Sunday 8 November 2020

O Homem perfeito — Meditações 210

Desde o dia 21 de Março de 2020 a igreja local em Pirassununga esteve impossibilitada de reunir normalmente, devido à quarentena decretada no estado de São Paulo. Hoje já podemos reunir (com restrições) — estamos gratos por isso, mas não é o ideal. Durante este período tenho enviado aos irmãos e irmãs da igreja local pequenas mensagens de texto para nosso ânimo mútuo. Estas mensagens estão sendo arquivadas aqui — talvez ajudem mais alguém.

Domingo, 08/11/2020

O Homem perfeito — Meditações 210

A Bíblia fala de muitos mistérios, dois dos quais são descritos como “grande”: o mistério do relacionamento entre Cristo e Sua Igreja (Ef 5:32) e o “mistério da piedade: Deus Se manifestou em carne” (I Tm 3:16). (“Mistério” no NT não é algo misterioso; é algo revelado, mas que nunca teríamos descoberto se Deus não revelasse).

O relacionamento entre Cristo e Sua Igreja é, realmente, algo sublime; mas da Encarnação, lemos: “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus Se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória” (I Tm 3:16).

Isto é, deve haver consenso entre os cristãos quanto à sublimidade da Encarnação. Alguns podem maravilhar-se diante do mistério da Igreja, outros diante do mistério da fé — mas, sem dúvida alguma, todos temos que concordar que o mistério maior é a encarnação: Deus foi manifesto em carne. Alguém disse deste versículo: “Deus — não há nada mais glorioso; carne — não há nada mais humilde; Deus manifesto em carne — não há nada mais maravilhoso”.

Jesus de Nazaré não era apenas um homem como os outros; Ele é Deus! E não simplesmente “Deus manifesto num corpo”, mas “Deus manifesto em carne” — assumindo a natureza humana sem deixar de ser Deus! Ele não era metade Deus, e metade homem, mas era verdadeira e plenamente Deus, e verdadeira e plenamente homem!

Como entender este mistério? Impossível. Podemos apenas ficar com o que a Bíblia nos diz: Ele não é um Homem com traços divinos, nem um Deus com traços humanos; Ele é Deus manifesto em carne, Emanuel, “Deus conosco” (Mt 1:23).

Uma forma de apreciar melhor este assunto é destacar aquilo que torna a humanidade dEle única. Se concentramos demais na Sua humanidade podemos pensar que ele foi apenas um homem — mas a Bíblia destaca a singularidade da Sua humanidade na forma com Ele nasceu, viveu, morreu e ressuscitou.

Seu nascimento

Quando Maria recebeu do anjo a promessa do nascimento do Messias, sua pergunta foi: “Como se fará isto, visto que não conheço homem algum?” (Lc 1:34). A resposta do anjo é importante: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1:35). O próprio Espírito relata, através de Mateus: “Maria … achou-se ter concebido do Espírito Santo” (Mt 1:18). E o anjo disse a José: “…o que nela está gerado é do Espírito Santo” (Mt 1:20).

O nascimento do Senhor Jesus foi diferente de qualquer outro. Como nós Ele é um homem, mas Ele não foi gerado de um homem e uma mulher. No Seu caso, uma mulher concebeu pelo poder do Espírito Santo. Em cada nascimento, cria-se uma nova pessoa, uma nova personalidade. No caso do Senhor Jesus, criou-se um novo corpo onde habitaria o Criador dos Céus e da Terra.

Sua vida

Em tudo aquilo que está registrado sobre a vida do Senhor Jesus, percebemos que Ele era diferente dos demais. Sua vida foi, na realidade, um mistério divino. Em Marcos 4:35-41, vemos o cansaço de um Homem em contraste com o poder de Deus sobre a tempestade. Em João 11, vemos a tristeza do Amigo de Lázaro, e o poder do Filho de Deus ao ressuscitá-lo.

Nunca podemos esquecer que, se o Senhor Jesus tornou-Se homem, Ele jamais deixou de ser Deus. Foi enquanto estava neste corpo que Ele podia dizer: “Eu e o Pai somos um” (João 10:30). Vemos Seu poder sobre as forças da natureza, sobre as doenças, sobre a morte, sobre os demônios. Este não era um homem qualquer; este era Deus manifesto em carne.

Sua morte

Ninguém nasceu como Cristo nasceu; ninguém viveu como Ele viveu; ninguém morreu como Ele morreu! A cruz demonstra Seu amor e misericórdia, Sua compaixão, Seu poder. Quando Ele morreu, tantos foram afetados:

  • O homem que comandou Sua crucificação teve que confessar: “Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus” (Mc 15:39).
  • Um dos que foram crucificados com Ele, um malfeitor, reconheceu ser Ele Senhor e Rei (Lc 23:42).
  • A própria natureza se manifestou. O Sol se escondeu na hora de sua maior força. A Terra tremeu, fenderam-se as rochas, e abriram-se os sepulcros (Mt 27:51-52).

Ninguém morreu como Cristo morreu.

Sua ressurreição

Ele é o único que passou pela morte e saiu vitorioso. Muitos outros já morreram e foram ressuscitados, mas pelo poder de outro. E ressuscitaram para morrer novamente. Nós, no futuro, ressuscitaremos para nunca mais morrer, mas não será pelo nosso poder. Cristo, porém, ressurgiu e vive para sempre, e ressurgiu pelo Seu próprio poder. Ninguém mais podia dizer: “Dou a Minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de Mim, mas Eu de Mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la” (Jo 10:17-18).

Igual, mas diferente

Convém nunca esquecermos deste fato. O Senhor Jesus Cristo é um homem, assim como nós somos homens. Ele tomou um corpo idêntico ao nosso, um corpo que se cansava, que tinha fome, sede, e sentia dor. Mas por dentro deste corpo não habita um ser humano como eu e você; por dentro deste corpo habita o Deus eterno. Ele foi tentado “sem pecado” (Hb 4:15). Nunca houve nEle a natureza que pudesse ser atraída pelo pecado. Ele veio a este mundo como um homem; mas em cada passo que Ele deu aqui na Terra, desde o ventre de Maria até a ascensão em Betânia, em cada passo nós vemos Deus andando entre nós. Lembre da alegria de João Batista, ainda no ventre de Isabel, ao estar na presença do Senhor, ainda no ventre de Maria (Lc 1:41).

Não podemos esquecer que Ele era Deus habitando no meio dos homens. Os poucos que reconheceram a Sua divindade, tiveram todo o prazer em tratá-Lo como Deus, como Senhor e Mestre. Os muitos que viam nEle apenas um carpinteiro nunca puderam ter verdadeira comunhão com Ele.

Verdadeiramente homem — mas não simplesmente homem! Que possamos adorar e respeitar este grande mistério da piedade!


© 2020 W. J. Watterson

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