Sunday 24 April 2022

Sacrifícios e ofertas

Nestas pequenas Meditações, tenho procurado usar o domingo para levar nossas mentes ao Senhor Jesus Cristo, pois é o dia da Sua ressurreição, o dia que Ele instituiu para que lembrássemos dEle. Nos próximos domingos, se Deus permitir, quero considerar algumas coisas sobre Cristo que vemos nas ofertas de Levítico.


Mas permita-me, primeiro, enfatizar que este assunto é muito mais importante do que parece à primeira vista. O que temos em Levítico caps. 1 a 7 são diversos tipos de ofertas e sacrifícios completamente obsoletos. Que eu saiba, nenhum povo, cultura ou religião, em nenhuma parte do mundo, segue este ritual hoje (nem mesmo os próprios judeus). Além disto, o Novo Testamento claramente ensina que Deus não quer mais que pratiquemos nada daquilo que está descrito ali. Então, por que deveríamos estudar esta parte da Bíblia?


Principalmente porque estas ofertas apontam para o sacrifício perfeito de Cristo, que resolveu de uma vez por todas a questão do pecado. E ao meditar nesta parábola viva que Israel encenava dia após dia, ficamos impressionados com a sublimidade do Calvário.


Pense um pouco no ritual religioso de Israel. Sacrifícios avulsos e pessoais existiam desde a primeira geração da raça humana (Gn 4:1-7); mas quando Deus tirou Israel do Egito, Ele institucionalizou esta prática numa intensidade impressionante. Da instituição da Lei até à morte de Cristo passaram-se quase mil seiscentos e cinquenta anos. Durante esta época, houve alguns períodos (durante a época dos reis) em que o povo negligenciou as suas responsabilidades; depois foram levados em cativeiro, e o ritual do Templo cessou por um tempo. Mas mesmo sendo bem conservadores na contagem do tempo, descartando estes períodos em que não houve sacrifícios, certamente sobrarão muito mais do que mil anos em que prevaleceu o ritual levítico; muito mais de mil anos durante os quais, todo dia, eram oferecidos dezenas de sacrifícios, e o fogo do altar nunca se apagava (Lv 6:9-13). Vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, todas as semanas do ano, sem nenhum descanso, o fogo ardia. Milhões de sacrifícios foram oferecidos, e o sangue escorria constantemente à base do altar. E isto por séculos e séculos. E para que? Para prefigurar um único sacrifício — para simbolizar, antecipadamente, a crucificação do Senhor no monte do Calvário.


Pensamos: “Uau! Que sacrifício importante é este, para ser antecipado com tanto cuidado, com tanta repetição!” Sim, sem sombra de dúvida! Se Deus exigiu da nação de Israel tanta coisa, por tanto tempo, para prefigurar a morte expiatória do Senhor Jesus, então vemos a importância do Calvário nos Seus planos eternos.


Mas há ainda outro aspecto. Num certo sentido, estes milhões de sacrifícios eram um só — um holocausto contínuo, representando um só holocausto, a morte de Cristo. Mas observando aquele povo cumprindo o seu ritual, quanta variedade! Vemos um judeu se aproximando com um novilho para oferta pelo pecado: a gordura do animal era queimada sobre o altar, mas o corpo do animal era queimado fora do arraial. Atrás dele vem outro judeu, também com um novilho. Mas este é para um holocausto: o animal inteiro será queimado sobre o altar, acompanhado de uma oferta de alimentos. E logo em seguida um terceiro novilho é trazido: este é uma oferta pacífica. Como o primeiro, só a gordura será queimada no altar; mas o restante não será queimado lá fora do arraial, como o primeiro — será comido numa refeição alegre, em que participam os sacerdotes, o ofertante e sua família. Que variedade! Novilhos, carneiros, cordeiros, bodes, aves, alimentos; uns tratados conforme um ritual, outros de outra; que impressionante variedade, e tudo representando o único sacrifício de Cristo!


Pensamos: “Uau! Que sacrifício sublime é esse, para ser antecipado com tanta riqueza de detalhes!” Sim — um tipo de sacrifício só não conseguiria ilustrar toda a riqueza multifacetada da obra realizada pelo nosso Senhor. Assim Deus instituiu vários sacrifícios diferentes, que foram repetidos milhões de vezes durante mais de mil anos, para tentar nos dar alguma dimensão de quão grande e perfeito foi aquele sacrifício no Calvário.


É assim que queremos nos aproximar destes capítulos: entendendo que cada animal trazido até o altar; cada gota de sangue derramada ali; cada detalhe do ritual associado a cada sacrifício; tudo estava apontando para um evento só: a morte do Senhor Jesus no Calvário. Aquele sacrifício do Cordeiro de Deus é sublime e incomparável — é o ponto alto dos propósitos eternos de Deus!


Que Deus nos ajude a apreciar melhor nosso Salvador, aquele “Cordeiro imaculado e  incontaminado, o qual … foi conhecido ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” (I Pe 1:18-20). No Céu, nosso hino será: “Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças” (Ap 5:12).


Que possamos adorá-lO desde já!





© 2022 W. J. Watterson

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