Domingo, 20/09/2020
Perante Ele — Meditações 161
No domingo passado pensamos sobre a primeira estrofe do último Cântico do Servo — uma estrofe que enfatiza a glória deste Servo, mas com um pequeno parênteses que fala de como Ele foi desfigurado mais do que outro qualquer. A estrutura na segunda estrofe (53:1-3) inverte isto — a ênfase está no desprezo e sofrimentos que Ele recebeu, com um pequeno parênteses mostrando a apreciação divina dEle:
Porque foi subindo como renovo perante Ele,
E como raiz de uma terra seca;
Nestes dois versos temos o Servo “perante Ele” — isto é, perante o Senhor. Não é a opinião dos homens que está sendo apresentada, mas a do Senhor. A estrofe toda enfatiza o desprezo dos homens, mas estes dois versos mostram que o Senhor via nEle aquilo que ninguém mais podia ver. Externamente havia fraqueza, mas, oculto à visão humana, havia glórias sublimes que só Deus enxergava.
A palavra traduzida “renovo” aqui indica uma pequena planta, apresentando os primeiros sinais de vida. Espera-se que, com o passar do tempo, tornar-se-á uma árvore, mas por enquanto é apenas uma pequena muda. Não parece ser grande coisa — mas ela tem dentro de si o potencial para grandes coisas.
A segunda figura fala de uma raiz de uma terra seca (literalmente, “uma terra deserta”). Poucos vêem uma raiz (pois ela costuma crescer debaixo do solo) — ainda mais uma raiz em terra deserta, onde não há ninguém para ver!
As duas figuras mostram que perante Deus o Servo é totalmente diferente de tudo ao Seu redor. Entre o mato e espinhos da raça humana, eis que surge um pequeno renovo — no meio do deserto de homens mortos em ofensas e pecados, onde não havia uma única alma que produzisse fruto para Deus pela sua própria justiça, eis que surge uma raiz. O renovo irá se tornar uma árvore plantada junto a ribeiros de águas e dará o seu fruto (Sl 1:3), a raiz irá brotar e produzir flores no deserto (Is 35:1) — mas só Deus consegue ver isto naqueles anos ocultos em Nazaré. No palco do mundo, o imperador em Roma era o centro das atenções — mais perto dali, os principais dos judeus em Jerusalém. Mas ninguém se preocupava com o Carpinteiro de Nazaré (Mc 6:3)! Para o mundo, apenas mais uma criança, mais um jovem carpinteiro, mais um galileu — para Deus, Ele é totalmente diferente deles!
Nesta segunda estrofe (que combina com Êxodo, o segundo livro da Bíblia) podemos fazer uma comparação interessante com o cordeiro pascal (Êxodo 12 e 13). Um cordeiro era separado no 10º dia do primeiro mês, exposto publicamente até o 14º dia e então sacrificado — mas muito antes do 10° dia o pai de família já observava com prazer seu rebanho, e seus olhos acompanhavam aquele cordeiro específico. Ele já sabia: “No dia da festa será este — ele é perfeito!”
Assim foi com Cristo. Durante trinta anos Ele permaneceu oculto em Nazaré. Estava no meio do povo, sem que alguém soubesse que Ele era o Cordeiro escolhido — mas Deus O observava com prazer e satisfação plenas! Uma criança, aparentemente tão fraca e precisando de proteção (como um renovo) — um aprendiz de carpinteiro escondido em Nazaré, longe dos holofotes (como uma raiz no deserto) — mas cada dia daqueles longos anos, em cada ato e em cada palavra, em cada atitude e pensamento, Ele “foi subindo como renovo perante Ele, e como raiz de uma terra seca”. Ou, como escreve Lucas: “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lc 2:52).
Quanto mistério nestas palavras! Quão precioso será, durante a eternidade, aprender mais sobre aqueles anos ocultos!
© 2020 W. J. Watterson
No comments:
Post a Comment