Saturday 27 March 2021

O Cordeiro agindo (Ap 8 a 13) — Meditações 349

Meditações na quarentena (2020/21) enviadas diariamente aos irmãos e irmãs da igreja local em Pirassununga para nosso ânimo mútuo (arquivadas neste blog).

Sábado, 27/03/2021

O Cordeiro agindo (Ap 8 a 13) — Meditações 349

Continuando nossas considerações nos finais de semana sobre Cristo no Apocalipse, chegamos a um trecho (caps. 8 a 13) que apresenta diversos resultados da ira do Cordeiro (na abertura do sétimo selo e no tocar das sete trombetas), mas que contem poucas referências diretas a Ele.

O Senhor de Jerusalém (11:8)

Falando sobre as duas testemunhas do Senhor, lemos que, antes de ressuscitar dentre os mortos, “jazerão os seus corpos mortos na praça da grande cidade que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde o nosso Senhor também foi crucificado” (Ap 11:8).

Esta é a primeira referência direta ao Senhor depois do cap. 7. Alguns entendem que os anjos mencionados em 8:3 e em 10:1-3 são uma figura do Senhor Jesus — me parece que, em ambos os casos, são somente anjos. Além destes trechos, temos uma descrição de Deus em 10:6 que poderia ser aplicada ao Senhor Jesus, mas penso que se refere ao Pai.

Aqui em 11:8 Jerusalém é descrita como a cidade “onde o nosso Senhor também foi crucificado” (muitas versões dizem “seu Senhor”). Pode haver um pouco de dúvida na nossa mente limitada sobre o pronome — será que o Senhor está sendo descrito aqui como Senhor das duas testemunhas, ou Senhor de Jerusalém, ou Senhor dos santos? Mas não há dúvida sobre o pecado de Jerusalém — crucificaram o Senhor!

É interessante contrastar esta descrição de Jerusalém com as outras três contidas neste versículo (as quatro formam um quiasma). Jerusalém é descrita como:

a) A grande cidade (historicamente) — A expressão “grande cidade” só ocorre no livro de Apocalipse. Refere-se à Babilônia sete vezes (14:8; 17:18; 18:10, 16, 18, 19 e 21), e a Jerusalém três vezes (11:8; 16:19; 21:10 — duas vezes à Jerusalém terrestre, uma vez à Nova Jerusalém).

    b) “Sodoma” (figurativamente) — O nome “Sodoma” é usado dez vezes no NT; esta é a única vez que não se refere à cidade que foi destruída nos dias de Ló, mas descreve o caráter imoral de Jerusalém.

    c) “Egito” (figurativamente) — O Egito é mencionado vinte e quatro vezes no NT; assim como vimos com Sodoma, esta é a única vez que o nome é usado figurativamente, descrevendo o caráter mundano de Jerusalém.

d) “Onde o nosso Senhor também foi crucificado” (historicamente) — Diante do que vimos acima, como é trágica esta expressão final. A grande e importante cidade de Jerusalém preferiu imitar a imoralidade de Sodoma e o materialismo do Egito, e crucificou o Senhor!

O pecado de Jerusalém precisa ser destacado. O profeta havia dito: “Exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu Rei virá a ti, justo e Salvador, pobre, e montado sobre um jumento” (Zc 9:9). Quando esta profecia se cumpriu e o Senhor de Jerusalém entrou pelas portas da cidade sob a aclamação popular, “toda a cidade se alvoroçou” (Mt 21:10) — porém menos de uma semana depois, a mesma multidão zombava dEle ao vê-lO sair pelas portas da cidade com uma coroa de espinhos na cabeça e uma rude cruz nas costas ensanguentadas, rasgadas pelos açoites!

O uso do título “Senhor” e da palavra “crucificado” realçam o horror do que aconteceu. Não foi só que mataram o profeta — crucificaram o Senhor! Isto nos lembra de Filipenses: “… sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2:8). Repare que o último degrau na Sua humilhação voluntária não foi a morte, mas a cruz! Ser obediente até à morte é impressionante — muito mais quando se trata de uma morte vergonhosa (I Co 1:23), maldita (Gl 3:13), e terrivelmente dolorosa como a “morte de cuz”!

Aqui em Apocalipse, porém, não é a humilhação voluntária do Senhor que é considerada, mas o pecado vil de Jerusalém: eles crucificaram o Senhor! Crucificar um criminoso ou um inimigo sempre foi considerada pelos homens como a forma mais cruel de morte; crucificar um homem inocente seria, certamente, a forma mais absurda e vil de injustiça; mas o que dizer de crucificar o Senhor? “Loucura desvairada”; “rebeldia diabólica”; “perversidade maligna” — parece que nada é forte o suficiente para descrever o pecado de Jerusalém!

É verdade que esta cidade tem um futuro glorioso, e as promessas do Senhor hão de ser cumpridas: “Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades; os teus olhos verão a Jerusalém, habitação quieta, tenda que não será removida, cujas estacas nunca serão arrancadas e das suas cordas nenhuma se quebrará” (Is 33:20). Hoje, porém, ela é a grande cidade, que se chama Sodoma e Egito, onde nosso Senhor foi crucificado!

Enquanto aguardamos o dia glorioso, após a Tribulação, quando “o Filho do Homem vier em Sua glória, e … Se assentará no trono da Sua glória” (Mt 25:31), para reinar supremo e majestoso sobre Jerusalém e o mundo todo, nós hoje nos comovemos com os sofrimentos terríveis deste que foi obediente até à morte.

E mais — pasmem — morte de cruz!


© 2021 W. J. Watterson

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