Saturday 16 April 2022

O homem da orelha furada

Se você vivesse nos dias do Velho Testamento e encontrasse um homem com a orelha furada em Israel, você poderia dizer: “Este homem ama verdadeiramente a sua família!”


Por quê? Por causa da lei do servo, que dizia que todo escravo hebreu em Israel seria libertado depois de sete anos (leia o trecho todo em Êxodo 21:1-6). Mas se ele tivesse casado durante estes anos, sua esposa e seus filhos ficariam servindo ao seu senhor. Nestes casos, o servo hebreu tinha o direito de recusar sua liberdade, e comprometer-se a continuar para sempre servindo a seu senhor, permanecendo assim na companhia da esposa e filhos que ele tanto amava. E como sinal da sua escolha, ele teria a orelha furada.


Seria um exemplo comovente de devoção e amor — alguém abrindo mão da sua liberdade pelo resto da vida, para não ser separado da esposa e dos filhos! É precioso. E é também uma figura muito fraca do amor e devoção do Senhor Jesus Cristo.


No Salmo 40 temos Suas palavras proféticas: “Sacrifício e oferta não quiseste; os Meus ouvidos abriste [literalmente, ‘a Minha orelha furaste’] … Então disse: Eis aqui venho … Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu”. Veja alguns paralelos entre o homem da orelha furada e nosso amado Salvador:


a) Ambos fizeram uma escolha consciente e livre. A lei do servo dizia: “Se aquele servo expressamente disser …” — nada seria imposto ou forçado. Assim também Nosso Senhor decidiu vir a este mundo de livre e expontânea vontade, sabendo tudo que Sua decisão exigiria dEle. Quando vieram prendê-lO no jardim do Getsêmani, não houve nenhuma hesitação da parte dEle: “sabendo Jesus todas as coisas que sobre Ele haviam de vir, adiantou-Se … A quem buscais … Sou Eu!” (Jo 18:4).


b) Ambos escolheram por amor. O escravo hebreu dizia: “Eu amo a meu senhor, e a minha mulher, e meus filhos; não quero sair livre”. Assim também nosso amado Salvador veio a este mundo porque Ele nos ama. Não foi por obrigação, mas por amor! Cada salvo apropria para si as palavras de Gálatas 2:20: “O Filho de Deus … me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim”!


c) Ambos tiveram sua escolha confirmada e consumada. Do servo foi dito: “furará a sua orelha com uma sovela”. Não era só um amor platônico e teórico, mas prático! Com o Senhor Jesus também houve a manifestação externa da Sua decisão. Não foi um furo na orelha (onde sente-se pouca dor), mas Ele teve Sua cabeça perfurada por espinhos, Suas mãos e pés traspassados, Seu lado furado! Ele disse para Tomé: “Põe aqui o teu dedo, e vê as Minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no Meu lado” (Jo 20:27). Ele carrega, até hoje, as marcas da Sua devoção!


d) Ambos fizeram uma escolha eterna e irreversível. Do servo, lemos: “e ele servirá [seu senhor] para sempre”! Como é precioso lembrar que nosso Senhor jamais deixará de ser nosso Salvador e Sacerdote. Após citar o Salmo 40, o escritor de Hebreus diz: “com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hb 10:14).


O Senhor Jesus Cristo é o Servo perfeito e dedicado. Séculos antes dEle deixar os Céus, Deus proclamou: “Eis que o Meu Servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado,  e mui sublime” (Is 52:13).


Sim, a Sua orelha foi furada! Aleluia!





© 2022 W. J. Watterson

No comments:

Post a Comment

Dois detalhes sobre Isaías 53

Isaías 53 contém o quarto Cântico do Servo (que inclui os últimos três versículos do cap. 52). Qual seria o centro deste Cântico?