Sunday 22 May 2022

Oferta pelo pecado

Olhando para a oferta pelo pecado do sacerdote e da congregação (Lv 4:1-21), dois detalhes no ritual chamam nossa atenção: o sangue do novilho era levado para dentro do santuário, e o corpo era queimado fora do arraial, e não sobre o altar do Tabernáculo.


O sangue desta oferta era levado para dentro do santuário e aspergido sete vezes no véu, além de ser colocado nas pontas do altar de incenso, mostrando que o animal sacrificado havia sido aceito  no santuário — o caminho até a presença de Deus, interrompido pelo pecado, agora estava (figurativamente) aberto novamente. O sangue era um testemunho de que uma vida fora dada pelo pecado, e que o sacrifício foi eficaz não só lá fora, mas também na presença de Deus — dentro do Santuário!


A realidade que este ato prefigurava é sublime: nosso Senhor Jesus Cristo, “por Seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção” (Hb 9:12).  Que sacrifício perfeito! Aquele que Se ofereceu como expiação pelos nossos pecados entrou no próprio santuário celestial, garantindo assim que somos aceitos perante Deus!


Mas além do lado sublime, havia um lado solene: o corpo do animal era queimado fora do arraial — no lugar que era reservado para a execução dos criminosos (24:14), para enterrar os mortos (10:4), e para morada do leproso (13:46)! Isto se cumpriu no Calvário: “Por isso também Jesus, para santificar o povo pelo Seu próprio sangue, padeceu fora da porta” (Hb 13:12).


Eis o mistério da oferta pelo pecado: no seu sentido mais elevado, era necessário que a vítima fosse absolutamente perfeita — mas era necessário também que ela fosse tratada como se não tivesse valor nenhum! Uma vítima “quase perfeita” não nos salvaria — da mesma forma, uma condenação “quase completa” seria inútil.


Pense nisto. Quantas vezes já nos pegamos pensando que Deus deve ter aliviado a Sua mão de juízo por amor ao Seu Filho — pensamos: “O castigo no Calvário deveria ter sido maior, mas Deus teve pena”! Não, irmãos, não foi assim. A Bíblia afirma: “Àquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós” (II Co 5:21). Paulo disse, logo antes destas palavras, que Deus não imputou os pecados do mundo — isto é, não cobrou de nós os nossos pecados. Para onde foram estes pecados? Sumiram? Impossível — a justiça de Deus não o permite! Então para onde foram? Foram todos lançados sobre Ele (Is 53:6), e Deus precisou tratar com Ele como trataria com o pecado! O cálice precisava ser esgotado até a última gota — se uma gota ficasse para trás, a justiça de Deus estaria comprometida. Quem pode medir estas coisas?


Temos uma confirmação disto no uso da palavra “queimar”. Até chegarmos à descrição da oferta pelo pecado sendo queimada fora do arraial, todas as ocorrências do verbo “queimar” em Levítico são a tradução duma mesma palavra hebraica: qatar. Ela é usada quatro vezes do holocausto, três vezes da oferta de alimentos, e três vezes da oferta pacífica. A primeira ocorrência de “queimar” na oferta pelo pecado (4:10, quando descreve a gordura queimada sobre o altar) é a tradução desta mesma palavra. Mas quando lemos em 4:12: “… o novilho todo levará fora do arraial … e o queimará com fogo sobre a lenha; onde se lança a cinza se queimará”, estas duas ocorrências do verbo “queimar” são a tradução de uma palavra hebraica diferente, cuja primeira ocorrência em Levítico é aqui. Esta palavra (usada duas vezes no v. 12 e mais duas vezes no v. 21) é derivada da palavra “ardente” usada das serpentes ardentes em Números 21. Se a primeira palavra enfatiza a fumaça do incenso queimando, esta segunda enfatiza o arder das chamas, o calor terrível e insuportável de uma fornalha! E foi isso que Cristo suportou quando fez-Se a oferta pelo nosso pecado!


Sua oferta pelo pecado foi um sacrifício perfeito — mas, ah! Quanto custou para o meu Salvador






© 2022 W. J. Watterson

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