Saturday 5 March 2022

Meditações 680 a 689

Meditações na quarentena (2020/22) enviadas diariamente aos irmãos e irmãs da igreja local em Pirassununga para nosso ânimo mútuo (arquivadas neste blog).

Evangelismo — Meditações 680


A tragédia que se repete vez após vez na história do cristianismo é a perda das verdades fundamentais do Evangelho, e a consequente mistura de pessoas não-salvas no meio dos salvos. Por isso, todo reavivamento religioso teve que ser um reavivamento das verdades do Evangelho e de evangelização.


A recuperação clássica das verdades do Evangelho foi a Reforma (liderada por Lutero, Calvino e outros), que recuperou a verdade da justificação pela fé. Menos de 200 anos depois, porém, J. Wesley, fundador Metodista, foi expulso da Igreja Anglicana por tentar pregar o Evangelho ao povo. Já no século seguinte, W. Booth foi afastado do mesmo Metodismo devido a seu amor pelo Evangelho. Ele, e muitos outros, abandonaram as denominações mais ou menos 150 anos atrás, mas não se contentaram com isso. Se seguiam os ensinos de Paulo quanto às igrejas, é natural que seguissem também o ardor evangelístico deste que clamou: “Ai de mim se não pregar o Evangelho” (I Co 9:16).


Era esta a motivação daquela geração do final do século XIX, que levou o Evangelho a todos os cantos da Escócia. Em cada vila havia reuniões regulares ao ar-livre. Igrejas locais uniam-se para pregar o Evangelho em tendas de lona nas suas regiões. Séries de reuniões de evangelismo eram realizadas todas as noites, semana após semana. Assim a pressão era mantida, e as fortalezas do inimigo ruíam por terra.


Tais esforços dependiam do zelo de indivíduos, e este zelo continuou na próxima geração (século XX). A. Marshall, por exemplo, pregou durante décadas no Reino Unido, e atravessou o Atlântico mais de 30 vezes para pregar no Canadá. Tão eficaz foi sua pregação que os irmãos das igrejas numa região do Canadá são apelidados ainda hoje de Marshallistas.


W. Shaw foi outro homem assim. Durante anos produziu, praticamente sozinho, uma revista para cristãos e outra evangelística, sendo também responsável pela sua distribuição.


Outro irmão da mesma região foi J. Ritchie, que editava seis revistas mensais (para cristãos, para crianças e evangelísticas). Ele tinha o costume de levar literatura em um carrinho de mão de uma vila a outra.


Um quarto homem destacado daquela região foi P. Hynd. Muito forte, ele usou sua mocidade no Evangelho. Após um dia árduo de serviço, viajava sete ou oito km para as vilas vizinhas, colocava-se em pé no meio da vila e erguia sua voz clara e alta na pregação do Evangelho.


Será por isso que foram plantadas mais de quarenta igrejas naquela pequena região?


Aconteceu o mesmo em Lanarkshire, outra região da Escócia. Reuniões ao ar-livre no verão e em casas no inverno eram a ocupação de homens como J. Lees, que gostava de orar: “Dá-me filhos, senão eu morro!” (Gn 30:1).


É de se estranhar que ouve tanto progresso naqueles dias? Pelo esforço na pregação do Evangelho, almas eram salvas e igrejas locais plantadas. E este continua sendo o único caminho para crescer. Quando pararmos de pensar que evangelismo é algo para ser feito no domingo à noite, e começarmos a pensar nisto todos os dias da semana, talvez voltemos a crescer.


Os tempos, é verdade, mudaram — o trágico é que nós também mudamos. Preocupações com trabalho, com estudo, com coisas legítimas e ilegítimas, tudo isto diminuiu nosso esforço evangelístico a um mero gotejar. Passamos anos e anos sem uma série especial de evangelismo. Nos contentamos em organizar uma reunião à qual nenhum incrédulo comparece. Mas irmãos, isto não é o que herdamos. Isto não é tradição de Atos dos Apóstolos. Ainda há diversas formas pelas quais podemos desafiar nossos vizinhos com o Evangelho de Jesus Cristo.


Alguém se habilita?


Traduzido a adaptado de “Our Heritage” (J. Anderson)  



Cargas — Meditações 681


De vez em quando nos surpreendemos com uma aparente contradição ao ler as Escrituras. Em Gálatas cap. 6, por exemplo, lemos: “Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.” Perfeito! Mas três versículos depois, nos espantamos ao ler: “Porque cada qual levará a sua própria carga”.


Pensamos: “Como assim? Devemos carregar as cargas uns dos outros, ou cada um deve levar a sua própria carga?”


Examinando o contexto, veremos que as duas palavras traduzidas “carga” são diferentes uma da outra, e descrevem situações diferentes. Lightfoot escreve:


“É difícil definir uma distinção absoluta entre fortivon aqui (v. 5) e bavrh (v. 2). O que podemos distinguir é que bavrh refere-se a uma carga opressiva e pesada … uma carga da qual alguém tem direito de livrar-se quando surgir oportunidade; fortivon descreve uma carga que eu tenho o dever de carregar.”


Ou seja, estamos sendo instruídos a ajudar uns aos outros a levar o fardo pesado da lida diária, ao mesmo tempo que entendemos que há pesos que não podem ser repartidos. As responsabilidades que Deus me deu, e coisas semelhantes, são fardos que eu preciso carregar — não seria justo omitir-me, e lançar isto pra cima de outros. Mas há muitas coisas do dia-a-dia que eu posso repartir com meus irmãos e irmãs, ajudando e aceitando ajuda.


O que Deus lhe deu para fazer, faça com todo empenho e devoção — só você será responsável se aquilo não for feito. Mas na “enfadonha ocupação” de viver, lembre que você vai precisar de muita ajuda — e haverá inúmeras oportunidades de você ajudar seus irmãos também! Cada um tem a sua própria carga, por isso cada um precisa de ajuda!


“Levai as cargas uns dos outros … porque cada qual levará a sua própria carga”.



Operações — Meditações 682


Ontem pensamos sobre a aparente contradição em Gálatas 6:2-5. Outro exemplo semelhante está em Filipenses 1:12-13: “Operai  a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade” (Fp 2:12-13). Sou eu que vou “operar” (trabalhar, desenvolver), ou é Deus quem “opera”?


Independentemente do detalhe da diferença entre as palavras usadas no grego, temos aqui uma verdade muito simples (e animadora). Poderíamos parafrasear o versículo assim:


“Irmãos, operai a vossa salvação com temor e tremor; isto é, não sejais acomodados nem irreverentes; entendei a solenidade da salvação, e trabalhai com zelo e reverência para viver de tal forma que cresçais e desenvolvais espiritualmente. Não é hora de dormir — é tempo de levantar e trabalhar. Mas lembrai que não trabalhareis sozinhos! É Deus quem dará o poder necessário para desejar fazer, e conseguir fazer, este serviço. Se vós tentardes fazer esta obra, logo percebereis que sois fracos demais para efetuá-la — mas na mesma hora, percebereis que não estais sozinhos, porque Deus opera em vós!”


Se tentarmos servir a Deus “com temor e tremor”, avançaremos espiritualmente. E depois, ao contemplar o caminho pelo qual viajamos, diremos, com Paulo: “Não eu, mas a graça de Deus comigo” (I Co 15:10).


Portanto, vamos operar a nossa salvação, e veremos Deus agindo através da nossa vida!



Força — Meditações 683


Um terceiro paradoxo se encontra em II Coríntios 12:10: “Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.”


Spurgeon sugeriu inverter a frase para entendê-la melhor: “Quando estou forte, então sou fraco.” Aqueles que confiam nas suas próprias forças são os mais fracos dentre os vivos — quem pensa que é forte, na realidade é fraco! Mas quem tem consciência da sua fraqueza e por isso confia em Deus, esse sim é forte!


“Assim diz o Senhor: não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em Me entender e Me conhecer, que Eu sou o Senhor” (Jr 9:23-24).


Sejamos fracos hoje, para sermos fortes!



Castigo — Meditações 684


Um último paradoxo — o mais solene de todos:  “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos” (Is 53:6).


Se alguém lesse este versículo fora de contexto, sem conhecê-lo anteriormente, provavelmente ficaria extremamente confuso! “Como assim? Uns erraram, e outro pagou a conta? Por quê?”


Ah, como é precioso este paradoxo da graça divina! Jamais iremos nos acostumar com esta verdade gloriosa: eu era um pecador imundo, mas o Filho santo de Deus sofreu em meu lugar!


“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos!” (Rm 11:33)



Desperta! Meditações 685


“Desperta, tu que dormes, e levanta-te de entre os mortos, e Cristo te esclarecerá” (Ef 5:14).


Esta parece ser uma exortação muito forte para os irmãos em Éfeso, mas Paulo sabia que em cada igreja há aqueles que estão inativos por causa do sono espiritual. Estes não são mortos — eles têm vida — mas não estão fazendo a vontade de Deus.


O sono espiritual é causado por vários motivos que são bem ilustrados por alguns que foram encontrados dormindo no Antigo Testamento.


Sansão dormia nos joelhos de Dalila (Jz 16:14,19-20) quando deveria estar livrando o povo de Deus do povo dela. Seu foi o sono do divertimento.


Elias dormiu debaixo do zimbro (I Rs 19:5-7) quando deveria estar ativo contra a idolatria do povo de Deus. Seu foi o sono do desânimo.


Jonas dormia no porão do navio para Tarsis (Jn 1:5) quando deveria estar pregando em Nínive. Seu foi o sono da desobediência.


 É bom notar que em cada caso, estas pessoas despertaram do seu sono e se levantaram para fazer a vontade do Senhor outra vez. Alguém está dormindo espiritualmente hoje?


Samuel Davidson



O Verbo (d) — Meditações 686


Como vimos domingo passado, entre o anúncio do fato da Sua interferência neste mundo, e a revelação de quão maravilhosa foi a forma escolhida para isto (a encarnação), lemos da frieza com que os homens O trataram. E este fato central da primeira tríade relacionada à encarnação — um fato tão triste e vergonhoso  — também é apresentado em três aspectos aqui na Introdução do evangelho:


i) as trevas não compreenderam a Luz (v. 5). Esta primeira afirmação talvez não cause muito espanto. Afinal, trevas e luz nunca se misturam, e é natural que as trevas fujam diante da luz. Quando aplicamos esta figura à realidade da encarnação ficamos envergonhados com nossa cegueira, mas a figura em si é, de certa forma, normal.


ii) o mundo não O conheceu (v. 10). Aqui as coisas ficam mais difíceis de entender. O Criador veio entre as Suas criaturas, e não foi reconhecido por elas! Aqui é cegueira, mas não é natural! “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento” (Is 1:30.


iii) os Seus não O receberam (v. 11). Infelizmente, porém, a situação piora ainda mais. Ele não somente veio habitar no planeta que Ele criou, e entre as pessoas que Ele criou, mas Ele veio “para o que era Seu” — Israel, o povo que era Sua propriedade particular entre todos os povos da Terra (Dt 26:18-19) — “e os Seus não O receberam”. Aqueles que tinham um relacionamento com Ele não O reconheceram, e quando Ele foi revelado diante deles eles não O receberam!


Assim vemos uma progressão no desprezo dos homens. O que poderia ser descrito como natural na primeira menção (trevas fugindo de diante da luz) e como cegueira na segunda (criaturas não conhecendo o Criador) é finalmente visto como rejeição completa na terceira menção.


Esta é a verdade solene do Evangelho: o ser humano natural tem o instinto de fugir de Deus (como as trevas fogem da luz), é incapaz de reconhecer a Sua glória, e quando se vê face a face com a glória de Deus, O rejeita!


Três afirmações sobre o mundo


A triste realidade deste desprezo é enfatizada por mais uma tríade. O v. 10 (a parte central da tríade acima) apresenta uma frase composta de três cláusulas curtas: “Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O conheceu”. Repare a repetição da palavra “mundo” neste versículo. João já apresentou a tripla condição eterna do Verbo no v. 1, a tripla ação da Luz nos vs. 4-5, e a agora a tripla relação do Senhor com o mundo.


Primeiro lemos da Sua presença aqui — estava no mundo. Depois é apresentado o direito que Ele tem de estar aqui — o mundo foi feito por Ele (Ele não é intruso ou estrangeiro — Ele é o Criador). Mas a Bíblia diz, com clareza: o mundo não O conheceu!


Vemos assim, de diversos ângulos, a mesma verdade: o Senhor foi desprezado aqui. A verdade é repetida figurativamente (luz x trevas) e explicitamente (“os Seus não O receberam”). Até a estrutura escolhida por Deus para apresentar este fato, com tríade se desdobrando em tríade, realça como foi terrível a frieza com que os homens O trataram. Que triste evidência da ignorância do homem natural! Que condenação do mundo em que vivemos.


Cantemos hoje: “Mas em meu coração, ó Cristo, tenho sempre lugar para Ti” (H. e C. 429).



As orações dos santos — Meditações 687


“ tendo … salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos” (Ap 5:8).


O Senhor valoriza as nossas orações mais do que nós mesmos as valorizamos! Muitos consideram orações como um dever enfadonho, difícil de executar e de valor duvidoso. Orações pessoais na nossa vida diária são negligenciadas. As reuniões de oração da igreja são negligenciadas ou até mesmo deixam de existir. Muitos  irão à festas mas não a uma reunião de oração. Passarão duas ou três horas vendo eventos esportivos, mas nunca oraram por tanto tempo. No céu não há festas, ou eventos esportivos! Nem são mencionados, mas as nossas orações são. Deus as coloca em salvas de ouro. A humilde oração dos Seus santos são tesouros especiais. Será que estamos fazendo de tudo para encher estas salvas?


C. K.



O Pai deu — Meditações 688


A oração do Senhor, que encontramos em João cap. 17, apresenta algo da santa e íntima comunhão que sempre existiu entre as Pessoas divinas. Com que reverência devemos nos aproximar daquele capítulo sagrado enquanto ouvimos o Filho falar em oração. Com os pés descalços (Êx 3:5) e prostrados em reverência, adoremos o eterno Deus triuno. 


Vamos considerar algumas coisas que revelam algo da bondade do Pai. Neste capítulo o Senhor Jesus menciona várias coisas que o Pai Lhe deu. São apenas uma pequena parte daquilo que Lhe foi dado. Deus disse: “Pede-Me, e Eu Te darei os gentios por herança, e os fins da Terra por Tua possessão.”


Vejamos algumas coisas que o Pai deu ao Senhor Jesus.


Na intimidade do relacionamento Pai-Filho, o Senhor ora dizendo: “glorifica o Teu Filho, para que também o Teu Filho Te glorifique a Ti … assim como lhe deste poder sobre toda a carne” (v.1-2). “Eu glorifiquei-Te na terra, tendo consumado a obra que Me deste a fazer” (v. 4). “Porque lhes dei as palavras que Tu Me deste … Eu rogo por eles … por aqueles que Me deste, porque são Teus” (vs. 8-9). “E Eu dei-lhes a glória que Tu Me deste” (v. 22).


O Pai bondoso deu ao Seu Filho: poder, uma obra, palavras, homens e glória.  Que dia glorioso será quando o Filho se manifestar em toda a Sua glória, e nós, homens redimidos, estaremos manifestos em glória com Ele. 


Ronald E. Watterson 



A Minha graça te basta — Meditações 689


Para muitos de nós é uma surpresa quando chega o dia que surge “um espinho na carne”, e que precisaremos tomar remédio diariamente pelo resto da vida. Talvez seja para controlar a pressão do sangue ou para controlar outra doença sem cura. É humilhante reconhecer que já entramos na classe dos “dependentes”, e que as pílulas se tornaram parte da nossa dieta diária, lembrando-nos todo dia da fraqueza deste corpo de humilhação.


Um dia Paulo descobriu que tinha uma doença e orou para que Deus o curasse, mas não foi curado. Ele orou pela segunda vez e nada aconteceu. Depois de orar pela terceira vez a resposta que recebeu foi uma surpresa para ele: “A Minha graça te basta”. Ele não seria curado, mas continuaria dependente na graça de Deus para o resto da vida.


A graça de Deus, como nossos remédios, é dispensada em doses diárias. Cada dia precisamos lembrar que somos dependentes na graça do Senhor. É de grande consolação saber que aquela dose de graça será suficiente para hoje, e que hoje pode ser o dia da transformação deste corpo.


Samuel R. Davidson


© 2021 W. J. Watterson

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