Monday 5 October 2020

Inspiração (m) — Meditações 176

Desde o dia 21 de Março de 2020 a igreja local em Pirassununga esteve impossibilitada de reunir normalmente, devido à quarentena decretada no estado de São Paulo. Hoje já podemos reunir (com restrições) — estamos gratos por isso, mas não é o ideal. Durante este período tenho enviado aos irmãos e irmãs da igreja local pequenas mensagens de texto para nosso ânimo mútuo. Estas mensagens estão sendo arquivadas aqui — talvez ajudem mais alguém.

Segunda-feira, 05/10/2020

Inspiração (m) — Meditações 176

Ocorrências de palavras ou assuntos

Continuando a usar as segundas-feiras para assuntos que exigem um pouco mais de concentração, quero chamar a sua atenção para uma característica da Bíblia que, até hoje, não foi encontrada em nenhum outro livro. Refiro-me à quantidade enorme de ligações entre partes da Bíblia que formam quadros completos em si mesmo (os jovens talvez chamariam isto de pip, “picture in picture”).

Imagine que você montasse um quebra-cabeça enorme e, depois dele montado, percebesse que várias peças de partes diferentes da imagem tem alguma semelhança entre si — por exemplo, incluem uma minúscula flor vermelha — e que estas peças “marcadas”, se analisadas separadamente do quebra-cabeça, formam um outro quebra-cabeça menor, que pode ser montado à parte. Agora imagine examinar o quebra-cabeça enorme e descobrir que há inúmeros “quebra-cabeças” pequenos escondidos dentro da imagem principal. Certamente você ficaria impressionado com a inteligência de quem conseguiu criar esta obra tão perfeita.

Isso ilustra o que estou tentando apresentar. Se uma determinada palavra ou expressão só for encontrada três vezes na Bíblia, e se estas três ocorrências juntas manifestam uma progressão de pensamento (quer dizer, não são apenas repetições aleatórias, mas, juntas, formam um retrato em si mesmo), ficamos interessados. Achar algumas listas dessas num livro grande como a Bíblia poderia ser descrito como coincidência — mas quando começamos a encontrar centenas, depois milhares de exemplos deste fenômeno, temos que admitir que estamos lidando com um livro divino.

Nas próximas semanas, se o Senhor permitir, gostaria de destacar alguns destes quadros, de forma bem resumida.

Começo com as ocorrências de “fome” na Bíblia (não o sentimento de fome, quando passamos algumas horas sem comer, mas uma situação de fome que atinge uma cidade, uma região, ou um país).

Apesar de a Bíblia conter dezenas de profecias e avisos sobre fome, e até uma parábola que menciona o assunto (a parábola do filho pródigo), só temos onze exemplos de fomes históricas (reais) na Palavra de Deus. O número 11, na Bíblia, é figura do pecado, e fome é um dos quatro juízos de Deus contra o pecado mencionados em Ezequiel 14:21.

Examinando esta lista de onze fomes históricas, perceberemos que uma “sub-lista” se destaca dentro dela, pois destas onze fomes apenas quatro são atribuídas diretamente ao Senhor. Todas, certamente, aconteceram sob a permissão e autoridade dEle, o Soberano Criador; mas somente quatro vezes a Bíblia faz questão de enfatizar que um período de fome foi consequência direta da atuação do Senhor.

E, olhando com mais cuidado, veremos que estas quatro fomes tem outra coisa em comum: são as únicas com tempo determinado!

Isto é, das onze fomes mencionadas na Bíblia, somente em quatro delas a Bíblia explicitamente diz (a) que foi Deus quem agiu através da fome, e (b) quanto tempo a fome durou.

Antes de pensar em mais detalhes sobre estas quatro fomes, veja que ilustração preciosa da graça e da misericórdia de Deus este quadro nos apresenta: toda vez que a Bíblia diz que a fome veio de Deus, ela diz quanto tempo a fome durou — isto é, quando Deus age conosco em disciplina, é por tempo limitado! “O Senhor é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno. Não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a Sua ira. Não nos trata segundo os nossos pecados … pois Ele conhece a nossa estrutura, e sabe que somos pó” (Sl 103:8, 9, 14).

Olhando mais de perto para estas quatro fomes, podemos ver que elas se dividem claramente em dois pares, formando um quiasma.

A primeira e a última tem pelo menos três pontos em comum: (a) duraram sete anos, (b) sua duração foi avisada antes de começar, e (c) o motivo claro foi uma provação soberana da parte de Deus.

As duas do meio também tem três pontos em comum: (a) duraram três anos, não sete; (b) não houve aviso prévio, e (c) o motivo claro foi uma disciplina pelo pecado.

Olhando para o quadro formado pelos quatro trechos, e comparando os dois pares, aprenderemos muitas lições sobre como Deus age conosco (veja os 3 anos e os 7, por exemplo).

Ou seja, temos quatro relatos independentes, escritos por autores diferentes. Cada relato encaixa perfeitamente no contexto onde se encontra, mas também encaixa perfeitamente no quadro menor das quatro fomes. Seria como tirar quatro peças marcadas de um quebra-cabeça montado (uma do Céu, duas do mar, a quarta da areia) e perceber que estas peças encaixam perfeitamente, montando uma flor!

Coincidência? Se fosse o único exemplo desse tipo de coisa na Bíblia, poderia ser. Mas sendo um exemplo entre milhares, torna-se um testemunho eloquente da inspiração da Bíblia.

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As quatro fomes:

  • Nos dias de José (Gn 41:28-32);
  • Nos dias de Davi (II Sm 21:1-14);
  • Nos dias de Elias (I Rs 18:1-2);
  • Nos dias de Eliseu (II Rs 8:1-3).



© 2020 W. J. Watterson

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