Friday 23 April 2021

Jacó e Peniel — Meditações 376

Meditações na quarentena (2020/21) enviadas diariamente aos irmãos e irmãs da igreja local em Pirassununga para nosso ânimo mútuo (arquivadas neste blog).

Sexta-feira, 23/04/2021

Jacó e Peniel — Meditações 376

Peniel (Gn 32:22-32) é um lugar único na vida de Jacó. Nos outros dois lugares que temos considerado (Betel e Berseba), o Senhor encontrou com Jacó para animá-lo, mas em Peniel foi para quebrá-lo. Naquelas outras duas ocasiões Jacó estava no meio de viagens feitas por iniciativa de outros (respectivamente, seus pais e José), mas em Peniel ele estava no meio de uma viagem feita por ordem direta do Senhor (31:3). 

Este é o lugar central na vida de Jacó, e Deus nos mostra isso admiravelmente na Sua Palavra. Colocando numa lista todos os lugares pelos quais Jacó passou (mencionados na Bíblia), veremos que Peniel está exatamente no meio. Deus propositadamente escolheu mencionar dez lugares por onde Jacó passou antes de Peniel, e outros dez por onde ele passou depois de Peniel, para reforçar e importância deste lugar na vida de Jacó.

A experiência de Peniel foi impressionante e misteriosa. Muitos dos seus detalhes são ainda obscuros para mim, mas as lições principais são preciosas. A chave para entender este acontecimento é lembrar que trata-se de um encontro de Deus com Jacó, e não de Jacó com Deus. Quero dizer, em Peniel não foi Jacó que lutou com Deus porque queria algo de Deus, mas o Senhor que lutou com Jacó porque queria mudá-lo. A experiência de Jacó não ilustra a nossa perseverança em oração (é uma aplicação válida, mas não a interpretação do trecho), mas ilustra o interesse do Senhor em “quebrar” e mudar aqueles servos que estão prontos a servi-Lo.

Jacó queria servir a Deus. Chamado para voltar para a terra prometida, ele obedeceu (apesar do seu medo e angústia — 32:7, 11). O Senhor o chamou, e ele estava pronto a obedecer — mas antes o Senhor precisava mudar algumas coisas em Jacó.

O Senhor lutou com ele até quase o romper do dia. Quanta perplexidade deve ter surgido no coração de Jacó! “Mas quem é que está lutando comigo? Será um ladrão? Um enviado de Esaú? E o que ele quer comigo?” Lutando pela sua vida, sem saber direito por que, Jacó de repente entendeu tudo. O seu Oponente tocou na juntura da sua coxa, e instantaneamente Jacó estava derrotado.

Naquele instante Jacó percebeu que estava lutando com Deus, e não com um mero homem. E então ele começou a clamar pela bênção.

Deus estava disposto a abençoar Jacó, mas antes a lição precisava ser completada. “Qual é o teu nome?” Eu imagino que, ao ouvir estas palavras, Jacó se lembraria, envergonhado, das mentiras que provocaram a sua fuga para Harã, e o temor que ainda naquele dia, vinte anos depois, ele sentia de Esaú. Uma vez (quanto tempo atrás!) seu pai, cego, lhe perguntara: “Quem és tu, meu filho?” E Jacó havia mentido descaradamente: “Eu sou Esaú, teu primogênito”. Isaque ainda hesitou: “És tu meu filho Esaú mesmo?” E a mentira foi repetida: “Eu sou”.

“Qual é o teu nome?”, o Senhor lhe perguntou agora. Desta vez ele confessa: “Jacó — o trapaceiro” (esse é o significado do seu nome). Ao que Deus lhe responde: “Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois foste um príncipe com Deus e com os homens, e prevaleceste”. Não mais um enganador astuto (o significado de “Jacó”), mas agora um príncipe com Deus (o significado de “Israel”).

E só depois disto é que Deus o abençoou — a primeira vez que lemos de Jacó sendo abençoado por Deus.

A lição que o Senhor queria ensinar a Jacó é que ele deveria confiar no Senhor, e não em si mesmo. Deus lhe mostrou, em Peniel, toda a fraqueza de Jacó e toda a força do Senhor, e mostrou que Jacó seria agora um homem diferente — não mais Jacó, mas Israel.

A lição para nós é simples mas profunda. Se eu quero ser usado por Deus, preciso entender que eu sou fraco, mas Ele é forte. Preciso entender que Deus pode me dar, gratuitamente, tudo aquilo que eu nunca conseguiria conquistar, mesmo que usasse de mentiras e artimanhas. Enquanto Deus não quebrar o meu orgulho e me levar a confiar somente nEle, meu serviço para Ele será muito limitado e imperfeito.

Peniel talvez não seja o lugar mais agradável na experiência do salvo — mas, depois do Calvário, não sei se há lugar mais importante!

Que possamos aprender a dizer: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (II Co 12:10).


© 2021 W. J. Watterson

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