Sunday 26 July 2020

Meditações na quarentena (80 a 110)

Julho

Desde o dia 21 de Março de 2020 a igreja local em Pirassununga está impossibilitada de reunir publicamente, devido à quarentena decretada no estado de São Paulo. Durante este período tenho enviado aos irmãos e irmãs da igreja local pequenas mensagens de texto para nosso ânimo mútuo. Postarei estas mensagens abaixo — talvez ajudem mais alguém.



Quarta-feira, 01/07/2020

Se eu soubesse — Meditações 80

Quem nunca se arrependeu de ter falado precipitadamente, antes de conhecer todos os fatos? Quem nunca desejou ter prestado mais atenção ao aviso de Tiago? “Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tg 1:19). A triste verdade é que “todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo” (Tg 3:2).

Sir John Barnsley conta um episódio comovente ocorrido durante uma longa viagem de trem. No meio da noite, quando todos procuravam dormir, uma criança chorava sem parar. Até que uma das passageiras perdeu a paciência e exclamou: “Onde está a mãe dessa criança? Esse choro está incomodando todo mundo!”

Houve um silêncio; então um homem respondeu: “Desculpem; estou tentando, mas não está fácil. A mãe da minha filhinha está num caixão no vagão de cargas desse trem. Estamos voltando para casa para o enterro dela!”

O silêncio agora era absoluto. Então a mulher que falara primeiro levantou-se, caminhou até onde estavam o pai e a criança, e disse: “Amigo, peço mil desculpas! Se eu soubesse, eu jamais teria reclamado — jamais! Você deve estar exausto. Permita-me segurar seu bebê para que você descanse um pouco!”

Sentimos a vergonha dela, e admiramos sua prontidão em desculpar-se!

Salomão avisou: “O que guarda a sua boca conserva a sua alma, mas o que abre muito os seus lábios se destrói” (Pv 13:3). Ou, mais claro ainda: “Tens visto um homem precipitado no falar? Maior esperança há para um tolo do que para ele” (Pv 29:20). “O que possui o conhecimento guarda as suas palavras, e o homem de entendimento é de precioso espírito. Até o tolo, quando se cala, é reputado por sábio; e o que cerra os seus lábios é tido por entendido” (Pv 17:27-28). “O que guarda a sua boca e a sua língua guarda a sua alma das angústias” (Pv 21:23).

Que Deus nos ajude hoje neste assunto tão prático.



Quinta feira, 02/07/2020

Até quando? — Meditações 81

“E aconteceu que, ao fim de dois anos inteiros, Faraó sonhou ...” (Gn 41:1).

É interessante a forma como Deus descreve este tempo que José passou na prisão depois de interpretar os sonhos do padeiro e do copeiro: “dois anos inteiros”! Como diz o comentário Ritchie, no hebraico é literalmente “dois anos de dias” — como se Deus enfatizasse que, nesta longa espera, José contava cada dia!

A passagem do tempo é, muitas vezes, algo relativo. Ouvi de uma pessoa, certa vez, que disse ter se ocupado com determinada tarefa por “três meses”. Na realidade, foram pouco mais de quarenta dias! Ele começou nos últimos dias de um determinado mês, prosseguiu pelo segundo mês inteiro, e concluiu nos primeiros dias do terceiro mês. E assim, quarenta dias foram computados como três meses!

No caso de José, porém, não houve nenhum arredondamento — foram dois longos anos inteiros, dois anos de dias — dia, após dia, após dia! Dois anos de sofrimento! Não foi uma “quarentena” no conforto da própria casa, com a família, fazendo “maratonas” na Netflix, etc., mas dois anos numa prisão egípcia! Como diz a Bíblia, “cujos pés apertaram com grilhões; foi posto em ferros até ao tempo em que chegou a Sua palavra” (Sl 105:18-19).

O que passava pela cabeça de José durante estes “dois anos inteiros”?

Talvez ele pensava no copeiro-mor e sua ingratidão! Quando José interpretou o sonho do copeiro, e esse sonho se cumpriu tão rapidamente (três dias depois), José certamente era muito bem-visto pelo copeiro. Mas quando este homem voltou à corte de Faraó, rodeado de velhos amigos, satisfeito com a recuperação do seu cargo prestigioso, e mais uma vez servindo o copo na mão do próprio Faraó (Gn 40:13), ele se esqueceu do seu “amigo”. Que ingratidão!

Não é assim que tratamos ao Senhor muitas vezes? Na hora da necessidade e angústia, ninguém é mais precioso do que Ele. Mas basta as coisas se acalmarem e o risco passar, que nos deliciamos tanto com as bênçãos recebidas que esquecemos do Benfeitor! Isso é ingratidão mil vezes pior que a do copeiro, pois nós recebemos muito mais do que ele recebeu, e Cristo é infinitamente maior que José!

O que José não sabia, porém, era que Deus esperava para agir porque tinha algo melhor em vista para José! Se o copeiro tivesse lembrado dele de imediato, e se Faraó tivesse, porventura, se compadecido dele, um pobre escravo hebreu preso, o máximo que José poderia receber naquela ocasião seria sua liberdade. Mas Deus estava preparando para ele algo muito melhor — o trono do Egito! Na hora certa, quando o Egito precisava desesperadamente de José, nessa hora “chegou a Sua palavra; a palavra do Senhor o provou” (Sl 105:19).

Enquanto José esperava, talvez ele pensasse que Deus tinha se esquecido dele. Vendo o copeiro ser libertado tão rapidamente, como deve ter sido difícil para ele ver os dias se transformando em semanas, depois em meses — e ele continuava preso! O copeiro, um homem idólatra e mundano, libertado — e José, que só estava preso porque obedeceu a Deus, e que na prisão serviu a Deus fielmente, continuava preso! Que injustiça! O sonho do copeiro foi cumprido — onde estava o cumprimento dos sonhos de José? (Gn 37)

Mas no tempo certo, Deus agiu!

Ah, como precisamos aprender a confiar que Deus nunca permitirá que a injustiça prevaleça! Como precisamos aprender a esperar o tempo de Deus. Não é fácil esperar — mas vale a pena! Quando a impaciência estiver me perturbando, tentarei me colocar no lugar de José contando “dois anos inteiros” — dois anos de dias até o seu livramento! E darei ouvidos ao conselho de Davi: “Descansa no Senhor, e espera nEle” (Sl 37:7).

Até quando? Até ao tempo em que chegar a palavra de livramento do Senhor!



Sexta-feira, 03/07/2020

Até quando? (b) — Meditações 82

Pensamos ontem sobre José e sua longa espera na prisão, contando os dias até que dois anos inteiros se passaram. Entender que as “demoras” de Deus sempre resultam em bênção para aqueles que esperam em Deus terá um efeito prático precioso nas nossas vidas.

Mas há outras coisas que esse episódio nos ensina — porque a continuação da história deixa claro que, além do trono estar sendo preparado para José durante aqueles longos dois anos, José também estava sendo preparado para o trono!

Pensemos juntos — qual a finalidade de José passar tanto tempo preso? Deus não poderia ter encurtado os dias de aprisionamento? Vamos além — Deus não poderia levar José até Faraó sem que José passasse pela prisão?

Sem sombra de dúvida, Deus poderia ter feito qualquer uma destas coisas. Não há nada difícil para Ele, quanto menos algo impossível (Gn 18:14). Se o único propósito de Deus na vida de José fosse colocar José no trono do Egito, Deus poderia ter feito isto sem nenhum sofrimento ou constrangimento para José. Mas aí está a questão: quem disse que este era o único propósito de Deus?

Continuemos examinando a vida de José. Quando ele compareceu diante de Faraó após aqueles “dois anos inteiros”, como nos impressiona seu comportamento maduro e digno! Criado numa família rural, vendido como escravo na sua juventude, lançado numa prisão, de repente ele se encontra na presença da maior corte e do maior rei daqueles dias — não como acusado, mas como consultor de Faraó! “Todos os adivinhadores do Egito, e todos os seus sábios” (41:8) estavam confusos, esperando que o jovem José os orientasse. Para um moço de trinta anos de idade, sem convivência entre os ricos e poderosos do mundo, como seria fácil tudo aquilo subir à sua cabeça, e ele aproveitar a oportunidade para se destacar entre eles!

Mas não! Quando Faraó diz que ouviu dizer que José sabia interpretar sonhos, José prontamente diz: “Isto não está em mim; Deus dará resposta” (41:16). José (como Daniel em outra época; Dn 2:27-28) nos impressiona pela forma como se comportou naquele dia, com uma maturidade que não combina com sua pouca idade! Alguém escreveu sobre este episódio:

“Há algo particularmente nobre e digno de admiração em um homem agindo assim: sozinho, dando todas as honras a Deus, sem ostentação e com uma dignidade calma e natural que mostram a reserva de força que ele possui.”

Nada de ousadia barulhenta, nada de tentativas desesperadas de conseguir a sua própria liberdade, inocentando-se — apenas um jovem, longe de todos que conhecia, preocupado em que Deus seja honrado!

Esse comportamento de José fica ainda mais impressionante quando o contrastamos com Moisés. Diferentemente de José, Moisés foi criado no palácio de Faraó — estava acostumado com toda aquela pompa, e conhecia aquelas pessoas (sei que era outro “Faraó” nos dias de Moisés, mas as circunstâncias seriam as mesmas). Moisés já tinha quarenta anos de idade quando despertou para a situação do povo de Deus. Mesmo assim, este grande homem temeu a Faraó, fugiu para o deserto, e só voltou quarenta anos depois (e Deus precisou insistir muito com ele para que voltasse!).

Voltemos então para José, e creio que a conclusão da nossa análise dele está clara: os “dois anos inteiros” na prisão foram fundamentais para moldar o caráter daquele moço. Lembre que ele tivera dois sonhos na sua mocidade que deixavam claro que ele seria exaltado (cap. 37). Agora, jogado numa prisão, ele certamente pensava: “O que Deus quer com a minha vida?” Salomão diz que “a esperança adiada desfalece o coração” (Pv 13:12) — deve ter sido terrível para José ver o copeiro ser libertado enquanto ele continuava preso, contando os dias que passavam sem que Deus agisse nem lhe revelasse algo. Tudo isto poderia ter criado nele um ódio e amargura crescente contra tudo — contra seus irmãos, contra o copeiro, contra a vida, contra Deus.

Mas quando finalmente os dois longos anos terminam, e José repentinamente sai da prisão para o palácio, sua reação e comportamento diante de Faraó não revelam nenhuma surpresa, nenhuma amargura, nenhuma dureza. Vemos apenas um coração moldado por Deus, um coração maduro e sábio no corpo de um jovem escravo!
 Que grande obra Deus fez em José! Certamente ele se uniria a Paulo e diria: “A minha leve e momentânea tribulação produziu para mim um peso eterno de glória mui excelente” (veja II Co 4:17). Certamente nós, quando chegarmos na presença do nosso Senhor, olharemos para as aflições que tivemos e diremos: “Valeu a pena!”

José, portanto, nos ensina sobre como o tempo de Deus é melhor do que o nosso, e como o treinamento de Deus sempre traz benefícios. Amanhã, se Deus permitir, podemos ver mais um propósito daqueles “dois anos inteiros” de espera.



Sábado, 04/07/2020

Até quando? (c) — Meditações 83

Conforme vimos, Deus esteve preparando as circunstâncias na vida de José, e preparando José para estas circunstâncias, durante “dois anos inteiros” — ou “dois anos de dias”! Quando José finalmente viu o cumprimento dos seus sonhos de garoto (Gn 37:5-10), ele deve ter entendido que, se Deus o tivesse livrado da prisão junto com o copeiro, José teria perdido a oportunidade de estar no trono — o tempo estaria errado. Além disto, José não estaria preparado ainda para uma posição de tanta responsabilidade — o treinamento estaria inacabado.

E assim, no tempo certo e da forma certa, Deus cumpriu Seu propósito perfeito.

Mas nos maravilhamos ao ver que aqueles “dois anos inteiros” ensinaram outra coisa a José — ensinaram-no a ver as coisas do ponto de vista de Deus, e não do seu! E esta é a lição mais difícil (e mais preciosa) que um salvo pode aprender. De certa forma todos nós sabemos, teoricamente, que os planos de Deus giram em torno de Cristo (Ef 1:10), e não de nós. Na prática, porém, quem de nós teria coragem de dizer que entende isto — não só na mente, mas no coração?

Quando as coisas vão mal, meu coração raramente se preocupa em saber como é que este meu sofrimento vai contribuir para o cumprimento dos planos de Deus em Cristo — geralmente ele clama: “Senhor, por que eu preciso sofrer assim? Por que isto está acontecendo justo comigo?” Queremos entender tudo em relação à nós mesmos! Se algo vai me trazer um benefício maior mais tarde, então eu espero o tempo de Deus; se algo vai me preparar melhor para a eternidade, então eu aceito o treinamento de Deus; mas eu preciso saber o que é que eu vou lucrar com isso! Como se tudo girasse em torno de mim! Como se Deus só tivesse o direito de fazer comigo o que trará algum benefício pra mim!

Ah, quanto egoísmo! Mas precisamos confessar que todos nós estamos lutando contra isto.

Por isso é tão animador olhar para José e ver um exemplo diferente. Vendido como escravo pelos seus próprios irmãos, ele se encontra (talvez uns vinte anos depois) numa posição de senhor sobre eles. Teria sido natural ele dizer: “Viu? Vocês riram quando eu sonhei que seria servido por vocês; vocês me odiaram e me venderam como escravo; e agora estão todos aos meus pés, tremendo de medo. Agradeçam a Deus por eu não ser vingativo!”

Mas não — na prisão ele cresceu acima destes sentimentos de menino, e entendeu que Deus tinha um plano (“um grande livramento”) que não afetaria só José, nem só a família de José, mas a vida do mundo inteiro. Diante de Faraó, ouvindo-o relatar seu sonho, José entendeu: “Esta coisa é determinada por Deus!” (Gn 41:32). E ele sentiu-se feliz por ter sido escolhido por Deus para fazer parte deste plano grandioso. Veja as palavras dele para seus irmãos:

“Não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; porque para conservação da vida Deus me enviou ... Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra, e para guardar-vos em vida por um grande livramento. Assim não fostes vós que me enviastes para cá, mas Deus, que me tem posto por pai de Faraó e por senhor de toda a sua casa, e como governador em toda a terra do Egito” (44:5-8).

Para José, todos os longos anos de sofrimento eram uma pequena parte do plano de Deus para preservar a vida da humanidade naqueles dias da grande fome. E se o pobre José pode ser uma parte deste plano, ele está satisfeito. O que importa não é o seu próprio conforto, segurança, ou desenvolvimento espiritual — o que importa é a realização dos propósitos de Deus.

Na minha mocidade ouvi algo que nunca esqueci. Meu pai pregou sobre as três vezes em Cantares que a noiva diz que pertence ao seu Amado:

  • Na primeira vez ela afirma: “O meu Amado é meu, e eu sou dEle” (2:16). Ela fala dos seus próprios privilégios (“Ele é meu”) e responsabilidades (“eu sou dEle”), mencionando primeiro os privilégios. Assim é o novo convertido, gloriando-se no que recebeu de Deus. “Rica verdade; Jesus é meu!” Que jamais percamos o frescor desse primeiro amor.
  • Na segunda vez, porém, ela muda a ordem, e diz: “Eu sou do meu Amado, e o meu Amado é meu” (6:3). São as mesmas duas verdades, mas a diferença na ordem agora destaca as responsabilidades dela. Ele entende que é precioso ter este Amado no seu coração — mas ao invés de ficar o dia inteiro sonhando com Ele, ela quer servi-lO, e viver para o Seu agrado.
  • Estas duas verdades são preciosas — mas há um terceiro passo: “Eu sou do meu Amado, e Ele me tem afeição” (7:10). Meu pai escreveu: “No cap. 2 ela estava contemplando seus próprios privilégios; no cap. 6 ela estava contemplando os direitos do seu amado; mas agora ela está entendendo o amor do seu amado. É a linguagem da comunhão verdadeira. Ela entende e compartilha dos sentimentos dele.”


Ah, que Deus ajude cada um de nós a seguir o exemplo de José e da Noiva. Sejamos sempre gratos por tudo que Deus faz por nós, moldando nossas circunstâncias de acordo com o Seu poder (“Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum dos Seus benefícios”; Sl 103:2); louvemos o Seu nome por tudo que Ele faz em nós, moldando nosso caráter para que possamos reinar com Ele num dia vindouro (“Mas todos nós … somos transformados de glória em glória”; II Co 3:18); mas devemos desejar também conhecer mais da glória dos propósitos divinos, e encontrarmos nisto a nossa satisfação. Devemos entender que nem tudo precisa ser explicado para mim do meu ponto de vista; deveria bastar para mim saber que Deus está sendo glorificado, que os propósitos dEle estão progredindo, mesmo que para mim as coisas piorem.

Sinceramente, o que é que prefiro: que minha presente tribulação acabe logo (“Senhor, não aguento mais; tem misericórdia de mim!”), ou que o plano dEle seja cumprido, para a Sua própria glória (“É necessário que Ele cresça e que eu diminua”; Jo 3:30)?

Não tenho coragem de responder esta pergunta — mas coloco diante de mim um exemplo para minha instrução. Não o exemplo de José ou da Noiva (por melhores que sejam); mas o exemplo daquele que José prefigura. Numa noite escura, diante de uma tempestade mil vezes maior do que meus piores pesadelos, Ele curvou Sua cabeça e disse ao Pai: “Não se faça a Minha vontade, mas a Tua!”

Que Deus nos ajude a sermos imitadores de Cristo.



Domingo, 05/07/2020

Seus ossos — Meditações 84

Como é cheia de detalhes a Bíblia! Os ossos do Senhor são mencionados em dois contextos relacionados à Sua morte — um mais impressionante do que o outro!

No Salmo 22 lemos dos Seus ossos no contexto da intensidade dos Seus sofrimentos: “Como água Me derramei, e todos os Meus ossos se desconjuntaram; o Meu coração é como cera, derreteu-se dentro de Mim. A Minha força se secou como um caco, e a língua se Me pega ao paladar; Me puseste no pó da morte … Poderia contar todos os Meus ossos” (vs. 14-17).

Nosso coração se comove ao pensar no bendito e santo Salvador sendo colocado “no pó da morte” — a linguagem figurativa deste Salmo, recheada de poesia, serve para nos lembrar que nunca houve dor como a dor dEle, com que o Senhor O afligiu no dia do furor da Sua ira (Lm 1:12). A expressão “ossos desconjuntados” não quer dizer que foram quebrados, mas sim separados das juntas e ligamentos que mantem o corpo unido — é uma forma figurativa de dizer que Sua dor era tão intensa, e espalhada por todo o Seu corpo, a ponto dEle dizer que poderia contar todos os Seus ossos, um por um! Cada um deles doía!

Diante disto, é impressionante lembrar que a Bíblia afirma que nenhum osso dEle foi quebrado! É um dos milagres associados à Sua morte. Parece impossível que todas as agressões que Ele sofreu não resultaram em nenhum osso quebrado! Ele foi agredido pelos judeus na casa de Caifás, pelos soldados de Herodes, e depois pelos soldados romanos; passou seis horas crucificado — e nenhum osso foi quebrado? Temos mais de duzentos ossos, alguns pequenos e frágeis — e nenhum deles foi quebrado?

Parece um pequeno detalhe — mas é uma forma linda do Pai nos mostrar que Ele acompanhou Seu Filho durante todo aquele terrível trajeto, e nenhum daqueles homens ímpios e perversos agiram sem a mão de Deus controlando e limitando a ação deles! Saindo do cenáculo para o Getsêmani, o Filho disse: “Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que vós … Me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo” (Jo 16:32). O Pai estava com Ele — o mesmo Pai que havia prometido, pelo salmista: “Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra de todas. Ele lhe guarda todos os ossos; nem sequer um deles se quebra” (Sl 34:19-20). Antes disto, ao instituir a Páscoa, Ele havia insistido neste pequeno detalhe sobre o cordeiro que prefigurava Cristo: “… nem lhe quebrareis osso nenhum” (Êx 12:46). Alguns anos mais tarde, quando Deus abre uma possibilidade de alguém que não conseguiu participar da Páscoa no dia 14 do primeiro mês a observasse um mês depois, Ele não repete todos os detalhes da celebração, mas enfatiza este ponto: “… dela não quebrarão osso algum” (Nm 9:12).

E Ele cumpriu Sua promessa. “Vindo a Jesus, e vendo-O já morto, não lhe quebraram as pernas … Isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: nenhum dos Seus ossos será quebrado” (Jo 19:32-36).

É impressionante (num sentido comovente e doloroso) pensar nos Seus ossos desconjuntados — jamais alguém sofreu como Ele! É impressionante (num sentido terno e carinhoso) pensar que nenhum dos Seus ossos foi quebrado — jamais alguém foi preservado com tanto carinho como Ele! Um fala do preço da nossa redenção; o outro, do prazer que o Pai sentiu naquele sacrifício!

E nós, que só vemos essas coisas de longe, sem conseguir perscrutá-las, tiramos as sandálias dos pés, e cantamos:

Incompreensível foi a Tua dor
Na cruz por mim.
Imensurável Teu divino amor,
Amor sem fim.
Não poderei jamais o merecer;
Só posso, então, prostrado, agradecer.



Segunda-feira, 06/07/2020

Vossos cadáveres — Meditações 85

Peço desculpas pelo título um pouco macabro — mas quero destacar uma expressão encontrada apenas três vezes em Números, e todas no mesmo capítulo, que me chamou a atenção poucos dias atrás:

“Falou o Senhor, dizendo: … Neste deserto cairão os vossos cadáveres, como também todos os que de vós foram contados … salvo Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num … Porém, quanto a vós, os vossos cadáveres cairão neste deserto. E os vossos filhos pastorearão neste deserto quarenta anos … até que os vossos cadáveres se consumam neste deserto” (Nm 14:29, 32, 33).

Deus prometeu tirar a vida de toda aquela geração, e Ele cumpriu esta promessa literalmente (veja Dt 2:14). Nos trinta e oito anos que separam Números 14 de Números 21:12, “toda aquela geração dos homens de guerra” morreu.

Sei deste fato desde a minha mocidade — mas, ao fazer a conta de quantos morreram por dia, em média, fiquei impressionado. Os “homens de guerra” eram, poucos meses antes de Números 14, seiscentos e três mil, quinhentos e cinquenta (Nm 2:32), mais vinte e dois mil levitas (Nm 3:39). Cerca de quinze mil morreram na revolta de Coré (16:49), e “muita gente” morreu pelas serpentes ardentes (21:6). Fora essas duas mortandades excepcionais, o resto do povo parece que morreu aos poucos.

Ou deveríamos dizer, “aos muitos” — porque devem ter morrido dezenas de pessoas todos os dias durante aqueles trinta e oito anos! Trinta e oito anos correspondem, em números redondos, a treze mil e setecentos dias (o ano judeu era lunisolar — não dá para ter precisão neste cálculo). Descontando as duas mortandades grandes mencionadas acima, ainda restariam em torno de seiscentos mil homens adultos para morrer durante estes menos de quatorze mil dias — em média, mais de quarenta mortes por dia. Se acrescentarmos as mulheres e idosos que também devem ter morrido durante aquele período, veremos que haveria oitenta, cem, talvez mais mortes diariamente durante trinta e oito anos!

O que nos leva à conclusão que, durante aqueles anos no deserto, dificilmente passaria um dia sem que o povo lembrasse do seu pecado. Hoje eu soube da morte do meu tio — a última vez que estive num velório faz já alguns meses. Mas imagine um povo viajando junto no deserto, sem contato com outros povos, e todo dia cinquenta ou cem pessoas, em média, estão sendo enterradas! Será que faziam enterros coletivos? É fácil imaginar que todo dia, todos eles estariam de luto por alguém “próximo”. E isto, não por dois ou três meses, mas por trinta e oito anos!

E por quê? “Por causa da sua incredulidade” (Hb 3:19). Portanto, “vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel para se apartar do Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias” (Hb 3:12-13).

Deus abriu as portas do Céu para que nós entremos. Ele abriu Seu coração ao nos enviar Seu Filho. Não podemos desprezar esta misericórdia divina. Confiemos nEle hoje e sempre!



Terça-feira, 07/07/2020

Até quando? (d) — Meditações 86

“E aconteceu que, ao fim de dois anos inteiros, Faraó sonhou ...” (Gn 41:1).

Precisei viajar hoje. Toda viagem (planejada ou de improviso) precisa ter um começo. Pensamos, sonhamos, calculamos, esperamos — e finalmente chega o dia e a hora de colocar o pé na estrada.

A viagem de José da prisão até ao trono do Egito começou de forma banal. Qual foi o primeiro passo que Deus deu para encerrar aqueles dois longos anos de sofrimento na vida de Jose? Passados dois anos de dias, o que aconteceu? Diz a Bíblia: “Faraó sonhou ...”

Não há nada de extraordinário num sonho — dizem os cientistas que uma pessoa normal sonha de quatro a seis vezes por noite! Ninguém pensaria: “Corra e avise José que Faraó sonhou!” Pra que? Como isso vai ajudar José? Quantas vezes Faraó já sonhou!

Mas esse sonho era diferente! O fato notável é que, sem que José saiba de nada, Deus já pôs em movimento as engrenagens do seu livramento! Em poucas horas José terá sido exaltado — não porque o copeiro lembrou dele, mas só porque Faraó sonhou!

Não faço ideia de como Deus consegue manipular as ondas cerebrais de um rei para que ele sonhe o que Deus quer. Não faço ideia de como Deus vai solucionar os problemas que me afligem hoje, nem quando isto ocorrerá. Mas sei que quando se cumprir o prazo que Ele já estabeleceu (nem antes nem depois), Ele vai agir — em mim, o menor ser humano, ou na maior autoridade aqui na Terra. Os meios, só Ele conhece; o livramento é certo!

Deus controla todos os detalhes da nossa experiência aqui na Terra — incluindo o tempo das nossas aflições. Talvez a “viagem” do teu livramento já tenha começado!

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P. S. Alguém pode argumentar que o primeiro passo na libertação de José foi ele ter conhecido o copeiro (ou então ele ter sido preso, pois senão não teria conhecido aquele homem). Raciocinando assim, podemos ver que Deus estava preparando o caminho para o trono do Egito desde antes de José ser vendido pelos seus irmãos — e está certo pensar assim. No pequeno texto acima, porém, estou pensando naquilo que Deus fez quando o tempo da aflição chegou ao seu fim.





Quarta-feira, 08/07/2020

Urim e Tumim — Meditações 87

Estas duas palavras estranhas aparecem apenas sete vezes na Bíblia (Êx 28:30; Lv 8:8; Nm 27:21; Dt 33:8; I Sm 28:6; Es 2:63; Nm 7:65) — e ninguém sabe exatamente o que representam! Sabemos que eram algo colocado no peitoral (uma peça das vestimentas do sumo-sacerdote que ficava na altura do peito), e sabemos que eram usadas para descobrir a vontade de Deus em alguns casos. Provavelmente eram duas pedras preciosas, mas ninguém (aqui na Terra!) sabe com certeza.

Mas, deixando as especulações de lado, há um consolo para nós na primeira ocorrência destas palavras na Bíblia. Lemos em Êxodo 28:29-30 o seguinte:

“Assim Arão levará os nomes dos filhos de Israel no peitoral do juízo sobre o seu coração, quando entrar no santuário, para memória diante do Senhor continuamente. Também porás no peitoral do juízo Urim e Tumim, para que estejam sobre o coração de Arão, quando entrar diante do Senhor: assim Arão levará o juízo dos filhos de Israel sobre o seu coração diante do Senhor continuamente”.

Ao estabelecer o ritual do sumo-sacerdote, Deus deixa bem clara esta dupla função deste servo que nos fala de Cristo, o nosso Sumo-Sacerdote: levar “sobre o seu coração” perante o Senhor o nome e o juízo do povo. A palavra traduzida “juízo” pode ser traduzida “comportamento“, “procedimento”. Em outras palavras, o serviço diário do sumo-sacerdote garantia a lembrança permanente das pessoas e dos seus procedimentos — o que eu sou, e o que eu preciso estaria sempre sendo colocado diante de Deus.

Hoje nosso Grande Sumo-Sacerdote (Hb 4:14), “pelo Seu próprio sangue” efetuou “uma eterna redenção” (Hb 9:12) — comprou minha pessoa, e assim escreveu meu nome no Seu coração. Além disto, dois versículos depois lemos: “o sangue de Cristo ... purificará as vossas consciências das obras mortas para servirdes ao Deus vivo” (Hb 9:14). O mesmo sangue, do mesmo Sumo-Sacerdote, além de me salvar, me santifica.

Arão, entrando na presença de Deus com o nome e o procedimento do povo gravado no seu coração, nos lembra que Cristo comparece “por nós perante a face de Deus” (Hb 9:24). Minha pessoa e meu procedimento estão continuamente no Seu coração perante a face de Deus!

Em português bem claro: se eu pertenço a Deus, então eu sei que hoje Ele lembra de mim e das circunstâncias pelas quais estou passando. Meu Salvador me carrega no Seu coração perante a face de Deus. Talvez ninguém saiba quem eu sou — mas Ele sabe! Talvez ninguém saiba o que estou passando hoje — mas Ele sabe! E Ele já entrou perante a face de Deus carregando meu nome e minha necessidade!

Sendo assim, posso descansar.



Quinta feira, 09/07/2020

Restaurou-Se — Meditações 88

Deus nunca Se cansa, certo? Cem por cento certo! “O eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da Terra, nem se cansa nem se fatiga” (Is 40:28).

Então como entender Êxodo 31:17? “Em seis dias fez o Senhor os Céus e a Terra, e ao sétimo dia descansou, e restaurou-Se”. Restaurou-Se? Restaurar-Se de que, se não estava cansado? O que Ele quer dizer?

Creio que Deus está mostrando-nos que o trabalho não é um fim em si mesmo. Isto é, não trabalhamos por trabalhar, mas trabalhamos para alcançar um objetivo. É bom trabalhar — mas é melhor apreciar os resultados do seu serviço! O Deus eterno criou os Céus e a Terra e depois tomou tempo para apreciar a obra que fizera. E Sua conclusão foi animadora: “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” (Gn 1:31).

Num sentido bem prático, somos exortados a fazer qualquer coisa “conforme as tuas forças”, “de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens” (Ec 9:10; Cl 3:23). Quanto mau testemunho já houve porque um filho de Deus trabalhou para seu empregador de forma relaxada! Por outro lado, como é prazeroso terminar um serviço, contemplar a obra e dizer (sem vanglória): “Ficou muito bom!” É algo que realmente restaura a alma!

Seja a dona de casa cuidando do lar, o empregado servindo seu patrão, o pedreiro colocando um contra-piso, o médico atendendo um paciente — o salvo que serve deve se esforçar para ter condições de ser restaurado pela contemplação do que fez.

E como nos alegra ver o exemplo supremo do serviço do Servo supremo. A obra para a qual Ele Se prontificou foi a mais extensa e intensa que o Universo conheceu. E diz o profeta dEle: “Ele verá o fruto do penoso trabalho da Sua alma, e ficará satisfeito!” (Is 53:11).

Por que Ele ficaria satisfeito? O versículo anterior fala de como Ele ofereceu Sua alma como expiação pelo pecado, voluntariamente; o Seu prazer era cumprir a vontade do Pai. O versículo seguinte mostra a intensidade desta oferta: “Derramou a Sua alma na morte”. Não medindo esforços — não dedicando-Se em parte, mas completamente. Como são profundamente maravilhosas essas palavras: “derramou a Sua alma na morte!”

Aí temos a chave de todo serviço bem sucedido: faça com alegria (v. 10); faça com dedicação (v. 12); e certamente valerá a pena (v. 11)!

Que sejamos restaurados hoje ao contemplar o que Deus está fazendo através de nós.



Sexta-feira, 10/07/2020

Inspiração (c) — Meditações 89

Cerca de duas semanas atrás pensamos um pouco sobre a perfeição da inspiração da Bíblia. Outra ilustração impressionante disto são as três figuras diferentes, todas relacionadas a sete lâmpadas, que apontam para a Pessoa e obra do Espírito Santo, e que combinam perfeitamente com o ensino dado pelo Senhor Jesus na noite em que foi traído (João caps. 14 a 16).

A primeira figura está em Êxodo 25:31-40 — o candelabro com suas sete lâmpadas ligadas a uma haste. A principal função deste candelabro era iluminar o Tabernáculo — na verdade, ele era a única luz naquele recinto. O Espírito Santo é aquele que revela-nos a vontade do Pai, e ensina-nos como andar em toda a verdade.

A segunda figura está em Zacarias 4:1-14 — um castiçal todo de ouro, com sete lâmpadas e sete canudos. Isto faz parte da quinta de oito visões que Zacarias teve numa mesma noite. O povo estava começando a reconstruir o Templo em meio a muita fraqueza, e Deus revelou, em oito visões diferentes, o Seu plano para Seu povo. Na primeira visão, o Senhor diz: “Voltei-me para Jerusalém” (1:16); na segunda, Ele promete derrubar os inimigos de Israel (1:21); na terceira, Ele mostra que Jerusalém crescerá sem limites (2:4), e a quarta visão revela que Ele purificará o Seu povo dos pecados deles (3:9). Mas como Ele fará tudo isto no meio de um povo ainda tão fraco? A quinta visão responde: “Não por força, nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (4:6). Esta é a lição principal que este castiçal nos ensina: o Espírito Santo é o poder que torna possíveis todos os propósitos de Deus. Não é pela força humana, é pelo Espírito que Deus age.

A terceira figura está em Apocalipse 4:5, onde João vê o Espírito Santo sob a figura de sete lâmpadas (literalmente, sete tochas de fogo), “as quais são os sete espíritos de Deus” que são “enviados a toda a Terra” (5:6) — é o Espirito Santo que representa, hoje, Deus aqui na Terra. O Filho já veio, uma vez, para efetuar a nossa redenção, e voltará outra vez; mas hoje, é o Espírito que foi enviado à Terra.

Ou seja, o candelabro no Tabernáculo destaca a revelação dos propósitos de Deus, o castiçal de Zacarias enfatiza a realização destes propósitos , e as sete luzes diante do trono de Deus nos falam do Espírito como o representante de Deus aqui na Terra.

O quadro se completa quando olhamos para o discurso do Senhor no cenáculo, na noite em que foi traído. Ele destacou três relacionamentos principais do Espírito, que encaixam perfeitamente nestas três figuras apresentadas na Bíblia:
  • Quanto aos discípulos, o Senhor mostrou que o Espírito é o Ensinador divino (Jo 14:26; 16:13), revelando-lhes as glórias do Senhor Jesus Cristo. Esta é a figura apresentada no Tabernáculo.
  • Quanto a Deus, o Senhor deixou claro que o Espírito Santo é o Enviado do Pai (Jo 14:16, 26) e do Filho (Jo 15:26; 16:7). É assim que o Espírito é visto no Apocalipse.
  • Quanto aos descrentes, o Espírito tem como função abrir-lhes o entendimento para que possam, porventura, crer. Disse o Senhor: “Quando Ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16:8) —é dEle o poder para convencer os contradizentes. Isto combina com a visão de Zacarias.
É o Espírito Santo que foi enviado como representante divino aqui na Terra nesta dispensação (Apocalipse), é Ele quem executa todos os propósitos de Deus em nós e por nós (Zacarias), e é somente Ele que pode nos ensinar todas as coisas relacionadas a Deus e aos Seus propósitos (Tabernáculo). Que sejamos sujeitos à direção dEle nas nossas vidas.



Sábado, 11/07/2020

Filhos em dobro — Meditações 90

O final do livro de Jó é um consolo precioso para o salvo que passa por tribulações: “o Senhor acrescentou em dobro a tudo quanto Jó antes possuía” (Jó 42:10). Tudo que ele perdeu, recebeu de volta dobrado! Antes de Satanás atacá-lo ele tinha sete mil ovelhas (agora possuía quatorze mil), três mil camelos (agora eram seis mil), quinhentas juntas de boi (agora tinha mil) e quinhentas jumentas (agora eram mil).

Mas sempre me impressionou o fato dele não receber filhos em dobro! Antes da morte de todos eles, eram sete fihos e três filhas — e ele recebeu a mesma quantidade, não o dobro! Por que esta diferença? Se ele recebeu de volta em dobro os animais que perdeu, porque não recebeu filhos em dobro?

Sinceramente, não sei. Mas recentemente ouvi uma sugestão interessante. Será que Deus estava mostrando a Jó que suas orações foram respondidas, e que ele não perdeu seus primeiros filhos? O começo do livro menciona as orações de Jó pelos seus filhos (1:5); talvez Deus estava dizendo: “Jó, Eu não te devolvi filhos em dobro porque Eu ouvi suas orações. Seus primeiros filhos estão todos aqui salvos comigo. Eu te dei mais sete filhos e mais três filhas — somados aos que Eu já trouxe pra cá, você tem agora o dobro de filhos que tinha antes!”

É possível — de qualquer forma, que possamos ser animados a continuar orando pela salvação de nossos entes-queridos.

Quão precioso foi o acréscimo que Deus deu a Jó! “Em toda a terra não se acharam mulheres tão formosas como as filhas de Jó”! Os nomes delas tem significados lindos:
  • Jemima — relacionado à pomba, fala de carinho e afeição;
  • Quezia (ou Cássia) — relacionado a um perfume;
  • Quéren-Hapuque — relacionado ao marfim, fala de beleza.
Carinho, perfume, beleza — Jó foi realmente abençoando sob medida por Deus após sua tribulação. Confiemos nEle hoje, certos de que as bênçãos dEle superam, sempre, nossas expectativas.

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P.S. Com certeza esse detalhe na experiência de Jó mostra, também, a diferença entre os animais e o ser humano. Quando muitos dão mais valor a um “pet” do que ao ser humano, convém lembrar que apenas nós fomos feitos “à imagem e semelhança de Deus”. Desde criança gosto muito de animais, e já criei tartarugas, coelhos, hamsters, e incontáveis gatos e cachorros — mas são apenas seres viventes, e não “pessoas”.



Domingo, 12/07/2020

Os Cânticos do Servo — Meditações 91

Há quatro passagens em Isaías, conhecidas como “Os Cânticos do Servo”, onde o Messias é apresentado como o Servo de Jeová. São chamadas de “cânticos” porque foram escritas na forma de poemas, e “do Servo” porque nelas o Senhor Jesus é apresentado como o Servo perfeito de Jeová. As passagens são Isaías 42:1-7; 49:5-10; 50:4-10; 52:13 a 53-12.

Estes quatro poemas sobre o Servo perfeito apresentam um resumo de toda a Sua carreira. Nos primeiros dois cânticos somos apresentados ao Servo e Seu serviço; nos últimos dois cânticos temos o Servo e Seus sofrimentos.

No primeiro cântico é enfatizada a ideia de justiça (42:1, 3, 4); no segundo, salvação (tanto a palavra “salvação” quanto o título “Redentor” só aparecem neste cântico); e o terceiro cântico fala, pela primeira vez, dos sofrimentos físicos do Servo (principalmente enfatizando a firmeza e constância dEle: “Não Me retirei … não Me confundo; pus o Meu rosto como um seixo”, etc.).

Mas a história não estaria completa sem o último cântico, que apresenta o ápice da carreira do Servo. Aqui Deus abre o Seu coração para nós, e nos mostra o segredo que estava ali desde a eternidade — o sofrimento do Servo não é uma barreira que Ele supera na busca pela nossa salvação, mas é a própria base da salvação! O homem usa o veneno da serpente que o picou para produzir o soro que irá salvá-lo do veneno — num nível muito mais elevado, Deus permitiu que Satanás e os homens derramassem todo o seu ódio contra o Filho amado de Deus, enquanto Deus mesmo trazia vida e salvação para nós! Das trevas do Calvário Ele trouxe a luz eterna. Quando homens e demônios achavam que o Servo estava derrotado, quando ao meio-dia reinavam trevas, como se a própria natureza chorasse pela morte do seu Criador, eis que das trevas surge um brado vitorioso, uma grande voz que anuncia: “Está consumado!” É a voz do próprio Servo! Incrédulos, Seus inimigos O ouvem dizer: “Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito”. E então a própria Terra estremece de alegria num terremoto, o Sol volta a brilhar, jubiloso, e o Servo atinge o objetivo final da Sua carreira vitoriosa! A Sua morte foi vicária — foi por outros! Justiça será feita (1° cântico) e salvação será desfrutada (2° cântico) por incontáveis multidões não somente porque o Servo sofreu (3° cântico), mas porque sofreu por expiação do pecado (4° cântico) e derramou a Sua alma na morte. Quase podemos imaginar o espanto que tomou conta de Satanás e seus seguidores quando começaram a entender a verdade sobre o que aconteceu ali na cruz!

Que vitória gloriosa sobre a morte e sobre o pecado! Por isso o Senhor Jeová começa o primeiro e também o último destes quatro cânticos exaltando o Seu Servo: “Eis o Meu Servo, a quem sustenho, o Meu Eleito, em quem Se apraz a Minha alma” (42:1); “Eis que o Meu Servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime” (52:13).

Maravilhados, nos prostramos perante este grande Servo, desejando servi-lO até que Ele volte!



Segunda-feira, 13/07/2020

Salmo 4:3 — Meditações 92

“Sabei, pois, que o Senhor separou para Si aquele que é piedoso; o Senhor ouvirá quando eu clamar a Ele” (Sl 4:3).

Esta é a resposta dada por Davi àqueles que zombavam da sua fé, convertendo a glória dele em infâmia (v. 2). Ele lembra estes zombadores de uma verdade sublime: “… o Senhor separou para Si aquele que é piedoso”. Ah, que glória pensar que o salvo é “feitura Sua” (Ef 2:10), “povo de propriedade exclusiva de Deus” (I Pe 2:9, ARA). Como diz a Escritura, “o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que são Seus!” (II Tm 2:19).

Davi se gloria nesta verdade, e nós também deveríamos — meus vizinhos podem zombar e desprezar de mim à vontade; meu irmão pode pisar em mim e me magoar repetidas vezes — o Senhor me separou para Ele, e isso vale mais do que a amizade e admiração do mundo inteiro!

Mas as palavras de Davi nos lembram também que há um prerrequisito importante para desfrutar disto — “... o Senhor separou para Si aquele que é piedoso”. Não é todo ser humano que pode descansar confiadamente em Deus, mas somente os piedosos — aqueles que temem a Deus e querem verdadeiramente agradá-lO.

Para os tais, Davi tem uma promessa sublime — “… o Senhor ouvirá quando eu clamar a Ele”. O meu Deus me ouve, e me dá liberdade para procurá-lO qualquer hora do dia!

“Então aqueles que temeram ao Senhor falaram frequentemente um ao outro; e o Senhor atentou e ouviu; e um memorial foi escrito diante dEle, para os que temeram ao Senhor, e para os que se lembraram do Seu nome. E eles serão Meus, diz o Senhor dos Exércitos; naquele dia serão para Mim joias; poupá-los-ei, como um homem poupa a seu filho, que o serve. Então voltareis e vereis a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não O serve” (Ml 3:16-18).

O que acontecerá amanhã? Ano que vem? Não sei. Mas sei que “o Senhor separou para Si aquele que é piedoso”. Vale a pena servir a Deus — podemos descansar nisto hoje!



Terça-feira, 14/07/2020

Rosalind W Piccard — Meditações 93

Não costumo escrever sobre os grandes deste mundo que são nossos irmãos — afinal, a Bíblia mesmo diz que “não são muitos os sábios segundo a carne” que Deus chamou (I Co 1:26), e o fato de que há pessoas salvas que possuem um intelecto acima do normal não deveria afetar a nossa fé. O que deve ser valorizado não é o QI, mas a piedade.

Por outro lado, os jovens nas escolas hoje são constantemente bombardeados com afirmações distorcidas sobre Deus e a Bíblia, e alguns podem pensar que para crer nas Escrituras precisamos jogar fora nosso cérebro! Por isso, é bom (de vez em quando) deixar claro que nossa fé não é contrária à razão. Ela “nos revela o que os sentidos não vêem, mas não o contrário do que vêem; ela está acima, não contra, eles” (Pascal, renomado cientista do século XVII).

Um exemplo disto é a mulher cujo nome está no título desta meditação. Ela é pesquisadora e professora no famoso MIT (Massachusetts Institute of Technology), e suas qualificações e premiações são numerosas demais para listar aqui. Ela cresceu defendendo o ateísmo, até que resolveu ler a Bíblia para melhor refutá-la — e acabou reconhecendo seu pecado e crendo no Senhor Jesus. Na sua página pessoal no site do MIT, ela escreve sobre o quão importante é conhecer a verdade:
“Eu me refiro à verdade objetiva. A verdade pode ser conhecida subjetivamente, mas ela tem uma existência fora da nossa experiência subjetiva. Cuidado com a moda do relativismo que afeta muito ‘conhecimento’ hoje — se você acredita (absolutamente) que não existem verdades absolutas, então você precisa encarar o erro do seu raciocínio!”

Ela compara um homem que nega a existência de Deus a um personagem num jogo digital afirmando que não existem programadores, e que ele é fruto do acaso.

Sobre a salvação, ela escreve:
“Nada que o homem tente fazer pode trazê-lo à comunhão com Deus. O pecado é como um abismo que nos separa de Deus. Mas Deus atravessou esse abismo quando Se tornou homem — um homem extraordinário, que não podia pecar, mas que podia … sofrer a mais dolorosa tortura e morte. O testemunho dos profetas, das testemunhas oculares, e daqueles que escreveram sobre aqueles acontecimentos deixam claro que a morte de Cristo e Sua ressurreição pagaram o preço do pecado. Por que havia um preço? Porque um Deus justo não podia simplesmente ignorar o pecado — isto seria injustiça. Mas um Deus justo e amoroso providenciou uma solução criativa: Ele mesmo pagou o preço do nosso pecado, e fez deste ‘pagamento’ um presente gratuito para a humanidade”.

Fundadora e diretora de um centro de pesquisas em Inteligência Artificial no MIT, destacando-se entre as grandes mentes deste século, ela se preocupa em honrar a Deus. E dá um conselho para os jovens:
“Se você ainda não leu a Bíblia inteira, o que você está esperando? A maioria das traduções tem menos de mil e quinhentas páginas. Muitos recomendam começar a leitura da Bíblia pelo Novo Testamento, que tem menos de quatrocentas páginas — menos que um livro do Harry Potter!”

Jovem, seja sábio. Procure ler e estudar as Escrituras enquanto sua mente ainda é ágil e forte. Mais cedo do que você imagina, ela estará cansada e sobrecarregada. “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias” (Ct 12:1).



Quarta-feira, 15/07/2020

A Ceia — Meditações 94

Já se passaram dezessete domingos em que não pudemos celebrar a Ceia aqui em Pirassununga. Lamentamos extremamente esta situação — mas se Deus a permitiu, devemos nos esforçar ao máximo para ver o que podemos aprender nela.

Uma coisa que a pandemia tem feito é revelar pensamentos errados em relação à Ceia. Tenho ouvido (não entre nós, mas de longe) sobre lugares onde a Ceia está sendo celebrada “virtualmente” (“individualmente” talvez seria uma descrição melhor). Por que alguém faria isto? Sem julgar a sinceridade de quem faz assim, e sem conhecer a real intenção deles, posso pensar em duas possíveis respostas para essa pergunta.

Em primeiro lugar, alguns podem estar confundindo a essência da Ceia (pensando que a Ceia é sobre os emblemas, e não sobre Cristo). É claro que os emblemas são necessários (pois não é possível celebrar a Ceia sem eles) mas sentar com outros salvos em torno de uma mesa com um pão e um cálice e participar destes elementos não garante que a Ceia foi realizada! Se essa afirmação parece estranha, leia I Coríntios 11:17-34. A igreja em Corinto reunia e cumpria todo o ritual da Ceia, mas a Palavra inspirada de Deus diz: “… não é para comer a Ceia do Senhor … cada um toma a sua própria ceia”.

Os emblemas são necessários — mas não são os emblemas que constituem a Ceia, é o Senhor Jesus Cristo no meio, sendo lembrado e adorado! No nosso contexto cultural, um homem casado precisa de uma aliança — mas uma aliança não torna um homem casado! Um homem sem esposa pode usar mil alianças, que continuará solteiro! A aliança é necessária, mas o casamento (para o marido) é sobre a esposa, não sobre a aliança. Assim também o pão e o cálice são preciosos no contexto da Ceia, mas não tem nenhum poder místico ou valor espiritual por si só. A Ceia é sobre o Senhor Jesus Cristo.

Em segundo lugar, alguns podem estar confundindo o propósito da Ceia. Por que a celebramos? Os motivos bíblicos são resumidos em I Coríntios cap. 11: (a) em memória do Senhor e (b) para anunciar a morte dEle. Não deveríamos celebrar a Ceia para receber alguma coisa de Deus, mas para servir a Ele em adoração e testemunho. Será que estou sofrendo mais por causa daquilo que eu estou perdendo nestes dias, ou por causa daquilo que o Senhor está deixando de receber? Um irmão escreveu:

“Nada é tão ofensivo ao verdadeiro caráter da Ceia quanto a ideia ritualística de que receberei virtude espiritual se participar do pão e do cálice. Tal pensamento é a raiz dos erros da transubstanciação, consubstanciação e calvinismo” (J W de Silva, 2003/4).

Estando cercados por pensamentos ritualísticos e supersticiosos, é fácil cairmos nesse erro, e atribuirmos algum valor místico aos símbolos. Por isso alguns “levam a Ceia” a pessoas enfermas, e por isso alguns sofrem hoje pensando nas bênçãos que estão perdendo.

É claro que participar da Ceia nos ajuda espiritualmente — nossa experiência prova isto de forma inegável. Mas estou convicto que não devemos focar nisto. Devemos desejar ter a liberdade de celebrar a Ceia novamente o mais rápido possível, não porque ela ajuda e fortalece a minha fé, mas porque ela engrandece ao Senhor. Ele, sim, merece ser o centro das nossas atenções, hoje e sempre!



Quinta feira, 16/07/2020

Amy Carmichael — Meditações 95

Amy Carmichael nasceu em 1867 na Irlanda do Norte. Em 1893 partiu para o Japão para servir a Deus, mas uma enfermidade a obrigou a retornar. Três anos depois, tendo chegado na Índia, partiu de Bangalore para a pequena vila indiana de Dohnavur. Ela tinha vinte oito anos de idade, e permaneceu lá até sua morte cinquenta e cinco anos depois, em 1951, aos oitenta e três anos de idade. Desde a mocidade sofria de neuralgia (doença dos nervos que provoca fortes dores no corpo), e chegava a passar semanas acamada devido as dores; depois de uma queda forte, passou os últimos vinte anos da sua vida na cama — mas nenhuma dessas limitações a impediu de realizar uma obra incrível para Deus naquele país.

Na India daqueles dias ainda existia a prática de dedicar meninas aos deuses Hindus. Oferecidas pelos pais para os deuses, essas meninas eram forçadas a se prostituirem nos templos para conseguir dinheiro para os sacerdotes. Uma dessas meninas, uma garota chamada Preena, conseguiu fugir e foi acolhida por Amy — e assim começou a obra que iria salvar mais de mil meninas. A prostituição religiosa foi declarada crime na Índia em 1948, mas o orfanato fundado por Amy (Dohnavur Fellowship) continua até hoje, beneficiando meninas carentes naquela região.

O que também continua é o legado escrito dela. Autora de dezenas de livros devocionais, ela permitiu que seus muitos sofrimentos transbordassem em palavras de consolo e conforto para outros. Termino citando um pequeno parágrafo que ela escreveu perto do final da sua vida:

Eu tenho aprendido, mais e mais, a prestar atenção naquelas pequenas demonstrações de amor e cuidado do nosso Pai que são reveladas nas pequenas coisas da vida — uma flor, uma mensagem, uma fotografia, o toque de uma mão carinhosa, a doçura de um olhar compassivo, o tom de voz suave de quem ama — coisas pequenas demais para serem mencionadas, mas que causam tremendo impacto no nosso dia a dia. Da mesma forma, enquanto leio a Bíblia fico atenta para discernir aquela palavra singela que fortalece e conforta. No dia 3 de Março de 1893, o dia que embarquei para o Japão, e em 30 de Novembro de 1896, o dia em que deixei Bangalore para aquilo que seria o serviço da minha vida (para o qual os três anos anteriores foram uma preparação), a palavra foi a mesma: “Irá a Minha presença contigo para te fazer descansar” (Êxodo 33:14). E a Sua presença realmente nos acompanha aonde quer que Ele nos manda. Não só naquele dia, mas até hoje, “Tu estás comigo; a Tua vara e o Teu cajado me consolam”. E logo chegará o dia quando Ele nos levará para Si, e então “habitarei na casa do Senhor para sempre”.



Sexta-feira, 17/07/2020

Ressurreição — Meditações 96

Os três mortos que o Senhor ressuscitou antes da Sua própria ressurreição mostram o Seu poder de forma progressivamente mais impressionante.

No primeiro caso (Lc 7:11-17), muitos diriam que houve uma bendita coincidência. O Senhor estava entrando em Naim e cruzou com um cortejo que saía da cidade. Parecia uma situação de estar no lugar certo na hora certa. Obviamente cremos que o Senhor planejou Seus passos naquela manhã prevendo este encontro, mas para a mãe do jovem, tudo parece ter se encaixado perfeitamente, e ela recebeu seu filho de volta.

O segundo caso (Lc 8:40-56) foi um pouco mais tenso. Depois que Jairo, o príncipe da sinagoga, pediu ajuda ao Senhor pela sua filha enferma, houve uma interrupção — uma mulher com fluxo de sangue tocou nas vestes do Senhor, e Ele parou para conversar com ela. Será que Jairo se angustiou, pensando na urgência da necessidade da sua filha? E a situação piorou, pois “estando Ele ainda falando, chegou um dos do príncipe da sinagoga, dizendo: A tua filha já está morta”. Pode ser que Jairo, no desespero da sua dor, sentiu raiva da mulher que interrompeu a viagem do Senhor: “Se não fosse ela, minha filha poderia estar viva!” Mas tudo terminou bem, e apesar do aparente descompasso e demora, o Senhor solucionou aquele problema tão perfeitamente quanto o primeiro.

O terceiro caso (João cap. 11), porém, foi extremamente tenso. Lázaro não estava morto a poucas horas como a menina, nem estava a caminho do cemitério como o jovem — ele já estava no túmulo há quatro dias! Não houve um sincronismo perfeito entre a chegada do Senhor e a saída do cortejo, nem um pequeno atraso de meia hora — houve uma demora angustiante de vários dias! Os pensamento de Marta e Maria devem ter corrido por muitos caminhos naqueles dias. “Nós avisamos o Mestre — por que Ele não veio ainda?” “Lázaro está morrendo — se o Mestre não chegar logo ...” “Se Ele estivesse aqui, meu irmão não teria morrido!” As lágrimas certamente fluíram livremente! Mas no final das contas, esta situação também terminou de forma tão perfeita quanto as primeiras duas — porque o Senhor nunca chega atrasado!

Jônatas entendeu que “para com o Senhor nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos” (I Sm 14:6). O rei Asa teve um entendimento semelhante: “Senhor, nada para Ti é ajudar, quer o poderoso quer o de nenhuma força” (II Cr 14:11). Para o Senhor, ressuscitar alguém não depende de quanto tempo atrás aquela pessoa morreu (Abel ainda será ressuscitado!).

Que hoje sejamos confortados ao lembrar que nenhuma aparente demora, por mais tensa que pareça para nós, interfere nos planos de Deus. O que Ele planejou para nós será feito, na hora certa. — na hora certa!



Sábado, 18/07/2020

Constância — Meditações 97

Esta semana fui lembrado pelo irmão Higgins sobre o contraste entre os maiores homens e o Grande Homem.

Por exemplo, de Davi, lemos: “Davi se conduzia com prudência em todos os seus caminhos, e o Senhor era com ele” (I Sm 18:14). Que testemunho eloquente das Escrituras acerca da prudência do comportamento de Davi em todos os seus caminhos! Mas que contraste poucos capítulos depois, quando Davi, pela sua própria precipitação, precisa se fingir de louco: “E Davi considerou estas palavras no seu ânimo, e temeu muito diante de Aquis, rei de Gate. Por isso se contrafez diante dos olhos deles, e fez-se como doido entre as suas mãos, e esgravatava nas portas de entrada, e deixava correr a saliva pela barba. Então disse Aquis aos seus criados: Eis que bem vedes que este homem está louco; por que mo trouxestes a mim?” (I Sm 21:12-14).

Moisés é outro exemplo. O testemunho das Escrituras sobre ele é lindo: “E era o homem Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a Terra” (Nm 12:3). Mas infelizmente a Bíblia também diz dele: “Porque irritaram o seu espírito, de modo que falou imprudentemente com seus lábios” (Sl 106:33). Ele suportou provocações constantes e indevidas, mais do que “todos os homens que havia sobre a Terra” suportariam — mas um dia ele falhou!

Só houve um Homem que se comportou com sabedoria sempre, e nunca — nem uma única vez — precisou fingir ou apelar para qualquer subterfúgio! Só houve um Homem que falou com mansidão sempre, e nunca — nem uma única vez — “falou imprudentemente com os Seus lábios”.

Em situações muito mais aterrorizantes do que as que Davi enfrentou, Ele sempre manteve a Sua calma e confiança. Havia sido profetizado dEle: “Porque o Senhor Deus Me ajuda, assim não Me confundo; por isso pus o Meu rosto como um seixo, porque sei que não serei envergonhado” (Is 50:7).

Em situações muito mais irritantes do que as que Moisés enfrentou, Ele nunca falou de forma áspera ou impensada: “O qual, quando O injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente” (I Pe 2:23).

Por isso, só Ele serve como exemplo para nós. Louvemos a Deus pela perfeição da Sua conduta e pela perfeição das Suas palavras. E confiemos plenamente nEle, pois Ele nunca — literalmente, nunca — falha ou tropeça!



Domingo, 19/07/2020

O Servo escolhido — Meditações 98

O primeiro Cântico do Servo em Isaías (pensamos nos quatro domingo passado) começa com um contraste impressionante. Deus termina o capítulo anterior (41) dizendo que não há ninguém na humanidade com quem Ele possa comungar (“Quando olhei, não havia ninguém ... conselheiro algum havia a quem perguntasse ou que Me respondesse palavra. Eis que todos são vaidade!”). E no próximo versículo (42:1), quase no mesmo fôlego, Ele exclama: “Eis aqui o Meu Servo, a quem sustenho, o Meu Eleito, em quem Se apraz a Minha alma”!

Gosto deste contraste: “Eis que todos são vaidade — Eis o Meu Servo, em quem Se apraz a Minha alma”. Todos os outros são vaidade, mas Este agrada ao Senhor — a Sua alma continuamente Se agrada [“se apraz”] nEle! (É interessante que quando Mateus citou este trecho, ele foi inspirado pelo Espírito Santo a trocar a palavra “eleito” por “amado”, enfatizando mais ainda este aspecto de satisfação e alegria no relacionamento do Pai e do Filho).

Alguém diria: “Mas é claro que Deus Se agrada dEle — Ele é Seu Filho!” Mas “ama” e “se agrada” não são sinônimos. Um pai ou uma mãe amam o filho obediente e prestativo, mas também amam o filho rebelde e ingrato. Sofrem e choram por ele, mais ainda o amam! O amor só depende dos pais, mas o agradar depende do filho. E a Bíblia revela que este Filho agrada ao Pai plenamente — não porque é Filho, mas porque anda conforme a vontade do Seu Pai.

A vida do Senhor Jesus aqui na Terra, em relação às nossas vidas, já foi comparada a uma rosa entre espinhos. No meio de tantos pecadores desobedientes e rebeldes, Deus viu um, e apenas um, que O agradava em todos os detalhes. Mateus só usa três vezes a palavra traduzida “apraz”, sempre para descrever o apreço do Pai em relação ao Seu Filho amado, sempre acompanhada da palavra “Amado”.

A primeira ocorrência é no final do cap. 3, no batismo do Senhor. Os trinta anos ocultos em Nazaré terminaram, e o Senhor Jesus estava manifestando-Se publicamente pela primeira vez. A multidão às margens do Jordão não conhecia aquele humilde Carpinteiro de Nazaré; ninguém ainda O ouvira pregar, nem O vira fazer algum milagre. E Deus então intervêm: “Vocês não O conhecem — mas Eu conheço! Faz trinta anos que observo os Seus passos ali em Nazaré. Vi o bebê tornar-Se um menino, um jovem, um adulto, sempre andando nos Meus caminhos. Tenho o prazer de apresentá-lO a vocês: este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo!”

A segunda ocorrência é no cap. 12, onde ocorre aquela mudança clara de assunto na narrativa de Mateus. O Rei de Israel já apresentou as Suas credenciais ao Seu povo, e Israel, representada pelos fariseus, formalmente acusa o Senhor de ser servo de Belzebu. E nesta hora de desprezo, Mateus cita o Cântico do Servo, trocando a palavra “eleito” por “amado”: “Eis … o Meu amado, em quem a Minha alma Se compraz”.

A terceira ocorrência é no cap. 17, quando Pedro, Tiago e João viram a glória do Senhor transfigurado, e ouviram a voz de Deus dizendo: “Este é o Meu amado Filho, em quem Me comprazo”.

Três cenas diferentes — uma mesma opinião. Descrevendo a vida quieta de menino no lar humilde em Nazaré (Mt 3), ou a correria agitada das pregações e milagres (Mt 12), ou numa antevisão da Sua glória eterna (Mt 17) — em qualquer circunstância, Deus tem prazer em dizer: “Ele é o Meu Amado, em quem Me comprazo”!

Que nós também possamos encontrar nEle a nossa satisfação. Às vezes cantamos: “Oh, glória vã, mundana, em vão me vens chamar; há glória sobre-humana que em ti não posso achar. E já que a glória vejo de Cristo, meu Senhor, é todo o meu desejo viver no Seu amor”. Que possamos dizer, como Paulo: “Tenho por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor” (Fp 3:8).

E durante esta nova semana, lembremos que Deus “nos fez agradáveis a Si no Amado” (Ef 1:6)! Que glória!



Segunda-feira, 20/07/2020

Direção — Meditações 99

Pensamos recentemente sobre o candelabro no Tabernáculo — a única fonte de luz para guiar os sacerdotes no seu serviço. Numa igreja de Deus é o Espírito Santo que será essa “luz”, guiando-nos tanto nas nossas vidas quanto nas reuniões.

Mas pensando especificamente no sentido coletivo, como é, na prática, que o Espírito Santo nos guia? Alguns gostariam de pensar que a única coisa necessária é abolir todo o planejamento humano, chegar à reunião sem ter nada planejado, e mediante a operação de algum misterioso processo metafísico o Espírito Santo vai agir de forma imprevisível sobre um irmão para anunciar a Palavra, e agirá também no coração dos demais para que entendam a mensagem que Ele quer transmitir.

Mas será correto pensar assim? Creio que não. É verdade que não podemos ignorar o poder do Espírito sobre nós — mas também não devemos exagerá-lo. Ele fará aquilo que está além do nosso alcance, mas não fará aquilo que conseguimos fazer sozinhos! E ao examinarmos a forma como a fonte de luz no Tabernáculo foi produzida, veremos uma ilustração disto.

Como foi produzido o candelabro? O processo mais simples, por causa da complexidade e quantidade dos ornamentos da peça, teria sido derreter o ouro e colocá-lo dentro de um molde. Mas Deus exigiu que o candelabro fosse feito de ouro batido (Êx 25:31). Só o candelabro e o propiciatório com os querubins (outra peça complexa e detalhada) foram feitos desta forma. Pense quanto tempo e trabalho, quanta paciência, persistência e perseverança seriam necessários para produzir este candelabro com todos os seus sessenta e seis ornamentos (botões, flores, e amêndoas)! O artesão precisou martelar com cuidado e com persistência, dia após dia, até que o ouro atingisse o formato desejado!

Deus enfatiza assim o esforço e dedicação que foram necessários antes do candelabro iluminar pela primeira vez. E os cuidados diários com o candelabro (Lv 24:1-4) mostram que aquela luz exigiu esforço e dedicação constante por parte dos sacerdotes.

A luz era divina — os homens precisaram trabalhar para que ela brilhasse.

Vemos o mesmo princípio no décimo quarto capítulo de I Coríntios, que apresenta alguns princípios importantes sobre esta questão. Quem participa numa reunião pública deve tomar cuidado para que sua participação seja inteligível (vs. 6-12) e inteligente (vs. 13-19). Além disto, ele precisa avaliar também o momento certo de falar, sujeitando-se a algumas restrições impostas pelo Espírito Santo (vs. 27-40). A ênfase neste trecho é resumida muito bem nas palavras do v. 32: “E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas”. Ou seja, a direção do Espírito Santo nas reuniões da igreja não é contrária à nossa vontade, nem independente dela, nem algo que foge ao nosso entendimento. Não funcionamos em “piloto automático” na hora da reunião, mas a nossa mente renovada pelo Espírito Santo (Rm 12:1.2) precisa estar atenta durante todo o tempo que estamos reunidos.

Isso vale para quem vai transmitir a palavra e quem vai recebê-la. Os varões não devem chegar, sentar, e pensar: “Bom, se der vontade, e ninguém mais levantar, eu faço aquela minha oração tradicional” (veja I Tm 2:8). As irmãs não devem chegar, sentar e pensar: “Bem, não posso orar nem pregar, e nem escolher um hino, então vou esperar quietinha o fim da reunião”. A reunião flui bem melhor quando cada um chega disposto a contribuir para o melhor aproveitamento de todos — quando chegamos para participar da reunião!

Em suma, quando uma luz brilha numa reunião da igreja local (isto é, quando fica evidente que Deus está guiando os servos que transmitem a verdade, e cada um que a recebe) podemos ter certeza que os salvos, apesar de toda a sua fraqueza, estão trabalhando. Houve muitas marteladas para “moldar o candelabro” antes da reunião começar, e houve muito esforço e concentração durante a reunião. Se quero ser guiado pelo Espírito Santo ao servi-lO na Sua igreja, e se coletivamente queremos experimentar esta direção, precisamos entender que não acontecerá espontaneamente, sem o meu esforço. Será fruto de muito trabalho, muita submissão à vontade dEle.

Sendo assim, “mãos à obra”!


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P.S. Um detalhe interessante: havia um total de 66 ornamentos no candelabro: 22 botões, 22 flores e 22 amêndoas. Estes ornamentos estavam distribuídos assim: 27 ornamentos em cada lado, mais 12 na haste central. O total de ornamentos (66) e a sua divisão (27 + 12 + 27, ou 39 + 27) nos lembra da Bíblia com seus 39 livros no VT e 27 no NT. A Bíblia é a lâmpada que o Espírito Santo usa para nos guiar (Sl 119:105).



Terça-feira, 21/07/2020

Vamos a Dotã — Meditações 100

Dotã é um lugar praticamente desconhecido para nós, brasileiros, e é mencionado em apenas dois trechos da Bíblia — mas a lição que este lugar traz é preciosa para os salvos!

A primeira ocorrência do nome é no livro de Gênesis (Gn 37:17). Você já parou para pensar por que o Espírito Santo inspirou Moisés a registrar o nome desse lugar? Para José, Dotã foi o primeiro passo na sua saga — um longo período (cerca de quinze anos) de sofrimentos e angústia. Ele estava agindo dentro da vontade do seu pai, submisso e obediente, mas foi preso em Dotã e vendido como escravo.

A única outra menção de Dotã na Bíblia não poderia ser mais diferente! O rei da Síria procurava Eliseu, e recebeu a notícia: “Eis que está em Dotã”. Imediatamente mandou para lá “cavalos, e carros, e um grande exército” para prender Eliseu. E o servo de Deus disse ao seu discípulo: “Não temas; porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles”. Ele então pediu ao Senhor que abrisse os olhos do moço, e este viu, “e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu” (II Rs 6:13-20).

Acompanhando Eliseu em Dotã somos lembrados do Salmo 34:7: “O anjo do Senhor acampa-Se ao redor dos que O temem, e os livra”. Mas onde estavam os cavalos e carros de fogo de Deus quando José chegou em Dotã e foi atacado por seus irmãos? Um garoto de cerca de dezessete ou dezoito anos de idade, sozinho em Dotã — como isto é diferente da experiência de Eliseu!

Amy Carmichael escreveu: “Cada vida que procura seguir de perto o Senhor chegará, mais cedo ou mais tarde, a estes dois Dotãs. Algumas vezes haverá intervenção gloriosa, e nosso Deus se manifestará como um Deus de livramento. Mas algumas vezes só veremos um Céu azul, uma campina deserta — nenhum livramento! Nessas horas precisamos deixar nosso olhar penetrar até a casa do Eterno, como vendo o invisível (Hb 11:27).”

José e Eliseu conheceram o Deus de Dotã — quem foi mais privilegiado? Os dois! Ambos confiaram em Deus na adversidade, e ambos viram Deus agindo. Eliseu foi salvo milagrosamente sem sofrer um constrangimento qualquer — José foi salvo anos depois, após muitas lutas e angústias. Em ambos os casos, Deus estava agindo, controlando e preservando. Falando sobre Dotã anos depois, José disse: “Deus o intentou para bem!” (Gn 50:20).

Que possamos confiar no Deus de Dotã! Talvez Ele livre de imediato, talvez Ele nos leve por um longo caminho — mas qualquer que for o intento dEle, a presença dEle conosco será real e preciosa!



Quarta-feira, 22/07/2020

Chorando com os que choram — Meditações 101

“Por que estão hoje tristes os vossos semblantes?” (Gn 40:7)

José tinha apenas vinte e oito anos de idade, mas já tinha sofrido muito. Vendido com escravo pelos próprios irmãos, viu-se servindo a um homem que confiava nele — até que a esposa desse homem acusou José injustamente, e ele foi lançado na prisão. Ali esteve “muitos dias” (Gn 40:4) com os pés apertados por grilhões de ferro (Sl 105:18).

Todo esse sofrimento, porém, não fez dele um jovem duro e insensível. Certa manhã, vendo a preocupação no rosto de dois colegas de prisão, ele esqueceu sua própria tristeza e preocupou-se com o sofrimento deles. Ele praticou o ensino do Novo Testamento: “Chorai com os que choram” (Rm 12:15).

Como estamos nós neste sentido? Tão ocupados com nosso próprio sofrimento que não temos lágrimas para o sofrimento (muito maior) do nosso próximo? Tão ocupados com os nossos pequenos problemas que não temos tempo para ouvir o lamento do nosso irmão?

Lembre do nosso amado Salvador. Na noite da Sua traição Ele estava preocupado em consolar os discípulos (Jo 14:1). Na cruz, preocupou-Se em orar pelos soldados romanos que o crucificavam, em prometer um descanso eterno para o malfeitor arrependido, e em preparar um novo lar para Maria! Que exemplo!

Que Deus nos torne mais compassivos, mais semelhantes a Cristo!

Vai, leva consolo para os tristes ais De muitos que, em dores, sofrem muito mais. Teu pranto sepulta junto ao Salvador. Vai levar aos outros a luz do Senhor. (H e C 213)



Quinta-feira, 23/07/2020

Alegrai-vos com os que se alegram — Meditações 102

Ontem vimos em José um exemplo da segunda parte de Romanos 12:15. Hoje quero sugerir Moisés como um exemplo da primeira parte daquele versículo.

Quando Josué sentiu ciúmes por ver que outros servos, além de Moisés, profetizavam, a resposta de Moisés foi perfeita: “Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta, e que o Senhor pusesse o Seu Espírito sobre ele!”

É bom quando sinceramente sentimos assim— mas quantas vezes nossa carne se ressente por ver outros sendo abençoados mais do que nós! Pensamos: “Eu mereço isso mais do que ele!” (quando na realidade nenhum de nós merece nada!). Nossa natureza é tão corrompida, que talvez não chegamos ao ponto de desejar o mal para o próximo — mas certamente não queremos que ele seja mais abençoado que nós.

Ah, Senhor, dá-nos um coração puro, que possa sinceramente se alegrar em ver que outros estão sendo grandemente abençoados por Ti. Se desejarmos sinceramente a Tua glória, e somente isso, então nos alegraremos ao ver o progresso da Tua obra, independentemente de quem for o instrumento usado. Mas quando buscamos a nossa própria glória, só conseguimos nos alegrar se formos o centro das atenções! Que nojento, um verme querendo receber elogios e glória por aquilo que Tu fazes em nós!

Ajuda-nos, ó Pai, a sermos como João: “E foram ter com João, e disseram-lhe: Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tu deste testemunho, ei-lo batizando, e todos vão ter com Ele. João respondeu, e disse: O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do Céu... Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim, pois, já este meu gozo está cumprido. É necessário que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3:26-30).

Ensina-nos a chorar com os que choram, e alegrarmo-nos com os que se alegram!



Sexta-feira, 24/07/2020

Que anjo foi esse? — Meditações 103

“E pondo-Se de joelhos, orava, dizendo: Pai, se queres, passa de Mim este cálice; todavia não se faça a Minha vontade, mas a Tua. E apareceu-lhe um anjo do Céu, que O fortalecia” (Lc 22:43).

Que anjo foi esse? Miguel, Gabriel, ou alguém mais importante? Fico curioso em saber quem prestou esse serviço tão nobre.

Anjos vieram anunciar Seu nascimento, e anjos vieram servi-lO depois da tentação no deserto. Mas nesta hora de maior opressão e agonia, não foram anjos, mas um anjo escolhido. Qual anjo? Certamente não houve disputa nem ciúmes entre aqueles seres puros — mas imagino que todos eles estavam mais do que prontos para este serviço! “Eis-me aqui, Senhor — envia-me a mim!”

A tarefa importante de anunciar o nascimento de João Batista, e depois do próprio Senhor, exigiu um anjo exaltado como Gabriel, que é descrito como aquele que comparece diante de Deus (Lc 1:19). Era um serviço “oficial”. Mas nesta hora tão solene, não é posição exaltada nem apresentação sublime que importam — agora é necessário um anjo com coração compassivo e carinhoso. Alguém cuja presença servirá de consolo e apoio para o Criador!

(Mas como entender isto? Não podemos entender — no Getsêmani “a teologia fica sem respostas! Ainda bem! Existe a necessidade de mistério. Existe a necessidade de um lugar onde, num sentido especial, andamos por fé e não por vista” — Frederick Leahy).

Como poderia um anjo “fortalecer” o Onipotente Criador? (A única outra ocorrência da palavra grega usada aqui é Atos 9:19: “tendo comido, ficou fortalecido”). Tendo já enfatizado mediante tantos milagres a divindade do Senhor, Deus está agora querendo enfatizar a Sua humanidade. E principalmente, creio que o Eterno Pai fez questão de identificar-Se novamente com Seu Filho nesta hora solene. O mesmo Pai que três vezes falou do Céu com voz audível, desta vez falou pelo Seu ato!

Será que podemos, com muita reverência, imaginar o Senhor falando com emoção para este anjo escolhido: “Desça lá agora, e fique um pouco com Ele. Não precisa dizer nada — só mostre, pela sua companhia, que nós aqui no Céu estamos em comunhão com Ele neste sofrimento tão amargo. Na hora da Cruz você não poderá ser visto, por causa dos incrédulos — mas no jardim, na presença dos discípulos, o ambiente é propício! Leve um pouco de conforto do Céu para Ele! Eu quero que Ele, e os Seus, vejam que vamos caminhar juntos até a cruz!”

Gosto do sentimento de Duncan (1796-1870) — ele disse que, no Céu, queria “ver o rosto do meu Senhor, e depois eu perguntaria pelo anjo que veio ajudar meu Senhor na hora da Sua agonia no Getsêmani”.



Sábado, 25/07/2020

Hora de quem? — Meditações 104

O Novo Testamento usa muito a palavra “hora”, mas raramente precedida do pronome pessoal. Geralmente é “a hora”, ou “aquela hora” — as exceções são impressionantes: “Sua hora” e “vossa hora”.

Ao escrever seu evangelho, João dá ênfase à hora da morte do Senhor, e de uma forma interessante fala daquela hora como sendo “a Sua hora” — a hora do Senhor Jesus Cristo (veja 2:4, 7:30, 8:20, 13:1). Aquela hora era o propósito da Sua vinda e da Sua vida, e duvido que seja possível exagerar a sua importância. Nunca houve uma hora que afetou tanta gente de forma tão profunda quanto aquela hora — na verdade, o sucesso de todos os propósitos de Deus dependia daquela hora!

Aquela hora não durou apenas 60 minutos — creio que abrange todos os eventos do Getsêmani, Gabatá e Gólgota. A História não conhece nada que possa ser comparado, em profundidade ou sublimidade, em horror ou glória, em ódio ou amor, aos eventos daquela sexta-feira.

“Jamais alguém contemplará Nem dor maior, nem tanto amor”.

Mas veja que impressionante: bem no início daquela hora, o Senhor Jesus diz aos Seus inimigos: “Essa é a vossa hora, e o poder das trevas” (Lc 22:53). A hora do Senhor foi também a hora dos Seus inimigos — a hora em que eles tiveram permissão para fazer com Ele o que jamais teria sido tolerado em outra ocasião!

Fico imaginando legiões e legiões de anjos olhando, pasmos, enquanto esses homens fracos amarravam as mãos do Criador, conduzindo-O com violência para a cidade, cuspindo nEle, arrancando a Sua barba, esbofeteando-O, zombando dEle. Será que alguns dos anjos olhavam para o Trono, pedindo com os olhos uma oportunidade — só uma! — para acabar com aquela impiedade? Provavelmente não — acho que eles sabiam que tudo era necessário para o plano de redenção. Mesmo assim, deve ter sido difícil ver as trevas tendo liberdade para agirem de forma tão cruel naquela hora. Era a hora dos pecadores, e o poder das trevas!

Quão densas são essas trevas! Mas como é glorioso o desfecho daquela hora: Cristo, “despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em Si mesmo” (Cl 2:15)! Que triunfo culminante! A maior vitória do meu Salvador foi também a maior derrota de Satanás! Aquela foi “a Sua hora” e “a vossa hora” — foi a hora em que o Bem triunfou e o Mal morreu!



Domingo, 26/07/2020

O Servo ungido — Meditações 105

“Pus o Meu Espírito sobre Ele” (Is 42:1).

Continuando a destacar alguns detalhes dos Cânticos do Servo, chegamos ao terceiro dístico do primeiro Cântico, onde temos a Trindade apresentada: o Pai ungindo o Filho com o Espírito Santo.

O fato do Senhor Jesus Cristo ter sido ungido com o Espírito Santo é bem conhecido; mas João Batista, ao descrever aquele evento, acrescenta um detalhe muito precioso.

O Evangelho de João é o único dos quatro que não narra o evento do batismo do Senhor, mas também o único que relata a descrição dada pelo Batista sobre o que aconteceu naquele dia — uma descrição na qual ele usa duas vezes a palavra “repousar”:

“Eu vi o Espírito descer do Céu como pomba, e repousar sobre Ele. E eu não O conhecia, mas aquele que me mandou a batizar com água, disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre Ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo” (Jo 1:32-33).

Que apresentação linda do descanso que o Espírito encontrou em Cristo — não apenas vindo sobre Ele temporariamente, mas encontrando ali repouso. Ele está satisfeito de estar ali, e não tem mais desejo de partir!

Vemos esta verdade ilustrada no VT. Quando as águas do Dilúvio estavam secando, Noé soltou da arca uma pomba três vezes. Na primeira vez, quando as águas ainda estavam altas e havia corpos mortos por todo lado, ela não encontrou repouso naquele cenário corrompido. Na segunda vez ela demorou um pouco mais, voltando somente à tarde, e trazendo em seu bico um broto novo de oliveira — as coisas estavam melhorando! Há sinais de nova vida! Finalmente, sete dias depois, ela saiu e não voltou — encontrou um lar! Conforme a situação na Terra melhorava, foi possível para a pomba achar um lugar limpo para ficar.

Não foi assim também com o Espírito Santo, apresentado na forma de uma pomba no batismo do Senhor? Durante os séculos Ele vinha sobre os servos de Deus do período do VT, mas sempre de forma passageira — vinha para uma missão e depois voltava ao Pai. Depois chegou João Batista, o precursor do Messias, “cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe” (Lc 1:15). Já houvera servos santificados e escolhidos desde o ventre (Sansão, Jeremias, etc.), mas nunca antes lemos de alguém cheio do Espírito desde o ventre! As coisas estão melhorando!

Mas João, grande servo que foi, teve as suas falhas, e foi somente quando o Senhor Jesus Se manifestou publicamente que foi dito do Espírito Santo: “Ele desceu e repousou sobre Ele”. Finalmente um Homem sobre quem o Espírito poderia repousar tranquilamente, sem nenhuma ressalva, sem nenhuma limitação. Finalmente um lar aqui na Terra digno do Espírito Santo de Deus, onde não haveria nada que causasse ofensa à santidade divina!

Por isso o próprio João Batista (ou, possivelmente, o evangelista João) disse pouco depois: “Aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, pois não lhe dá Deus o Espírito por medida” (Jo 3:34). Somente neste Servo perfeito o Espírito Santo pôde (falo com reverência) não apenas “trazer Sua mala”, mas “trazer Sua mudança” e se sentir perfeitamente em casa!

De uma forma que não consigo entender, o Espírito também esteve ativo na hora da Sua morte. “Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?” (Hb 9:14). Este versículo apresenta a Trindade novamente: Cristo, pelo Espírito eterno, a Deus.

Deus ungiu Seu Servo com o Espírito, para que esse Servo Se oferecesse pelo Espírito a Deus. Uma obra perfeita realizada de uma forma perfeita!

Louve-Se ao glorioso Deus; aleluia!
Exaltado ali nos Céus; aleluia!
Trindade, um só Jeová; aleluia!
Sem o qual nenhum Deus há! Aleluia!
(H e C n. 562)




Segunda-feira, 27/07/2020

Os pensamentos de Deus — Meditações 106

Quando Davi olhou para trás, para tudo que Deus já tinha feito na vida dele, ele exclamou: “Quão preciosos me são, ó Deus, os Teus pensamentos! Quão grandes são as somas deles!” (Sl 139:17).

Nos versículos anteriores ele havia mencionado alguns destes pensamentos divinos, destacando como Deus conhece tudo aquilo que fazemos ou pensamos em fazer (vs. 1-12), e até nos conhecia quando ainda estávamos no ventre das nossas mães (vs. 13-16). “Os Teus olhos viram o meu corpo ainda informe, e no Teu livro todas estas coisas foram escritas”.

Como é precioso pensar que tudo que já aconteceu comigo já era conhecido por Deus antes de eu nascer! Os pensamentos dEle perscrutam todas as coisas, e não há nada escondido deste Deus onisciente!

Pensar na perfeição dos pensamentos de Deus nos enche de admiração diante da grandeza dEle. E o que representa, então, para nossos corações fracos e aflitos, ouvir este grande Deus dizendo: “Eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal” (Jr 29:11)! Pode haver consolo maior do que este?

Leia o Salmo 139 inteiro, e permita que a grandeza de Deus te impressione. Depois medita longamente na afirmação deste Deus sobre os pensamentos que Ele tem a nosso respeito — pensamentos de paz, e não de mal! Certamente desejamos servir melhor este Deus precioso!



Terça-feira, 28/07/2020

No coração de Deus — Meditações 107

Em 1903 um servo de Deus, Cleland McAfee (1866-1944), recebeu a triste notícia de que as duas filhinhas de seu irmão haviam falecido, vítimas da difteria. Buscando consolo em Deus, ele escreveu a letra e a música de um hino que foi cantado pela primeira vez no dia do enterro das meninas. Do lado de fora da casa (que estava isolada, em quarentena), “lutando para segurar as lágrimas”, ele cantou sobre o conforto que o cristão encontra no coração de Deus:

Há um lugar de doce amor
No coração de Deus;
Sem mal, sem sombra de pavor:
No coração de Deus!

Ó Cristo, enviado do coração de Deus;
Preserva a nossa alma no coração de Deus!

Há divinal consolação
No coração de Deus;
Intensa e plena comunhão:
No coração de Deus!

Há pleno livramento, sim,
No coração de Deus;
Encontro paz perene, enfim,
No coração de Deus.

Alguém escreveu: “A vida é cheia de problemas e crises inesperadas. Desconforto e ansiedade lançarão suas sombras sobre o caminho do mais forte salvo. Mas o cristão deveria, por causa do refúgio que ele encontra em Deus, esforçar-se ao máximo para manter o controle e a compostura mesmo no meio das dificuldades. Não podemos escapar das pressões e problemas, mas podemos encará-los com a força que Deus dá, vivendo cada dia com calma e coragem.”

Que seja assim com cada um de nós hoje.

Neste link há uma versão do hino cantada (em inglês).



Quarta-feira, 29/07/2020

O Pai nos Céus — Meditações 108

Quatorze vezes em Mateus Deus é descrito como o “Pai que está nos Céus”. Essa expressão é característica de Mateus — as únicas outras duas ocorrências estão em Marcos 11:25 e 26, além de duas ocorrências da expressão semelhante “Pai nosso, que está nos Céus” na oração modelo (Mt 6:9 e Lc 11:2).

Também é impressionante que estas quatorze referências estão divididas em dois grupos iguais: sete vezes Ele é chamado “vosso Pai que está nos Céus”, e sete vezes o Senhor Jesus O descreve como “Meu Pai que está nos Céus”. Tenho convicção que Mateus não estava contando enquanto escrevia, e pensando: “Bom, já usei sete vezes ‘vosso Pai’ e seis ‘Meu Pai’ — vou acrescentar mais um ‘Meu Pai’ para ficar equilibrado”! Mateus provavelmente nem percebeu — mas creio que o Espírito Santo estava controlando a pena e a mente de Mateus, para agrupar estas referências debaixo de um mesmo tema.

Sendo assim, o que podemos aprender com estas referências que o Espírito Santo agrupou?

Vamos por partes.

1) Responsabilidade — As três primeiras referências destacam a grande responsabilidade que pesa sobre nós por termos um Pai que está nos Céus. Nós não somos filhos da desobediência nem filhos da ira (Ef 2:1-3), somos “filhos do Pai que está nos Céus” — portanto, há responsabilidades associadas a este privilégio!

Em primeiro lugar, precisamos tomar cuidado para que nosso comportamento resulte em glória sendo dada a Deus: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos Céus” (Mt 5:16). Os judeus fizeram o contrário disso: comportaram-se tão mal que o nome de Deus era blasfemado entre os gentios por causa deles (Rm 2:24).

É muito humilhante quando percebemos que nosso comportamento trouxe vergonha ao Evangelho e ao Reino de Deus. Eu sei que, algumas vezes, seremos criticados injustamente (nossas ações e intenções serão mal interpretadas), mas devemos tomar o máximo de cuidado para que o nome de Deus seja glorificado pelas nossas boas obras. Que responsabilidade pesada!

Em segundo lugar, somos alertados sobre algo que vai além das boas obras e do testemunho visível — somos instruídos quando ao nosso coração: “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos Céus” (Mt 5:44). Se o nosso Pai, disse o Senhor, “faz que o Seu Sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” — se pelo menos quinze vezes na Bíblia lemos sobre o pecado da acepção, ou que “Deus não faz acepção de pessoas” — como poderemos cair neste erro? Como diremos que Deus é nosso Pai se nosso coração for tão diferente do dEle? Que teste pesado!

Em terceiro lugar, resumindo este assunto, temos um padrão inatingível: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos Céus” (Mt 5:48). Nosso coração exclama: “Impossível!”, e nossa mente (pelo menos neste assunto) concorda com o coração; nunca seremos perfeitos aqui na Terra! Mas este é o padrão para a nossa condição — qualquer coisa aquém da perfeição não é suficiente. Que padrão pesado!

Na prática, isso quer dizer que sempre preciso melhorar. Não importa quanto meu comportamento melhorou nos últimos meses; não importa quanto meu coração se alargou; eu ainda não sou perfeito. Se eu fosse filho das trevas, tudo bem — poderia me dar por satisfeito com um pouco de virtude. Mas eu sou filho do meu Pai que está nos Céus! Não posso entregar os pontos, e pensar: “Bem, não sou perfeito, mas não sou tão ruim assim”. Não! Preciso arregaçar as mangas, me prostrar em oração diante de Deus, e orar: “Meu Pai que estás nos Céus, Tu me deste a incomparável glória de ser Teu filho — ajuda-me a viver como alguém cujo Pai está nos Céus — ajuda-me a ser perfeito!”

Nosso Pai está nos Céus! Que glória — somos filhos do Deus altíssimo, filhos do Criador onipotente! Que nosso comportamento, nosso coração e nossa condição reflitam esta verdade tão sublime!



Quinta-feira, 30/07/2020

O Pai nos Céus (b) — Meditações 109

Ontem começamos a pensar sobre as quatorze referências ao “Pai que está nos Céus” em Mateus. Consideramos as primeiras três, que nos falam da responsabilidade que temos de honrar o nome do nosso Pai. As próximas duas referências, que quero mencionar resumidamente, descrevem a bondade desse Pai que está nos Céus.

Primeiro temos uma condição para desfrutar das bênçãos de Deus: “Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles, senão não tereis galardão junto de vosso Pai que está nos Céus” (Mt 6:1). Deus é apresentado como aquele que está pronto para nos galardoar pelas nossas boas obras — o galardão está reservado para ser dado. Mas se eu procuro a honra dos homens, eu já recebi meu galardão deles (v. 2), e portanto perco o galardão divino.

O ensino aqui não é que todo nosso serviço para Deus precisa ser escondido e secreto, mas sim que não podemos servir desejando ser vistos pelos homens. Algumas coisas só podem ser feitas publicamente (Mt 5:14-16), mas se houver duas formas de fazer alguma coisa — a visível e a secreta — prefira sempre a secreta.

Convém analisar nossas motivações. O que é mais importante para mim: a aprovação dos homens, ou do Pai? Estaríamos satisfeitos em servir ao Senhor a vida inteira sem nunca receber um “muito obrigado[a], irmão[ã]!” dos homens? Seria suficiente para nós termos a convicção de que estamos agradando ao nosso Pai que está nos Céus?

Somos fracos, eu sei, e precisamos de encorajamento. É muito fácil desanimar se achamos que ninguém aprecia nossa ajuda. Mas não deveria ser assim. Um incentivo por parte dos irmãos e irmãs pode nos animar muito (e a ausência disto pode fazer falta) — mas a única coisa essencial, indispensável, sem a qual é melhor parar tudo, é a aprovação do Pai!

Em segundo lugar, vemos a confiança que podemos ter na bondade de Deus: “Se vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos Céus, dará bens aos que lhe pedirem?” (Mt 7:11). A primeira opção de ajuda de um filho normalmente são seus pais — e se um pai ou uma mãe, pecadores por natureza, tem a tendência de fazer o bem para seus filhos, quanto mais “vosso Pai, que está nos Céus?”

Muitos hoje descrevem seu amor pelos seus filhos como “incondicional”, mas seus atos demonstram que não conseguem amar seus filhos incondicionalmente. Há apenas um Pai que pode, em verdaade, descrever Seu amor como “amor incondicional” — e esse Pai é o meu (nosso) Pai! Ah, quanta confiança isto deve produzir em nós!

“Pois Tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar, e abundante em benignidade para todos os que Te invocam” (Sl 86:5); “Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?” (Rm 8:32).

Devo viver aqui no mundo procurando agradar somente ao meu Pai que está nos Céus, pois Ele é o único que nunca deixará de retribuir e recompensar “tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos” (Ef 3:20).

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P.S. Repare que no texto paralelo a Mateus 7:11, Lucas escreve: “… quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo …” (Lc 11:13). Deus não promete riquezas, saúde e honra aqui na Terra, mas promete Seu Espírito, e as bênçãos espirituais associadas a Ele.



Sexta-feira, 31/07/2020

Deus chegado — Meditações 110

Quando o povo de Israel estava prestes a entrar na Terra prometida, Moisés os exortou a guardarem os “estatuto e juízos” que Deus lhes dera, para que as demais nações dissessem: “Este grande povo é nação sábia e entendida” (Dt 4:6). Israel era diferente, e deveria demonstrar esta diferença pelo seu comportamento.

E para enfatizar a superioridade de Israel, Moisés citou duas coisas: (1) a grandeza de Deus e (2) a grandeza dos juízos que Deus deu a Israel (“que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós?”, Dt 4:8).

Até aqui, tudo bem. Mas o que me impressionou foi perceber o atributo de Deus que Moisés escolheu (por inspiração divina) para provar que Deus é maior do que os deuses falsos — ele disse: “que nação há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o Senhor nosso Deus, todas as vezes que O invocamos?” Não é: “que nação tem um deus tão forte como o Senhor”, ou “tão sábio”, ou “tão santo”. Não; ele destaca o fato de Deus ser “chegado” (proximo, acessível), e isso “todas as vezes que O invocamos”!

Ninguém Se compara com o Senhor nosso Deus em força, majestade, glória, sabedoria, etc., etc. Mas como é glorioso lembrar que povo nenhum conseguiu imaginar um “Deus chegado” — um Deus que está perto daqueles que O invocam! Grande e majestoso, sim, mas não distante e inacessível!

“Perto está o Senhor de todos que O invocam” (Sl 145:18). “Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hb 4:16).


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Dois detalhes sobre Isaías 53

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