Monday, 31 March 2014

A desilusão de Simeão

Ouvi uma pregação hoje à noite sobre a mulher pega em adultério em João cap. 8, e lembrei-me deste texto escrito na minha mocidade (poucos anos atrás :-)

A desilusão de Simeão


Simeão, desde pequeno, se destacara no meio dos seus colegas, não apenas pela sua saúde e inteligência, mas também pela sua devoção a Jeová, o Deus de seus pais. Bem educado e esforçado, ele cumpria à risca as determinações da Lei de Moisés, estudava diligentemente as Escrituras, e sonhava com o dia em que seria reconhecido como um mestre da Lei.

Naquela manhã tranquila em Jerusalém, caminhando em direção ao Templo, seu coração parecia flutuar à sua frente, e sua consciência, tranquila, estampava um sorriso contagioso em sua face. Ele seguia alheio a tudo ao seu redor, com mil e um sonhos alegres ocupando sua mente de adolescente.

Repentinamente, porém, seus sonhos foram interrompidos. Um grupo de homens, escribas e fariseus, desceram a rua correndo e entraram numa casa logo à sua frente. Simeão parou, espantado, ouvindo a gritaria que se iniciara dentro da casa, enquanto pessoas corriam para todos os lados. Poucos minutos depois, com uma mulher segura pelos braços, a multidão saiu da casa, e tomou a direção do Templo.

Curioso e interessado, Simeão correu ao lado de Judas, seu tio, que fazia parte da multidão enraivecida. “Que confusão é esta, tio Judas?”

Sem parar de correr, seu tio respondeu: “Esta mulher foi apanhada em adultério, e vamos levá-la para Jesus, o nazareno. Vai ser uma forma de pegá-lo em contradição”.

“Mas como?”, perguntou Simeão.

“É simples”, respondeu seu tio; “Se ele disser que ela deve ser apedrejada, como manda a Lei, então estará desobedecendo à lei romana, e estará negando sua pregação, que fala tanto de amor e perdão. Mas se ele disser que ela deve ser perdoada, então ele estará indo contra a lei de Moisés! Entendeu? Ele não tem saída!”

“Puxa”, pensou Simeão; “É mesmo; ele não tem saída! Essa eu quero ver!” E o garoto se uniu à multidão, que crescia cada vez mais. Apesar de pequeno, ele já havia aprendido a odiar a Jesus, que se dizia Filho de Deus. Aos olhos de Simeão e seu povo, isto era blasfêmia, e ele faria qualquer coisa para acabar com o Carpinteiro de Nazaré que ousava dizer que era Deus!

Poucos minutos depois, chegaram ao Templo. Simeão foi logo se enfiando no meio do povo, querendo ver tudo de perto. Empurrando daqui e dali, conseguiu chegar ao centro da roda. Lá estava a mulher, em pé no meio de todos, cabisbaixa; um pouco ao lado ele viu Jesus, que estava inclinado, calmamente escrevendo com o dedo na terra.

“Ele não vai dizer nada?”, Simeão sussurrou ao homem que estava ao seu lado.

“Não sei. Os escribas já lhe apresentaram o problema, mas ele começou a escrever na terra e não disse nada!”

Naquele momento Jeosafá, o mestre de Simeão, levantou a voz e disse, sem conseguir disfarçar seu desprezo e ironia: “Mestre, não respondes à nossa pergunta? Devemos apedrejá-la?”

Houve uma pequena pausa; todos fitavam Jesus, alguns ansiosos, outros com ar de vitória. Finalmente Ele se endireitou. Olhou primeiro para Jeosafá, depois para a mulher, e então permitiu que Seu olhar passasse pela multidão ao Seu redor. Simeão ficou surpreso ao ver, no olhar de Jesus, um brilho de ternura, e algo mais; parecia tristeza. Jesus então falou: “Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra contra ela”.

O silêncio foi instantâneo. “Ele concordou em apedrejá-la”, pensou o garoto. “Agora podemos acusá-lo perante os romanos, e ele será preso!” E ele olhou em redor, esperando ver alegria e satisfação no rosto daqueles homens.

Mas não. O que ele viu deixou-o ainda mais surpreso. Todos olhavam para o chão, aparentemente envergonhados, num silêncio constrangedor. “Mas o que está acontecendo?” pensou ele.

Depois de vários minutos, o velho Levi, lá do outro lado do círculo de pessoas, moveu-se, caminhando lentamente em direção à mulher. “É agora!” pensou Simeão, quase gritando de euforia.

Mas o velho escriba não ergueu os olhos; foi passando, atravessou o círculo que haviam feito em torno de Jesus, e começou a retirar-se. Simeão olhava, atônito, enquanto os velhos mestres, um após o outro, seguiam seu exemplo, e afastavam-se. Até Jeosafá se levantou para ir embora!

“Não é possível!”, Simeão pensou. Com o coração ardendo, ele saiu correndo atrás de seu mestre, puxou-o pelo braço e quase gritou: “Mestre, o que vocês estão fazendo?” Jeosafá olhou para o rosto coberto de lágrimas do garoto, mas não conseguiu dizer nada. Desviando o olhar, colocou a mão no ombro de Simeão, depois virou-se e partiu.

Simeão, porém, permaneceu imóvel, como que grudado no chão. Pois naquele instante em que os olhos de Jeosafá haviam se encontrado com os seus, Simeão havia visto, claramente, a vergonha que Jeosafá estava sentindo. E como se recebesse um golpe, ele entendeu; todos aqueles mestres, escribas e fariseus, todos eles estavam se retirando, do mais velho ao mais moço, porque todos eram pecadores. Ninguém tinha coragem de atirar a primeira pedra! O mundo de Simeão estava desabando. Ele virou-se novamente para onde Jesus estava, mas não havia mais ninguém ali com Ele. Até a mulher estava indo embora. Mas como era diferente o rosto dela! Se em Jeosafá havia tristeza e vergonha, o rosto dela até brilhava, repleto de paz e alegria! “Mas ela é pecadora!” pensou Simeão, a boca seca, os joelhos tremendo, numa mistura de raiva e confusão; “Ela é a pecadora! Isto não é certo. Ela é a pecadora!

Foi quando ele viu que Jesus se levantava, olhando em sua direção; e o garoto lembrou-se das palavras do Mestre dos mestres: “Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra contra ela”. Neste instante ele viu o seu pecado; não apenas o pecado daquela mulher, mas o pecado de Simeão! Toda sua preocupação em guardar a Lei, seu orgulho de ser judeu, nada disso importava mais. Sua consciência, finalmente acordada, não parava de lembrá-lo dos muitos pecados que ele cometera. Ele era zeloso da Lei, temente a Deus, educado e obediente — mas agora ele sabia também que era pecador.

Era o fim; sem conseguir olhar nos olhos dAquele que ele viera acusar, Simeão afastou-se, envergonhado e desolado.

*******

Prezado leitor, você não quer ser honesto consigo mesmo, e reconhecer, como Simeão, que você também é pecador? Não preocupe-se com os outros — é o teu pecado que importa. Você teria coragem de atirar a primeira pedra? Nem eu, nem você, nem Simeão, nem ninguém — somos todos pecadores. Diz a Bíblia: “Não há diferença, porque todos pecaram” (Rom. 3:23).

Mas uma vez reconhecendo este fato, não se retire como Simeão — venha ao Senhor Jesus. A Bíblia diz Ele veio ao mundo exatamente para buscar pecadores como eu e você: “o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Lucas 19:10). Ele morreu na cruz em nosso lugar, e o Seu sangue “nos purifica de todo pecado” (I João 1:7). Religião pode ter proveito, mas não perdoa pecados; boas obras são desejáveis, mas não perdoam pecados; é somente o Filho do Homem que “tem poder para perdoar pecados” (Marcos 2:10). A Bíblia afirma que quem crê nEle tem a vida eterna, e recebe o perdão dos pecados (João 3:36; Atos 10:43).

Você é pecador, mas Cristo pode te salvar do pecado e da condenação eterna.



© W. J. Watterson

Thursday, 20 March 2014

Diferenças entre as listas de Esdras e Neemias

Apresento abaixo uma tabela comparativa das listas dos filhos de Israel que voltaram do Cativeiro na Babilônia. Há duas listas nas Escrituras; uma em Esdras cap. 2, a outra em Neemias cap. 7, e há duas coisas sobre estas listas que devem ser mencionadas:


O total não combina com os detalhes

No final de cada lista é dado o número total dos que voltaram do cativeiro, e este número é idêntico nas duas listas: 42.360. O problema é que a soma das famílias mencionadas nas listas é bem menor do que 42.360: na lista de Esdras há somente 29.818 pessoas mencionadas, e na de Neemias, 31.089. Restam, portanto, mais de dez mil pessoas (12.542 em Esdras, e 11.271 em Neemias). Há duas possíveis explicações para esta diferença:

• A literatura judaica antiga (Seder Olam Rabah, c. 29, p. 86) afirma que este excesso era de Israelitas das dez tribos, aquelas que foram levadas ao cativeiro na Assíria, e não na Babilônia. Os que voltaram de Judá e Benjamin foram identificados pelas suas famílias, mas alguns das outras tribos ouviram do retorno de seus irmãos do Exílio, e se juntaram a eles; estes não foram mencionados por nome.

• Há uma diferença nas palavras usadas. O início das listas usa a palavra enowsh (“homem”), enquanto que o total é relacionado à palavra qahal (“multidão”): “O número dos homens do povo de Israel … Toda esta congregação junta …” (Ed 2:2, 64; Nm 7:7, 66). É possível, portanto, que apenas os homens foram listados por nomes, e as mulheres [Nota 1] e crianças constituem o número excedente.

Qualquer uma das duas sugestões é possível; a primeira me parece mais provável.

Os detalhes não combinam entre si

Esdras e Neemias apresentam números diferentes para várias das famílias. Na tabela abaixo, todas as linhas destacadas com a cor amarela contém alguma diferença entre os números fornecidos em Esdras e os de Neemias (são vinte e oito registros iguais, e vinte diferentes). Antes de pensar nas possíveis razões para este fato, quero destacar que este fato confirma a autenticidade e a veracidade das duas listas:

• Confirma sua autenticidade — Alguns sugerem que as diferenças existem porque as duas listas são fabricadas, mas as diferenças entre elas realmente provam o contrário. Lembrando que Esdras e Neemias eram um só livro até o século III, não é coerente imaginar que algum judeu teria o trabalho de fabricar duas cópias de uma lista falsa, e não se preocupar em fazer com que fossem idênticas. Pelo que conhecemos da natureza humana, sabemos que isto é impossível. Alguém trabalhando com pressa poderia cometer um ou outro deslize, mas mesmo um falsificador medíocre não permitiria tantos erros (vinte erros num total de quarenta e oito registros!) em duas listas que ele afirma serem iguais. As diferenças entre as duas listas provam que elas são documentos diferentes e autênticos, e não uma falsificação feita por um enganador.

• Confirma sua veracidade — Alguns afirmam que estas diferenças só podem ser o resultado de erros de transcrição enquanto a Bíblia era copiada através dos séculos, e que não podemos saber quais eram os números originais. Dizem que as duas listas são falsas — não porque foram falsificadas, como tratamos acima, mas porque contém falhas. Se pensarmos um pouco nesta sugestão, porém, veremos que as diferenças entre as listas são numerosas demais, e variadas demais, para que isto seja possível. Sabemos que, ao copiar uma lista de nomes e números, é muito fácil cometer um erro. Mesmo com todo o cuidado que os judeus tinham ao copiar as Escrituras do Velho Testamento (uma pesquisa sobre este assunto é muito interessante), temos que admitir que, se fosse apenas uma obra humana, erros seriam inevitáveis. Mas as diferenças entre estas duas listas são muitas (mais de 40% dos números contém variações), e são extremamente variadas. Quando há variações devido a erros de copistas, geralmente se entende por que o erro aconteceu (troca de um dígito, ou algo semelhante), mas as variações nestas duas listas não seguem nenhum padrão que possa ser explicado pela negligência dos copistas.[Nota 2]

Assim, as diferenças entre as duas listas provam que o que temos hoje em nossas Bíblias é o que Esdras e Neemias escreveram tantos séculos atrás. Se os judeus quisessem ter nos enganado fabricando duas listas, teriam feito esta falsificação com mais cuidado; se os judeus tivessem sido omissos ao copiar as Escrituras e permitido erros de copistas, as diferenças entre as listas não seriam tantas, nem tão variadas.

As considerações acima confirmam que as duas listas devem ser tratadas como livres de falsificação e livres de falhas, mas não explicam as diferenças entre as duas listas. Se o que temos hoje em Esdras 2 e em Neemias 7 é exatamente o que eles escreveram, preservado para nós pelo poder de Deus, porque a lista em Neemias é tão diferente da lista em Esdras? Há três sugestões que já foram apresentadas:

• Muitos autores sugerem que a diferença é devido à época em que as duas listas foram feitas; uma lista poderia ter sido feita quando o povo se preparava para sair da Babilônia, indicando todos os que planejavam fazer a viagem; enquanto que outra poderia mencionar somente aqueles que efetivamente saíram da Babilônia e chegaram em Jerusalém, alguns meses depois[Nota 3]. Alguns talvez deram o seu nome quando souberam da possibilidade de voltar, mas depois desistiram; outros talvez resolveram ir somente na última hora. Diante de viagem tão longa, com perspectivas de aventura e perigo, bem pode ser que muitos mudariam de opinião na última hora.

• Alguns sugerem que somente a lista de Esdras é a correta, e que Neemias encontrou uma cópia adulterada desta lista. Neemias diz: “Achei o livro da genealogia dos que subiram primeiro, e nele estava escrito o seguinte …” Sendo assim, o que Neemias escreveu no seu livro foi uma cópia fiel e verdadeira do documento que ele tinha em mãos, mas este documento estava corrompido. Quem sugere isto crê na inerrância das Escrituras, atribuindo a diferença entre as listas ao documento que Neemias cita. É um fato que a Bíblia registra coisas que outros disseram e escreveram e que não são verdadeiras,[Nota 4] mas acho difícil entender que isto aconteceu aqui, visto que Neemias e Esdras foram contemporâneos.

• Alguns comentários (Davidson, JFB, TSK[Nota 5]) citam uma explicação dada por alguém chamado “Alting”. Este autor mostra que Esdras menciona 494 pessoas que Neemias não menciona[Nota 6], enquanto que Neemias menciona 1765 que não são mencionados em Esdras. Ora, se adicionarmos aos 29.818 de Esdras os 1.765 excedentes de Neemias, teremos 31.583. Se adicionarmos aos 31.089 de Neemias os 494 excedentes de Esdras, teremos 31.583 —exatamente os mesmos valores. Alting é citado por Davidson na sua obra, que por sua vez é citado por JFB, TSK, etc., como se este detalhe fosse a solução do problema. Confesso que é um detalhe interessante, mas infelizmente ele não prova absolutamente nada; é simplesmente uma característica de duas listas quaisquer de números.[Nota 7]

A única desta três alternativas que me parece viável é a primeira. Não posso afirmar que é isto que aconteceu, mas consigo ver que é possível que isto tenha acontecido. Por outro lado, reconheço minha ignorância de todos os fatos, e bem pode ser que o Senhor tinha outras intenções em levar Esdras e Neemias a apresentar contagens diferentes em relação a esta multidão que voltou da Babilônia.

Conclusão

Minha intenção com este pequeno artigo não é explicar o porquê da diferença, mas somente:

i) Tentar anotar todos os detalhes das diferenças entre as duas listas (pois a solução de um problema começa pelo entendimento do problema);

ii) Tentar mostrar que existem explicações lógicas e possíveis para estas diferenças.

Nenhum de nós conhece toda a verdade, e seria presunção fazer afirmações onde a Bíblia se mantém em silêncio. Mas a atitude do cristão diante da Palavra de Deus deveria ser uma de reverente fé naquilo que está escrito. Posso não entender tudo que leio; posso não saber explicar as aparentes contradições; mas creio que a Bíblia é a Palavra inspirada de Deus, e “digna de toda a aceitação”.




Notas de rodapé

Nota 1 — Alguns acham impossível a proporção de mulheres para homens neste caso (se o número excedente se refere apenas às mulheres, somente um em cada três homens seria casado; se incluirmos crianças nesta contagem, a proporção seria ainda menor). Realmente a proporção não é normal; mas se lembrarmos que muitos preferiram ficar na Babilônia do que enfrentar a longa e perigosa viagem de volta a uma terra deserta e abandonada, não seria difícil imaginar que haveria muito mais homens jovens e solteiros (com menos preocupações e impedimentos) dispostos a fazer esta primeira viagem de volta à terra prometida, enquanto que a maioria dos casados e com família teriam mais receio de enfrentar uma viagem destas.

Nota 2 — Por exemplo, na primeira diferença entre as duas listas, Neemias fala de 123 pessoas a menos do que Esdras, enquanto que na segunda ele menciona 6 pessoas a mais. Trocar 2812 por 2818 (a segunda diferença na lista) é fácil de acontecer (basta um pequeno descuido para trocar o último “2” por um “8”, repetindo o dígito “8” que já apareceu no número), mas trocar 775 por 652 (a primeira troca) já é uma mudança que dificilmente poderia ser explicada por um mero descuido do copista. Ilustrei este detalhe usando os dígitos em português, ciente de que no hebraico as diferenças seriam outras; mas o princípio é o mesmo para todas as línguas: mudanças que são fruto de erros de copistas seguem um padrão que pode ser explicado por uma falha de atenção, mas mudanças tão variadas uma das outras, como as destas listas, precisam de outra explicação.

Nota 3 — A viagem era longa — Esdras, por exemplo, demorou quatro meses (Ed 7:8-9).

Nota 4 — Por exemplo, a serpente disse a Eva: “É certo que não morrerás”. A Bíblia contém este registro, não porque as palavras da serpente são a verdade, mas porque é verdade que a serpente disse estas palavra.

Nota 5 — DAVIDSON, Samuel. Sacred Hermeneutics develped and applied. Edinburgh: Thomas Ckark, 1843, pág. 554. “JFB” refere-se ao comentário de Jamieson, Fausset e Brown, e “TSK” refere-se ao Treasure of Scripture Knowledge.

Nota 6 — Demorei para conseguir entender isto, então explico aqui o que ele quis dizer; pode ajudar outra pessoa. Se compararmos a lista de Esdras com a de Neemias, e em todo registro em que Esdras é maior do que o correspondente registro em Neemias, anotarmos à parte quantas pessoas Esdras menciona à mais do que Neemias, veremos que a soma de todas estas anotações será igual a 494. Comparando Esdras com Neemias, teremos estes acréscimos em Esdras: os filhos de Ará, 123 a mais (775-652); os filhos de Zatu, 100 a mais (945-845); os homens de Betel e Ai, 100 a mais (223-123); os filhos de Magbis, 156 a mais (156-0); os filhos de Jericó, 4 a mais (725-721); os filhos dos porteiros, 1 a mais (139-138); os filhos de Dalaías, Tobias e Necoda, 10 a mais (652-642). Somando todos estes acréscimos, temos: 123+100+100+156+4+1+10=494. Para o segundo número (1765) fazemos a mesma coisa, mas agora somando todos os “excedentes” da lista de Neemias em relação à de Esdras.

Nota 7 — Monte duas listas com cinco ou seis registros cada, e preencha-as com números aleatórios. O total da primeira lista acrescido de todos os excedentes da lista paralela, será sempre igual ao total da segunda lista acrescido de todos os excedentes da primeira.




© W. J. Watterson

Thursday, 6 February 2014

Linha do Tempo resumida do VT

O relato histórico apresentado no Velho Testamento não é uniforme — às vezes a narrativa passa voando por centenas de anos em poucos versículos, às vezes ela diminui a velocidade e ocupa um livro inteiro para falar de um período de trinta dias. É fundamental entender este fato, e procurar perceber a velocidade da narrativa ao estudar o VT.

O gráfico abaixo apresenta uma visão global dos livros históricos do VT (de Gênesis a Ester) colocados numa linha do tempo que vai da Criação do mundo até o nascimento do Messias, o Senhor Jesus Cristo. Alguns acontecimentos principais (como o Dilúvio, o Êxodo, etc.) estão marcados na linha do tempo, mas a principal finalidade do gráfico é mostrar o período de tempo ocupado por cada livro, e a relação entre os livros em relação ao tempo.



Há uma barra verde para cada um dos dezessete livros históricos (alternando entre dois tons de verde, para distinguir os livros um do outro), com exceção de Levítico e Deuteronômio — estes dois livros narram os acontecimentos de um período de 1 mês apenas (cada um), e são representados na linha do tempo por uma linha vermelha. As barras que representam cada livro da Bíblia estão em escala (quanto maior a barra, mais tempo o livro ocupa na História do VT). Se a tabela for impressa numa folha A3 (420 x 297 mm), cada milímetro será equivalente a dez anos (Juízes descreve um período de 400 anos, e sua barra mede 40 mm). No caso de diversos livros (começando com Êxodo) não há espaço na barra colorida para incluir os dados do livro — nestes casos, os dados são incluídos abaixo, e ligados à barra por uma linha sólida.

Para montar o gráfico usei os dados cronológicos publicados por M. Anstey (ANSTEY, Martin. Chronology of the Old Testament complete in one volume. Grand Rapids, Kregel Publications, 1973. ISBN 0-8254-2112-8). Qualquer um que tenha tentado estudar a cronologia do VT sabe que há alguns períodos que representam grande dificuldade — por isso, preciso alertar a todos que consultarem o gráfico que outros cronólogos poderão sugerir datas ligeiramente diferentes para alguns acontecimentos. Muitos entendem que a data do Dilúvio, por exemplo, é diferente da data que usei no gráfico. Ainda assim, a utilidade do gráfico permanece, pois a relação geral entre as partes do Velho Testamento apresentada aqui não sofrerá grandes mudanças, qualquer que seja o sistema cronológico seguido.

O gráfico permite perceber claramente como Deus Se preocupa, no VT, em nos contar a história de Israel, e não a história da Humanidade. Gênesis, o livro que nos leva da Criação do Homem à formação da nação de Israel, passa rapidamente por um período de mais de dois mil anos — mais do que todo o restante do VT!

Também percebemos que II Samuel descreve o mesmo período apresentado em I Crônicas, e que o segundo livro das Crônicas se ocupa com o mesmo período abrangido pelos dois livros dos Reis.

O livro de Rute se encaixa no período dos Juízes, mas é impossível saber com certeza sua data.

Se alguém tiver alguma pergunta ou sugestão relacionada a este assunto tão interessante, peço a gentileza de se manifestar através dos comentários.

P.S. Atualizado para incluir datas a.C. (antes de Cristo). A primeira versão do gráfico continha apenas as datas a partir da criação de Adão.






© W. J. Watterson

Friday, 17 January 2014

Devemos jejuar hoje em dia?

Introdução

Qual deve ser a posição do cristão hoje em relação ao jejum? Nesta presente Dispensação, será que jejuar é algo indicado (que todo cristão deve praticar), inadequado (que todo cristão deve evitar), ou indiferente (quem faz não erra, quem não faz não erra)?

Para responder esta pergunta precisamos pesquisar o Novo Testamento, reconhecendo a diferença entre a Velha Aliança (a época da Lei) e a Nova Aliança (a época da graça em que vivemos hoje). As práticas de Israel na época do Velho Testamento e dos Evangelhos (com seus sacrifícios, dízimos e jejuns) pertencem à Dispensação da Lei, e não são o guia prático para os salvos hoje — hoje vivemos na Dispensação da Graça, ou da Igreja (um período de tempo que começou em Atos cap. 2 e continuará até o Arrebatamento da Igreja).

Comecemos definindo a palavra. “Jejum”, no NT, é a tradução das palavras gregas nesteia, nestis (substantivos) ou nesteuo (verbo), cuja definição, de acordo com o dicionário de Thayer, é a seguinte:
“Abster de alimento ou bebida como um exercício religioso; ou completamente, se o jejum durasse somente um dia, ou de alimentos costumeiros e escolhidos, se continuasse por vários dias.”
A palavra (nas suas diversas formas) aparece trinta e uma vezes no NT, e podemos dividir estas ocorrências em quatro grupos:

  1. Referindo-se a uma experiência comum, do cotidiano. Algumas vezes a palavra não tem nenhuma conotação religiosa, mas simplesmente descreve alguém que, por que não teve oportunidade de comer, está em jejum. Por exemplo, quando a multidão seguiu o Senhor para ouvir Seus ensinos, Ele disse: “Tenho compaixão da multidão, porque já está comigo há três dias, e não tem o que comer; e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho.” Ele simplesmente quis dizer que Ele não queria despedir a multidão com fome; Ele queria primeiramente lhes dar algo a comer. Há quatro ocorrências da palavra com este sentido (Mt 15:32; Mc 8:3; II Co 6:5, 11:27). Estas ocorrências não tem relação com o assunto deste estudo, pois não se referem a jejuar no sentido religioso ou espiritual.
  2. Referindo-se a uma festa nacional dos judeus. Uma vez (At 27:9) a palavra refere-se ao dia da Expiação, um feriado nacional para os judeus. Esta ocorrência também não tem relação com o assunto deste estudo, pois descreve algo que fazia parte do cerimonial religioso do Velho Testamento.
  3. Ensino. Dezenove vezes a palavra é usada num contexto em que ensino está sendo dado, e convém analisar estas ocorrências mais detalhadamente abaixo.
  4. Exemplos. A palavra é usada sete vezes apresentando seis exemplos de alguém jejuando: Ana (Lc 2:37), o Senhor Jesus (Mt 4:2), o fariseu (na parábola de Lc 18:12), Cornélio (At 10:30), alguns irmãos em Antioquia (At 13:2-3), e Paulo e Barnabé (At 14:23).

Destes quatro grupos, somente os dois últimos tem alguma relação direta com o nosso assunto, e podem nos revelar alguma coisa sobre qual deveria ser nossa posição em relação ao jejum nesta dispensação em que vivemos. Vamos considerá-los mais detalhadamente.

Ensino que inclui menção ao jejum

As dezenove ocorrências deste grupo referem-se a quatro ocasiões diferentes:

i) No Sermão da Montanha (Mt 6:16-18)

Precisamos entender que este ensino foi dado pelo Senhor Jesus quando a Dispensação da Lei ainda estava em vigor; seria somente no dia de Pentecostes registrado em Atos cap. 2, alguns anos depois, que a Igreja começaria a existir. Portanto, “quando examinamos os detalhes do manifesto [no Sermão da Montanha] é necessário ter discernimento. Uma aplicação geral de tudo leva à confusão; ao invés disto, devemos nos perguntar: quais detalhes eram para o Seu povo de então, quais são para o Seu povo hoje, e quais para o Seu povo no futuro?” (HEADING, J. Comentário Ritchie do NT, volume 1. Pirassununga, Editora Sã Doutrina, 2002. Pág. 103).

De modo geral, podemos dizer que os princípios espirituais que estão por trás dos detalhes no Sermão da Montanha são princípios eternos, mas que os detalhes materiais e físicos não tem, necessariamente, aplicação direta a nós nesta Dispensação. Um exemplo deve deixar isto claro: em Mateus 5:23-24 o Senhor fala sobre trazer uma oferta ao altar, e a necessidade de primeiro reconciliar-se com um irmão ofendido, para depois apresentar a oferta. O ato físico de trazer um animal diante do altar não deve ser praticado hoje, mas o princípio que está por trás deste ato (isto é, que é necessário reconciliar-se com seu irmão antes de servir a Deus) certamente continua válido (veja I Jo 4:20, por exemplo). Preservamos o princípio (a prioridade do perdão) pois ele é eterno, mas não imitamos o ato físico (trazer uma oferta ao altar) pois ele pertence a outra Dispensação.

Lembrando do contexto em que estes versículos se encontram, não podemos basear nossa prática quanto ao jejum nos dias de hoje no detalhe físico mencionado aqui. O princípio espiritual destacado (que não podemos servir a Deus desejando ser vistos pelos homens) continua sendo válido, mas o ato em si é mencionado aqui no contexto da Velha Aliança, e não podemos usar este trecho para aprender sobre o ato de jejuar na Nova Aliança.

ii) Respondendo aos discípulos de João

Os três Evangelhos sinóticos registram o questionamento dos discípulos de João e dos fariseus quanto ao fato dos discípulos do Senhor não jejuarem (Mt 9:14-15, Mc 2:18-20 e Lc 5:33-35 — doze ocorrências). O Senhor deixa claro que, enquanto Ele estivesse com os Seus, eles não teriam razão para jejuar, e acrescenta: “Dias porém, virão, em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão”. John Heading, citado acima, mostra que estes “dias” vindouros seriam “entre a Sua morte e Sua subsequente ressurreição” (Ibid., pág. 176). Adam Clarke, no seu comentário sobre este versículo, afirma que os cristãos primitivos entendiam desta forma as palavras do Senhor, referindo-se ao tempo que Seu corpo esteve no sepulcro.

Da mesma forma que o ensino anterior (no Sermão da Montanha), este também foi dado quando a Velha Aliança ainda estava em vigor, portanto não podemos aplicá-lo literalmente a nós hoje. Até o aspecto profético deste ensino — quando o Senhor fala que haveria um tempo em que os Seus discípulos jejuariam porque Ele estaria separado deles — já foi plenamente cumprido no período entre a Sua morte e ressurreição. Realmente “foi tirado o esposo” durante aqueles dias tão tristes, mas a tristeza dos discípulos logo se transformou em alegria quando viram o Senhor ressurreto — e a alegria que os inundou quando viram o Senhor vivo é uma alegria da qual disse o Senhor: “ninguém vo-la tirará” (veja Jo 16:16-22).

Hoje Ele não está ausente de nós — fisicamente, talvez, mas Ele mesmo prometeu estar conosco todos os dias e fazer morada em nós, Seus servos (Mt 28:20 e Jo 14:23). Lembrando disto, temos no ensino destes versículos que estamos considerando uma forte indicação de que o ato de jejuar não é necessário para nós nesta Dispensação. Durante o curto período em que o Senhor esteve separado dos Seus pela morte, eles tiveram razão para jejuar; mas desde o momento glorioso da ressurreição, tal razão não existe mais.

Este acontecimento, portanto, indica que não há muita razão para o cristão jejuar hoje, devido à comunhão especial que temos com nosso Salvador.

iii) Após a Transfiguração (Mt 17:21; Mc 9:29)

Este é outro trecho que pertence à Velha Aliança, e não podemos simplesmente transportar as práticas daquela Dispensação para os nossos dias. Devemos aprender com o princípio espiritual apresentado pelo Senhor Jesus, mas entender que não vivemos mais sob o jugo da Lei.

O princípio que o Senhor está apresentando é que aquela obra que Ele acabara de realizar (expulsando um demônio) não era algo que poderia ser feito displicentemente, mas que exigia um preparo prévio para verdadeiramente estar em comunhão com Deus. Heading explica que o Senhor está enfatizando que “colocar a alma em harmonia com Deus” não era algo automático, e sugere que o sentido de oração e jejum neste contexto é que “a oração é o contato contínuo do coração com Deus; o jejum é a contínua falta de contato com o mundo” (Ibid., pág. 305). Em outras palavras, para servir a Deus de forma eficaz, precisamos estar em contato com Deus continuamente (ilustrado pelo ato da oração), e dispostos a abrir mão até de coisas lícitas, se estas atrapalham nosso serviço (ilustrado pelo ato do jejum).

Este trecho também não se aplica literalmente a nós — ensina-nos lições espirituais, mas não nos fala nada sobre o ato do jejum para a nossa Dispensação.

iv) Escrevendo para a igreja em Corinto (I Co 7:5)

Esta quarta e última ocasião em que o Novo Testamento apresenta ensino relacionado ao jejum é a única que trata especificamente desta dispensação. As versões Atualizada e Corrigida da SBB omitem a palavra “jejum” neste versículo, mas ela é incluída pela versão da SBTB. O apóstolo não está dando ensino diretamente sobre o jejum, mas afirmando que um casal cristão deve dar importância à sua intimidade, apenas quebrando esta intimidade se for para aplicar-se “ao jejum e oração”, e logo depois ajuntando-se novamente.

Deste trecho podemos entender que, na igreja primitiva, era normal que cristãos praticassem o jejum. Mas é importante perceber que esta é a única passagem em todas as epístolas do Novo Testamento que dá ensino sobre o jejum (e isto, como já destacamos, indiretamente). Não é uma exortação para que jejuemos, nem são instruções sobre como jejuar, mas simplesmente um aviso para não permitir que a oração e o jejum interrompessem definitivamente a intimidade do casal; poderiam se separar para estas atividades, mas logo depois deveriam ajuntar-se novamente.

Devido à ausência de instruções claras quanto à prática do jejum, talvez podemos entender esta prática como um daqueles aspectos da Lei que demoraram um pouco mais para serem deixados de lado pelos judeus (como o voto que Paulo fez em Jerusalém; At 21:22-26).

v) Conclusão preliminar

Das dezenove ocorrências da palavra “jejum” e suas derivadas num contexto de ensino, vimos que apenas uma destas referências refere-se ao período em que nós vivemos, e simplesmente reconhece que alguns cristãos naquela época jejuavam. Se contrastarmos isto com as palavras do Senhor Jesus, quando disse que não fazia sentido Seus discípulos jejuarem enquanto Ele estava com eles, podemos concluir, por enquanto, que o jejum não é algo importante para esta Dispensação em que vivemos.

Mas resta ainda considerar os exemplos mencionados acima.

Exemplos de jejum no NT

Os seis exemplos de jejum no NT se dividem em dois grupos de três: os três primeiros referem-se à Velha Aliança, e os últimos três referem-se à Nova Aliança. Visto que os primeiros três não tem relação direta com o assunto deste estudo, basta mencioná-los: Ana (Lc 2:37), o Senhor Jesus (Mt 4:2), e o fariseu (na parábola de Lc 18:12).

O exemplo de Cornélio (At 10:30) também não serve para nos guiar, pois Cornélio nem era convertido quando jejuou. Pode ser que ele aprendeu sobre o jejum com os judeus (dos quais era amigo; At 10:22); mas sua prática tem mais a ver com uma busca religiosa da verdade por um incrédulo, do que com o serviço inteligente de um salvo.

Restam apenas os exemplos de Paulo e Barnabé; primeiramente com outros irmãos em Antioquia (At 13:1-3), e depois em outras igrejas no final da viagem que começou no cap. 13 (At 14:23). Um elemento em comum nestes dois exemplos é que o jejum está intimamente ligado à oração: “Então, jejuando e orando …” (At 13:3); “… orando com jejuns …” (At 14:23).

Estes exemplos são importantes; mas não podemos deixar de perceber o contraste com outras atividades no Novo Testamento, como a oração, por exemplo. Se temos três exemplos de jejum no livro de Atos e um nas epístolas (I Co 7:5), lemos de oração quase cem vezes nesta parte da Bíblia. O contraste é impressionante, e não pode ser ignorado.

Também precisamos destacar a ocasião destes exemplos. Ambos ocorreram por ocasião da primeira viagem de Paulo, que foi provavelmente no ano 48 a.D. Esta viagem foi feita antes de qualquer uma das epístolas do NT terem sido escritas, quando as igrejas locais ainda estavam na sua infância, e quando alguns elementos do judaísmo ainda permaneciam entre os salvos. Cerca de dez anos depois disto (por volta do ano 58 a.D.), lemos de “milhares de judeus que creem, e todos são zeladores da Lei” (At 21:20). Estes exemplos provavelmente indicam a demora dos judeus salvos em abandonar todas as práticas do judaísmo. Um judeu não teria tanta dificuldade para abandonar o Templo e os sacrifícios de animais; mas outros aspectos da Lei (como a circuncisão, o dízimo, o jejum) demoraram muito mais para serem deixados de lado (até mesmo por cristãos esclarecidos como Paulo, conforme o exemplo já citado do seu voto no cap. 21 de Atos).

Concluindo

Temos considerado, neste breve estudo, todas as referências ao jejum no NT, e descobrimos que, referente a esta Dispensação em que vivemos, encontramos:

  • Apenas um trecho doutrinário que menciona o jejum (I Co 7:5), e isto indiretamente;
  • Apenas dois exemplos de cristãos jejuando (At 13:1-3 e 14:23) — ambos ocorridos no ano 48 a.D., antes do Novo Testamento ser escrito, e antes do judaísmo ser completamente desarraigado do meio da Igreja.
  • Nenhuma exortação nas epístolas sobre o ato de jejuar, ou sobre o significado ou importância deste ato.
  • Uma profecia (Mt 9:15) feita pelo Senhor Jesus que indica que, nestes dias presentes, não temos razão para jejuar (pois o esposo está conosco todos os dias, até a consumação dos séculos).

Diante destes fatos, concluímos que o jejum não pertence a esta Dispensação em que vivemos. No seu sentido original (o ato de abster-se de alimentos como um exercício religioso; isto é, como uma forma de agradar a Deus), ele não tem nenhum valor nesta Dispensação, e os cristãos desta época da Igreja não devem jejuar meramente como um exercício religioso.

Há, porém, outra forma de entender a palavra “jejum”: o ato de abster-se de alimentos (ou outras coisas lícitas e necessárias) por algum tempo, para não atrapalhar algum serviço espiritual. Creio que esta forma de jejum (se dermos à palavra este sentido secundário) não só é lícito, como é proveitoso. Duas vezes lemos que o Senhor Jesus e Seus discípulos estavam tão ocupados ajudando os outros que “não tinham tempo para comer” (Mc 3:20 e 6:31). A expressão “orando com jejuns” em Atos 14 também indica isto, e sugere algo que muitos cristãos fazem regularmente: abrir mão de alimento (ou descanso, ou outra coisa necessária) porque há serviço para o Mestre que precisa ser feito urgentemente. Quantas irmãos e irmãs (principalmente nestes dias corridos em que vivemos) já abriram mão do jantar para poderem ir à reunião depois do trabalho num dia de semana; ou usaram a hora do almoço para visitar um enfermo, distribuir folhetos, ou conversar com um colega de escola ou trabalho que está interessado no Evangelho. Quantos irmãos e irmãs se entregam de tal forma à oração, que não tem tempo para comer (como o Senhor em Marcos caps. 3 e 6).

Se chamarmos esta entrega de “jejum”, certamente é algo do qual precisamos mais. Mas creio que o Novo Testamento deixa bem claro que o jejum, como mero exercício religioso, não tem valor nesta Dispensação.

Em terminar, preciso reconhecer que há irmãos piedosos e tementes a Deus que creem que o cristão deve jejuar ainda hoje. Fazem isto sinceramente diante do Senhor, e seguindo as orientações dadas no Sermão da Montanha (lavando o rosto para não parecer aos homens que jejuam — Mt 6:16-18). Respeito a convicção deles e não os julgo, mesmo ao repartir minha convicção neste pequeno artigo.

P.S. (19 Fev 2014). Acrescento abaixo um parágrafo sobre este assunto, extraído do Comentário Ritchie sobre o livro de Zacarias. O autor destas palavras é o irmão John Stubbs:

Sobre o assunto de jejuns, talvez seria bom considerar a pergunta se os cristãos hoje devem jejuar. Em primeiro lugar, não há ensino no Novo Testamento exigindo que os salvos jejuem, individual ou coletivamente. Isso não quer dizer que um salvo não possa jejuar. Eles jejuaram na igreja em Antioquia (At 13:3). Pode haver tempos quando o cristão considera conveniente disciplinar-se desta maneira para que possa ser mais devotado ao Senhor, em algum exercício espiritual. Abster-se de comer, ou de outras coisas legítimas, pode ajudar um cristão, mas não necessariamente outro. Se um cristão jejua, seria errado exigir que outros também jejuem. O Senhor Jesus ensinou que se o jejum for observado, deve ser feito sem nenhuma ostentação (Mt 6:16-18). Um ponto importante que devemos lembrar é que, quer seja nacional, na igreja, ou pessoal, o jejum em si mesmo não tem virtude alguma.

© W. J. Watterson

Saturday, 7 December 2013

O que Deus dirá de você?

Ao examinar as ocorrências da palavra grega martureo (nº 3140 no dicionário Strongs; significa “testificar”, “recomendar”), vemos que o Espírito Santo apresenta um retrato muito interessante de Deus testificando a respeito de Seus servos. Esta palavra é usada na Bíblia toda setenta e nove vezes; homens testificam de homens, Deus testifica de Seu Filho, etc. Mas somente três vezes ela é usada para falar de Deus testificando de algum ser humano. E nestas três ocorrências vemos o servo de Deus quanto ao passado, o presente e o porvir.

O passado (At 15:8) — aptidão

Quando Deus salvou os gentios na casa de Cornélio, Pedro disse que “Deus lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós; e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé”. Ao lhes dar o Espírito Santo, Deus reconhecia publicamente, perante o preconceito judaico, que os gentios estavam aptos a servir ao Deus de Israel.

Sendo salvo, posso olhar para trás, para o dia da conversão, e agradecer a Deus por ter me dado o direito e a aptidão necessários para servi-lO. De servo do pecado, fui transformado em servo de Deus, e agora estou apto a servir ao Senhor.

O presente (At 13:22) — aspiração

Depois de Saul, o homem segundo coração do povo, Deus apresentou o Seu rei, o homem segundo o Seu coração, Davi, e “deu testemunho, e disse: Achei a Davi, … que executará toda a Minha vontade”. Ao escolher Davi, Deus declarou publicamente que este homem tinha o desejo sincero de fazer toda a vontade de Deus. Ele não era perfeito (o relato da Bíblia deixa isto bem claro), mas o anelo da sua alma, o anseio do seu coração e a aspiração deste servo era fazer toda a vontade de Deus.

Tenho o direito de servir a Deus: será que tenho, como Davi, o desejo?

O porvir (Hb 11:4) — aprovação

Depois que Abel morreu, Deus inspirou o escritor da epístola aos Hebreus a registrar o testemunho de Deus quanto aos dons de Abel (isto é, quanto àquilo que Abel ofereceu a Deus). Abel morreu, mas depois de morto, ele ainda fala. Deus publicamente testificou que o sacrifício de Abel, fruto da sua fé, foi aprovado e recebido por Ele.

Um dia o Senhor irá avaliar o meu serviço também. Ele, que me deu o direito de servi-lO, que sabe se tenho ou não o desejo de servi-lO, Ele irá dizer se tive ou não discernimento ao servi-lO. Ele provará o serviço que fiz para Ele pelo fogo da Sua Palavra (I Co 3:10-15); qual será o resultado?

Ele me fez apto para este serviço; Ele é a inspiração para a minha fraca aspiração; que Ele possa aprovar o meu e o seu serviço naquele dia, dando testemunho dos nossos dons.

© W. J. Watterson

Thursday, 17 October 2013

Homem de guerra e homem de repouso

Davi e seu filho Salomão são descritos na Palavra de Deus de duas formas bem diferentes: alguém disse de Davi que ele era “valente e vigoroso, e homem de guerra” (I Sm 16:18), enquanto que o próprio Senhor disse a Davi, acerca de Salomão: “Eis que o filho que te nascer será homem de repouso; porque repouso lhe hei de dar de todos os seus inimigos ao redor” (I Cr 22:9). Nestes dois temos um retrato do nosso Senhor Jesus Cristo em duas épocas: no final da Tribulação (Davi) e no Milênio (Salomão).

Davi, o homem de guerra que livrou Israel de todos os seus inimigos, nos lembra do Senhor Jesus como aquele que, “na cruz … despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em Si mesmo” (Cl 2:14-15). No final da Tribulação, lemos dEle: “… julga e peleja com justiça … E da Sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações” (Ap 19:11-16).

Salomão, o sucessor de Davi, homem de repouso, ao qual Deus deu um reino que não foi atacado, mas onde a paz e a justiça prosperaram, nos lembra do Senhor Jesus e o reino de paz e descanso que Ele trará à Terra durante o milênio, quando “o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança, para sempre. E o Meu povo habitará em morada de paz, e em moradas bem seguras, e em lugares quietos de descanso” (Is 32:17-18).

Tendo sido libertados dos nossos inimigos pelo maior Homem de guerra, esperamos um reino de paz e repouso sob o governo do maior Homem de repouso. A Ele seja toda a glória!

© W. J. Watterson

Saturday, 5 October 2013

A Divindade do Filho

O texto abaixo é o segundo capítulo do livro gratuito “A Glória do Filho”, publicado pela Editora Sã Doutrina.

Cap 2 — A deidade da Sua Pessoa

Por John M. Riddle, Inglaterra


O que pensais vós de Cristo é a prova
Que testa vosso estado e intenção;
Em tudo o mais não tereis razão
Tendo dEle equivocada compreensão.
(John Newton) 

Introdução
“E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo; para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que O enviou” (Jo 5:22-23).

Em resposta à Sua pergunta: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?” os discípulos responderam: “Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros Jeremias, ou algum dos profetas”. Em resposta à Sua próxima pergunta: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” Simão Pedro replicou: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16:13-16). Mas isso não é tudo. Um pouco mais tarde, tendo ouvido o que os homens tinham a dizer sobre Ele, e tendo ouvido o que Pedro tinha a dizer sobre Ele, Deus mesmo declara: “Este é o Meu amado Filho em quem Me comprazo” (Mt 17:5).

Mas havia incredulidade naquele tempo, como agora; a incredulidade moderna não é nova. Ele não foi reconhecido por muitos e teve que dizer para a mulher samaritana: “Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz, Dá-me de beber, tu Lhe pedirias, e Ele te daria água viva” (Jo 4:10). Seus próprios conterrâneos disseram: “De onde veio a Este a sabedoria e estas maravilhas? Não é Este o filho do carpinteiro? E não se chama Sua mãe Maria, e Seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as Suas irmãs? De onde Lhe veio, pois, tudo isto? E escandalizavam-se nEle” (Mt 13:54-57). Até mesmo da Sua família foi dito: “nem mesmo seus irmãos criam nEle” (Jo 7:5) As autoridades religiosas foram além: “Nós bem sabemos que Deus falou a Moisés, mas este não sabemos de onde é” (Jo 9:29). O seu sarcasmo é sutilmente velado. João resume tudo em duas frases: “Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O conheceu. Veio para o que era Seu e os seus não O receberam” (Jo 1:10-11).

Foi por causa desta incredulidade e falsa doutrina que dois livros do Novo Testamento foram escritos: o Evangelho de João e a I Epístola de João. O apóstolo afirma isto categoricamente perto do final do seu Evangelho: “Jesus, pois, operou também em presença de Seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome” (Jo 20:30-31). Devemos notar que a segurança eterna do cristão se baseia na Divindade de Cristo. Alguém disse que “um Salvador que não é absolutamente Deus é como uma ponte quebrada bem no final”! Uma afirmação semelhante ocorre na primeira Epístola de João: “Estas coisas vos escrevi a vós, os que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna” (5:13). A Epístola conclui com outra afirmação categórica: “E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em Seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus [Ele é o verdadeiro Deus, JND] e a vida eterna” (5:20).

O Evangelho de João foi escrito para dar o conhecimento da salvação: “para que creiais … e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome”. A primeira epístola de João foi escrita para dar a segurança da salvação: “para que saibais que tendes a vida eterna, vós os que credes”. Tanto o conhecimento da salvação quanto a segurança da salvação são garantidas porque o Salvador é o Filho de Deus.

O ensino do Velho Testamento

A deidade de Cristo é ensinada consistentemente através das Escrituras, tanto no Velho como no Novo Testamento. No que diz respeito ao Velho Testamento, destacamos o seguinte:

Salmo 45:6-7

Falando do Rei, está escrito:

“O Teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do Teu reino é um cetro de equidade. Tu amas a justiça e odeias a impiedade; por isso Deus, o Teu Deus Te ungiu com óleo de alegria mais do que a Teus companheiros.”

Esta é uma afirmação muito importante em relação à Sua deidade. Trata-se de uma Pessoa Divina dirigindo-Se à outra: “O Teu trono, ó Deus” — aquele a quem as palavras são dirigidas é Deus. Veja o v. 7: “por isso Deus, o Teu Deus, Te ungiu” — aquele que fala é Deus. Isto é confirmado no Novo Testamento: “Mas do Filho diz: Ó Deus, o Teu trono subsiste pelos séculos dos séculos …” (Hb 1:8-9).

Salmo 110:1

“Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-Te à Minha mão direita, até que ponha os Teus inimigos por escabelo dos Teus pés”.

O Hebraico, traduzido literalmente, diz: “O oráculo de Jeová ao meu Senhor.” Isto faz das próximas palavras uma mensagem direta de Deus para o Seu Rei. É um oráculo de Jeová — o Deus fiel do concerto, o Deus imutável. Aqui, o Senhor Jesus é chamado de Adonai, que significa “Soberano Senhor, Mestre, Possuidor, Proprietário” (Newberry). Também devemos notar Mateus 22:45: “Se Davi, pois, Lhe chama Senhor, como é Seu Filho?”

O Salmo registra a acolhida Divina gozada pelo Senhor Jesus na Sua ascensão: “Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: assenta-Te à minha direita, até que ponha os Teus inimigos por escabelo de Teus pés. Saiba, pois, com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2:34-36). O escritor aos Hebreus pergunta: “E a qual dos anjos disse jamais, Assenta-Te à minha destra, até que ponha a Teus inimigos por escabelo de Teus pés?” (Hb 1:13).

Isaías 7:13-14

“Ouvi agora, ó casa de Davi … Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um Filho, e chamará o Seu nome Emanuel”.

O Novo Testamento estabelece com absoluta clareza o significado desta profecia: “Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um Filho, e chamá-Lo-ão pelo nome de Emanuel, que traduzido é: Deus conosco” (Mt 1:22-23). Esta é uma afirmação categórica: “para que se cumprisse”. Não, como em outros casos: “e outra vez diz a Escritura” (Jo 19:37), que indica a aplicação de uma passagem do Velho Testamento, em vez da sua interpretação e cumprimento. As palavras “chamá-lo-ão pelo nome de Emanuel” explicam a razão da maneira da Sua concepção. E. J. Young, no seu livro The Book of Isaiah (O Livro de Isaías) cita João Calvino: “Calvino acertadamente sustenta que o nome não pode ser aplicado a alguém que não é Deus. Nenhum outro no Velho Testamento leva este nome. Por estas razões, a profecia precisa ser interpretada somente em relação àquele a quem estas condições se aplicam, isto é, Jesus Cristo, o Filho da Virgem e o Deus Forte”. “Emanuel”, que transmite a Sua divindade absoluta, junto com o da Sua humanidade perfeita, é uma descrição da Sua identidade, mais do que um nome pelo qual Ele foi conhecido na Terra.

Isaías 9:6

“Porque um menino nos nasceu, um Filho Se nos deu, e o principado está sobre os Seus ombros, e se chamará o Seu nome: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.”

O título “Deus Forte” enfatiza Sua deidade e, portanto, Seu poder. O trono de Davi parecia especialmente vulnerável quando Acaz reinava sobre Judá, e depois desapareceu totalmente. O último Reivindicador foi coroado com espinhos! Mas este trono será ocupado no final pelo “Deus Forte”! Davi era um rei poderoso, e o Senhor lhe deu “descanso de todos os seus inimigos em redor” (II Sm 7:1). Mas quem pode se comparar com o Rei final, de quem é dito: “Eis que reinará um rei com justiça” (Is 32:1)? “Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés” (I Co 15:25).

Isaías 40:3, 9

“Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai no ermo a vereda a nosso Deus … Tu ó Sião, que anuncias boas novas, sobe a um monte alto. Tu, ó Jerusalém, que anuncias boas novas, levanta a tua voz fortemente; levanta-a, não temas, e dize às cidades de Judá: Eis aqui está o vosso Deus”. 

Isto se refere, inicialmente, à pregação de João Batista: “Este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai as Suas veredas” (Mt 3:3).

Quando Isaías declara: “Aqui está o vosso Deus”, ele usa a palavra Elohim para Deus. Isto deve ser comparado com: “Preparai o caminho do Senhor [Jeová], endireitai no ermo uma vereda a nosso Deus [Elohim]”, e “naquele dia se dirá: Eis que este é o nosso Deus [Elohim] a quem aguardávamos, e Ele nos salvará; este é o Senhor [Jeová], a quem aguardávamos; na Sua salvação gozaremos e nos alegraremos” (Is 25:9). Estas passagens enfatizam a deidade do Senhor Jesus, de quem João Batista disse: “Eu na verdade batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das alparcas” (Lc 3:16). 

Zacarias 13:7

“Ó espada, desperta-te contra o Meu Pastor, e contra o homem que é o Meu companheiro, diz o Senhor dos exércitos. Fere ao Pastor, e espalhar-se-ão as ovelhas”.

Isto enfatiza a Sua deidade: “O homem que é o Meu companheiro”. A palavra “homem” aqui significa “um homem forte”. A palavra “companheiro” tem diversas traduções: “o homem da Minha união”; “um homem coigual Comigo”; “o homem Meu igual”. É preciso dizer mais? Ele é o Divino Pastor. Ele é igual a Deus. Ele mesmo disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10:30).

Malaquias 3:1

“Eis que Eu envio o Meu mensageiro, que preparará o caminho diante de Mim, e de repente virá ao Seu templo o Senhor [Adonai], a quem vós buscais …”.

Este versículo enfatiza claramente a deidade do Senhor Jesus. Ele é o “Deus do juízo”, que diz: “Eis que Eu envio o Meu mensageiro, que preparará o caminho diante de Mim”. João Batista, “Meu mensageiro”, preparou o caminho para o Senhor Jesus que é, portanto, ninguém menos que o Próprio Deus. Isto é confirmado pela segunda afirmação: “… virá ao Seu templo o Senhor [Adonai], a quem vós buscais”. Este versículo notável enfatiza, portanto, tanto a deidade do Senhor Jesus, como a Sua identidade distinta.

O ensino do Novo Testamento

Estas belas passagens do Velho Testamento são plenamente corroboradas no Novo Testamento, onde o assunto da deidade do nosso Senhor é constantemente e consistentemente destacado. Ele é descrito como “a imagem do Deus invisível” (Cl 1:15), “a expressa imagem da Sua [de Deus] Pessoa” (Hb 1:3). No Novo Testamento, o Espírito Santo usa duas palavras gregas quando descreve o Senhor Jesus como a “imagem de Deus”.

Eikon

Esta palavra é usada em Colossenses 1:15, como vimos acima, e em II Coríntios 4:4: “para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus”. Como a “imagem de Deus”, Cristo é “essencialmente e absolutamente a expressão perfeita e a representação de Deus. Como a ‘imagem do Deus invisível’, Cristo é a representação visível e a manifestação de Deus aos seres criados” (W. E. Vine). Compare Hebreus 10:1: “Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas”.

A mesma palavra eikon ocorre em Mateus 22:20: “de quem é esta efígie [imagem] e esta inscrição?”; I Coríntios 11:7: “O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e a glória de Deus”; Apocalipse 13:15: “E foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta”. Em cada caso, “imagem” não é a realidade; ela representa e manifesta a realidade. No caso de uma moeda, a imagem irá mudar no prosseguir do reino; mas Cristo não. Ele não envelhece nem degenera! O Senhor Jesus, porém, não simplesmente representa a realidade, Ele é Deus absoluta e essencialmente. Ele não é a semelhança do Deus invisível, mas a “imagem do Deus invisível”. Somente Ele manifestou a Deus. Veja João 1:18: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho Unigênito, que está no seio do Pai, esse O revelou”; João 14:9: “Quem Me vê a Mim vê o Pai”. NEle estão manifestos a própria natureza e atributos de Deus pelo Seu poder, onisciência, santidade e amor. Neste aspecto temos que distinguir entre Adão e Cristo. Adão foi feito à “imagem de Deus” (Gn 1:26-27), e os homens são “feitos à semelhança de Deus” (Tg 3:9). Em contraste, o Senhor Jesus não foi feito à “imagem de Deus” — Ele é Deus.

Charakter

Esta palavra é usada em Hebreus 1:3: “o qual sendo o resplendor da Sua glória, e a expressa imagem da Sua [de Deus] Pessoa”. Charakter, que vem de um verbo que significa “estampar”, ou “gravar”, originalmente significava o instrumento usado para estampar, que nós chamamos de “carimbo”, ou “molde”, mas veio a significar também a marca feita pelo instrumento. Assim como todas as características da impressão correspondem exatamente ao instrumento que os faz, também Cristo possui a exata impressão da natureza e caráter divinos (M. R. Vincent/ W. E. Vine). As palavras “expressa imagem da Sua Pessoa”, ou “expressão da Sua substância” (JND) enfatizam que todos os atributos de Deus pertencem a Ele; nada está faltando. Veja Colossenses 2:9: “Porque nEle habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Em relação a isto, temos que notar a ligação com o versículo anterior: “Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo, porque nEle habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Por um lado, temos o vazio da filosofia, e por outro temos a perfeita revelação de Deus em Cristo. No primeiro caso é uma especulação, e no segundo é uma revelação. Em Cristo habita toda a plenitude (inteireza) da Divindade absoluta, essencialmente e perfeitamente: a própria Personalidade de Deus. Como W. Kelly destaca: “a plenitude da Divindade nunca habitou no Pai corporalmente, nem no Espírito Santo, mas somente em Cristo”. Deus é conhecido por causa da encarnação. Assim, “nEle habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”. Não há nada de incerteza aqui. O Senhor Jesus é “Deus [que] se manifestou em carne” (I Tm 3:16). Ele é Aquele de quem João escreveu: “O que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da Vida” (I Jo 1:1).

A ênfase de João

Visto que, como notamos, João escreveu “para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus” (Jo 20:31), podemos esperar que o apóstolo coloque uma grande ênfase neste fato, e agora destacamos a maneira como ele trata este assunto sobremodo importante. Isto nos levará a considerar outras passagens do Novo Testamento que tratam de diferentes aspectos deste grande tema.

Se o Senhor Jesus é Deus, Ele precisa ser eterno

Deus é eterno: “O Deus eterno é a tua habitação, e por baixo estão os braços eternos” (Dt 33:27). João se refere à eternidade do Senhor Jesus no começo do Seu Evangelho: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1:1). A expressão “o Verbo” equivale de modo abreviado à expressão “Palavra do Senhor” do Velho Testamento. Ela revela o Deus invisível. Temos que notar rapidamente o seguinte:

Sua eternidade

“No princípio era o Verbo”. João não diz “desde o princípio”, mas “no princípio”. Ele estava eternamente presente. A expressão “no princípio” se refere a uma condição, e não a um começo.

Sua igualdade

“E o Verbo estava com Deus”. Estas palavras são explicadas como sendo uma “intercomunhão perpétua”. Ele estava e permanece “face a face com Deus”. Isto é enfatizado em Filipenses 2:6: “Que sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus”, onde a palavra “igual” está, realmente, no plural. O Senhor Jesus estava e está em igualdades com Deus. Em todos os aspectos e em cada detalhe, Ele corresponde à Deidade absoluta.

Sua Deidade

“E o Verbo era Deus.” Olhando novamente para Filipenses 2:6, temos que notar que embora Ele “tomou a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens” (v.7), Ele nunca “tomou sobre Si a forma de Deus” nem “foi feito à semelhança de Deus”. A palavra sendo, na expressão “sendo em forma de Deus”, enfatiza a Sua eterna deidade. W.E. Vine ressalta que o verbo “sendo” (huparcho) “evidencia a existência de uma pessoa anterior ao que é afirmado sobre ela”, e dá uma série de ilustrações, tiradas do Novo Testamento, incluindo Atos 2:30.

A palavra “forma” (morphe) “indica a forma especial ou característica de uma pessoa” (W.E. Vine). Vine cita Gifford (The Incarnation of Christ):

Morphe é propriamente a natureza ou essência … como subsistindo permanentemente no indivíduo, e retida pelo tempo que o indivíduo existe … morphe Theo (a ‘forma de Deus’) é a natureza Divina verdadeiramente e inseparavelmente subsistindo na Pessoa de Cristo”.

A palavra é usada novamente no v.7: “tomou a forma de servo”.

As palavras consideradas acima, “sendo em forma de Deus”, devem ser comparadas com Hebreus 1:3: “O qual sendo o resplendor da Sua glória”. Isto enfatiza Sua natureza essencial, independentemente de tempo. Ele é o esplendor, a excelente resplandecência da glória de Deus. Foi dito que “a glória divina que foi vista na Shekinah, a nuvem que repousava sobre o Tabernáculo, é agora plenamente manifestada em Cristo, a verdadeira Shekinah”. Embora “Deus falou aos pais pelos profetas” (onde havia uma distinção de identidade entre Deus e os Seus servos) Ele, nestes últimos dias, “falou-nos … pelo Filho” (onde não há distinção de natureza entre Deus e Seu Filho). JND diz: “falou-nos na pessoa do Seu Filho” (Hb 1:1-2).

Sua personalidade distinta

“Ele estava no princípio com Deus”. Embora o Senhor Jesus dissesse: “Eu e Meu Pai somos um” (Jo 10:30), Ele também disse: “Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai” (Jo 16:28).

João tem mais a dizer em relação a este aspecto da Deidade do Senhor. Em resposta à pergunta: “Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão?”, o Senhor disse: “Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, Eu Sou”. Os judeus entenderam perfeitamente a Sua reivindicação. Ele afirmara a Sua Deidade absoluta. “Então pegaram em pedras para Lhe atirarem” (Jo 8:57-59). Novamente, tendo dito: “Eu e o Pai somos um”, os judeus disseram: “Não te apedrejamos por alguma boa obra, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo” (Jo 10:30-33). Num cenário completamente diferente, é João quem registra as palavras do Senhor: “E agora, glorifica-Me Tu, ó Pai, junto de Ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo 17:5). Ele havia glorificado o Pai na Terra (v. 4), e quem senão o Filho de Deus poderia reivindicar reciprocidade?

Outras passagens que enfatizam Sua eternidade

Há outras Escrituras que enfatizam a eternidade do nosso Senhor. Por exemplo, Miquéias 5:2: “de ti [Belém Efrata] me sairá O que governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”. Isto contrasta maravilhosamente com a expressão: “os dias da Sua carne” (Hb 5:7). Quanto ao futuro Ele é chamado de o “Pai da Eternidade” (Is 9:6), e Hebreus 1:10-12 também indica Sua eternidade com as palavras: “Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, e os céus são obra de Tuas mãos. Eles perecerão, mas Tu permanecerás; e todos eles, como roupa, envelhecerão, e como um manto os enrolarás, e serão mudados. Mas Tu és o mesmo, e os Teus anos não acabarão”.

Se o Senhor Jesus é Deus, Ele precisa ser onipotente

João nos diz que “todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele, nada do que foi feito se fez” (Jo 1:3). Isto deve ser comparado com Colossenses 1:16-17, onde a expressão “todas as coisas”, ou “tudo”, ocorre quatro vezes. O relacionamento entre o Senhor Jesus e a Criação, nestes versículos, foi apropriadamente resumida, como segue:

Ele é o Arquiteto da Criação (Cl 1:16a)

“Porque nEle [en] foram criadas todas as coisas, que há nos [en] céus e na [api, que significa ‘sobre’] terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades …” A preposição en pode ser traduzida: “porque em Ele foram criadas todas as coisas”. Ele projetou tudo na Criação! Portanto, Ele está obviamente fora da Criação, Ele é distinto da Criação e Ele é maior do que a Criação. As palavras “tronos … dominações … principados … potestades” evidentemente se referem, não a autoridades humanas, mas a autoridades invisíveis. Isto fica claro pelo fato delas serem mencionadas em relação à Criação. Veja também Efésios 6:12, onde “principados e potestades” certamente se referem ao mundo espiritual.

À Sua voz a Criação surgiu num instante,
Todos os anjos, toda hoste brilhante;
Tronos e domínios, estrelas em seu lugar,
Todas as ordens celestiais, miríades a brilhar!
(Caroline Maria Noel)

Ele é o Agente da Criação (Cl 1:16b)

“Tudo foi criado por Ele”. A preposição agora é dia, que significa “através de”. JND diz: “o poder instrumental”. Ele não apenas projetou o Universo; Ele o construiu. “Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1:3). “Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, e os céus são obra de Tuas mãos” (Hb 1:10).

Ele é o Alvo da Criação (Cl 1:16c)

“Tudo foi criado por Ele e para Ele”. Compare com Hebreus 2:10: “Aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe”; Apocalipse 4:11: “Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque Tu criaste todas as coisas, e por Tua vontade [ou, para o Teu prazer] são e foram criadas”. Podemos, portanto, estar absolutamente certos de que toda a Criação que “geme e está juntamente com dores de parto até agora” (Rm 8:22) há de, no final, cumprir o seu propósito, e proporcionar gozo e prazer ao seu Criador.

Ele é anterior à Criação (Cl 1:17a)

“E Ele é antes [pro] de todas as coisas”. Ele precede a Criação. Ele precede a Criação porque, ao contrário dela, não tem origem nem derivação. Ele não tem “princípio de dias nem fim de vida” (Hb 7:3).

Ele é o Administrador da Criação (Cl 1:17b)

“E todas as coisas subsistem por Ele”, ou, “Todas as coisas subsistem juntamente por Ele” (JND). A Criação “se mantém junta” pelo Seu poder. O Senhor Jesus sustenta “todas as coisas pela palavra do Seu poder” (Hb 1:3). Ele criou “todas as coisas” e Ele mantém “todas as coisas”. A lei da gravidade e todas as outras “leis” na Criação são Suas leis. Nada se move nem funciona sem Ele! Cristo é “o poder unificador da Criação, do contrário, o universo estaria em caos” (T. Bentley).

Os sinais em João

Não é surpreendente, portanto, que João chame a nossa atenção para o toque do Deus-Criador nos milagres (sinais) que Ele fez. Já no primeiro caso, transformando água em vinho, João observa: “Jesus principiou assim os Seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a Sua glória” (Jo 2:11). É notável que a primeira praga no Egito foi água transformada em sangue, enquanto que o primeiro sinal dado pelo Senhor Jesus foi água transformada em vinho. Devemos também notar o seguinte:

Aquele que disse: “Ajuntem-se as águas debaixo do céu num lugar” (Gn 1:9), veio andando sobre o mar para os Seus discípulos, embora o mar estivesse agitado por causa de um grande vento que assoprava (Jo 6:18-19). Mateus nos diz que “os que estavam no barco adoraram-no, dizendo: És verdadeiramente o Filho de Deus” (Mt 14:33). Numa ocasião anterior, os discípulos disseram: “Que Homem é este, que até os ventos e o mar Lhe obedecem?” (Mt 8:27). O Criador do vento e das ondas estava presente!

Aquele que disse: “Povoem-se as águas de enxames de seres viventes” (Gn 1:20, ARA), disse também: “Lançai a rede para o lado direito do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam tirar, pela multidão dos peixes” (Jo 21:6). Não é de se admirar que João dissesse: “É o Senhor”; ele evidentemente ainda se recordava de um milagre semelhante, ocorrido cerca de três anos e meio antes.

Aquele que disse: “Façamos o homem à nossa imagem”, e que “formou o homem do pó da terra” (Gn 1:26; 2:7), concedeu mobilidade a um homem “que, havia trinta e oito anos se achava enfermo” (Jo 5:5). Ele deu a vista a um homem que era “cego de nascença” (Jo 9:1) e deu vida a um homem de quem foi dito: “já cheira mal, pois é já de quatro dias” (Jo 11:39).

Muitas outras ilustrações da onipotência do Senhor como Criador são encontradas nos Evangelhos sinópticos. Por exemplo, aquele que disse: “Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a espécie” (Gn 1:11) disse à figueira: “Nunca mais coma alguém fruto de ti … e eles, passando pela manhã, viram que a figueira tinha se secado desde as raízes” (Mc 11:14, 20).

O Sábado

Em relação ao Seu trabalho devemos notar as palavras do Senhor: “Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também” (Jo 5:17). Deus não guardava o sábado, e o Senhor Jesus continuou o Seu trabalho. Os judeus responderam a isso: “ainda mais procuravam matá-Lo, porque não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era o Seu próprio Pai, fazendo-Se igual a Deus” (Jo 5:18). Compare isto com Romanos 8:32: “nem mesmo a Seu próprio Filho poupou”. Israel é descrito como filho de Deus (Os 11:1; Ml 1:6), mas aqui é o “Seu próprio Pai”, enfatizando a Sua igualdade. Por isso Ele disse, logo em seguida: “E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo, para que todos honrem o Filho como honram o Pai …” (Jo 5:22-23).

O Primogênito

Mas, tendo dito isto, há pessoas que insistem em dizer que embora o Senhor Jesus exercesse o Seu poder na Criação, Ele era, Ele próprio, um ser criado. Para apoiar isto, citam Colossenses 1:15: “O qual é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”. Esta afirmação é usada pelas “Testemunhas de Jeová” para apoiar sua afirmação blasfema de que a primeira criação de Deus foi o Seu Filho. É importante, portanto, entender corretamente a palavra “primogênito”. O Senhor Jesus é descrito como o “primogênito”, em cinco ocasiões no Novo Testamento, que são: Rm 8:24; Cl 1:15, 18; Hb 1:6; Ap 1:5. A palavra é usada no plural em Hebreus 12:23: “igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus”. No Velho Testamento o título “primogênito” não era sinônimo de “primeiro a nascer”. Veja por exemplo I Crônicas 26:10-11: “E de Hosa, dentre os filhos de Merari, foram filhos: Sinri o chefe (pois embora não fosse o primogênito, seu pai o constituiu chefe). Hilquias o segundo, Tebalias … Zacarias”. A posição de José ilustra isto. Veja I Crônicas 5:1-2: “Quanto aos filhos de Rúben, o primogênito de Israel (pois ele era o primogênito; mas porque profanara a cama de seu pai, deu-se a sua primogenitura aos filhos de José, filho de Israel; de modo que não foi contado na genealogia da primogenitura, porque Judá foi poderoso entre seus irmãos, e dele veio o soberano; porém a primogenitura foi de José)”. Podemos acrescentar os casos de Jacó e Esaú, e de Efraim e Manassés (Gn 48:5-20), e fica claro pelos acontecimentos nas famílias patriarcais que a palavra “primogênito” se referia ao cabeça, ou filho principal, na família. Ela descrevia o relacionamento singular entre o pai e o filho assim indicado. No Salmo 89:27, Davi é descrito como “meu primogênito mais elevado do que os reis da terra”. Ele é supremo entre os monarcas terrenos. Isto se aplica ainda muito mais ao Senhor Jesus, que é “da casa e família de Davi”! Veja Lucas 2:4.

As “Testemunhas de Jeová” também usam Apocalipse 3:14: “o princípio da criação de Deus”, para apoiar sua doutrina abominável de que Cristo é um ser criado. Entretanto, a palavra “princípio” significa “originador”. Ele não é, como eles sugerem, “o primeiro a ser criado”, mas o Criador! Ele é o “originador” da Criação. Como o “primogênito de toda a criação”, o Senhor Jesus tem tanto a primazia quanto a preeminência sobre a Criação.

Se o Senhor Jesus é Deus Ele precisa ser onisciente 

Samuel, entre outros no Velho Testamento, aprendeu que “o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (I Sm 16:7), e Ana disse: “o Senhor é o Deus de conhecimento, e por Ele são as obras pesadas na balança” (I Sm 2:3), enfatizando a onisciência de Deus. O Senhor Jesus também demonstra essa característica, e é João quem enfatiza a Sua onisciência. 

Natanael perguntou: “De onde me conheces Tu?”, e quando o Senhor respondeu: “Antes que Filipe te chamasse te vi Eu, estando tu debaixo da figueira”, ele disse: “Rabi, Tu és o Filho de Deus; Tu és o Rei de Israel” (Jo 1:48-49). Novamente, em João 4:28-29: “Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, e foi à cidade, e disse àqueles homens: Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o Cristo?”. E de novo em João 11:14, Ele podia revelar o que acontecera em Betânia: “Lázaro está morto”.

A isto temos que acrescentar o domínio completo do Senhor Jesus sobre cada situação, Seu conhecimento perfeito de acontecimentos vindouros em Jerusalém, relativos à Sua morte e ressurreição, junto com Seu conhecimento perfeito de acontecimentos no então futuro distante, como demonstrado no Seu discurso no Monte das Oliveiras, tudo isso enfatiza a Sua onisciência.

Se o Senhor Jesus é Deus, Ele precisa ser onipresente

O próprio Senhor Jesus enfatizou isto em João 14:23: “Se alguém Me ama, guardará a Minha palavra, e Meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada”.

A Sua onipresença é enfatizada em Mateus 18:20: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. Compare com Marcos 16:20: “E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram”.

Se o Senhor Jesus é Deus, Ele precisa ser absolutamente Santo

Ana disse: “Não há Santo como o Senhor” (I Sm 2:2), e o Senhor Jesus, tendo dito aos Seus acusadores: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai”, continuou: “Quem dentre vós Me convence de pecado?” (Jo 8:46). A palavra “convence”, ou, “acusa”, indica que eles não somente eram incapazes de realmente acusá-lO de pecado perante um tribunal, mas também que Ele não era convicto de pecado na Sua própria consciência. Obviamente, era impossível Sua consciência acusá-lO, pois “nEle não há pecado” (I Jo 3:5). Compare com Tiago 1:13: “Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta”. É muito importante lembrar que a tentação no deserto não tinha por finalidade provar se o Salvador podia ou não pecar, mas era para demonstrar que Ele não podia pecar.

Se o Senhor Jesus é Deus, Suas palavras precisam ser únicas

João escreve: “Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele vem da terra é da terra e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre todos … Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; pois não Lhe dá Deus o Espírito por medida” (Jo 3:31, 34). Portanto, não é surpreendente que os oficiais enviados para trazê-lo, explicaram seu fracasso com as palavras: “Nunca homem algum falou assim como este homem” (Jo 7:32, 46). Ele disse: “Eu falo do que vi junto de Meu Pai, e vós fazeis o que também vistes junto de vosso pai” (Jo 8:38).

Se o Senhor Jesus é Deus, a morte não pode retê-lO

Tomé, confrontado com as chagas mortais num corpo vivo, exclamou: “Senhor meu, e Deus meu!” (Jo 20:28). A evidência cabal da Deidade do Senhor é a Sua ressurreição, que vindicou cada reivindicação feita por Ele. Se Ele não fosse Deus, Ele ainda estaria no sepulcro. Mas Ele “nasceu (ou veio) da descendência de Davi segundo a carne [a palavra ‘nasceu’ aqui significa ‘entrar numa nova condição’], declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos” (Rm 1:3-4).

Os apóstolos fizeram disso o carimbo oficial da sua pregação. Veja Atos 2:24-36: “… ao qual Deus ressuscitou … a este Jesus, Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai … Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor … ”

Os cristãos hoje deveriam estar “aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo [‘nosso Grande Deus e Salvador Jesus Cristo’, JND]” (Tt 2:13). Nós reconhecemos com prazer a Sua Deidade enquanto aguardamos a Sua vinda, e Israel fará o mesmo na Sua subsequente manifestação: “Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e Ele nos salvará; este é o Senhor, a quem aguardávamos; na Sua salvação gozaremos e nos alegraremos” (Is 25:9).

Na eternidade os santos hão de contemplar o seu Redentor e dizer com Paulo: o “Filho de Deus, o qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim”. Talvez não seja fantasioso demais dizer que palavras semelhantes às bem conhecidas e apreciadas do seguinte hino serão ouvidas no Céu:

Fiel imagem do Infinito
Cuja essência oculta está;
Resplendor da eterna Luz,
O coração de Deus revelado.
Digno, ó Cordeiro de Deus, és Tu,
De que todo joelho se dobre diante de Ti.
(Josiah Condor)


Neste meio tempo, visto que Ele “é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (I Jo 5:20), devemos dar a Ele a nossa devoção total. Como o “verdadeiro Deus”, Ele não pode ter rival nos nossos corações e nas nossas vidas. Por isso João conclui sua I Epístola dizendo: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos”.


© W. J. Watterson

Friday, 27 September 2013

Tabelas sobre os juízes

Uma leitura rápida do livro de Juízes esconde o fato de que a metade dos trezentos e noventa anos descritos no livro se encontra no começo do cap. 6, quando começa a história de Gideão. O Espírito Santo, que inspirou quem escreveu o livro, gasta muito mais tempo falando dos últimos dois séculos do que dos primeiros dois (para cada página que descreve a primeira etapa, são usadas mais do que quatro para descrever a segunda!).



O relato cronológico dos juízes começa no cap. 3 com a invasão feita pelo rei da Mesopotâmia, Cusã-Risataim, e termina no final do cap. 16, ainda dentro dos quarenta anos da opressão dos filisteus nos dias de Sansão. Da invasão de Cusã até o final do período de paz quando Débora e Baraque julgavam, são duzentos e seis anos, e da invasão dos midianitas (ca.p 6) até o final da opressão dos filisteus são cento e oitenta e quatro anos (o segundo período sendo um pouco menor do que o primeiro).
É interessante ver as semelhanças e contrastes entre estes dois períodos históricos. Até o cap. 6 lemos de três períodos em que Israel foi invadido por nações estrangeiras (Mesopotâmia, Moabe e Hazor), intercalados com períodos de paz, e até o final do livro encontramos mais três períodos em que Israel é dominada por nações estrangeiras (Midiã, Amom e os Filisteus), novamente intercalados com períodos de paz.
As três nações opressoras da primeira metade do livro (Mesopotâmia, Moabe e Hazor) tem semelhanças impressionantes com as três da segunda metade (Midiã, Amom e os Filisteus), semelhanças que são destacadas no mapa abaixo:
  • As duas primeiras em cada lista são nações que não tem fronteira com Israel, e que distam centenas de quilômetros da terra prometida. A Mesopotâmia é o lugar de onde Abraão foi chamado por Deus. Ficava ao oriente do Jordão, e sua capital, Ur, ficava cerca de mil km de Jerusalém. Quanto a Midiã, não temos tanta certeza da sua localização. Sabemos, de Gn 25:1-6, que Abraão enviou seu filho Midiã (o progenitor desta nação) “ao oriente, para a terra oriental” (isto é, de volta para a Mesopotâmia, ou pelo menos na direção dela). A localização de Midiã que é normalmente aceita pelos estudiosos é no norte da península Arábica, em torno de trezentos km de Jerusalém.
  • As duas nações opressoras que ocupam o segundo lugar em cada parte do livro (Moabe e Amon) são nações irmãs (Moabe a Amon foram os dois filhos que Ló teve com suas duas filhas), e vizinhas. Ambas fazem fronteira com Israel ao lado oriental, os amonitas ao Norte dos moabitas.
  • Já as duas nações que ocupam o último lugar nas duas listas são nações que ainda não haviam sido completamente expulsas de Canaã, e moravam dentro dos termos da terra prometida: Jabim governava sobre Hazor, no Norte de Canaã, e os filisteus habitavam no Sul da terra prometida.

Ou seja, Deus está claramente repetindo, na segunda metade do período dos Juízes, o padrão apresentado na primeira metade (assim como a segunda parte do livro, dos caps. 17 a 21, que não é cronológica, vai narrar duas histórias diferentes, mas que contém muitas semelhanças entre si). Os primeiros três opressores são nações que estão cada vez mais perto de Israel (o primeiro é muito distante, o segundo é vizinho de Israel, o terceiro mora dentro de Canaã). Os outros três opressores mencionados no livro seguem exatamente o mesmo padrão: muito distante, vizinho, inimigo interno.
Há outras semelhanças entre os dois períodos dos Juízes, como o fato de que em ambas as partes, Deus nos mostra como é que o último libertador foi levantado por Deus: Ele enviou uma mensagem profética para Baraque, e veio pessoalmente (como o Anjo do Senhor) no caso de Sansão.
Mas igualmente instrutivos são os contrastes entre as duas partes, começando com o espaço que o Espírito Santo usa neste livro para descrever cada etapa: a segunda parte ocupa um espaço mais de quatro vezes maior do que a primeira parte. Só o relato da vida de Gideão, ou o da vida de Sansão, qualquer um deles sozinho ocupa mais espaço do que todo o relato da primeira parte deste período.
Há uma diferença importante também na relação entre o número de anos de opressão e de paz. Se na primeira parte temos cento e sessenta anos de paz (quarenta, depois oitenta, depois quarenta novamente) e quarenta e seis de opressão, no segundo são apenas cento e dezesseis anos de paz para sessenta e cinco anos de opressão. Na primeira parte, houve aproximadamente três anos e meio de paz para cada ano de opressão, mas na segunda parte do livro esta relação cai para menos de dois anos paz para cada ano de opressão.

Não somente isto, mas nesta segunda metade do período aparece uma desordem que esteve ausente na primeira metade. Os três períodos de paz da primeira etapa são similares: quarenta anos, depois oitenta anos (duas vezes quarenta), depois mais quarenta. Na segunda etapa, porém, além do tempo de paz ser menor, não há nenhuma ordem. Temos somente dois períodos consecutivos sem opressão de outras nações: o primeiro durou oitenta e cinco anos (subdivididos em quarenta, vinte e três e vinte, e dois anos), e o segundo durou apenas trinta e um anos (subdivididos em seis, sete, dez, e oito anos).
E o pior: o primeiro período de paz nesta segunda etapa é cortado quase no meio por três anos de opressão debaixo de Abimeleque — não sofrendo nas mãos de uma nação estrangeira, mas devido a uma guerra civil (Israelitas matando Israelitas).
Estes detalhes, que as tabelas abaixo ilustram, destacam a mensagem claramente apresentada no livro, que o povo de Israel está se afastando mais e mais do Senhor. O segundo período mostra uma época moralmente muito inferior à primeira (assim como todas as segundas epístolas do Novo Testamento falam de apostasia e dos últimos tempos). A Palavra de Deus nos alerta, mais uma vez, quanto à nossa tendência para descer, para afastar do Senhor. Precisamos fazer um esforço para crescer no conhecimento de Deus, mas o afastamento vem naturalmente. Nossa tendência é sempre para baixo; a correnteza nos leva sempre para longe de Deus!
Os contrastes entre os dois períodos apresentados no livro dos Juízes mostram ainda outra lição, muito preciosa. Lemos do Anjo do Senhor em quatro ocasiões distintas neste livro, duas vezes antes de Gideão, e duas vezes depois. As duas primeiras menções não estão diretamente relacionados com os Juízes: lemos do Anjo do Senhor repreendendo o povo logo no início do livro (2:1), e depois uma referência poética feita por Débora e Baraque no seu cântico (5:23). É somente na segunda parte do livro, quando o povo está mais longe de Deus, que o Anjo do Senhor (Deus mesmo, revelando-Se na Pessoa do Senhor Jesus Cristo) aparece agindo na vida dos juízes. Deus ilustra, assim, um princípio lindo ensinado no Novo Testamento: “Se nós formos inféis, Ele permanece fiel” (II Tm 2:13). Quando o Seu povo esfria na sua fé, Deus continua trabalhando para restaurá-los.
Espero que as tabelas e o mapa ajudem a visualizar estas coisas (versão em alta-resolução aqui). Dúvidas ou sugestões nos comentários serão bem-vindas.





© W. J. Watterson

Monday, 23 September 2013

Fatos e mitos sobre o lenço dobrado no túmulo do Senhor Jesus

Circula na Internet, desde aproximadamente 2007, uma história que eu gostaria que fosse verdadeira. Ela traz uma explicação extremamente interessante e instrutiva para um pequeno detalhe mencionado no Evangelho de João, citando uma suposta antiga tradição hebraica como fonte, e nos informando que o “lenço dobrado” era uma forma muito clara do Senhor Jesus dizer: “Eu voltarei!”

Não tenho duvida nenhuma de que a aplicação (isto é, a volta iminente do Senhor Jesus) é absolutamente bíblica e verdadeira. Não tenho dúvida nenhuma da sinceridade das pessoas que estão repassando esta história. E repito: eu gostaria que a “tradição hebraica” citada na história fosse verdadeira. Infelizmente, porém, não existe nenhuma indicação confiável de que tal tradição jamais existiu.

A história

Bem, comecemos pelo começo! A suposta tradição judaica é explicada da seguinte forma:
O lenço dobrado tem a ver com o Amo e o Servo, e todo menino Judeu conhecia essa tradição. Quando o Servo colocava a mesa de jantar para o seu Amo, ele buscava ter certeza em fazê-lo exatamente da maneira que seu Amo queria. A mesa era colocada ao gosto de seu Amo e, o Servo esperava fora da visão Dele, até que o mesmo terminasse a refeição. O Servo não podia se atrever nunca, a tocar na mesa antes que o Amo tivesse terminado a sua refeição. Diz a tradição que ao terminar a refeição, o Amo se levantava, limpava os dedos, a boca, a sua barba, e embolava o lenço e o jogava sobre a mesa. Naquele tempo o lenço embolado queria dizer: "Eu terminei". No entanto, se o Amo se levantasse e deixasse o lenço dobrado ao lado do prato, o Servo jamais ousaria tocar na mesa porque, o lenço dobrado queria dizer: "Eu voltarei!".
Pesquisando a expressão “lenço dobrado no tumulo de jesus” (no Google em 23 de Setembro de 2013), os primeiros doze resultados (de aproximadamente 19.300) contém um vídeo (com duração de 26 minutos, que não ouvi), dois textos questionando esta suposta tradição (nos blogs Rocha Ferida e A Tenda na Rocha), e nove textos repetindo-a. Um detalhe: destes nove textos, sete são uma cópia palavra por palavra um do outro (não sei quem é a fonte), e os outros dois, apesar de acrescentarem algumas observações no decorrer no seu texto, também citam a tradição exatamente da mesma forma.

O problema

Apesar da multiplicidade de relatos, ninguém consegue apresentar nenhuma citação antiga que comprove esta “tradição hebraica”. Todos os nove textos citados acima, que defendem esta tradição, usam a expressão: “todo menino Judeu conhecia essa tradição” (alguns trocam o “essa tradição” por “a tradição”, e um blog diz: “todos até um menino Judeu conhecia [sic] esta tradição”). Todos afirmam que a tradição era bem conhecida, mas nenhum deles informa uma fonte antiga que confirma isto. Se era uma tradição hebraica bem conhecida, onde descobrimos isto? Existe alguma fonte judaica que confirme esta tradição antiga?

O blog Rocha Ferida, citado acima, cita a opinião da Profª Aila, do fórum CATES (um centro dedicado “ao ensino e ao estudo das Escrituras em seu contexto original ... por meio de professores, rabinos, teólogos e líderes da Igreja no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa e em Israel”), afirmando que “não há nada na cultura judaica sobre tal história de guardanapo embolado ou dobrado”.

O site “Truth or Fiction” (um site bem conceituado na Internet, que se dedica a pesquisar e confirmar, ou desmentir, histórias que circulam por meios eletrônicos), afirma que não há registros desta história antes de 2007, e que um rabino consultado por eles (alguém que é rabino ortodoxo, estudioso judaico, e que mora em Jerusalém) afirmou que nunca ouviu falar desta tradição judaica!

Conclusão

Devido à completa falta de comprovação história, e algumas afirmações de estudiosos da história judaica, não posso crer nesta suposta tradição hebraica. Repito o que disse na introdução: confio na honestidade de quem promove a história, concordo com a aplicação feita (a volta iminente do Senhor Jesus Cristo) e gostaria que a tradição citada fosse verdadeira. Mas devemos ter um compromisso com a verdade, não com aquilo que nos agrada.

Tudo o que escrevi acima não quer dizer que desconsidero a importância deste detalhe nas Escrituras. O texto que circula na Internet usa a seguinte expressão: “A Bíblia reserva um versículo inteiro para nos contar que o lenço fora dobrado cuidadosamente e colocado na cabeceira do túmulo de pedra”, sugerindo que o detalhe é importante. Concordo plenamente com esta sugestão, e defendo categoricamente a importância de prestarmos atenção em todos os detalhes revelados na Bíblia, crendo que ela não contém nenhum palavra supérflua. Sendo assim, certamente há uma razão importante para o Espírito Santo ter levado João a acrescentar este detalhe, mas creio que esta razão está mais relacionada com a prova que Pedro e João tiveram da ressurreição do Senhor (se alguém tivesse roubado o corpo, não teria tido cuidado de dobrar o lenço à parte) do que com qualquer mensagem em código sobre a volta do Senhor (algo que Ele sempre anunciou com toda a clareza).

Não me agrada desmentir algo que me agrada; mas espero que este texto sirva para ajudar alguém.



© W. J. Watterson

O ministério das irmãs

Ministério das Irmãs I Co 11:3; 14:34-35 a) Sua posição A posição das servas de Deus é apresentada com muita c...