deveria ser “irrepreensível”.


Ou seja, fazer antes de falar; e quando falar, escolher bem as palavras! Quanta bobagem já dissemos — como precisamos melhorar neste ponto. Que possamos desejar que nossos filhos e filhas sigam este exemplo, e se tornem, no devido tempo, “em tudo” exemplos para outros mais jovens. Se crescerem espiritualmente no conhecimento de Deus e das Escrituras, serão bem-aventurados, independentemente da sua saúde ou situação financeira.



Exemplo (d) — Meditações 648


Finalizando esta pequena série, contemplamos o único exemplo perfeito: nosso amado Senhor Jesus Cristo!


Poderíamos pensar em mil e uma coisas que o Mestre fez, e que faríamos bem em imitar. Mas o contexto de João 13 fala de uma coisa que não nos atrai muito — servir uns aos outros!


“Levantou-Se da ceia, tirou as vestes, e, tomando uma toalha, cingiu-Se. Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido … Então, depois que lhes lavou os pés, e tomou as Suas vestes, e Se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito? Porque Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13:4-15).


Este ato fala mais do mil palavras que eu poderia escrever. Se eu não estiver disposto a fazer, alegremente, o serviço mais humilde e baixo, não estou seguindo o exemplo do Senhor. Se Ele disse: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10:45), quem sou eu para achar que meus irmãos devem me servir?


Sigamos nas Suas pisadas.



Peso — Meditações 649


Há um contraste sublime entre Naum, Habacuque e Malaquias, os únicos três profetas que começam seus livros com a expressão “Peso” [veja nota no final]. Naum apresenta o “Peso de Níneve”, Habacuque o “peso que viu o profeta” contra Judá, e Malaquias o “Peso … contra Israel”.


Na profecia de Naum, o fim de Níneve (cidade idólatra e pecadora) e apresentado como algo irrevogável e inevitável (1:14; 2:7). As últimas palavras do pequeno livro são: “Não há cura para a tua ferida; a tua chaga é dolorosa. Todos os que ouvirem a tua fama baterão as palmas sobre ti; porque, sobre quem não passou continuamente a tua malícia?” (3:19). É um “peso” sem chance de arrependimento, sem perdão.


Mas na profecia de Habacuque, apesar do começo tão sombrio, o final é repleto de alegria, mostrando como o Senhor não se esquece do justo. O trecho final de Habacuque é um dos mais lindos da Bíblia: “Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas” (Hc 3:17-19).


Naum e Habacuque estão um ao lado do outro na Bíblia, o que realça o contraste. Malaquias, o terceiro profeta do “peso”, confirma a diferença que Deus faz “entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não serve” (Ml 3:18). As últimas palavras do profeta (e do VT todo) são: “Eis que Eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor; e ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que Eu não venha, e fira a terra com maldição” (Ml 4:5-6).


Em outras palavras, o peso dos incrédulos não traz nenhuma esperança; mas para o povo de Deus, o “peso” do Senhor é aliviado pelas promessas de misericórdia. Como Naum mesmo diz, o Senhor não inocenta o culpado (1:3); mas aos filhos, Ele diz que não conserva para sempre a Sua ira (Sl 103:9). Estes três profetas mostram-nos a diferença entre o justo e o ímpio (Ml 3:18): com o ímpio, o castigo é eterno; com os justificados, a disciplina é temporária.


Resumindo: o peso dos incrédulos conclui com estas palavras: “Não há cura!” (Na 3:19). O peso do povo de Deus termina com esperança e bênção: “O Senhor Deus … me fará andar sobre as minhas alturas” (Hc 3:19).


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Nota: Nos doze livros chamado “profetas menores”, oito deles começam com “palavra” (“Palavra do Senhor que foi dirigida a Oseias”, ou “Veio a palavra do Senhor a Jonas” — Oseias, Joel, Amós, Jonas, Miqueias, Sofonias, Ageu, Zacarias). Um começa com “Visão” (Obadias), e três começam com “Peso”, apresentando profecias de juízo e de disciplina (Naum, Habacuque e Malaquias).



© 2021 W. J. Watterson

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