Sunday 3 July 2022

O corpo do Senhor

Temos muitas referências na Bíblia ao corpo do Senhor Jesus no sentido figurativo (o pão, a Igreja, etc.), mas também algumas poucas referências ao Seu corpo físico (o “corpo da Sua carne”, como diz a Bíblia).



No ser humano, o corpo pode parecer insignificante. “É pó, e ao pó tornará — não vale nada!” diz alguém. Mas o fato de Satanás e o arcanjo Miguel disputarem pelo corpo de Moisés (Jd 9), e a ênfase que o NT dá ao sepultamento do Senhor Jesus após Sua morte, mostram que não é bem assim. Todo corpo morto ressuscitará, por mais que tenha sido consumido pelas chamas, ou apodrecido por vermes.



E o que dizer do corpo do Senhor Jesus Cristo? Em primeiro lugar, foi um corpo preparado. Profeticamente Ele disse a Deus: “Corpo Me preparaste” (Hb 10:5), e também afirma: “Me formou desde o ventre para ser Seu servo” (Is 49:5). Com quanto carinho e capricho o Espírito Santo agiu, preparando um corpo perfeito para a encarnação do Filho de Deus. A encarnação é um maravilhoso mistério da graça de Deus!



Mas este corpo foi também um corpo sacrificado. O escritor aos Hebreus nos lembra que “temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez” (Hb 10:10), e Pedro acrescenta: “Levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (I Pe 2:24).



Por que esta ênfase no corpo? Alguém diz: “É uma figura de linguagem: o corpo simplesmente representa a pessoa”. Mas em Colossenses Paulo diz que o Senhor Jesus nos “reconciliou no corpo da Sua carne” (Cl 1:22), deixando claro que o aspecto físico do Calvário foi fundamental para a nossa salvação. Em outras palavras, não devemos imaginar que houve apenas uma dor “espiritual” quando Deus fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos, e que os sofrimentos físicos do Senhor foram apenas algo circunstancial. Há muito mais nos sofrimentos de Cristo no Calvário do que conseguimos entender. Pregado pelas mãos e pelos pés, ouvindo a multidão zombadora provocando-O, Ele sofreu com Seu ser completo: espírito, alma, e corpo!



Como é comovente lermos a ênfase que os evangelistas dão ao corpo sepultado. Os quatro evangelhos usam pelo menos quatorze vezes a palavra grega “corpo” referindo-se ao Seu corpo morto (durante aquele curto período entre Sua morte e Sua ressurreição). Todos os quatro mencionam a maneira impressionante como o Senhor foi sepultado por José de Arimateia. O que aconteceu foi tão inesperado, e combinou tão perfeitamente com a profecia de Isaías 53:9, que é uma das provas mais impressionantes da inspiração das Escrituras.



Diz o profeta: “Puseram a Sua sepultura com os ímpios, mas com o rico esteve na Sua morte”. Quando o Senhor foi preso, todos os Seus O abandonaram — e tudo indicava que Seu corpo seria lançado numa vala comum com os outros dois malfeitores. Afinal de contas, quem iria pedir o corpo? Entre Seus discípulos, quem teria coragem para aproximar-se de Pilatos e identificar-se como amigo daquele que Pilatos acabou de condenar à morte? Entre os que tinham acesso a Pilatos, quem se preocuparia com o destino do Seu corpo? 



Mas eis que surge José de Arimateia, um homem rico e membro do Sinédrio (a mais alta corte judaica). Ele foi a Pilatos “ousadamente” pedir o corpo do Senhor, e obteve autorização para enterrá-lo. Com quanta ternura eles descrevem a maneira como José, ajudado por Nicodemos, envolveu o corpo do Senhor em lençóis com especiarias, e ambos deitaram o corpo do Senhor no sepulcro novo que José fizera para ele mesmo, onde ninguém ainda havia sido sepultado (aquele que foi gerado num ventre virgem só poderia ser enterrado numa sepultura virgem).



E assim, onde parecia impossível, Deus agiu, e não permitiu que Seu Filho amado fosse sepultado com criminosos. O povo realmente imaginou que seria assim (“puseram a Sua sepultura com os ímpios”), mas Deus interferiu, e Ele foi colocado no sepulcro novo de um homem rico. Deus não permitiria que Ele fosse associado com a corrupção de outros corpos, pois “Ele nunca cometeu injustiça, nem houve engano na Sua boca”. A profecia, e seu cumprimento perfeito, é impressionante. Deus tinha o Seu servo preparado para esta obra. Desconhecido até então (com medo dos judeus, como diz João 19:38), ele desaparece da história depois do sepultamento — mas na hora da necessidade, ele estava lá.



Se você leu até aqui, termino com um dos incentivos mais confortantes para o salvo na doença ou na fraqueza física: o “Senhor Jesus Cristo transformará o nosso corpo abatido para ser conforme o Seu corpo glorioso” (Fp 1:20-21)! 



Louvemos ao nosso Deus pela glória da encarnação; pelo fato desse corpo preparado ser também um corpo sacrificado por nós; e por Deus ter despertado José e Nicodemos para darem um sepultamento digno para o Senhor. 





© 2022 W. J. Watterson

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