Sunday 26 July 2020

Meditações na quarentena (51 a 79)

Junho

Desde o dia 21 de Março de 2020 a igreja local em Pirassununga está impossibilitada de reunir publicamente, devido à quarentena decretada no estado de São Paulo. Durante este período tenho enviado aos irmãos e irmãs da igreja local pequenas mensagens de texto para nosso ânimo mútuo. Postarei estas mensagens abaixo — talvez ajudem mais alguém.

Segunda-feira, 01/06/2020

[Neste dia tivemos o prazer de anunciar que haviam sido liberadas reuniões com algumas restrições. Fizemos um longo comunicado sobre isto para a igreja, e não houve nenhuma “Meditação” neste dia]



Terça-feira, 02/06/2020

Eu o pagarei — Meditações 51

Como são comoventes as palavras que Paulo dirigiu a seu velho amigo Filemon. Intercedendo pelo escravo fugitivo, Onésimo, que agora era irmão em Cristo, Paulo escreve: “Se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, põe isso à minha conta. Eu, Paulo, de minha própria mão o escrevi; eu o pagarei” (Filemon 18-19).

Elas nos lembram das palavras do bom samaritano. Depois de socorrer o forasteiro ferido e deixá-lo repousando numa estalagem, ele diz ao dono do lugar: “Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar” (Lc 10:35).

Dois exemplos de alguém pronto a pagar uma dívida, sem se importar com seu valor! Independentemente de quanto Onésimo devia, Paulo diz: “Eu pagarei”. Independentemente de quanto o hospedeiro gastasse, o samaritano diz: “Eu pagarei!”

Afirmações assim chamam a nossa atenção para duas virtudes de quem fala: sua compaixão e sua capacidade. Não importa quanto for a dívida, ele quer pagá-la; não importa quanto for a dívida, ele consegue pagá-la!

Nosso pecado era uma dívida incalculável! Montanhas enormes de pecado e rebeldia nos impediam de ver a Deus, ou até de querer vê-lO! Mas nos planos eternos de Deus, o Filho Amado disse: “Eu o pagarei!”

Podemos imaginar os anjos prostrando-se em adoração quando este plano foi explicado a eles, e talvez dizendo: “Sim, Senhor. Conhecemos Teu coração, e sabemos que só Tu amas a humanidade tanto assim. E conhecemos Teu poder; só Tu és capaz de salvá-los!”

Na plenitude dos tempos o plano foi consumado e o preço foi pago. E agora podemos erguer os olhos aos Céus e contemplarmos nosso Salvador, aquele que “pode salvar totalmente os que por Ele se chegam a Deus” (Hb 7:25).

Sejamos eternamente gratos por aquele que nos “amou até o fim” (Jo 13:1). Quando todos falharam e viraram as costas, Ele Se apresentou diante de Deus, apontou para a podridão imensa do nosso pecado, e disse: “Eu o pagarei!” Glória seja dada a Ele para sempre.



Quarta-feira, 03/06/2020

Deixai-a — Meditações 52

“Disse, Jesus: Deixai-a; para o dia da Minha sepultura guardou isto” (Jo 12:7).

A história de como Maria ungiu o Senhor poucos dias antes da Sua morte é preciosa para todos os salvos, e mostra o quanto aquela família amava o Senhor. Marta servia, Lázaro estava com Ele à mesa, e Maria ungiu os Seus pés — serviço para o Senhor, comunhão com Ele e adoração a Ele. O que mais uma família poderia desejar?

Para não tomar muito tempo dos irmãos, quero destacar apenas as palavras do Senhor citadas acima, e três coisas sobre Ele que elas nos ensinam.
  • O conhecimento do Senhor. É difícil afirmar exatamente o que o Senhor quis dizer quando afirmou que Maria “guardou isto” para o dia do sepultamento do Senhor. Será que Maria havia sido avisada que Ele iria morrer em breve (como Ele mesmo disse aos discípulos), mas que não seria possível para ela ungi-lO antes dEle ser colocado na sepultura, por causa das circunstâncias da Sua morte? Não sabemos — mas sabemos que o Senhor sabia! Ele conhecia o coração dela, Ele conhecia o que iria acontecer nos próximos dias. Como é precioso lembrar de Salmo 139:1-6, já citado nestas meditações! “Tu sabes … tudo conheces!”
  • A condescendência do Senhor. Veja também a sombra triste que pairava sobre este acontecimento tão nobre: “… o dia da Minha sepultura …” Sepulturas e cemitérios são lugares de choro e tristeza. Como nos comove pensar que o Autor da vida teve uma sepultura nesta Terra. Uma sepultura que segurou apenas Seu corpo, e por apenas três dias (glória seja dada a Ele pela ressurreição!) — mesmo assim, porém, houve uma sepultura! Ele deixou o trono dos Céus e o seio do Pai para ser colocado numa sepultura no seio da Terra!
  • O cuidado do Senhor: “Deixai-a!” Os discípulos criticavam Maria pelo seu “desperdício” emotivo, mas o Senhor colocou-Se do lado dela contra eles! “Deixem ela em paz! Ela Me fez uma boa obra” (Mc 14:6). Uma obra que lhe custou muito, mas que foi publicamente reconhecida pelo Senhor!
O Senhor sabe tudo que estamos passando neste exato momento. Incompreensão, tristeza, mágoas, dúvidas, medo — Ele sabe tudo. Não só porque conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó (Sl 103:14), mas também porque Ele padeceu aqui na Terra muito mais do que nós jamais sofreremos! E Ele cuida de nós!

Sabemos que este cuidado, as vezes, se manifesta em disciplina, não em aprovação (pois Ele nunca aprovará o erro) — mas sempre Ele cuida de nós. Que vivamos hoje de tal forma que, se sofrermos afronta, o Senhor possa dizer também de nós: “Deixai-o; fez uma boa obra para comigo” (Mt 26:10).


Quinta-feira, 04/06/2020

Travesseiro — Meditações 53

“E Ele estava na popa, dormindo sobre um travesseiro” (Mc 4:38).

Marcos escreve seu Evangelho para nos apresentar o Servo perfeito. Ele, que falhou no início do seu serviço para Deus, apresenta o único Servo que nunca falhou (sobre a falha de João Marcos, autor do segundo Evangelho, veja At 13:5, 13; 15:36-41).

Enquanto descreve o serviço do Servo, ele acrescenta vários detalhes que os outros omitem. Um deles está no versículo citado acima: no meio do “grande temporal de vento”, o Senhor dormia tranquilamente. Mateus e Lucas também falam que o Senhor dormia, mas Marcos acrescenta: “sobre um travesseiro”. O quadro pintado por Marcos é de uma calma absoluta no meio de uma tempestade terrível! Cansado pelo Seu esforço no serviço de Deus, o Senhor Jesus dormia profundamente sobre um travesseiro, mesmo no meio da tempestade!

Quantas vezes deitamos a cabeça no travesseiro e não dormimos! Viramos de um lado para o outro, e o sono, zombador, foge de nós! Nestes dias atuais, alguns não dormem bem com medo do vírus que já ceifou tantas vidas; alguns não tem medo do vírus, mas temem pela sua sobrevivência econômica; outros estão ansiosos sobre o que vai acontecer com a igreja local da qual fazem parte; outros não suportam mais a interferência das autoridades na nossa rotina. Alguns tem me confessado que não estão com medo de nada, mas mesmo assim sentem dificuldade para dormir — nem sabem por quê!

Nós perdemos o sono com muita facilidade, mas deveríamos ter mais da confiança do salmista: “Em paz me deitarei, e dormirei; porque só Tu, Senhor, me fazes repousar em segurança” (Sl 4:8). Quando temos dificuldade de experimentar esta confiança tranquila, podemos lembrar deste episódio na vida terrestre do Senhor Jesus. Se você ler o trecho paralelo em Mateus cap. 8, verá Mateus destacando: “entrando Ele no barco, Seus discípulos O seguiram” — Ele foi na frente. Já Marcos destaca que Ele estava dormindo “na popa” — isto é, na parte de trás do barco! Isto não nos lembra da promessa de Deus no passado? “O Senhor irá adiante de vós, e o Deus de Israel será a vossa retaguarda” (Is 52:12). Com o Senhor onisciente andando à nossa frente para guiar, e o Senhor onipotente vindo atrás para nos proteger, que temeremos? Se Deus é por nós, quem será contra nós? (Rm 8:31)

Eu sei que é difícil controlar nossas emoções — infelizmente, não há um interruptor no nosso cérebro que controla nosso coração. Mas podemos cultivar mais o hábito de ter comunhão com o Senhor durante o dia, para que à noite seja mais fácil deitar em paz e dormir. E quando, apesar de tudo, ainda estivermos ansiosos e sem sono, podemos nos ocupar pensando neste grande Salvador que vai à frente abrindo caminho, e que segue atrás de nós nos preservando de ataques traiçoeiros.


Sexta-feira, 05/06/2020

Amigo! — Meditações 54

Joseph Scriven nasceu em 1819 em Ballymoney (menos de vinte quilômetros da cidade onde meu pai nasceu). Salvo na mocidade, sua vida foi triste e sofrida. Aos vinte e cinco anos de idade, na véspera do seu casamento, sua noiva morreu afogada no rio Bann. Anos mais tarde ficou noivo novamente, mas sua noiva contraiu tuberculose. Ele ajudou cuidar dela carinhosamente durante três longos anos — até que o Senhor levou-a para a presença dEle.

Arrasado pelas duas mortes tão trágicas, Joseph escreveu um dos hinos mais amados do mundo, que só foi publicado muito tempo depois, após sua morte (livremente traduzido para o português por S. E. McNair; H. e C. nº 258):

Quanto Cristo é nosso Amigo!
Pois, com terna compaixão,
Manda-nos que ao Pai peçamos
Tudo, tudo em oração.
Quando acaso falte aos homens
Paz, ou gozo, ou proteção,
Poderão com fé chegar-se
Para Deus, em oração.

Quando enfermo, carregado
De cuidados e aflição,
A Teu Pai, refúgio eterno,
Podes ir em oração.
Tens perdido os teus amigos?
Dize-o a Deus em oração;
No Seu seio carinhoso
Paz terá teu coração.

“Quanto Cristo é nosso amigo!” Ou, traduzindo literalmente o poema original: “Que amigo temos em Jesus! … Podes achar um Amigo tão fiel, que reparta todas as tuas tristezas? Jesus conhece toda a nossa fraqueza!”

Sim, Ele é um Amigo fiel e verdadeiro, “mais chegado que um irmão” (Pv 18:24). Um Amigo que permanece o mesmo, ontem, hoje, e para sempre (Hb 13:8). Como é precioso ouvi-lO dizer aos Seus discípulos: “Já não vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de Meu Pai vos tenho feito conhecer” (Jo 15:15).

Certamente isto basta para o salvo: o meu Senhor tem me chamado de “amigo”!

Sábado, 06/06/2020

Salmo 103 — Meditações 55

(a) O pecado da ingratidão

Este lindo Salmo começa com uma exortação relacionada à gratidão a Deus:

Bendize, ó minha alma, ao Senhor, E tudo que há em mim bendiga o Seu santo nome; Bendize, ó minha alma, ao Senhor, E não te esqueças de nenhum dos Seus benefícios!

O restante do Salmo apresenta vários motivos para sermos agradecidos a Deus, e termina convocando toda a Criação a bendizê-lO (vs. 20-22). Três vezes o salmista exorta a sua própria alma a bendizer ao Senhor, três vezes ele exorta outros a fazê-lO. A palavra traduzida “bendize” indica o ato de ajoelhar em gratidão reverente, e nos lembra da exortação do Novo Testamento: “Sede agradecidos” (Cl 3:15).

Algumas pessoas tem dificuldade de dizer “obrigado” para os outros, e há até quem considere o ato de agradecer como um sinal de fraqueza. Muitos anos atrás, em outro local, eu ajudava um irmão a entregar folhetos e convidar pessoas para a reunião. Ele me ouviu dizendo “obrigado” a alguém que aceitou o convite, e depois disse-me, em particular: “Era ele que deveria te agradecer, e não você a ele — você fez um favor para ele, apresentando-lhe o Evangelho!” Achei exagerado.

Mesmo que não concordemos com esses extremos, talvez muitos acham que chamar a ingratidão de “pecado” é ir ao outro extremo. Foi essa a minha primeira reação quando li esta expressão numa revista publicada por irmãos norte americanos alguns anos atrás (Truth and Tidings). Mas o autor do artigo mostrou a base bíblica para sua afirmação, citando Romanos 1:21, onde Paulo começa a longa descrição da depravação e perversidade humana com estas palavras: “Tendo conhecimento de Deus, não O glorificaram como Deus, nem lhe deram graças”! Toda a horrível lista de pecados mencionados naquele trecho começou com uma atitude de ingratidão em relação a Deus.

O irmão que escreveu o artigo afirma que, em contraste, “uma atitude de gratidão é, sem comparação, a atitude que mais mudará nossa vida, mais exaltará a Cristo, e mais glorificará a Deus. Mais do que qualquer outra virtude, esta atitude tem o poder de neutralizar as tendências da nossa natureza caída e trazer verdadeira alegria e bênçãos para nós e para aqueles que nos cercam.” Mesmo que alguém não concorde com a empolgação do autor em relação à gratidão, é inegável o poder que ela tem.

Quando sou ingrato, sou egoísta. Penso que mereço mais do que recebi (de Deus, do cônjuge, dos pais, dos filhos, dos irmãos, dos amigos), e esse sentimento de ingratidão me torna chato e negativo. Por onde ando, espalho desânimo e discórdia, e essa atitude negativa afeta aqueles ao meu redor (afeta e afasta!).

Por outro lado, quando obedeço a instrução da Palavra de Deus e sou agradecido (a Deus e ao próximo), meu contentamento acalma meu coração e contagia quem está ao meu redor. Por onde ando, espalho alegria e ânimo.

Certa vez o Senhor curou dez leprosos, e apenas um voltou “e caiu aos Seus pés … dando-lhe graças” (Lc 17). Nove ingratos, apenas um agradecido. E o Senhor deixou claro o quanto apreciou a atitude agradecida daquele samaritano.

E nós? Somos agradecidos? Deveríamos ser, pois de Deus, só mereço a condenação eterna, e do meu próximo, não mereço nada! Pensando assim, todo dia terei muitos motivos para agradecer.

Que possamos ouvir o aviso do salmista, e não esquecer de nenhum dos benefícios que Deus nos fez!



Domingo, 07/06/2020

Seus pés — Meditações 56

No domingo passado pensamos um pouco nas referências bíblicas às mãos do Senhor Jesus Cristo — neste primeiro dia da semana quero chamar a sua atenção àquilo que a Bíblia fala dos pés daquele que “andou fazendo bem” (At 10:38).

Ele percorreu quilômetros e quilômetros pelas estradas de terra batida da Galileia, Samaria e Judeia, sempre fazendo o bem. Diversas vezes lemos dos enfermos e aflitos que se lançavam aos Seus pés — e todos encontraram ali a cura e o auxílio que procuravam! “E vieram a Ele grandes multidões, que traziam consigo coxos, cegos, mudos, aleijados, e outros muitos, e os lançaram aos pés de Jesus, e Ele os sarou” (Mt 15:30; Mc 5:22; 7:25; Lc 8:35; etc.). Hoje também podemos levar nossas dores, fraquezas e medos aos pés do Senhor, e achar descanso para as nossas almas!

Duas vezes lemos de alguém assentado aos Seus pés aprendendo: Maria (Lc 10:39) e o ex-endemoninhado gadareno (Lc 8:35). É o melhor lugar para aprender sobre Deus e Seus propósitos: assentado ao Seus pés, em posição humilde de aluno.

Também lemos duas vezes do Senhor tendo os Seus pés ungidos — e novamente Maria é uma das duas pessoas mencionada (Jo 12:3; a outra é a mulher pecadora de Lc 7:37-38). Uma vez perto do começo do Seu ministério público, e outra vez seis dias antes da Sua crucificação, o Senhor foi alvo destes atos de tanto carinho e devoção. Quando Simão, o fariseu, desprezou o Senhor e nem lhe deu água para lavar os pés (Lc 7:44), uma mulher pecadora e anônima lavou os Seus pés com lágrimas e com o unguento, e os beijava carinhosamente. Como temos tratado o Senhor nesta semana que passou?

Seis dias depois que Maria ungiu os Seus pés, cumpriu-se a profecia: “Traspassaram-me as mãos e os pés” (Sl 22:16). “Teus pés feridos, Jesus paciente, Eu, delinquente, os traspassei” (H. e C. 505). Sim, foi minha culpa! Comecemos mais uma semana lembrando dos Seus pés feridos para nossa salvação.

Mas Mateus registra também que três dias depois, no primeiro dia da semana, algumas mulheres tiveram o privilégio de abraçar os pés do Senhor ressurrecto: “E indo elas a dar as novas aos discípulos, eis que Jesus lhes sai ao encontro, dizendo: Eu vos saúdo. E elas, chegando, abraçaram os Seus pés, e O adoraram” (Mt 28:9).

E hoje vivemos no intervalo mencionado pelo profeta, quando Deus diz ao Seu Filho: “Assenta-te à Minha direita, até que ponha os Teus inimigos por escabelo de Teus pés” (Hb 1:13). Ele voltou triunfante ao Céu, e em breve será cumprida outra palavra profética: “Naquele dia estarão os Seus pés sobre o monte das Oliveiras … e o Senhor será Rei sobre toda a Terra; naquele dia um será o Senhor, e um será o Seu nome” (Zc 14:4, 9).

Aos Seus pés encontramos alívio e instrução. Ali podemos adorá-lO reverentemente. E por toda a eternidade contemplaremos as marcas dos cravos nos pés daquele que sofreu e venceu aqui na Terra. Que privilégio louvá-lO hoje!


Segunda-feira, 08/06/2020

Salmo 103(b) — Meditações 57

“Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o Seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de Seus benefícios. Ele é o que perdoa todas as tuas iniquidades”.

Após exortar a sua alma a não esquecer de nenhum dos benefícios que recebeu de Deus, o salmista passa a enumerar alguns destes benefícios: enfermidades saradas (v. 3), livramento e misericórdia (v. 4), bens materiais e vigor físico (v. 5) — mas ele começa com o único benefício do qual realmente não podemos abrir mão: “Ele perdoa todas as tuas iniquidades”!

Louvamos a Deus por cada outro benefício recebido, mas reconhecemos que a verdadeira felicidade não depende de nenhum deles. É possível (difícil, mas possível) ser verdadeiramente feliz sem saúde, sem confortos, e sem segurança física. Mas é impossível ser feliz sem a consciência dos pecados perdoados!

E repare a palavra que o Espírito levou o salmista a usar: “iniquidades”. Há diversas palavras hebraicas que descrevem nosso pecado (veja quatro delas em Salmo 32:1-2). Uma enfatiza a desobediência (não fiz o que Deus mandou fazer), outra o erro (o que fiz não está correto), outra chama atenção ao engano — mas a palavra usada aqui descreve a perversidade e malignidade do pecado. O que eu fiz não foi apenas desobediência, ou erro, ou um pequeno engano — não, foi algo excessivamente maligno e diabólico.

Estamos lembrando de olhar para o nosso pecado desta forma? Sentimos o seu peso, a ponto de clamar, com Paulo: “Miserável homem que sou” (Rm 7:24)? Ou com Pedro: “Senhor, retira-te de mim, que sou um pecador” (Lc 5:8)? Quando vemos nosso pecado como Deus o vê, então entendemos a preciosidade desse “benefício”: “Ele perdoa todas as tuas iniquidades”! Tudo — “meu mal em seu fruto e raiz”!

Que maravilha bendita! Diante da certeza de que todos os meus piores pecados foram perdoados por Deus, só posso cantar: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor!”



Terça-feira, 09/06/2020

Salmo 103(c) — Meditações 58

Ontem pensamos um pouco sobre a bem-aventurança do perdão: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor … Ele é o que perdoa todas as tuas iniquidades”. A continuação deste Salmo descreve pelo menos três aspectos deste perdão divino:

a) Sua altura (v. 11) “Assim como o Céu está elevado acima da Terra, assim é grande a Sua misericórdia para com os que O temem”. A distância que separa o Céu da Terra — quem pode medi-la? Para todos os efeitos, é uma distância infinita. Cientistas falam em anos-luz para nos ajudar a entender um pouco — mas a verdade é que nossa mente não consegue medir algo tão elevado assim.

E é justamente essa medida astronômica que ilustra a grandeza da misericórdia de Deus.

b) Sua largura (v. 12) “Assim como está longe o oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões”. Que bom que Deus, infinito e incompreensível na Sua grandeza, costuma descer ao nosso nível para nos explicar as coisas. De forma semelhante a um adulto que senta no chão para conversar com a criança, o Senhor Se abaixa, e nos diz: “Eu sei que você não consegue medir a distância do Céu para a Terra — e também não consegue medir a Minha misericórdia. Mas eis algo que cabe na tua mente: a distância que separa o oriente do ocidente. Essa é a distância que separa você da sua culpa depois que Eu te perdoei!”

E logo respondemos animados: “Ah, isso eu sei! Conferi no google, e são 40 mil quilômetros no Equador! Realmente é uma distância enorme — que impressionante! Obrigado, Senhor!”

“Sim”, diz o Senhor com paciência, “mas não é isso; a questão não é de distância numérica! Pense desta forma: neste planeta onde você vive, existe alguma coisas mais longe de você do que o oriente está longe do ocidente?”

E então, como um raio, a luz penetra nas nossas almas, e com lágrimas de alegria e gratidão respondemos: “Entendi, Senhor! A Tua misericórdia é tão elevada que produziu este perdão perfeito — nada fica mais longe de mim aqui na Terra do que as minhas transgressões”!

Para ilustrar a grandeza espiritual da Sua misericórdia, Ele escolheu a maior distância do Universo — para ilustrar a grandeza prática do perdão que recebemos, Ele escolheu a maior distância que um ser humano pode cobrir aqui na Terra! Que Deus — e que perdão!

c) Sua intensidade (v. 13) Mas eis a comparação mais preciosa das três: “Assim como um pai se compadece dos seus filhos, assim o Senhor Se compadece dos que O temem”.

Ah, irmãos, é precioso olhar para o Céu numa noite estrelada, e entender que a distância enorme que separa-nos da mais longínqua estrela é pequena demais para ilustrar a misericórdia de Deus; é confortante saber que a maior distância que existe aqui na Terra ilustra o quanto Deus me separa da minha culpa; mas é melhor ainda saber que o Deus Todo Poderoso que derramou esta eterna misericórdia sobre mim e levou meus pecados embora, é meu Pai!

Sim, Ele é meu Criador, meu Senhor, e meu Deus — mas quando se trata da minha fraqueza e dos meus pecados, eu quero me lembrar que Ele é meu Pai! “Pois Ele conhece a nossa estrutura, lembra-Se de que somos pó … A misericórdia do Senhor é desde a eternidade e até a eternidade” (vs. 14-18).

Não quero encerrar sem destacar que as duas primeiras comparações terminam com a expressão “os que O temem” (vs. 11 e 13). Deus não é um Ser que tolera tudo de todo mundo — a Sua justiça e Sua ira são mencionadas neste Salmo diversas vezes (v. 6, 9, 17). Mas aqueles que O temem descobrem que não precisam ter medo dEle, pois Ele Se compadece de nós como um Pai.

“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus!” (I Jo 3:1).



Quarta-feira, 10/06/2020

Eu é que fiz — Meditações 59

“Volte cada um para a sua casa, porque Eu é que fiz esta obra. E ouviram a voz do Senhor, e voltaram” (I Rs 12:24).

Este versículo é impressionante. Dez das doze tribos de Israel haviam abandonado o rei Roboão, filho de Salomão, neto de Davi. As duas tribos que permaneceram leais à casa de Davi e ao Templo resolveram subir contra eles “para restituir o reino a Roboão, filho de Salomão” (v. 21). E o Senhor então interferiu, mandando-os de volta para as suas casas.

É impressionante que obedeceram — por outro lado, não tiveram opção. Poderiam não entender por que o Senhor havia prejudicado a herança de Israel, meses depois do final do ótimo reino de Salomão (que construiu o Templo), mas entenderam bem o que o Senhor disse: “Eu é que fiz isso!” E sabiamente voltaram para suas casas.

É fácil atribuir a Deus os “benefícios” que recebemos (como vimos no Salmo 103); mas e os prejuízos?

Há um texto antigo (que traduzo abaixo, de forma condensada), que múltiplas fontes atribuem a um folheto encontrado na Bíblia de Darby depois da morte deste irmão. Não sei o autor, mas vale a pena meditar neste comentário sobre I Reis 12:24.

As decepções da vida são, na realidade, apenas os decretos do amor. Eu tenho uma mensagem para ti hoje, Meu filho(a). Vou sussurá-la no teu coração, para que as nuvens tempestuosas possam ser revestidas de glória, e os espinhos sobre os quais tu andas possam perder seu aguilhão. A mensagem é curta — uma pequena frase — mas permita que ela penetre até às profundezas do teu coração, tornando-se um travesseiro no qual repousar tua cabeça cansada: “Eu é que fiz esta obra!”

Já paraste para pensar que tudo que te afeta, Me afeta também? Aquele que toca em ti toca na menina nos Meus olhos! (Zc 2:8) Quando as tentações te afligem, Eu quero que saibas que “Eu é que fiz esta obra!”

Eu sou o Deus das circunstâncias. Não te encontras onde estás hoje por causa do acaso, mas porque este é o lugar que Eu escolhi para ti. Não pediste para seres mais humilde? Veja, Eu te trouxe ao lugar onde esta lição pode ser aprendida!

Tens problemas financeiros? Está difícil sobreviver com tua renda? “Eu é que fiz esta obra!” Todas as coisas são Minhas, e Eu desejo que tu dependas inteiramente de Mim. Minhas riquezas são inesgotáveis — confia na Minha promessa!

Estás passando por uma noite de aflição? “Eu é que fiz esta obra!” Eu sou o Homem de dores, que sabe o que é sofrer (Is 53:3). Eu retirei de ti todo o sustento humano, para que tu Me buscasses, e assim recebesses consolação eterna!

Algum amigo te desamparou? Talvez alguém a quem tenhas exposto teu coração? “Eu é que fiz esta obra!” Eu permiti esta decepção para que tu aprendas quem é o melhor Amigo! Sim, Eu anseio ser Teu confidente!

Alguém te acusou falsamente? “Eu é que fiz esta obra!” Deixa pra lá, e venha mais perto de Mim, sob Minhas asas, longe das disputas vãs, e Eu farei sobressair a tua justiça como a luz, e o teu juízo como o meio-dia (Sl 37:6).

Teus planos foram totalmente frustrados? “Eu é que fiz esta obra!” Será que fizeste teus planos, e depois vieste Me pedir que os abençoes? Eu desejo planejar a tua vida!

Planejaste fazer uma grande obra para Mim, mas estás de lado, enfermo e fraco? “Eu é que fiz esta obra!” Eu não tinha tua atenção enquanto estavas tão ocupado, e desejo te ensinar algumas lições mais profundas. Meus melhores servos foram, muitas vezes, aqueles que precisaram deixar o campo de batalha, e na doença aprenderam a orar com mais eficiência!

Tens sido chamado, repentinamente, a ocupar uma posição de tremenda responsabilidade? “Eu é que fiz esta obra!” Siga em frente, confiando em Mim. Aprenderás que “o Senhor Teu Deus te abençoará em tudo o que fizeres” (Dt 15:18).

Lembre, Meu filho(a), “Eu é que fiz esta obra!” As interrupções são instruções divinas. Portanto, aplica o teu coração a todas as palavras que hoje testifico a ti. Porque esta palavra é a tua vida! (Dt 32:46-47).




Quinta-feira, 11/06/2020

Deus jurou — Meditações 60

O NT nos exorta categoricamente a não jurarmos (Mt 5:34-36; Tg 5:12) — não porque existe algum mal inerente num juramento, mas porque somos homens. Não temos domínio sobre o nosso futuro nem somos onipotentes, e se jurássemos e não conseguíssemos cumprir o que juramos iríamos “cair em condenação”.

Mas Deus Onipotente não tem essa limitação — Ele cumpre tudo que promete, sempre, então Ele pode jurar. E vemos muitos exemplos na Bíblia dEle fazendo exatamente isto!

“Mas por quê?” pergunta alguém. “Se Ele é o Deus que não pode mentir (Nm 23:19), por que Ele Se preocuparia em jurar? A palavra dEle deveria bastar! Eu não devo jurar porque não sou onipotente — e Deus não precisa jurar porque é onipotente!”

Faz sentido. Se você diz a alguém que o ama muito e ele pede um juramento, você poderia se sentir ofendido. “Minha palavra não basta? Você está duvidando de mim?” Se Deus promete me abençoar, esta promessa não basta?

Mas Ele jurou. Como disse alguém: “Ele não levou em conta a ofensa que era o ser humano duvidar da promessa dEle, e em condescendência acrescentou um juramento”. Ele poderia ter dito: “Minha palavra só não basta? Quem é o homem para duvidar de seu Criador?” Mas não disse. Por quê?

A resposta se encontra em Hebreus 6: “Por isso, querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do Seu conselho aos herdeiros da promessa, Se interpôs com juramento”. Examinando este versículo ficamos maravilhados com a graça de Deus para conosco.

Vamos por partes. Foi para “mostrar mais abundantemente a imutabilidade do Seu conselho” — ou, em outras palavras, “para tornar ainda mais garantido aquilo que já era 100% seguro!” Tendo já dado uma promessa (100% garantida e imutável), Ele ainda quis mostrar “mais abundantemente” a imutabilidade desta promessa através do juramento.

Alguém diz: “Ainda não entendi por que Ele precisaria jurar. Entendi que Ele jurou para deixar a promessa ainda mais garantida — mas por que fazer isto? Quero dizer, por causa de quem?”

Repare a preciosidade do v. 18: “Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firma consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta”.

Irmãos, Deus “Se interpôs com juramento” para que eu e você pudéssemos ter uma firme consolação! Por causa da minha fraqueza Ele Se deu ao trabalho de acrescentar um juramento à Sua promessa. Porque sabia que eu teria medo do vento e das ondas (como Pedro andando sobre o mar), Ele me deu muito mais garantias do que eu poderia imaginar.

Assim, eu tenho duas coisas imutáveis: a promessa de Deus e o juramento de Deus. Nenhuma das duas pode falhar — as duas juntas são muito mais do que eu preciso! E minha esperança (“âncora da minha alma”, como diz o trecho) pode então ficar firme!

O vento está forte? Lance sua âncora nestas duas rochas inabaláveis: Deus prometeu me abençoar (v. 14), e Deus jurou cumprir Sua promessa (v. 17).

Confiamos nesse Deus forte e onipotente, que é também um Pastor manso e carinhoso! “Eis que o Senhor Deus virá com poder e Seu braço dominará ... entre os Seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no Seu regaço; as que amamentam guiará suavemente.” (Is 40:10-11)



Sexta-feira, 12/06/2020

Servos e serviço — Meditações 61

Há dois trechos do evangelho de Lucas que registram palavras do Senhor Jesus e parecem, à primeira vista, estar em contradição: 12:35-38 e 17:7-10. Obviamente, não há contradição — mas há, sim, um contraste enorme, que fornece uma revelação quase inacreditável da graça e da misericórdia de Deus.

O segundo destes trechos apresenta o normal, o padrão: “Qual de vós terá um servo lavrando ou apascentando, a quem, vindo ele do campo, logo dirá: Chega, e assenta-te à mesa? E não lhe dirá antes: Prepara-me a ceia, e cinge-te, e serve-me até que tenha comido e bebido, e depois comerás e beberás tu? Porventura dá graças ao tal servo, porque fez o que lhe foi mandado? Creio que não.”

Isto é o normal entre os homens: o servo serve o senhor, e não o contrário. E não há nenhuma glória ou mérito para o servo nisso— ele somente cumpre a sua obrigação.

No primeiro trecho, porém, o Senhor apresenta o padrão divino. E é um padrão tão impressionante (principalmente à luz do texto do cap. 17) que precisamos olhar bem para ter certeza que é realmente isto que está escrito! O Senhor disse: “Sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu senhor … para que, quando vier, e bater, logo possam abrir-lhe. Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá, e os fará sentar à mesa, e chegando-Se os servirá.”

Precisamos “tirar as sandálias dos pés” e meditar nisto com reverência. Não queremos tratar como pouca coisa o fato apresentado (que o próprio Senhor irá cingir as roupas de servo e servir aos Seus servos), mas temos medo de chegar a conclusões impróprias. Como entender estas palavras? Como será, na prática, esse “servir”?

Não sei. Mas podemos traçar um paralelo com o Senhor lavando os pés dos discípulos. Nossa reação inicial é como a de Pedro: “Senhor, Tu laves-me os pés a mim? … Nunca me lavarás os pés!” (Jo 13:6-8). Eu, perverso e pecador, fraco e falho, inconstante e infiel — eu ser servido pelo meu Senhor? Nunca! Ele já fez muito mais do que eu poderia sonhar quando morreu por mim — e Ele ainda me servirá no Seu reino? Nunca! Mil vezes, “Nunca”!

Mas Pedro estava errado, e o Senhor lavou os pés dele (e até de Judas!) — e o fato quase inacreditável é que o Senhor servirá, sim, os servos que estiverem vigiando quando Ele voltar. E quando será isso? Ele diz que pode voltar na segunda ou na terceira vigília (12:38) — interessante que ele não menciona nem a primeira nem a última vigília (a noite naquela época era dividida em quatro vigílias). Como meu pai explicou certa vez, o Senhor demoraria mais do que os primeiros discípulos imaginavam, mas virá antes do que muitos pensam! Pode ser hoje!

Que Ele mesmo nos incentive a vigiar, servindo-O fielmente. Não porque estaremos prestando-lhe algum favor — é a nossa obrigação! “Quando fizerdes TUDO que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer” (17:10). Mas mesmo reconhecendo a nossa condição indigna, não podemos diminuir o valor da graça dEle, que nos promete algo que temos até receio de mencionar!

Medite nestas palavras do Senhor, e mesmo sem poder explicá-las, permita que elas redundem em louvor e gratidão a este grande Senhor.



Sábado, 13/06/2020

Velhos — Meditações 62

Como é preciso ver, na Bíblia e ao nosso redor, pessoas avançadas em idade que continuam firmes em Deus — como disse outro, “monumentos da misericórdia de Deus, guardados por Ele durante longos anos!”

Frutos para Deus. Vemos nesses irmãos e irmãs o cumprimento de Salmo 92:13-14: “Os que estão plantados na casa do Senhor florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e vigorosos”.

Lucas começa seu evangelho dedicando muito espaço aos velhos. Lemos de Zacarias e Isabel (“Eu sou velho, e minha mulher avançada em idade”; 1:18), Simeão (não sabemos sua idade exata, mas tudo indica que era bem velho) e Ana (viúva com pelo menos oitenta e quatro anos). Na sua velhice:
  • Zacarias e Isabel foram ambos cheios do Espírito Santo, e apresentaram hinos de louvor a Deus que foram incorporados à Bíblia (Lc 1:41-45; 67-79);
  • Simeão abençoou José e Maria e profetizou (Lc 2:34-35);
  • Ana “não se afastava do templo, servindo a Deus em jejuns e orações, de noite e de dia. E ... dava graças a Deus, e falava dEle a todos os que esperavam a redenção em Jerusalém” (Lc 2:37-38).
Há muitos outros exemplos na Bíblia (Barzilai ajudando Davi, “Paulo, o velho” escrevendo a Filemon) que confirmam que os últimos dias de um salvo podem ser muito frutíferos. Talvez haja muitas limitações físicas; talvez a forma de servir muda — mas o serviço continua! Em oração, aconselhamento, encorajamento, ou simplesmente pelo exemplo, o serviço continua.

Certa vez li de uma irmã idosa em Edinburgo, que ficou cega e acamada. Mas todos que a visitavam saíam animados e encorajados no Senhor vendo a fé e alegria dela no Senhor. “Sem saber, ela lavava os pés dos salvos daquela cidade”.

Sim; “os que estão plantados na casa do Senhor ... na velhice ainda darão frutos!”

Fidelidade de Deus. Estes irmãos e irmãs também servem de exemplo da fidelidade de Deus em preservá-los: “Ouvi-Me, ó casa de Jacó, e todo o restante da casa de Israel; vós a quem trouxe nos braços desde o ventre, e sois levados desde a madre; até à velhice Eu serei o mesmo, e ainda até aos cabelos brancos Eu vos carregarei; Eu vos fiz, e Eu vos levarei, e Eu vos trarei, e vos livrarei”. (Is 46:3-4). O mesmo Deus que nos trouxe nos braços desde o ventre nos carregará até à velhice, até aos cabelos brancos!

Qualquer que seja nossa idade, confiemos nesse Deus fiel, e produzamos fruto para Ele.



Domingo, 14/06/2020

Seu corpo — Meditações 63

Temos muitas referências na Bíblia ao corpo do Senhor no sentido figurativo (o pão, a Igreja, etc.), mas também algumas poucas referências ao Seu corpo físico (o “corpo da Sua carne”, como diz a Bíblia).

O corpo pode parecer insignificante. “É pó, e ao pó tornará — não vale nada!” diz alguém. Mas o fato de Satanás e o arcanjo Miguel disputarem pelo corpo de Moisés (Jd 9), e a ênfase que o NT dá ao sepultamento do Senhor Jesus após Sua morte, mostram que não é bem assim. Todos corpo morto ressuscitará, por mais que tenha sido consumido pelas chamas, ou apodrecido por vermes.

E o que dizer do corpo do Senhor Jesus Cristo? Em primeiro lugar, foi um corpo preparado. Profeticamente Ele disse a Deus: “Corpo Me preparaste” (Hb 10:5), e também afirma: “Me formou desde o ventre para ser Seu servo” (Is 49:5). Com quanto carinho e capricho o Espírito Santo agiu, preparando um corpo perfeito para a encarnação do Filho de Deus. A encarnação é um maravilhoso mistério da graça de Deus!

Mas este corpo foi também um corpo sacrificado. O escritor aos Hebreus nos lembra que “temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez” (Hb 10:10), e Pedro acrescenta: “Levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (I Pe 2:24). Por que esta ênfase no corpo? Alguém diz: “É uma figura de linguagem: o corpo simplesmente representa a pessoa”. Mas em Colossenses Paulo diz que o Senhor Jesus nos “reconciliou no corpo da Sua carne” (Cl 1:22), deixando claro que o aspecto físico do Calvário foi fundamental para a nossa salvação. Não devemos imaginar que houve apenas uma dor “espiritual” quando o Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos, e que os sofrimentos físicos do Senhor (os açoites, a coroa de espinhos, os cravos nas mãos e nos pés) foram apenas algo circunstancial. Há muito mais nos sofrimentos de Cristo no Calvário do que conseguimos entender. Pregado pelas mãos e pelos pés, ouvindo a multidão zombadora provocando-O, Ele sofreu com Seu ser completo: espírito, alma, e corpo!

Como é comovente lermos a ênfase que os evangelistas dão ao corpo sepultado. Os quatro evangelhos usam pelo menos quatorze vezes a palavra grega “corpo” referindo-se ao Seu corpo morto (durante aquele curto período entre Sua morte e Sua ressurreição). Todos os quatro mencionam a maneira impressionante como o Senhor foi sepultado por José de Arimateia. O que aconteceu foi tão inesperado, e combinou tão perfeitamente com a profecia de Isaías 53:9, que é uma das provas mais impressionantes da inspiração das Escrituras.

Diz o profeta: “Puseram a Sua sepultura com os ímpios, mas com o rico esteve na Sua morte”. Quando o Senhor foi preso, todos os Seus O abandonaram — e tudo indicava que Seu corpo seria lançado numa vala comum com os outros dois malfeitores. Afinal de contas, quem iria pedir o corpo? Entre Seus discípulos, quem teria coragem para aproximar-se de Pilatos e identificar-se como amigo daquele que Pilatos acabou de condenar à morte? Entre os que tinham acesso a Pilatos, quem se preocuparia com o destino do Seu corpo?

Mas eis que surge José de Arimateia, um homem rico e membro do Sinédrio (a mais alta corte judaica). Ele foi a Pilatos “ousadamente” pedir o corpo do Senhor, e obteve autorização para enterrá-lo. Com quanta ternura eles descrevem a maneira como José, ajudado por Nicodemos, envolveu o corpo do Senhor em lençóis com especiarias, e ambos deitaram o corpo do Senhor no sepulcro novo que José fizera para ele mesmo, onde ninguém ainda havia sido sepultado (aquele que foi gerado num ventre virgem só poderia ser enterrado numa sepultura virgem).

E assim, onde parecia impossível, Deus agiu, e não permitiu que Seu Servo amado fosse sepultado com criminosos. O povo realmente imaginou que seria assim (“puseram a Sua sepultura com os ímpios”), mas Deus interferiu, e Ele foi colocado no sepulcro novo de um homem rico. Deus não permitiria que Ele fosse associado com a corrupção de outros corpos, pois “Ele nunca cometeu injustiça, nem houve engano na Sua boca”. A profecia, e seu cumprimento perfeito, é impressionante. Deus tinha o Seu servo preparado para esta obra. Desconhecido até então (com medo dos judeus; Jo 19:38), ele desaparece da história depois do sepultamento — mas na hora da necessidade, ele estava lá.

Se você leu até aqui, termino com um dos incentivos mais confortantes para o salvo na doença ou na fraqueza física: o “Senhor Jesus Cristo transformará o nosso corpo abatido para ser conforme o Seu corpo glorioso” (Fp 1:20-21)!

Louvemos ao nosso Deus pela glória da encarnação; pelo fato desse corpo preparado ser também um corpo sacrificado por nós; e por Deus ter despertado José e Nicodemos para darem um sepultamento digno para o Senhor.



Segunda-feira, 15/06/2020

Certeza — Meditações 64

Uma leitura rápida da primeira epístola de João basta para percebermos que ele repete muito algumas expressões. Quero destacar duas delas abaixo: a primeira é usada para esclarecer e explicar melhor algo, a segunda para confirmar os salvos.

João escreve para que nós tenhamos convicções pessoais firmes (veja 5:13). Chegando perto do fim do Novo Testamento percebemos que a apostasia está aumentando — mais e mais avisos são dados sobre essas coisas. Mas paralelamente com esses avisos sobre o crescimento da maldade nos últimos dias, vemos Deus reforçando a fé do Seu povo.

Todo mundo tem dúvidas uma vez ou outra — mas Deus deseja que Seus filhos tenham certeza, e descansem nesta certeza!

Que a leitura dessas porções da Palavra de Deus anime e confirme a cada um de nós. Se puder, tire meia-hora para ler a epístola toda.

Esta é...

A expressão “esta é” (ou “este é”, etc.) é usada por João para definir com mais clareza algum assunto. Transcrevo abaixo alguns exemplos (há diversos outros), destacando o que está sendo apresentado:

  • Esta é a mensagem que dEle ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nEle trevas nenhumas. (1:5)
  • E esta é a promessa que Ele nos fez: a vida eterna. (2:25)
  • O Seu mandamentoé este: que creiamos no nome de Seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros. (3:23)
  • Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé. (5:4)
  • Esta é a confiança que temos nEle, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve. (5:14)
  • .. em Seu Filho Jesus Cristo. Este é o Verdadeiro Deuse a vida eterna. (5:20)


Nisto...

A expressão “nisto sabemos” (ou “nisto conhecemos”, etc.) mostra-nos coisas que nos dão segurança e nos conduzem à certeza. Veja alguns exemplos abaixo (apenas uma seleção parcial):
  • E nisto sabemos que O conhecemos: se guardamos os Seus mandamentos. (2:3)
  • Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas em obra e em verdade; e nisto conhecemos que somos da verdade. (3:18-19)
  • Nisto conhecemos que Ele está em nós, pelo Espírito que nos tem dado. (3:24)
  • Aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro. (4:6)
  • Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou a nós, e enviou Seu Filho para propiciação pelos nossos pecados. (4:10)
  • Nisto conhecemos que estamos nEle, e Ele em nós, pois que os deu do Seu Espírito. (4:13)
  • Quem está em amorestá em Deus, e Deus nele. Nisto é perfeito o amor para conosco. (4:16-17)
  • Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os Seus mandamentos. (5:2)


Que Deus abençoe a Sua Palavra.



Terça-feira, 16/06/2020

Descanso — Meditações 65

“Ele dá aos Seus amados o sono” (Salmo 127:2).

Há tantos avisos na Palavra de Deus contra a preguiça (Pv 6:6, etc.), e tanta exaltação do zelo (II Ts 3:8, etc.), que às vezes podemos esquecer do valor do descanso. Mas é preciso lembrar que dormir é uma parte do ciclo da vida criado por Deus.

O princípio foi estabelecido por Deus na criação: “Havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia ... e abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a Sua obra” Gn 2:2-3).

Deus não descansou porque estava cansado: “Não ouviste que o eterno Deus, Senhor, o Criador dos fins da Terra, nem Se cansa nem Se fatiga?” (Is 40:28). Por que então Ele “descansou”? Para ensinar ao homem a importância do descanso: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Mc 2:27).

Pode parecer muito zeloso dormir tarde e acordar cedo para servir o Senhor (e certamente devemos tomar cuidado para remir o pouco tempo que temos — Ef 5:16 e Cl 4:5), mas precisamos respeitar os limites do nosso corpo. Cada um tem uma estrutura: alguns poucos conseguem ser produtivos com poucas horas de sono, mas a verdade é que a média são oito horas de sono por dia! Falta de sono (quantidade e qualidade) prejudica o corpo e a mente.

“Mas vou passar um terço da minha vida dormindo?” Bem, se é assim que Deus te criou, Ele conhece a tua estrutura! O versículo que citei no começo merece ser citado por completo: “Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores; pois assim dá Ele aos Seus amados o sono”!

Deus nos dá o sono! Desfrute dele — com prazer, mas também com discernimento, para não se tornar um preguiçoso. Seja dedicado e esforçado durante o dia, e depois desfrute do descanso que Deus lhe dá.

E lembre que o ciclo estabelecido por Deus inclui, além do descanso diário, um descanso semanal! Não guardamos o sábado hoje, nem o transferimos para o domingo — mas desde a Criação Deus mostrou-nos que tirar um dia por semana para sair da rotina é proveitoso. Precisamos da rotina diária — precisamos sair desta rotina semanalmente. Cada um vive uma situação específica, mas posso dar uma sugestão? Não conheço uma forma melhor de quebrar a rotina semanal do que ocupar o primeiro dia da semana com o Senhor — lembrar da Sua morte, e procurar aprender mais dEle.

Sejamos zelosos e esforçados em servir ao Senhor — mas não negligenciemos o Seu convite: “Vinde vós aqui à parte ... e repousai um pouco” (Mc 6:31).



Quarta-feira, 17/06/2020

Louvor celestial — Meditações 66

Apocalipse caps. 4 e 5 descrevem uma só visão que João teve. É uma visão em duas etapas, com inúmeros paralelos e alguns contrastes impressionantes entre estas etapas, destacando a grandiosidade da redenção.

Em ambas as etapas o trono celestial recebe a adoração dos quatro seres viventes e dos vinte e quatro anciãos. Mas o que muda na segunda etapa é o motivodo louvor, e sua extensão.

Nas duas etapas o louvor começa com a expressão “Digno és!” Na primeira etapa, o motivo por que Deus é digno é: “porque Tu criaste todas as coisas” (4:11); na segunda, é: “porque foste morto, e com o Teu sangue nos compraste ...” (5:9). Na primeira etapa é criação, na segunda é redenção.

Um parêntese: que sejamos eternamente agradecidos por nosso Criador ter Se tornado nosso Redentor. Lembremos do fato desta redenção (“nos compraste”); do seu preço (“com o Teu sangue”), e do seu resultado (“para o nosso Deus nos fizeste reis e sacerdotes; e reinaremos sobre a Terra”).

Não é só o motivo do louvor que muda, mas também sua extensão. No cap. 4 são os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos (4:9-10) que louvam; já no cap. 5, o louvor destes (5:8) é seguido pelo louvor de incontáveis anjos (5:11), que é seguido pelo louvor de “toda a criatura que está no Céu, e na Terra, e debaixo da Terra” (5:13). O louvor grandioso do cap. 4, dirigido “àquele que está assentado sobre o trono”, agora tornou-se um louvor ainda mais sublime, centralizado no Cordeiro!

Irmãos, nunca esqueçamos do Cordeiro. O Deus onisciente, onipotente e onipresente sempre foi digno de louvor e adoração. Antes do Calvário, Suas criaturas O louvavam pelo Seu poder (“Senhor, meu Deus, contemplo extasiado o Teu poder na vasta Criação”). No Calvário, porém, Ele nos revelou também Seu coração — e que revelação foi essa! O onipotente cravado numa cruz como um malfeitor!

A Criação nos deixa extasiados — o Calvário mostra que a Criação foi apenas “as orlas do Seu caminho” (Jó 26:14). Se Ele já merecia ser louvado nos Céus somente por ser o Criador (e concordamos 100% que merecia), imagina agora que Ele se tornou o Redentor na Pessoa do Cordeiro!

Que possamos louvá-lO mais e mais!



Quinta-feira, 18/06/2020

Verme — Meditações 67

“Em Ti confiaram nossos pais;
Confiaram, e Tu os livraste.
A Ti clamaram e escaparam;
Em Ti confiaram, e não foram confundidos.
Mas Eu sou verme, e não homem,
Opróbio dos homens e desprezado do povo” (Sl 22:4-6).

Ser desprezado por alguém dói. Ser desprezado por alguém a quem tentamos ajudar dói muito mais. Como medir, então, o que o Senhor sentiu quando aqueles entre quem Ele fez tantas curas e livramentos zombaram dEle ao pé da cruz? Na avaliação deles, Ele nem era homem — era apenas um verme, sem valor algum!

Por que Ele suportou tudo isso? Por amor ao Pai, e por amor a mim e a ti! O que mais podemos dizer? “Só posso, então, prostrado agradecer!”

“Não sei avaliar o preço amargo
Da paz perene que Ele nos deixou;
Nem compreendo como, quebrantado,
Na rude cruz Seu coração ficou” (H e C 603).



Sexta-feira, 19/06/2020

Limites — Meditações 68

“Estas três coisas me maravilham, e quatro há que não conheço: o caminho da águia no ar; o caminho da cobra na penha; o caminho do navio no meio do mar; e o caminho do homem com uma virgem.

O caminho da mulher adúltera é assim: ela come, depois limpa a sua boca e diz: Não fiz nada de mal!

Por três coisas se alvoroça a terra, e por quatro que não pode suportar: pelo servo, quando reina; e pelo tolo, quando vive na fartura; pela mulher odiosa, quando é casada; e pela serva, quando fica herdeira da sua senhora.” (Pv 30:18-23)

O trecho de Provérbios citado acima é muito interessante. Apresenta dois grupos de quatro coisas, separados por uma descrição da mulher adúltera. À primeira vista, isto parece estranho. Afinal, qual a relação entre estes três parágrafos?

Como A. J. Higgins apresenta no comentário Ritchie sobre Provérbios, a solução realmente é simples. O parágrafo central descreve uma pessoa (a mulher adúltera) que não respeita seus limites (no caso, o limite do matrimônio), e não reconhece que pecou. Eis a chave para entender o trecho todo: a benção de permanecer dentro dos limites onde Deus nos coloca, e a loucura de ultrapassar esses limites.

O primeiro parágrafo apresenta quatro coisas que são maravilhosas na sua esfera, e o terceiro parágrafo apresenta quatro pessoas que alvoroçam e transtornam a terra porque estão fora da sua esfera natural.

O caminho da águia no ar é maravilhoso — mas já imaginou a águia no mar? Ou o navio na penha (rocha)? Cada uma das quatro ilustrações mostra algo perfeitamente adaptado à esfera para a qual foi preparada.

No terceiro parágrafo temos o contrário. Quando o servo deixa de servir e quer reinar, temos confusão. Imagine um tolo que tem recursos abundantes para financiar sua tolice — e assim por diante. Cada uma das quatro ilustrações mostra alguém tentando assumir uma posição que não é sua.

A lição é simples — se eu me contentar em servir a Deus nas circunstâncias em que Ele me colocou, será maravilhoso (para mim e para aqueles que me cercam); se eu ficar inquieto por outra esfera, outra região, outras responsabilidades, o efeito será destruidor (para mim e para aqueles que me cercam).

“Digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes pense com moderação, conforme à medida da fé que Deus repartiu a cada um” (Rm 12:3). Que Deus me ajude nisso.



Sábado, 20/06/2020

Qual deles? — Meditações 69

Durante a segunda guerra mundial, um ancião temente a Deus morava num pequeno vilarejo no Reino Unido. Ele tinha a triste tarefa de transmitir ao povo da vila as notícias oficiais de mortos e feridos na guerra.

Um dia ele recebeu um telegrama das autoridades e, pesaroso, dirigiu-se à casa de uma viúva, também temente a Deus e de testemunho exemplar na vila. Os cinco filhos dela estavam na guerra, e todos na vila sabiam o quanto ela amava cada um deles.

Como sempre acontecia quando chegava um telegrama, a maioria dos habitantes da pequena vila olhava de suas casas, preocupados em saber qual família receberia a triste visita.

A viúva atendeu à porta. Vendo o telegrama na mão do ancião, e as lágrimas no rosto dele, ela já sabia que a notícia seria triste. Receosa, perguntou: “Qual deles?”

Lutando para controlar suas emoções, o ancião sussurrou: “Os cinco, irmã!”

O rosto dela empalideceu, as mãos tremeram, o coração quase parou. Então ela ergueu os olhos ao Céu, e com lágrimas nos olhos, disse: “Todos eles pertenciam a Ti — Tu os levaste para estarem contigo. Louvado seja o Teu nome!”

Ela havia entregue seus cinco filhos nas mãos de um Deus fiel, e ela confiava demais nEle para questionar Seu amor ou Sua sabedoria. Este testemunho dela naquela vila foi poderoso, e muito mais eficaz do que todos os sermões pregados ali!

Como está o nosso testemunho? Não me refiro àquilo que falamos, mas a como reagimos, como vivemos. Falar é fácil — mas é o que fazemos que revela nosso coração. Com temor e tremor, perguntemos ao nosso coração: “Como eu reagiria?”

Que Deus nos ajude nas nossas muitas fraquezas.

(Adaptado de The Word)



Domingo, 21/06/2020

Seu rosto — Meditações 70

O rosto de alguém é a sua mais adequada representação — aquilo que o torna único. Não tiramos fotos das nossas mãos ou pés, mas do rosto. Usamos expressões figurativas (“esconder o rosto”, “virar o rosto”) indicando desprezo ou afastamento. O rosto representa a pessoa.

Lemos poucas vezes nas Escrituras do rosto do Senhor, e não temos nenhuma descrição física das feições deste rosto. Mas é impossível não tentar imaginar (digo com reverência) o que Maria pensava enquanto olhava no rosto pequeno e sereno do Bebê divino repousando em seus braços, e lembrava das palavras do anjo: “O Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1:35)!

Pensamos também no privilégio que Pedro, Tiago e João tiveram naquele dia glorioso da transfiguração, quando o Senhor Jesus “transfigurou-Se diante deles, e o Seu ROSTO resplandeceu como o Sol” (Mt 17:2). Anos depois, Pedro escreveu: “estando nós com Ele no monte santo”, “da magnífica glória lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o Meu Filho Amado, em quem Me tenho comprazido” (II Pe 1:17-18). Pedro nunca esqueceu da glória revelada no rosto do Senhor no monte santo.

Mas a Bíblia fala sobre o rosto do Senhor principalmente no contexto terrível e solene da Sua morte. Mateus nos conta que na casa do sumo-sacerdote, “cuspiram-lhe no rosto, e lhe davam punhadas, e outros O esbofeteavam” (Mt 26:67). Logo em seguida, lemos que estes mesmos judeus foram “cobrir-lhe o rosto e a dar-lhe punhadas” (Mc 14:65) — a palavra que dizer, literalmente, um soco (com a mão fechada). Lucas descreve a mesma tortura usando outra palavra: “E, vendando-lhe os olhos, feriam-nO no rosto” (Lc 22:64). E baseado em Isaías, sabemos que um pouco mais tarde os soldados romanos também cuspiram no Seu rosto: “Não escondi a Minha face dos que Me afrontavam e Me cuspiam” (Is 50:6).

É uma afronta muito grande cuspir em alguém — principalmente no rosto! E naquelas horas tão amargas os judeus, religiosos hipócritas, cuspiram no rosto do meu Senhor, e depois agrediram Seu rosto com socos e outras agressões. Os soldados romanos, acostumados com violência, agiram de forma semelhante. E Deus permitiu tudo isto contra Seu Filho! O mesmo Deus que interferiu lá “no monte santo” quando Pedro achou que Moisés e Elias mereciam o mesmo que Cristo (Mt 17:4-5) não impediu essas agressões terríveis! Por que estes pecadores não morreram imediatamente? Uma blasfêmia tão sórdida e violenta merece uma morte instantânea — mas Deus não interferiu, e o Senhor Jesus não escondeu Seu rosto daqueles que, cuspindo em Seu rosto, zombavam dEle!

Como explicar isto? Adoramos a Deus por tamanha graça e misericórdia!

O último capítulo da Bíblia também fala do rosto do Senhor — e como são preciosas aquela palavras: os servos do Cordeiro “O servirão, e verão o Seu rosto!” (Ap 22:4).

Ao ver Jesus, direi:
“Valeu à pena!”
A dor esquecerei
Ao ver Jesus!
Sim, vê-lO bastará;
O choro passará;
O medo cessará
Ao ver Jesus.


Segunda-feira, 22/06/2020

Meditações 71

Hoje apresento três pequenos pensamentos extraídos de escritos diversos, e dois assuntos para oração.
  • Oremos pelo tratamento da *******, agradecendo pelo sucesso da cirurgia;
  • Oremos pela salvação do *******, que ontem esteve mais uma vez na reunião e ouviu a Palavra de Deus.
Pensamentos:

  • Não permita que o que você não pode fazer atrapalhe o que você pode fazer!
  • Pagar o bem com o bem é natural; Pagar o mal com o mal é animal; Pagar o bem com o mal é diabólico; Pagar o mal com o bem é Divino!
  • O que é amor? Silêncio quando as palavras poderão ferir; Paciência quando o vizinho incomodar; Esquecimento quando fofocas ouvir; Coragem quando a luta chegar!


Terça-feira, 23/06/2020

Inspiração — Meditações 72

Ver um grande pianista tocando seu instrumento é algo maravilhoso. Suas mãos percorrem toda a extensão do teclado, e seus dedos tocam, no momento exato, as teclas apropriadas. Num certo sentido, podemos dizer que o resultado, tão harmonioso e agradável, depende em parte das teclas do piano — na realidade, porém, depende do pianista, que sabe quais teclas pressionar, por quanto tempo, e com qual intensidade.

Essa figura nos ajuda a entender a inspiração das Escrituras. Deus usou homens de carne e osso para escrever os 66 livros que compõem a Bíblia — mas atribuir a estes homens o mérito pela composição deste livro sublime é como elogiar as teclas do piano ao ouvir um grande pianista.

Ao ler algum trecho da Bíblia ficamos maravilhados com a preciosidade dos seus ensinos. Mas quando olhamos para a Bíblia como um todo vemos uma grande sinfonia, e começamos a perceber as harmonias e os temas que vão sendo desenvolvidos nela — e ficamos sem palavras diante da perfeição desta obra-prima. Nenhum editor humano conseguiria ter planejado algo tão perfeito!

Quando Moisés escreveu Gênesis, um livro repleto de genealogias, por que ele omitiu a genealogia de Melquisedeque, obviamente um homem importante e nobre? Porque mais de 1600 anos depois, o escritor aos Hebreus usaria justamente este detalhe da história de Melquisedeque para ilustrar a eternidade do sacerdócio de Cristo! Mas quem contou isso a Moisés?

Quando João escreveu Apocalipse, será que ele contou quantas vezes o primeiro livro da Bíblia usava a expressão “árvore da vida” para poder mencionar aquela árvore a mesma quantidade de vezes no último livro da Bíblia? Não — ele nem sabia que sua carta endereçada às sete igrejas da Ásia seria o último livro da Bíblia!

Quanto mais nos aprofundamos no estudo desse livro, mais concordamos com o Salmista: “Tenho visto fim a toda a perfeição, mas o Teu mandamento é amplíssimo” (Sl 119:96). E tanto mais percebemos quão sólida é a base da nossa fé. Cremos no Deus que é revelado nas Escrituras, e no Evangelho que é revelado nas Escrituras — e sabemos que esta confiança não será abalada!

Que possamos desejar conhecer cada vez mais esse livro precioso.



Quarta-feira, 24/06/2020

Inspiração (b) — Meditações 73

Creio que todo cristão sabe que o maná (Êx 16:4) é uma figura do Senhor Jesus Cristo, o qual disse que Ele, e não o maná, era “o verdadeiro pão do Céu”. O maná é a sombra, Cristo é a realidade.

É impressionante a riqueza de detalhes sobre Cristo que o maná nos ensina. Depois de meditar longamente sobre as muitas lições que encontramos nas instruções quanto à colheita do maná, no relato da sua capacidade e na descrição das suas características, ainda percebemos que até os diferentes nomes dados ao maná manifestam a perfeição das Escrituras.

São sete nomes diferentes — alguns dados por Deus, outros pelos homens. Na ordem que se encontram na Bíblia, são:
  • Pão dos Céus (Êx 16:4);
  • Maná (Êx 16:15);
  • Pão vil (Nm 21:5);
  • Trigo do Céu (Sl 78:24);
  • Pão dos anjos (Sl 78:25);
  • Comida espiritual (I Co 10:3);
  • Maná escondido (Ap 2:17).
O mais impressionante desta lista é perceber que estes títulos, nesta ordem, apresentam um resumo cronológico do relacionamento de Cristo com os homens. Os primeiros quatro descrevem Sua trajetória dos Céus até o Calvário, e os últimos três resumem Seu ministério presente (mais detalhes abaixo).

Como são perfeitas as Escrituras! Moisés inaugurou a lista em Êxodo e Números registrando três nomes diferentes. Quinhentos anos depois (em números redondos), Asafe acrescentou mais dois nomes no Salmo 78. Mil anos depois, Paulo escreve aos coríntios e acrescenta outro nome, e João termina a lista algumas décadas depois de Paulo.

Digo “lista” — mas não era uma lista organizada. Eram apenas sete nomes espalhados pela Bíblia, até que um dia alguém (não sei quem) pesquisou e percebeu que Deus havia deixado escondido na Sua palavra um resumo da trajetória de Cristo como nosso alimento espiritual.

Coincidência? Não — inspiração perfeita e divina!

(Quem se interessar pelos detalhes, continue lendo.)

O primeiro título, Pão dos Céus, lembra-nos que Cristo veio dos Céus para habitar entre nós. Para muitos Ele era de Nazaré; alguns poderiam afirmar que Ele viera de Belém; na realidade, Ele veio do Céu!

O segundo título (“maná”) indica espanto e surpresa. A palavra hebraica “maná” quer dizer: “Que é isto?” A exclamação de surpresa dos judeus quando viram o maná pela primeira vez (Êx 16:15) acabou se tornando o nome mais conhecido deste alimento. O espanto dos judeus é, até certo ponto, compreensível (afinal, nunca antes alguém havia visto o maná), mas é também injustificável (pois Deus havia avisado no dia anterior que lhes daria pão do Céu). A verdade é que, por esquecimento ou por desprezo, ficaram espantados quando viram o maná. É exatamente isto que aconteceu com o Senhor quando Ele veio ao mundo. Apesar da Sua vinda ter sido amplamente profetizada, e do povo de Israel aguardar ansiosamente a vinda do Messias, a verdade é que quando Ele finalmente veio, ficaram espantados. Os principais dos judeus admiraram a Sua inteligência e respostas quando Ele tinha doze anos (Lc 2:47). Os habitantes de Nazaré, que conviveram com Ele durante toda a Sua infância e juventude, quando O ouviram pregar pela primeira vez “se maravilhavam … e diziam: Não é este o filho de José?” (Lc 4:22). A maneira como Ele nasceu e viveu, a maneira como Se comportou, a maneira como pregava, as pessoas com quem andava, tudo foi motivo de espanto para aqueles que deveriam estar preparados para recebê-lO.

Quando passamos para o terceiro título (“Pão vil”) somos lembrados que os homens rapidamente passaram do espanto para o ódio, e clamaram pedindo a Sua crucificação. O espanto deles não era de admiração, mas de desprezo! Quanta ingratidão!

O quarto título, porém, nos lembra que aquele que os homens odiaram e crucificaram produziu muito fruto para Deus pela Sua morte e ressurreição. Quando Deus chama o maná de “trigo dos Céus”, a substituição da palavra “pão” pela palavra “trigo” muda a ênfase do alimento, não mais enfatizando o sustento que ele traz, mas sim o fruto que ele produz (veja Jo 12:24).

O quinto título (“pão dos anjos”) nos lembra que hoje Ele está rodeado dos anjos, sendo adorado na glória celeste, enquanto que o sexto (“alimento espiritual”) lembra-nos da nossa necessidade de alimentar-nos dEle enquanto atravessamos o deserto em que estamos hoje. Ambos enfatizam Seu ministério presente: o primeiro do ponto de vista dos Céus, o segundo do ponto de vista dos salvos.

E, por fim, o próprio Senhor fala do “maná escondido” (guardado dentro do Santo dos Santos; Êx 16:32-34; Hb 9:4). Tudo no Tabernáculo fala de Cristo; as coisas “escondidas”, porém, aquelas que ficavam além do véu, sem dúvida falam daquilo que Cristo representa para o Pai, das belezas e glórias dEle que estão ocultas ao olho humano. Creio que em Ap 2:17 o Senhor está dizendo que o vencedor poderá apreciar belezas da glória de Cristo que apenas o Pai conhece. Que privilégio!

Assim, os sete títulos falam de como Cristo desceu do Céu à Terra (“pão dos Céus”), foi recebido com espanto (“maná — que é isto?”) e ódio (“pão vil”), mas pela Sua morte e ressurreição produziu muito fruto para Deus (“trigo do Céu”). Elevado à glória celeste, Ele hoje é o “pão dos anjos” quanto ao Céu, e o “alimento espiritual” para Seu povo aqui na Terra — e no futuro os salvos desfrutarão também daquelas belezas prefiguradas no “maná escondido”.

Como seria bom se todos nós estivéssemos, hoje, nos alimentando deste maná escondido, que tanta alegria traz ao coração do Pai! Levantemos de nossas camas, então, ansiosos por colher o Maná diário do qual tanto precisamos!



Quinta-feira, 25/06/2020

Está consumado — Meditações 74

Se alguém lesse o Novo Testamento pela primeira vez, e lesse com atenção, chegaria ao último dos quatro evangelhos com uma dúvida martelando na sua mente: “Qual foi o grande brado do Senhor logo antes de morrer?” Porque os primeiros três evangelhos mencionam o fato, mas não revelam as palavras.

Mateus, Marcos e Lucas dizem que Ele clamou “com grande voz” — as expressões não são idênticas nas versões em português que usamos, mas no grego os três usam as mesmas duas palavras. Duas palavras, aliás, que não são estranhas para nós: “megas” (de onde derivamos o prefixo “mega”, que quer dizer “grande”) e “phone” (de onde vêm as palavras “fonema”, “fonoaudióloga”, e muitas outras). A junção das duas (megaphone) traz à nossa mente a ideia de um som alto, de um grande brado — não um gemido fraco de alguém cujas forças se esgotam, mas um brado de vencedor. E o que Ele clamou? Lucas até registra uma frase que Ele “disse” após este brado (“Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito”), mas não revela o que foi que Ele bradou.

A curiosidade do nosso leitor certamente seria aguçada. “Por que ele não dizem o que Ele bradou?” E finalmente, chegando quase no final do quarto e último evangelho, nosso leitor descobriria qual foi o brado. Talvez surpreso, descobriria que foi uma palavra só — mas que palavra! “Tetelestai!” Ou, em português: “Está consumado!” “Acabou!”

Meditando nisto, talvez ele perguntaria: “O que é que foi consumado? O que é que acabou?” Bastaria voltar dois versículos para ler: “Sabendo Jesus que todas as coisas estavam terminadas”, onde a mesma palavra grega é usada — todas as coisas estavam consumadas!

Nosso leitor, bom entendedor de textos e contextos, imediatamente entenderia: “A obra que Ele veio fazer estava consumada. O resgate do pecador estava concluído. Eu lembro de ler no comecinho de João que Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo — então Ele está dizendo que completou esta obra e resolveu o problema do pecado! Lembro também que poucos dias antes da cruz Ele disse que beberia o cálice que o Pai lhe daria — então Ele está dizendo que bebeu tudo, e pagou toda a nossa dívida! Não devemos mais nada a Deus — tudo foi pago, tudo foi consumado. Que maravilha!”

Mas talvez — e escrevo isto com muita reverência — talvez nosso amigo leitor perguntaria: “Mas por que foi Ele quem disse isso, e não Deus? Afinal, não é a criança que decide quando o castigo termina, mas a mãe! Não é o réu que decide quantos anos de prisão pagarão pela sua pena, mas o juiz! Se Ele está na cruz sofrendo em meu lugar, tomando o lugar do réu, como Ele pode decidir quando a conta já foi paga? Com que autoridade Ele diz — e diz com grande brado — que tudo já foi pago? Como pode ser isto?”

Ah, nosso amigo estaria vendo, então, aquilo que a mente humana não entende, mas o coração salvo aprecia. Ao ler Mateus, ele já teria entendido o direito que o Senhor tem de ocupar a posição de Rei dos judeus; passando para Marcos, ele teria ficado impressionado com as obras que este Senhor fez, e teria se curvado diante do Seu poder; chegando a Lucas, ele teria visto o caráter perfeito deste homem perfeito, e certamente diria: “Eu O amo!” Mas agora, no último dos evangelhos, a luz brilha de forma mais perfeita, e ele vê a própria natureza de Jesus de Nazaré! João começa seu evangelho com um discípulo desconfiado reconhecendo: “Mestre, Tu és o Filho de Deus!” (1:49), e termina com outro discípulo duvidoso, que também se rendeu à grandeza dEle e exclamou: “Senhor meu, e Deus meu!” (20:28).

E nosso amigo, prostrado aos Seus pés, reconhece então que o Cordeiro que foi sacrificado em seu lugar é também o Sumo-Sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque; o Homem que morreu pelos seus pecados é o mesmo Deus que o criou e o salva! Pelos séculos que já passaram desde aquele dia, ressoa este brado triunfal e vitorioso: “Está consumado!” Com autoridade divina Ele decretou o fim da condenação! E nós ajoelhamos ao pé da cruz com nosso amigo imaginário, e dizemos, com reverência e com amor: “Senhor meu, e Deus meu!”



Sexta-feira, 26/06/2020

Sem vergonha — Meditações 75

A expressão acima tem uma conotação deselegante no nosso idioma, trazendo à nossa mente a ideia de alguém se comportando de forma inapropriada. Ela também pode ser usada, porém, num sentido bom.

Há dois versículos em Hebreus que falam de Deus não tendo vergonha de algo — em ambos os casos, é Deus em relação a nós, Seu povo: “Porque, assim o que santifica [Cristo], como os que são santificados [eu e você], são todos de um; por cuja causa não Se envergonhade lhes chamar irmãos” (2:11). “Por isso também Deus não Se envergonha deles, de Se chamar seu Deus” (11:16).

A primeira referência fala do Senhor Jesus não tendo vergonha de nos chamar “irmãos” — Ele não Se envergonha de nós sermos associados com Ele. A segunda fala de Deus não tendo vergonha de ser chamado nosso Deus — Ele não Se envergonha dEle ser associado conosco.

Hebreus começa mostrando que somos filhos de Deus, e que recebemos este direito (isto é, fomos santificados) pelo próprio Filho eterno de Deus. Diante deste relacionamento mútuo (Deus é meu Pai, e é também Pai daquele que me santifica), o Senhor Jesus não Se envergonha de nos chamar de irmãos. Isto mostra a grandeza da nossa filiação, e a perfeição da Sua santificação. É como se Ele dissesse: “Vocês não são filhos de segunda classe, filhos só em nome. A sua posição como filhos de Deus é tão perfeita e completa que até Eu, o Filho eterno de Deus, não sinto a menor vergonha em chamar vocês de Meus irmãos!”

Hebreus termina mostrando que Deus tem nos preparado uma cidade celestial, e que a glória daquilo que Ele preparou para os Seus filhos é tão grande que Ele não tem vergonha de ser conhecido como o nosso Deus. Ninguém terá motivos para desmerecer a herança que Ele preparou para os Seus! Ninguém dirá: “É só isso que o seu Deus preparou pra você?” Não — a herança é gloriosa!

Que passado glorioso (2:11)! Que futuro glorioso (11:6)! Que Ele nos ajude a apreciarmos o privilégio que temos de pertencer a Ele!

Quero encerrar com um pequeno detalhe (que, na prática, talvez não seja tão pequeno assim). “Se Ele não tem vergonha de me chamar de irmão”, diz o precipitado, “Então eu posso chamá-lO de meu irmão também!” Mas, calma! Veja bem as palavras usadas em Hebreus 11:16! Repare que não diz: “não Se envergonha de Se chamar seu Irmão”, mas “não Se envergonha de Se chamar seu DEUS”. Lembre como o Senhor disse, na manhã da ressurreição: “Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus” (Jo 20:17). Embora Ele, em graça rica e sublime, me chame de irmão, eu devo, em gratidão reverente e sincera, chamá-lO: “Senhor meu e Deus meu!”



Sábado, 27/06/2020

A desilusão de Simeão — Meditações 76

[texto fictício escrito mais de 20 anos atrás]

Desde pequeno, Simeão se destacara no meio dos seus colegas pela sua devoção a Jeová, o Deus de seus pais. Bem educado e esforçado, ele cumpria à risca as determinações da Lei de Moisés, estudava diligentemente as Escrituras, e sonhava com o dia em que seria reconhecido como um mestre da Lei.

Naquela manhã ensolarada, enquanto caminhava pelas ruas de Jerusalém, seu coração parecia flutuar à sua frente, e sua consciência, tranquila, estampava um sorriso contagioso em sua face.

Repentinamente, porém, seus sonhos foram interrompidos. Um grupo de homens desceu a rua correndo em direção ao Templo, conduzindo à força uma mulher que parecia muito assustada. Curioso, Simeão correu ao lado de Judas, seu tio, que fazia parte da multidão enraivecida.

“Que confusão é esta, tio Judas?”

Sem parar de correr, seu tio respondeu: “Esta mulher foi apanhada em adultério, e vamos levá-la para Jesus, o nazareno. Vai ser uma forma de pegá-lo em contradição”.

“Mas como?” perguntou Simeão, curioso.

“É simples”, respondeu seu tio; “Se ele disser que ela deve ser apedrejada, como manda a Lei, então estará desobedecendo à lei romana, e estará negando sua pregação, que fala tanto de amor e perdão. Mas se ele disser que ela deve ser perdoada, então ele estará indo contra a lei de Moisés! Entendeu? Ele não tem saída!”

“Puxa”, pensou Simeão, “É mesmo; ele não tem saída! Essa eu quero ver!” E o garoto se uniu à multidão, que crescia cada vez mais. Apesar de pequeno, ele já havia aprendido a odiar a Jesus, que se dizia Filho de Deus. Aos olhos de Simeão e seu povo isto era blasfêmia, e ele sentia um ódio crescente contra aquele homem.

Logo chegaram ao Templo, e Simeão foi se enfiando no meio do povo, querendo ver tudo de perto. Empurrando daqui e dali, conseguiu chegar ao centro da roda. Lá estava a mulher, em pé no meio de todos, cabisbaixa; um pouco ao lado ele viu Jesus, calmamente escrevendo com o dedo na terra.

“Ele não vai dizer nada?”, Simeão sussurrou ao homem que estava ao seu lado.

“Não sei. Os escribas já lhe apresentaram o problema, mas ele começou a escrever na terra e não disse nada!”

Naquele momento Jeosafá, o mestre de Simeão, levantou a voz e disse, sem conseguir disfarçar seu desprezo e ironia: “Mestre, não respondes à nossa pergunta? Devemos apedrejá-la?”

Houve uma pequena pausa; todos fitavam Jesus, alguns ansiosos, outros com ar de vitória. Finalmente Ele se endireitou. Olhou primeiro para Jeosafá, depois para a mulher, e então permitiu que Seu olhar passasse pela multidão ao Seu redor. Simeão ficou surpreso ao ver nos olhos dEle um brilho de ternura, e algo mais; parecia tristeza.

Então Ele falou: “Aquele dentre vós que não tiver pecado, atire a primeira pedra contra ela”. E abaixou-se e continuou escrevendo.

Houve silêncio. “Ele concordou em apedrejá-la”, pensou o garoto. “Agora os romanos vão prendê-lo!” E olhou em redor, esperando ver alegria e satisfação no rosto daqueles homens.

Mas não. O que ele viu deixou-o ainda mais surpreso. Todos olhavam para o chão, aparentemente envergonhados, num silêncio constrangedor.

“Mas o que está acontecendo?” pensou ele.

Depois de alguns minutos (pareceu uma eternidade!) o velho Levi, lá do outro lado do círculo de pessoas, moveu-se, caminhando lentamente. “É agora!”, Simeão quase exclamou. Mas o velho escriba não ergueu os olhos; foi passando, atravessou o círculo que haviam feito em torno de Jesus, e começou a retirar-se. Simeão olhava, atônito, enquanto os velhos mestres, um após o outro, seguiam seu exemplo, e afastavam-se. Até Jeosafá se levantou para ir embora!

“Não é possível!”, Simeão pensou. Com o coração ardendo, ele saiu correndo atrás de seu mestre, puxou-o pelo braço e quase gritou: “Mestre, o que vocês estão fazendo?”

Jeosafá olhou para o rosto coberto de lágrimas do garoto, mas não conseguiu dizer nada. Cabisbaixo, continuou a se retirar. Simeão, porém, permaneceu imóvel, como que grudado no chão. Pois naquele instante em que os olhos de Jeosafá haviam se encontrado com os seus, Simeão havia visto, claramente, a vergonha que Jeosafá estava sentindo. E como se recebesse um golpe, ele entendeu; todos aqueles mestres, escribas e fariseus, todos eles estavam se retirando, do mais velho ao mais moço, porque todos eram pecadores. Ninguém tinha coragem de atirar a primeira pedra!

O mundo de Simeão estava desabando. Ele virou-se novamente para onde Jesus estava, mas não havia mais ninguém ali com Ele. Até a mulher estava indo embora. Mas como era diferente o rosto dela! Se em Jeosafá havia tristeza e vergonha, o rosto dela até brilhava, repleto de paz e alegria!

“Mas ela é pecadora!”, pensou Simeão, a boca seca, os joelhos tremendo, numa mistura de raiva e confusão; “ELA é a pecadora! Isto não é certo. Ela é a pecadora!”

Foi quando ele viu que o Senhor Jesus se levantava, olhando em sua direção; e o garoto lembrou-se das palavras do Mestre dos mestres: “Aquele dentre vós que não tiver pecado, atire a primeira pedra contra ela”.

Neste instante ele viu o seu pecado; não apenas o pecado daquela mulher, mas o pecado de Simeão! Toda sua preocupação em guardar a Lei, seu orgulho de ser judeu, nada disso importava mais. Sua consciência, finalmente acordada, não parava de lembrá-lo dos muitos pecados que ele cometera. Ele era zeloso da Lei, temente a Deus, educado e obediente — mas agora ele também sabia que era pecador!

“Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (I Tm 1:15).



Domingo, 28/06/2020

Sua cabeça — Meditações 77

Quinze dias atrás fiz distinção entre os usos figurativo e literal que a Bíblia faz da palavra “corpo” (referindo-se ao Senhor Jesus) — o mesmo se aplica à Sua cabeça. Figurativamente, Ele é cabeça de todo homem (I Co 11:3) e da Igreja (Ef 1:22, etc.), mas a Bíblia também fala da Sua cabeça física.

A primeira menção é comovente — são palavras dEle mesmo: “As raposas têm covis, as aves do Céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8:20). Possuidor dos Céus e da Terra, mas completamente rejeitado aqui na Terra!

Se pensarmos que não poderia haver nada mais comovente do que isto, estaremos totalmente enganados. Pois Mateus, Marcos e João descrevem a cena bárbara que aconteceu quando Pilatos O entregou aos seus soldados: “E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram sobre a cabeça”. E João ainda acrescenta que Pilatos o exibiu perante a multidão “levando a coroa de espinhos” (19:5). Além da humilhação de estar com uma coroa de espinhos, pense na dor terrível que Ele deve ter sentido quando os soldados batiam com a cana na Sua cabeça com espinhos!

Logo em seguida, enfatizando a solenidade daquele momento tão ímpio, João destaca o lugar (“assentou-se no Tribunal, no lugar chamado Litóstrotos, e em hebraico Gabatá” — uma espécie de palanque oficial de onde Pilatos pronunciava seus vereditos), o dia (“E era a preparação da Páscoa”), a hora (“e quase à hora sexta”), e as palavras irônicas de Pilatos: “Eis aí o vosso Rei!” (19:14). Pior do que isto foi a reação do povo, que bradava: “Fora! Fora! Crucifica-O”.

Que cena terrível! Soldados ímpios e cruéis O coroaram com espinhos, ferindo Sua cabeça; um governador fraco e injusto apresentou o Senhor publicamente para zombar do povo judeu que ele tanto desprezava; o próprio povo de Israel clamando, com ódio e desprezo, pedindo a Sua morte; e, no centro das atenções, o Senhor coroado com uma coroa de espinhos, nobre e digno no seu silêncio! Será que Ele olhava para a multidão? Ou para Pilatos? Ou será que ergueu os olhos aos Céus?

Não sabemos. Mas o sofrimento, que iria se intensificar terrivelmente nas próximas horas, estava chegando ao fim. Seis horas depois, João registra o fim de forma comovente. Deus inspirou João a encerrar a história da Sua breve vida aqui na Terra usando a mesma palavra grega que o Senhor usou no começo! Em Mateus 8:20 o Senhor disse que não tinha onde reclinar (klino) Sua cabeça; João escreve: “E, inclinando [klino] a cabeça, entregou o espírito” (19:30). É como se Deus dissesse: “O único lugar na Terra onde Ele pode reclinar a Sua cabeça santa foi na cruz. Enquanto o pecado não havia sido expiado, Ele não conheceu descanso. Mas depois que todas as ondas e vagas do furor divino contra o pecado caíram sobre Ele — depois que o cálice havia sido esgotado até a última gota — então, e só então, Ele pode finalmente reclinar a Sua cabeça!”

Abaixamos as nossas cabeças e adoramos este Sofredor tão nobre!

Mas seria impróprio terminar esta pequena meditação sem lembrar que Deus não permitiu que a voz dos pecadores fosse a única a se manifestar. Homens duros e cruéis coroaram Sua cabeça com espinhos — mas duas mulheres O trataram com respeito e amor! Uma mulher pecadora ungiu os Seus pés com unguento, provavelmente no início do Seu ministério público (Lc 7:37) — e seis dias antes da Sua morte uma mulher piedosa, Maria, ungiu a Sua cabeça com “unguento de grande valor” (Mt 26:7). Eu gostaria de abraçar as duas e agradecer pelo carinho que demonstraram para com Ele na Sua rejeição — mas sei que elas receberam algo muito melhor, quando o próprio Senhor que amam mostrou Sua apreciação pelo que elas fizeram.

E não deixa de ser irônico que até Pilatos deixou um testemunho “por cima da Sua cabeça” (Mt 27:37): “Este é Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus”. Certamente o testemunho foi feito pelos motivos errados, mas mesmo assim, foi um testemunho:
  • Único — ninguém mais teve este título sobre sua cabeça;
  • Universalmente entendido — “em letras gregas, romanas e hebraicas” (Lc 23:38), as três línguas conhecidas naquela região naqueles dias;
  • Inalterado — os judeus quiseram que Pilatos mudasse o título, mas ele não o fez.
Neste primeiro dia da semana, pense em como os homens O conheciam (“Jesus Nazareno”) e em como Deus O apresenta (“Rei dos Judeus”). Medite na Sua cabeça ferida por teus pecados. E permita Deus que possamos buscar o unguento mais precioso, e em nossos corações ungir Sua cabeça hoje!

Na desdenhosa oposição
Que suportaste ali;
Na desleal coroação
Lembramo-nos de Ti. (H e C 518)

Humana simpatia
Não pode acompanhar
As dores, cuja mágoa
Não sabe penetrar. (H e C 564).


Segunda-feira, 29/06/2020

Nossa força — Meditações 78

[Recebido de um irmão quatro anos atrás — pareceu-me muito relevante para a situação presente]

“O Senhor é minha força e o meu escudo; nEle confiou o meu coração, e fui socorrido; assim o meu coração salta de prazer, e com o meu canto O louvarei” (Salmos 28:7).

O Senhor é a nossa força! Estou certo que, assim como nós, o rei Davi enfrentou muitas dificuldades, e até mesmo perigos que ameaçavam a sua vida. Frequentemente ele sentia que não tinha a força e a coragem para enfrentar mais um dia, em virtude de todos os seus problemas. Porém ele achava em Deus a força e o consolo que precisava, e que também nos capacitam a continuar avançando.

Inspirado por Deus, ele compartilha seus achados nos Salmos, especialmente no citado acima e no Salmo 55:22, onde ele diz: “Lança o teu cuidado sobre o Senhor, e Ele te susterá”. É através da oração que nos aproximamos do Senhor e podemos perceber a Sua força para resolver cada problema que enfrentamos.

Para Deus não importa quão curta seja a oração, ou onde ela for feita. Pode ser no trabalho, viajando, ou até na cama. Talvez a oração mais curta nas Escrituras seja aquela mencionada em Neemias 2:4. O rei Artaxerxes perguntou a Neemias o que o estava incomodando, e o que ele desejava. Então Neemias diz: “Então orei ao Deus dos Céus, e disse ao rei …” Ele orou ao "Deus dos céus" para saber o que dizer ao rei, e Deus respondeu.

As Escrituras não dizem que Daniel, quando estava para ser lançado na cova dos leões, orou, mas acredito que tenha orado. Ele confiou na força de Deus lançando sobre ele seus problemas, e depois testemunhou: “O meu Deus enviou o Seu anjo e fechou a boca dos leões”(Daniel 6:22).

Nós também precisamos levar os nossos casos ao Senhor e deixar-los ali, sabendo que Deus responderá. Muitas vezes, é verdade, a resposta de Deus é VNão” — mas Ele sempre responde! Paulo orou três vezes a fim de que o espinho em sua carne fosse removido, e a resposta negativa, contudo encorajadora, foi: “A Minha graça te basta” (II Co 12:9).

Nós também podemos ser encorajados se lembrarmos que Deus tem um propósito em todas as coisas (Rm 8:28) e que, nas tribulações, devemos ser pacientes (Rm 5:3-5).



Terça-feira, 30/06/2020

Fé — Meditações 79

[extraído do livro “The Christian in complete armour”, de W. Gurnhall, 1655]

“Fortalecei-vos no Senhor, e na força do Seu poder” ( Ef 6:10).

Não é fácil para o ser humano crer que Deus é todo-poderoso. Moisés foi uma das estrelas de primeira magnitude da graça, mas veja como sua fé pisca e tremula até superar suas dúvidas! Ele disse a Deus: “Seiscentos mil homens de pé é este povo, no meio do qual estou; e Tu tens dito: Dar-lhes-ei carne, e comerão um mês inteiro. Degolar-se-ão para eles ovelhas e vacas que lhes bastem? Ou ajuntar-se-ão para eles todos os peixes do mar, que lhes bastem?” (Nm 11:21-22). Este homem santo perdeu de vista, por um tempo, a força do poder de Deus, e começou a questionar como o Senhor conseguiria cumprir a Sua palavra. Era o mesmo que dizer: “Ó Deus, não super-estimaste o Teu poder desta vez? O que prometeste não pode ser cumprido!” Foi assim que Deus interpretou seu raciocínio: “Porém, o Senhor disse a Moisés: Teria sido encurtada a mão Senhor?” (v. 23).

Aconteceu o mesmo com Maria no Novo Testamento: “Senhor, se Tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido”. E sua irmã acrescentou: “Senhor, já cheira mal, porque é já de quatro dias!” (Jo 11:32, 39). Ambas eram mulheres piedosas, mas tinham dúvidas quanto à real extensão do poder de Cristo. Uma O limitou quando ao lugar: “Se Tu estivesses aqui” — como se Cristo não pudesse salvar a vida de Lázaro de longe, tanto quanto de perto! A outra O limitou quanto ao tempo: “ cheira mal … quatro dias” — como se Cristo tivesse chegado com Seu remédio muito tarde! Apesar da incredulidade delas, Deus provou ser fiel.

Mas, cristão, antes que você aponte para as rugas na fé destes, talvez seria bom examinar os buracos na tua! Não tenha uma opinião tão elevada de ti mesmo a ponto de esquecer que precisas usar toda a tua força para que a tua fé reconheça o poder ilimitado de Deus continuamente! Quando você vê estes heróis da fé tropeçarem quanto à fé deles, você ousaria ser tão confiante? A verdade é que sem a força de Deus, não conseguimos permanecer na hora da provação!

Por isso a exortação: “Fortalecei-vos no Senhor, e na força do Seu poder”!


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Dois detalhes sobre Isaías 53

Isaías 53 contém o quarto Cântico do Servo (que inclui os últimos três versículos do cap. 52). Qual seria o centro deste Cântico?