Domingo, 01/11/2020
Derramar da alma — Meditações 203
Nos últimos seis versos do último Cântico do Servo (Is 53:12) vemos a vitória completa do Servo, e “o preço amargo da paz perene que Ele nos deixou”.O primeiro dístico diz:
Por isso lhe darei a parte de muitos,
E aos poderosos dará Ele o despojo;
Como o Salmo 2 profetizou, Ele receberá as nações por herança, e as extremidades da Terra por Sua possessão, e repartirá isto conforme Ele desejar. A ideia não é que Ele e outros poderosos repartirão entre si o despojo, mas sim que Ele, sozinho, repartirá entre muitos aquilo que Ele, também sozinho, conquistou. Assim como Davi, que certa vez enviou dos despojos da guerra para os anciãos em Judá, dizendo: “Eis aí para vós uma bênção do despojo dos inimigos do Senhor” (I Sm 30:26).
É disto que o Senhor falou em Lucas 11:22: “Sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos”. Naquele contexto Satanás é identificado com o “valente”, e o Senhor Jesus é o “mais valente”. Como Hebreus 2:14-15 mostra, os homens estavam sujeitos à escravidão debaixo daquele que tinha o império da morte, o diabo — mas, ao morrer, nosso Senhor aniquilou este inimigo, e as almas que se submetem a Ele são libertadas deste jugo terrível. Elas são o Seu despojo, que Ele tem prazer em repartir conforme os Seus propósitos eternos. Alguns Ele dá à Igreja, outros a Israel, alguns a outros grupos de salvos, uns com maior autoridade no reino eterno, outros menos. Ele, o vitorioso na batalha, decide como cada um será tratado.
Em seguida, quatro versos apresentam quatro razões pelas quais Ele é digno de receber e repartir tão grande despojo:
Porquanto derramou a Sua alma na morte,
E foi contado com os transgressores;
Mas Ele levou sobre Si o pecado de muitos,
E intercedeu pelos transgressores.
É interessante comparar estes quatro versos com os dois bodes do Dia da Expiação (veja Levítico cap. 16), o único dia do ano em que o sumo-sacerdote podia entrar no Santo dos Santos. Naquele dia havia um ritual único, bem diferente: dois bodes eram escolhidos, cada um representando um aspecto da obra de Cristo. Ambos os bodes eram para fazer expiação — um deles era morto, e seu sangue levado para dentro do véu, e o outro era apresentado “vivo perante o Senhor, para fazer expiação com ele, a fim de enviá-lo ao deserto como bode emissário” (Lv 16:10).
Quando pensamos no bode que era sacrificado, estamos olhando para os primeiros dois versos acima: o Servo perfeito “derramou a Sua alma na morte, e foi contado com os transgressores”. Que expressão sublime: Ele derramou a Sua alma na morte! Com que dedicação e intensidade Ele Se ofereceu sobre o altar!
Quando pensamos no bode emissário sendo levado vivo ao deserto, estamos olhando para os últimos dois versos. As palavras aqui em Isaías são quase idênticas às de Levítico 16. Lá lemos: “Assim aquele bode levará sobre si todas as iniquidades deles à terra solitária” (v. 22) — Isaías escreve: “Mas Ele levou sobre Si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores”.
Há muito mais aqui — mas creio que deveríamos encerrar esta longa série sobre os Cânticos do Servo (começada 16 domingos atrás) com uma pequena conclusão.
Séculos antes dos fatos acontecerem, Deus revelou ao Seu servo Isaías detalhes sobre o verdadeiro e perfeito Servo de Deus, nosso amado Senhor e Salvador.
Aprendemos que Ele, quando viesse, viria de forma mansa e misericordiosa para estabelecer justiça (1º Cântico; 42:1-7). Apesar de ser desprezado e rejeitado, Ele traria também a salvação de Deus até as extremidades da Terra (2º Cântico; 49:5-10).
Fazer isto não seria fácil — haveria muito sofrimento envolvido nesta obra, mas o Servo perfeito suportaria tudo com firmeza, força e fidelidade (3º Cântico; 50:4-10). E quando tudo estivesse consumado, então seria revelado o segredo que, na eternidade eterna, brotou no coração de Deus, e que foi revelado plenamente no Calvário — o sofrimento do Servo seria o meio usado por Deus para apagar os nossos pecados (4º Cântico; 52:13 a 53-1).
A alegria evidente na apresentação do Servo no cap. 42 é agora explicada. O Servo desprezado e considerado com um dos malfeitores é, na realidade, o único Salvador. Venceu a morte e o pecado, e pode salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus. Um Servo submisso, sustentador, sofredor e salvador — um Servo perfeito, “feito mais sublime do que os Céus” (Hb 7:27).
“Eis o Meu Servo”, disse o Senhor no início destes Cânticos. Que possamos contemplá-lO cada vez mais, conhecê-lO cada vez melhor, e adorá-lO cada vez com mais discernimento!
Amém!
© 2020 W. J. Watterson
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