Terça-feira, 20/10/2020
Perdas — Meditações 191
J. B. McClure (Pearls from many seas) fala da experiência do naturalista John James Audubon (1785-1851), autor de um livro que propunha descrever e desenhar todas as aves dos Estados Unidos. Após anos de trabalho, tirou alguns dias para descansar, e, ao regressar, descobriu que ratos haviam estragado o manuscrito do seu livro, com mais de 200 ilustrações ainda não publicadas de pássaros raros. Naqueles dias não havia máquinas fotográficas nem fotocopiadoras — todo seu trabalho estava completamente perdido!Ele então visitou novamente os bosques e florestas, e refez todas as pinturas destruídas. Conseguiu publicar seu livro, considerado até hoje como uma das principais obras já publicadas sobre o assunto.
Algo parecido aconteceu com Jeremias. Deus mandou que ele escrevesse num rolo as palavras da sua profecia, e que isso fosse lido perante o rei. Porém o mau rei, “tendo lido três ou quatro folhas, cortou-as com um canivete de escrivão, e lançou-as no fogo que havia no braseiro, até que todo o rolo se consumiu no fogo que estava sobre o braseiro” (Jr 36:23). E o Senhor disse a Jeremias: “Toma ainda outro rolo, e escreve nele todas aquelas palavras que estavam no primeiro rolo, que queimou Jeoiaquim, rei de Judá” (v. 28).
Lembramos também de Moisés — quarenta dias em jejum para receber as tábuas da Lei, que foram destruídas por causa da idolatria do povo. Então ele voltou ao Sinai, e depois de mais quarenta dias desceu com outras tábuas.
Não é fácil ver algo que foi feito com esforço e carinho ser completamente destruído, e pacientemente voltar ao começo e fazer tudo novamente. É mais fácil agir como Jonas —quando um verme fez secar a aboboreira que dava sombra a Jonas, ele “desejou com toda a sua alma morrer, dizendo: Melhor me é morrer do que viver” (Jn 4:8) — mesmo que, como disse o Senhor, ele não tivesse trabalhado nela!
Quantas vezes somos assim! Reclamamos constantemente, como se aquilo que produzimos para Deus fosse mais importante que o serviço necessário para produzi-lo!
Que sejamos como Jó, contentes em poder servir a Deus dia a dia. E se, amanhã ou depois, o esforço de anos for consumido num instante pelo fogo ou pelos ratos, que Deus nos dê a humilde graça necessária para começar de novo, sem reclamar ou desanimar.
Afinal, se Deus permitiu que minha obra fosse destruída, algum motivo Ele tem! Talvez não estava bem feito; talvez há outra razão — mas como citado sexta-feira, “nosso trabalho não é vão no Senhor”.
© 2020 W. J. Watterson
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