Tuesday 10 November 2020

O Jordão — Meditações 212

Desde o dia 21 de Março de 2020 a igreja local em Pirassununga esteve impossibilitada de reunir normalmente, devido à quarentena decretada no estado de São Paulo. Hoje já podemos reunir (com restrições) — estamos gratos por isso, mas não é o ideal. Durante este período tenho enviado aos irmãos e irmãs da igreja local pequenas mensagens de texto para nosso ânimo mútuo. Estas mensagens estão sendo arquivadas aqui — talvez ajudem mais alguém.

Terça-feira, 10/11/2020

O Jordão — Meditações 212

O pequeno Simão havia brincado bastante entre as ovelhas, e agora, cansado, veio sentar-se ao lado do pai, à sombra de uma árvore. Normalmente ele ficava em casa com a mãe, mas neste dia tivera o privilégio de acompanhar seu pai, que apascentava o pequeno rebanho da família no alto de um monte. Lá em baixo, o rio Jordão seguia lentamente seu caminho, correndo sempre sem jamais sair do lugar.

Encostando a cabeça no braço do pai, o garoto seguiu o olhar dele e viu um grupo de pessoas às margens do rio, bem longe. Perguntou ao pai: “Aquele lá é João Ben Zacarias de novo?”

Fazia uns minutos que o pastor olhava para aquele grupo. Estavam muito longe para se ouvir o que diziam, mas ele conhecia bem o homem que entrava no rio de vez em quando e batizava alguém.

“Sim, filho, é João, o Batista.”

Continuaram olhando em silêncio enquanto alguém era batizado. Depois o garoto disse: “Pai, ontem, lá em casa, quando o senhor contou pra gente que foi batizado por João, o senhor quase chorou quando disse que o Jordão era um lugar com história! O que o senhor quis dizer?”

O pai sorriu para o filho, e gastou os próximos minutos falando, com muita satisfação, sobre a história do Jordão. Contou sobre o dia memorável em que o rio se abriu para permitir a passagem do povo de Israel sob o comando de Josué, antes de conquistarem Jericó. Falou da semelhança entre este evento e o dia glorioso quando Elias foi arrebatado ao Céu, sem morrer — naquele dia Elias e Eliseu também atravessaram o rio a seco (II Rs 2).

Além das secas do Jordão, ele contou também sobre as águas daquele rio, e do grande Naamã, capitão do exército do Rei da Síria, banhando-se no Jordão e sendo curado da sua lepra (II Rs 5).

“Naamã achava”, ele disse ao filho, “Que os rios de Damasco eram maiores e melhores do que o Jordão — mas ele esqueceu que o Deus dos Céus manifestou a Sua presença aqui, não lá na Síria. E isso fez toda a diferença. Por isso acho tão adequado que João esteja batizando neste grande rio. Sempre que olho o Jordão lembro desta história que ele tem, e isto me anima a continuar confiando em Deus. Sabe, filho, não podemos viver no passado — mas também não podemos esquecer dele! Lembrar do que Deus já fez nos anima muito no presente. No último sábado, lá na sinagoga, leram o Salmo 103, que diz para não esquecermos de nenhum dos benefícios do Senhor. É importante lembrar das vitórias do passado”.

De repente, o garoto exclamou: “Olha, pai, vem mais alguém!”

Os dois continuaram olhando lá do alto enquanto um homem, vestido com as roupas simples da classe trabalhadora, aproximou-se do grupo, e começou a conversar com João. Não dava para ouvir a conversa, mas o garoto, esperto e atento, percebeu que alguma coisa estava errada.

“Pai, parece que João não quer batizar este homem!”

O pai percebera também, mas não entendia o motivo. Ficaram os dois olhando, curiosos, tentando imaginar o que estaria acontecendo.

Mas logo viram os dois entrando na água, e respiraram aliviados enquanto João batizava o récem-chegado.

Acabado o batismo, o Desconhecido curvou a cabeça, num claro sinal de que orava.

O pastor sentia-se preso àquela cena, de uma forma que não sabia explicar. Ele vira muita gente sendo batizada — mas esse, parecia diferente. A atitude de João para com ele, a atitude do Desconhecido mesmo, sua oração após o batismo — alguma coisa prendia a atenção do pastor àquela cena.

Novamente ele foi despertado pelo grito animado do seu filho: “Pai, uma pomba! Olha, pai! Ela vai pousar bem na cabeça daquele homem!”

Que cena linda! A pomba realmente desceu e pousou sobre a cabeça do Homem que acabara de ser batizado. Mas antes que pudessem entender o que isto significava, ouviram um barulho diferente. Parecia um trovão, mas não era tão assustador. Não parecia excessivamente alto, mas era bem definido e claro. Parecia que vinha de longe, mas ao mesmo tempo, parecia que alguém falava bem no ouvido deles! E ouviram, com toda clareza, as seguintes palavras: 
 “Este é o Meu Filho amado, em quem tenho todo o Meu prazer!”

O garoto virou, assustado, para o pai, e viu lágrimas nos olhos dele. Sussurrou: “Que foi isso, pai?”

O pastor abraçou seu filho, e, com a voz trêmula de emoção contida, sussurrou no ouvido dele: “É o Messias, meu filho! Ele veio, como havia prometido vir! Finalmente Ele veio!”

Sim, era o Messias — Ele viera! O garotinho judeu acabara de presenciar o maior evento da grande História do Jordão — o Criador, humilde e submisso ao Pai, sendo batizado pela criatura!

“Sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade” (I Tm 3:16).


© 2020 W. J. Watterson

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