Monday 18 January 2021

Vale de ossos — Meditações 281

Meditações na quarentena (2020/21) enviadas diariamente aos irmãos e irmãs da igreja local em Pirassununga para nosso ânimo mútuo. Estão sendo arquivadas aqui na esperança que talvez ajudem mais alguém.

Segunda-feira, 18/01/2021

Vale de ossos — Meditações 281

Em Ezequiel cap. 37 temos uma das visões mais impressionantes das muitas que estão naquele livro: um vale de ossos secos se transforma num “exército grande em extremo”. A visão pode ser analisada em três partes (só menciono a primeira abaixo):

A preparação

Deus “fez sair” a Ezequiel, e o colocou no meio de um ambiente escolhido e preparado pelo Senhor. O texto destaca quatro detalhes deprimentes sobre o que Ezequiel viu ao seu redor:

a) Um vale — figurativamente fala de lugares mais baixos, situações menos favorecidas e menos alegres.

b) Cheio de ossos — o último sinal de que um dia houve vida. Não são feridos, nem mortos — nem mesmo esqueletos — apenas ossos espalhados sobre a face do vale.

c) Muitos — Deus fez Ezequiel passar em volta deles, e assim Ezequiel percebeu que “eram mui numerosos”. A situação parece que se torna mais deprimente a cada minuto!

d) Sequíssimos. Ainda havia um último detalhe desanimador: Ezequiel viu que os muitos ossos estavam “sequíssimos”.

Juntando estes quatro detalhes, que figura deprimente é colocada diante de nós: num vale escuro e sombrio, a única coisa que se vê são ossos. Não feridos agonizando e morrendo, nem cadáveres frescos, nem mortos de quatro dias cheirando mal (como Lázaro), nem mesmo esqueletos inteiros. Tudo isto seria terrivelmente deprimente, mas o que Ezequiel vê é muito pior: apenas um monte de ossos espalhados. Passando os olhos pelo vale, vemos que os ossos são “mui numerosos”; olhando mais de perto, nossos corações perdem toda a esperança: os ossos estão “mui secos”! O último resquício de vida se foi!

É difícil imaginar circunstâncias mais deprimentes do que estas. Se reclamamos do que vemos ao nosso redor, lembremos do vale de ossos secos. A situação na nossa vida, na nossa família, na nossa igreja, pode ser desanimadora, mas certamente não é tão desanimadora quanto a que Deus revelou a Ezequiel.

Deus então pergunta: “Filho do homem, porventura viverão estes ossos?” Lembre que foi Deus que trouxe Ezequiel até aqui, e é Ele que está agindo na vida do Seu servo. A resposta de Ezequiel, ao mesmo tempo em que mostra a fé do profeta, revela a sua ignorância do que Deus iria fazer: “Senhor Deus, Tu o sabes”. Mesmo sem saber o que Deus iria fazer, Ezequiel entendeu, pelo menos, que o Senhor tinha algo planejado. Ezequiel não fora trazido até este vale à toa; Deus tinha um propósito, e Deus iria cumpri-lo. Ezequiel não sabia qual era o propósito, mas ele sabia que Deus sabia!

Devemos aplicar isto às nossas vidas. Muitas vezes nos encontramos em vales sombrios e desanimadores. Olhamos ao redor e não vemos esperança nenhuma — nenhum sinal de vida, apenas um monte de ossos secos. Nestas situações, geralmente perguntamos a Deus: “Senhor Deus, quando é que tudo isso vai acabar? Quando é que posso voltar a ver o Sol brilhar novamente, e andar pelos pastos verdejantes até chegar às águas tranquilas? Quando, Senhor?”

É natural agirmos assim; mas seria muito melhor se esperássemos o Senhor falar conosco. Seria muito melhor se lembrássemos que Ele não nos trouxe aqui à toa, mas com um propósito específico em mente. Ao invés de procurarmos a saída de emergência, seria melhor nos aquietarmos, e esperarmos para ouvir o que Ele tem a dizer.

Em outras palavras: nossa tendência, em situações difíceis, é procurar um escape, tentar achar um meio de escapar daquele vale o mais rápido possível. É muito melhor entendermos que Deus nos trouxe até este lugar, e se foi assim, foi para nos ensinar algo, e nos usar para a Sua vontade. A atitude mais sábia a tomar numa situação destas é reconhecer que nós não sabemos o que irá acontecer, mas Deus sabe.

Quando não vejo saída, preciso lembrar que Deus está agindo naquela situação. “Em qualquer tempo em que eu temer, confiarei em Ti” (Sl 56:3).


© 2021 W. J. Watterson

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