Saturday 7 May 2022

A Si mesmo

Os persas contam uma história interessante envolvendo um de seus imperadores. Sendo um homem muito sábio e bondoso, ele costumava se disfarçar de um pobre mendigo e passar tempo com seus súditos, procurando conhecer melhor, no anonimato, as condições em que eles viviam.


Nestas suas aventuras, ele conheceu um pobre velho que era responsável por manter acesa a fornalha que alimentava o sistema de aquecimento do palácio do imperador. Na primeira vez que o imperador desceu até o porão isolado onde o velho trabalhava, ficou chocado com as circunstâncias tão opressivas daquele ambiente quente e esfumaçado. Passou um bom tempo conversando com o velho, sem revelar sua identidade. Na hora do “almoço”, o velho insistiu com seu novo amigo para repartir a simples refeição — um pedaço de pão duro e um pouco de chá. Após comerem, o imperador despediu-se e foi embora.


Pouco dias depois voltou — sentia-se comovido com a situação do velho, e decidiu que iria ajudá-lo, assim que conhecesse melhor as suas necessidades. E assim continuou visitando o velho, passando tempo com ele naquele ambiente terrível, conversando e comendo juntos.


Até que um dia o imperador revelou sua verdadeira identidade ao velho, e disse: “Eu sou seu imperador. Fiquei comovido com sua situação, e quero ajudá-lo. O que você deseja?”


O velho, atônito e comovido, não conseguiu conter as lágrimas. Quando se recompôs, disse: “Meu senhor, eu não quero nada! Na verdade, não há mais nada que o senhor possa fazer por mim. O senhor já me deu aquilo que é mais precioso — o senhor se deu a si mesmo! Passando tempo comigo, comendo a minha comida, o senhor me enobreceu acima do que eu poderia sonhar. Tendo toda a riqueza da Pérsia ao seu dispor, o senhor perdeu tempo vindo conversar comigo! Que mais eu poderia querer?”


Não sei se a história é verdade ou lenda — mas ela ilustra uma verdade incomparavelmente mais preciosa. Ela nos faz lembrar do Criador dos Céus e da Terra, e da Sua condescendência. O Céu é o Seu trono, e a Terra é o escabelo [apoio para os pés] dos Seus pés (Is 66:1) — mas Ele dormiu numa manjedoura! Todos os anjos de Deus O servem e adoram (Hb 1:6) — mas Ele veio construir camas, cadeiras e mesas numa carpintaria na rude Nazaré! Ele é santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores (Hb 7:26) — mas permitiu que estes O pregassem numa horrível cruz! Ele deixou a glória dos Céus e veio “buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19:10).


“O Filho de Deus me amou, e a Si mesmo Se entregou por Mim” (Gl 2:20). Que mais poderíamos querer dEle?


Paulo considerou como refugo tudo que lhe era mais precioso “por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor” (Fp 3:8). Ah, quem me dera medir as coisas desta forma. Quem me dera poder dizer: “Senhor, que mais posso pedir de Ti? Tu já me deste o que é mais valioso — Tu já Te deste a Ti mesmo por mim! Se eu tenho a Ti, que mais eu poderia querer?”


“Rica verdade, Jesus é meu!

Crucificado por mim morreu.

Já ressurgido, junto com Deus,

Vive por mim na glória dos Céus”

(H. e C. 352)


“Quem tenho eu no Céu senão a Ti? E na Terra não há quem eu deseje além de Ti” (Sl 73:25).


(baseado em Meditações nº 22, 03/05/2020)





© 2022 W. J. Watterson

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