Domingo, 04/10/2020
O Senhor fez cair — Meditações 175
“Todos nós andamos desgarrados como ovelhas;
Cada um se desviava pelo seu próprio caminho;
Mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos!”
A leitura deste trecho nos força a prestar atenção na sua última frase do v. 6. Os primeiros dois versos desta parte do poema estão nos conduzindo a uma conclusão que parece inevitável — mas de repente, o terceiro verso apresenta exatamente o oposto!
Se todos nós desviamos de Deus — todos coletivamente errados, e cada um individualmente responsável — a conclusão lógica seria que todos nós sofreríamos o castigo de Deus. Mas de repente somos informados que o Senhor lançou sobre Ele a nossa iniquidade!
De acordo com Darby, a estrutura do poema enfatiza esta surpresa. Os dois versículos anteriores nesta estrofe (vs. 4 e 5) tiveram quatro versos [linhas do poema no original] cada, numa estrutura equilibrada. Começando com:
Verdadeiramente Ele tomou sobre Si nossos sofrimentos,
E as nossas dores levou sobre Si;
até chegar em:
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas;
Cada um se desviava pelo seu caminho;
temos versos sempre em pares; um verso equilibra e responde ao anterior no poema. Mas o v. 6, ao invés de ter quatro versos (dois pares), tem apenas três: um par, e depois um terceiro verso mais longo, de forma que, repentinamente, toda a ênfase recai sobre este último verso:
Mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos.
Tudo aqui tem um par para fornecer equilíbrio, menos esta frase tão solene.
Assim, tanto o assunto quanto a estrutura do trecho fazem com que estas palavras tão impressionantes se destaquem: “O Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos”.
Archibald Alexander diz que a expressão “fez cair” traduz um verbo que implica num encontro violento entre duas coisas — isto é, as nossas iniquidades foram violentamente descarregadas sobre Ele! Como uma lente convergente, ao concentrar os raios do Sol num único ponto, aumenta o calor até produzir fogo, assim na Cruz convergiram no Servo perfeito de Jeová as iniquidades de nós todos!
Esta é a linguagem dos remidos — o castigo que deveria ter sido suportado eternamente por cada um de nós, e a culpa de toda uma humanidade pervertida e abominável — tudo caiu sobre Ele naquelas horas sobre a cruz. A linguagem profética é assustadora, e repetida por dois profetas: “Todas as Tuas ondas e as Tuas vagas passaram sobre Mim” (Sl 42:7; Jn 2:3). Um verdadeiro tsunami de ira divina caiu sobre Ele naquelas horas — por nossa causa!
Mentes incrédulas e ímpias pensam na crueldade de um deus que castigaria tanto assim o seu próprio filho — mas não entendem que o Deus da Bíblia não é um Deus que castiga outro, mas que sofre Ele mesmo o castigo! Devido à união perfeita entre os membros da divindade, e devido ao fato do Servo perfeito ser Deus, podemos afirmar, mesmo sem entender plenamente, que o que temos aqui não é um deus que pune uma criatura sua, mas o único Deus verdadeiro sofrendo em Si mesmo a nossa culpa! Como não amar um Deus assim?
Quando Abraão subiu o monte Moriá com Isaque, duas vezes lemos que “foram ambos juntos” (Gn 22:6, 8). Assim também Deus e Seu Servo caminharam juntos até o Calvário. O Servo perfeito entregou-Se, voluntariamente, para sofrer vicariamente em lugar dos pecadores, e fez isto em plena harmonia com o Pai!
Anos atrás, um garoto foi salvo lendo este versículo. Ao final de uma reunião, ele se aproximou do pregador e disse estar preocupado com sua alma. O pregador tinha poucos minutos antes do último circular passar, então ele disse ao garoto:
“Quando você chegar em casa hoje, leia Isaías cap. 53, e amanhã eu chego mais cedo para nós conversarmos. Pode ser?”
“Mas eu não tenho Bíblia em casa”, disse o garoto.
O ônibus se aproximava. O irmão abriu a própria Bíblia em Isaías 53, entregou ao garoto, e disse: “Leia aqui, e amanhã conversamos. E não esqueça de trazer minha Bíblia!”, disse, sorrindo. E subiu no ônibus.
Na próxima noite, o pregador chegou mais cedo, e o garoto, que já o esperava, foi logo dizendo, radiante: “Eu comecei lendo com muita atenção. Quando chegou no v. 6, eu abaixei muito minha cabeça até conseguir entrar por aquela porta: ‘Todos nós andamos desgarrados como ovelhas’. Mas eu entrei, e caminhei pelo versículo todo, bem devagar, até conseguir sair pelo ‘nós todos’ no final. E agora está tudo bem!”
Todos nós andamos desgarrados como ovelhas. Cada um de nós se desviava pelo seu próprio caminho. Mas o Senhor fez cair sobre Ele, como um tsunami, a iniquidade de nós todos! E agora está tudo bem!
“Àquele que não conheceu pecado, Deus O fez pecado por nós, para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus” (II Co 5:21)
© 2020 W. J. Watterson
Como podemos nos esquecer de um tão grande amor?
ReplyDeleteObrigado!
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