Friday 6 November 2020

Conversando sobre dor — Meditações 208

Desde o dia 21 de Março de 2020 a igreja local em Pirassununga esteve impossibilitada de reunir normalmente, devido à quarentena decretada no estado de São Paulo. Hoje já podemos reunir (com restrições) — estamos gratos por isso, mas não é o ideal. Durante este período tenho enviado aos irmãos e irmãs da igreja local pequenas mensagens de texto para nosso ânimo mútuo. Estas mensagens estão sendo arquivadas aqui — talvez ajudem mais alguém.

Sexta-feira, 06/11/2020

Conversando sobre dor — Meditações 208

O título desta Meditação poderia indicar algo bom — mas no contexto do Salmo 69, são palavras solenes e tristes:

“Derrama sobre eles a Tua indignação, e prenda-os o ardor da Tua ira … Pois perseguem àquele a quem feriste, e conversam sobre a dor daqueles a quem feriste” (Sl 69:24-26).

A primeira parte desta citação é terrível! O que será ter a indignação de Deus derramada sobre si, e ser preso no ardor da Sua ira? Certamente seria a última coisa que desejaríamos sofrer!

A segunda parte da citação explica um das razões por que as pessoas aqui mencionadas sofrerão tanto: porque “conversam sobre a dor daqueles a quem feriste!”

Quando alguém que nos prejudicou sofre o juízo e disciplina de Deus, uma parte perversa de nós sente-se vingada, e lá no fundo da nossa natureza caída dizemos: “Bem feito! Ele mereceu!”

Que vergonha! Será que percebemos como é terrível aos olhos de Deus alegrar-se no sofrimento alheio, como se fôssemos inocentes?

Será que esquecemos da mensagem solene de Obadias? Um dos menores livros da Bíblia, ele traz uma mensagem clara: quem zomba de quem caiu, cairá também!

Neste livro, Deus diz a Edom:

“Tu não devias olhar com prazer para o dia do teu irmão,
No dia do seu infortúnio,
Nem alegrar-se sobre os filhos de Judá
No dia da sua ruína;
Nem alargar a tua boca,
No dia da angústia;
Nem entrar pela porta do Meu povo
No dia da sua calamidade;
Sim, tu não devias olhar satisfeito o seu mal
No dia da sua calamidade;
Nem lançar mão dos seus bens
No dia da sua calamidade;
Nem parar nas encruzilhadas
Para exterminar os que escapassem;
Nem entregar os que lhes restassem
No dia da sua angústia.”

(Ob vs. 12-14)

Salomão também avisa sobre isto:

“Quando cair o teu inimigo,
Não te alegres,
Nem se regozije o teu coração
Quando ele tropeçar;
Para que, vendo-o o Senhor,
Seja isso mau aos Seus olhos”
(Pv 24:17-18).

Veja o contraste com Jó. No seu último discurso, quando declarava sua inocência, ele lista as coisas que nunca fez, incluindo: “Se me alegrei da desgraça do que me tem ódio, e se exultei quando o mal o atingiu” (31:29)

Acima de tudo, temos o exemplo do nosso bendito Salvador em Lucas 19:35-44. Montado sobre um jumentinho (cumprindo a profecia de Zacarias 9:9), Ele “chegava perto da descida do Monte das Oliveiras”. Dizem que ao passar por uma curva daquela estrada, Jerusalém, antes escondida pelo Monte, de repente era vista em toda a sua glória. Vendo esta cena impressionante, “toda a multidão dos discípulos, regozijando-se, começou a dar louvores a Deus”; mas o Senhor Jesus começou a chorar! E então Ele descreve o juízo terrível que Jerusalém sofreria — um juízo certamente merecido, mas ainda assim, doloroso!

Que Deus nos ajude a nunca mais conversarmos sobre a dor daqueles a quem o Senhor feriu! Não importa se a pessoa mereceu ou não — a verdade é que eu mereço muito pior!


© 2020 W. J. Watterson

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