Sábado, 03/10/2020
Conversando com Maria — Meditações 174
“E todos se maravilharam do que os pastores lhes diziam. Mas Maria guardava todas estas coisas, conferindo-as em seu coração ... E desceu com eles, e foi para Nazaré, e era-lhes sujeito. E Sua mãe guardava no seu coração todas estas coisas” (Lc 2:18-51).
Ninguém conhece uma criança como sua mãe. Ela o carregou por nove meses no ventre, e costuma dedicar-se em tempo integral a cuidar do bebê, apreciando cada gesto, cada detalhe daquela pequena criatura que depende dela para tudo.
Por isso, pense em como seria maravilhoso encontrar com Maria! Ela viu coisas que ninguém mais na Terra viu, passou mais tempo com Ele do que qualquer outro ser humano, e “guardava no seu coração” tanta coisa sobre Ele — ah, como seria precioso conversar com ela!
Já pensou ser um cristão recém-convertido nos primeiros anos da Igreja?
Quem sabe, ao visitar Jerusalém pela primeira vez, iríamos procurar os irmãos no domingo. Ao final da reunião (talvez alguém orou sobre a glória da manjedoura), nós comentaríamos com um dos irmãos mais velhos: “Eu gostaria muito de conhecer o local onde meu Senhor nasceu!”
“Por que você não pergunta para aquela irmã sentada lá na frente? Aquela que está com lágrimas nos olhos.”
Ao nos aproximarmos dela e manifestar nosso desejo, quem sabe ela diria: “É bem perto daqui — se quiserem ir agora, eu levo vocês com prazer!”
E assim, com corações curiosos e esperançosos, rapidamente cobriríamos os menos de 10 km até Belém.
Logo na chegada à cidade, a irmã que nos guia poderia apontar a estalagem (uma construção de pedra sem muitos atrativos) e nos levar para uma pequena caverna (só um buraco na rocha que é comum em Belém) onde os animais dos hóspedes da estalagem eram guardados. Naquela noite da nossa suposta visita, o chão estaria forrado de feno e palha, como de costume, para alimento e descanso dos animais.
Parada à porta da pequena caverna, nossa guia talvez se perdesse em seus pensamentos — e nós, obviamente, não iríamos interromper seu silêncio. Quem sabe ela vinha muito aqui; talvez ela era natural de Belém e conheceu José e Maria! Na dúvida, respeitaríamos os sentimentos dela.
Depois de alguns minutos em silêncio, provavelmente ela se lembraria de nós, e, um pouco envergonhada, diria: “Desculpa! Sempre que venho aqui fico lembrando do que aconteceu!”
E, com lágrimas nas faces e a voz carregada de emoção, ela diria: “Foi bem ali, naquele canto, que eu O segurei nos braços pela primeira vez!”
Espantados, diríamos: “A senhora é Maria, a mãe dEle!”
“Sim — apenas uma serva dEle, e das mais indignas. Mas uma mulher extremamente privilegiada. Sabe, eu sofri muito preconceito, e fui julgada por muitas pessoas — acharam que eu engravidei antes de casar. Foi complicado. Mas sentada ali no chão e segurando Ele nos braços, ouvindo as palavras maravilhosas que os pastores contaram sobre a visita dos anjos, e lembrando o que o anjo Gabriel me disse quando avisou do nascimento dEle, eu senti que tudo valeu à pena. Eu teria alegremente sofrido cem vezes mais desprezo para ter o privilégio de vê-lO dormindo nos meus braços aquela noite! E tantas outras memórias, é claro.”
Olhando para o local tão humilde, exposto aos elementos e ao olhar de qualquer um, o ar impregnado com o cheiro de urina e fezes dos animais, sem nenhum conforto ou privacidade, certamente algumas lágrimas de gratidão escorreriam pelas nossas faces.
A voz suave de Maria talvez nos despertasse desses pensamentos: “Ele poderia ter nascido no melhor palácio do mundo, e ainda seria um local indigno dEle! Mas Ele quis nascer aqui! E comigo! Dá pra entender isso?”
Sem ter o que dizer, provavelmente abraçaríamos nossa irmã e choraríamos juntos, agradecidos por que “Ele, sendo rico, por amor de nós Se fez pobre” (II Co 8:9).
[Os diálogos acima são todos, obviamente, ficção, mas a descrição do local é baseada em dados históricos registrados.]
© 2020 W. J. Watterson
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