Monday 6 June 2022

Coincidência?

No relato da cura do filho do oficial em João 4:46-54, lemos que o oficial, assim que soube que seu filho estava curado, perguntou aos servos a que horas o menino melhorara, e a resposta confirmou o que ele já sabia: “Era aquela hora a mesma em que Jesus lhe disse: O teu filho vive! E creu ele, e toda a sua casa”.


Por que ele queria saber a hora exata da cura? É porque a fé não tem medo de examinar cuidadosamente o que Deus faz, sabendo que não será desapontada. Um supersticioso poderia pensar: “Bom, eu não vou perguntar muitos detalhes, pra não estragar a beleza desta história que tenho pra contar. Vai que eu descubra que meu filho já tinha melhorado antes de eu falar com o Mestre, e que foi tudo uma coincidência!” Mas não é assim com a fé — cremos na realidade da ação de Deus na nossa vida.


Quando Elias queria manifestar a glória de Deus no monte Carmelo, ele instruiu os falsos profetas a derramarem doze cântaros de água sobre o altar, encharcando o sacrifício. Por quê? Porque ele queria que o povo tivesse certeza absoluta que haviam presenciado o poder de Deus, e não algum truque barato de ilusionismo. Quando o Senhor ouviu que Lázaro estava doente, Ele demorou, e só chegou quando Lázaro já estava morto a quatro dias! Por quê? Porque neste último sinal público antes da Sua morte o Senhor queria manifestar a Sua glória aos Seus discípulos, não apenas curando um enfermo, mas ressuscitando um morto!


Como é precioso quando, após uma provação intensa, recebemos livramento da parte de Deus — e o livramento é tão perfeitamente adequado às nossas necessidades, que não resta sombra de dúvida que foi o Senhor quem agiu. A mente incrédula dirá: “Coincidência!” Mas nós, que sabemos todos os detalhes, guardamos este segredo no nosso coração: “Não foi coincidência — foi o Senhor!”


Mas é importante entendermos que estas “coincidências” de Deus se manifestam não só no plano individual, mas também mundial. Quero deixar uma gloriosa ilustração disto, transmitindo algo que li tempos atrás sobre a língua grega — a língua usada para escrever o Novo Testamento. É algo mais técnico, que talvez não interesse  a todos neste grupo, portanto mandarei numa outra mensagem, logo em seguida num Adendo no final.


Termino esta meditação com um hino traduzido pelo irmão Terry Blackman, e pode ser cantado com a música St. Anne (H. e C. 590):


1. De modo inescrutável, Deus

Os Seus prodígios faz;

Ele anda no raivoso mar

Em majestade e paz.


2. Quão insondável o pensar

Do onisciente Deus,

Que gloriosos planos tem

Pro bem dos filhos Seus!


3. Amedrontado coração!

As nuvens de terror,

Bem cheias, em verdade, estão

Das bênçãos do Senhor.


4. Não penses o “porquê” saber,

Mas nEle confiar;

Atrás das provações verás

Divino amor sem par.


5. Depressa vem a fruição

Dos planos do Senhor;

O broto é amargo, sim,

Mas doce é a flor!


6. Sem fé, tu sempre errarás,

Não podes entender;

Só Deus o pode interpretar

E tudo esclarecer.


Coincidência — Adendo


As “coincidências” de Deus se manifestam não só no plano individual, mas também mundial.


Diz a Bíblia que Cristo veio ao mundo “na plenitude dos tempos” — não entendo tudo que esta expressão quer dizer, mas creio que, além de outras coisas, ela indica que a ocasião da vinda do Senhor Jesus foi criteriosamente escolhida, e o cenário cuidadosamente preparado, para receber o Rei dos reis. Dean Alford (1810-1871), uma das maiores autoridades sobre a língua grega nos seus dias, declara que o surgimento e evolução da língua grega nos dias que antecederam a vinda de Cristo é uma das maiores “coincidências” de toda a História. Ele descreve como foi sendo aperfeiçoada, no sul da Europa, a língua mais bela, fluente e poderosa que o mundo jamais conheceu. Entre os intelectuais brilhantes de Atenas ela foi sendo lapidada e polida. Nela, como em nenhum outro idioma conhecido dos homens, as menores variações do pensamento humano acharam expressão. Verdades que exigiam uma distinção quase microscópica eram corretamente, e de forma preciosa, transmitidas por ela (por exemplo, em João 20:5, 6 e 8 há três palavras gregas diferentes traduzidas “viu” em português: a primeira indica um ver com os olhos, a segunda um ver demorado e mais atento, e a terceira um ver com entendimento). Esta língua era um instrumento de precisão da melhor qualidade, afirma este estudioso. E, além destas qualidades, era uma língua atraente e melodiosa, agradando ao ouvido com sua música fluída tanto quanto satisfazia ao intelecto pela sua sutileza filológica.


Mas não adiantaria existir uma língua tão rica se quase ninguém a conhecesse! Então Deus providenciou para que ela fosse espalhada por todo o mundo daquela época pelas conquistas de Alexandre o Grande, que além de guerreiro era também discípulo do filósofo Aristóteles e um escritor de sucesso. E assim, poucos anos antes do Senhor vir ao mundo, uma língua majestosa tornou-se a língua conhecida no mundo inteiro daquela época. A humanidade se viu provida de uma ferramenta perfeita para expressar seus sentimentos, exatamente na hora em que a mais impressionante revelação de toda a História estava para ser feita! O Filho de Deus iria viver entre nós, neste planeta que Ele criou, por pouco mais de trinta anos — e Deus deu ao homem uma língua capaz de expressar, com mais clareza do que as línguas já existentes, as preciosidades que seriam reveladas por Ele.


Alford diz que Homero, Hesíodo e Sófocles não cantaram por cantar; Heródoto, Tucídides e Xenofonte não escreveram por escrever; Demóstenes e seus rivais não produziram suas obras-primas da oratória simplesmente como exibições da capacidade humana; eles foram artesãos escolhidos por Deus, sem que soubessem, para moldar, aperfeiçoar e enaltecer o instrumento que Deus usaria para transmitir a Sua verdade.


Não tenho competência para julgar o que Alford afirma — mas não tenho a menor dúvida que Deus age constantemente entre nós, livrando Seus pequenos servos de pequenos problemas, e guiando os impérios e as nações conforme o Seu querer. “Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei na mão do Senhor, que o inclina a todo o Seu querer!” (Pv 21:1). Descansemos nEle hoje!






© 2022 W. J. Watterson

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